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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O que a noite nos ensina

 Por Rec Haddock


               INT. QUARTO DA EMMA. NOITE

RODRIGO (35) bate na porta do quarto de EMMA (07), sua filha e abre-a, sem esperar resposta. Rodrigo a vê, já de pijama, sentada na cama, jogando um jogo em seu iPad.

RODRIGO
Posso entrar?

EMMA
Sim.

               Rodrigo se apoia no batente da porta e observa sua filha.

RODRIGO
O que você tá jogando?

EMMA
Temple Run.

RODRIGO
Quando acabar essa fuga, você vai
dormir, então, tá bem?

EMMA
Sim.

               Rodrigo atravessa o quarto e senta-se na cama com Emma. Ele observa o quarto e vê tudo em seus lugares. Os brinquedos estão organizados nas prateleiras. A maioria está empoeirada. Ela tem vários livros, todos dispostos em uma estante por cores. Em cima da cômoda, ele vê uma foto dele com a sua mulher ainda grávida. Os dois sorriem. Ele suspira, e passa a observar o jogo que sua filha está jogando. Quase imediatamente, sua filha perde a partida.

EMMA (CONT'D)
Consegui, pai! Bati meu recorde!

RODRIGO
Parabéns, filha. Agora vamos
deitar.

               Rodrigo pega o iPad da mão da filha, vai até a cômoda e o guarda na gaveta de cima, enquanto Emma acende o abajur em seu criado mudo, e deita. Seu pai vai até ela e a cobre.

RODRIGO (CONT'D)
Boa noite, meu amor.

EMMA
Pai. O feijão pode dormir comigo?

RODRIGO
Não, querida. Os cachorros não podem entrar em casa. Você sabe.

EMMA
Mas ele fica com medo lá fora. Eu ouvi ele chorando, e perguntei pra ele. Ele me disse.

RODRIGO
Disse, foi?

EMMA
Disse. Ele disse também que não gosta de ficar preso.


RODRIGO
Mas o papai já te disse por que ele fica preso, né?

EMMA
Ele me prometeu que não vai fugir.

RODRIGO
E você acha que a gente pode
confiar?

EMMA
Ele nunca mentiu pra mim.

RODRIGO
Se é assim, eu solto. Mas ele não vai poder entrar em casa. Amanhã você explica pra ele que os outros cachorros maiores vão o proteger, se alguma coisa acontecer, tá?

EMMA
Sim.

RODRIGO
Agora vamos dormir, querida. Boa noite.

EMMA
Boa noite, pai. Te amo.

RODRIGO
Eu também te amo, meu amor.

               Rodrigo beija a testa de sua filha, levanta, atravessa o quarto e desliga a luz.

                                                            CORTA PARA:



               EXT. FRENTE DA CASA. NOITE.

               Seis cachorros de guarda grandes estão deitados no chão da varanda e um filhote está preso pela coleira em uma cadeira de balanço. As luzes do andar de cima da casa estão apagadas.

               No térreo, a luz da varanda é acesa e a porta abre. RODRIGO aparece atrás dela e abre a porta de tela. Sai da casa, e quando pisa na varanda, os cachorros levantam. Ele vai até o filhote e segura a guia da sua coleira.

RODRIGO
Olha lá, hein Feijão. Você prometeu que não ia fugir.

               Feijão solta um ganido sofrido, e imediatamente depois, os cachorros adultos começam a latir desesperados em direção a um ponto do terreno fora da varanda. Ouve-se um som de estalo.

RODRIGO (CONT'D)
Quem está aí? (Pausa) Quem está aí?!

               Rodrigo entra rapidamente em casa. Os cachorros começar a latir ainda mais desesperadamente, agora sem o dono. Feijão, preso, não para de ganir. Outra luz se acende no térreo da casa. Ouve-se outro som de estalo, vindo de fora da casa. Os cachorros adultos começam a rosnar. Rodrigo sai da casa com uma espingarda nas mãos, e uma Mag-Lite debaixo do braço.

RODRIGO (CONT'D)
Vêm.

               Ele começa a descer os degraus que separam a varanda do terreno, mas os cachorros não o seguem. Ele para e ilumina o pátio a sua frente com a lanterna. Vê apenas, mato, árvores e sua picape. Irritado com os cachorros, Rodrigo sussurra.

RODRIGO (CONT'D)
Vêm, porra!

               Os cachorros começam a descer as escadas, sempre latindo, e vão em direção ao carro. Rodrigo vai com eles, apontando a espingarda para o caminho, e iluminando mal a sua frente com a lanterna que carrega debaixo do braço. Os cachorros dão a volta na traseira da picape e olham o outro lado do carro. Voltam correndo, ganindo, e passam por Rodrigo em direção a varanda de casa, onde se amontoam quando chegam. Rodrigo olha assustado para os cães. Ele dá um passo em direção à picape. Hesita.

RODRIGO (CONT'D)
Eu estou armado. Sai daí de trás, se não eu vou atirar!

 De repente, Rodrigo ouve um estalo atrás de si, e vira, rapidamente. Atrás da árvore está uma mulher bem suja, com o cabelo raspado e os olhos vítreos. Ela está toda vestida de branco. Parece com a mulher da foto do quarto da filha.

RODRIGO (CONT'D)
Laura?


               Ao ouvir a voz de Rodrigo, a mulher vira as costas para ele e sai correndo. Rodrigo deixa a arma cair e corre atrás dela, iluminando-a o máximo que pode com a lanterna, mas não consegue fazer um bom trabalho. Ela alcança uma cerca-viva e a atravessa. Rodrigo alcança a cerca viva um tempo depois, mas para. Ilumina a área além da cerca viva por cima desta, mas a mulher já fugiu, e ele só vê um gramado bem aparado. Ele volta correndo até a espingarda, e a pega. Corre até a casa. Solta Feijão e com ele em seu colo, entra em casa. Uma das luzes do térreo se apaga. Rodrigo abre a porta da frente e coloca todos os cachorros para dentro. A última luz do térreo se apaga. Rodrigo abre a porta de casa. Sai. Tranca porta e se senta na cadeira de balanço, no escuro, com a espingarda no colo e um terço nas mãos.


                                                               CONTINUA


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