Por Rec Haddock
São
3:42 da manhã em um bar da rua 23. Eu acabei de ouvir a história toda. Não era
obrigado, mas ainda assim achava que era meu dever como barista. Todo mundo já
foi embora daqui, até os outros funcionários – que já estavam acostumados a me
deixar com esses caras. Eu fecharia o bar, quando fosse embora.
Alô?
Você ainda está aí?
Ok.
To
com ele desmaiado, aqui. Vou colocar ele em um táxi. Ele tinha o endereço na
carteira.
Ele
ia operar um cara por até 8 horas. Transplante de coração, mas o cara morreu por
complicações com 20 minutos de trabalhos, e ele se vestiu de civil.
Quando
chegou em casa, a mulher estava com outro. Não viu ele.
O
doutor não fez cena. Simplesmente pegou as coisas que ele tinha deixado no chão
quando chegou em casa e deu meia volta. Diz ele que andou pela ilha, mas ele
chegou bem cedo no bar. Enfim. Tá frio aí? Aqui tá um vento gelado pra cacete.
Nos ossos.
Deve
ter visto vários casais felizes, o coitado.
Já
mandei. To andando pra casa. Por quê?
Puta
merda. Tem razão. Bom. Se ela desconfiar que ele sabe, talvez pare de chifrar
ele. Ou talvez ele tome uma atitude, quem sabe?
Quando
cansou de andar, ele entrou na Grand Central e sentou num banco lá. Ficou uma
meia hora e um policial perguntou o que ele estava fazendo, que aquilo era vagabundagem.
O cara é um médico.
Pois
é. Mas se eu me visto de civil, eu pareço fazer o que faço. Tem essas pessoas
que não são o que fazem, ou não fazem o que são. Não sei bem. De qualquer
forma, elas meio que não são ninguém.
Esse
cara não. Esse cara é médico.
De
qualquer forma, quando ele foi expulso de lá, percebeu que tava com fome, e
entrou numa CVS. Achou uma máquina de salgadinhos. Tinha um papel colado no
painel. Sabe o que dizia?
É.
Acho que esse é um bom título pra história do cara. Mas só dá pra usar se ele
superar, acredito. Não é o tipo de título que funciona postumamente.
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