Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

sábado, 30 de novembro de 2013

Três erros

Por Rodrigo Amém

Loydberg sabia que precisava ser cauteloso. Mais cedo ou mais tarde, toda a comunidade científica levantaria questões sobre seus métodos. A mera sugestão da corja de ignóbeis chafurdando em suas pesquisas lhe dava calafrios. "A Academia odeia os gênios como a Igreja odeia os santos", lembrou-se. E, naquela birosca, ninguém tinha condições intelectuais de questionar a maior autoridade em cultura Inca da atualidade. Fechou a porta atrás de si e presumiu-se só. Primeiro erro. As linhas no quadro negro se entrelaçavam num cuidadoso desenho inconfundível. Era o hieróglifo inca para a palavra vingança. Loydberg derrubou os livros que carregava. Correu até seu armário. Vazio. Nem um osso sobrara de sua recente visita ao sítio. Depois de tanto trabalho para transportar os artefatos em segredo, agora ele estava de volta à estaca zero. Segundo erro. Um sem-número de rostos de prováveis usurpadores corria em sua mente, acumulando raiva e rancor. Loydberg nem percebeu a nevoa que dançava silenciosa ao redor dos seus calcanhares. Terceiro erro.

O jornal do dia seguinte dava primeira página para a misteriosa morte do Dr. Loydberg. A manchete falava em mistério e ausência de suspeitos. As tarjas pretas tentavam, sem sucesso, cobrir a expressão de horror no rosto do cadáver que estampava a foto de capa.

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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Ainda aprendendo sobre este mundo cão

Por Amanda Leal

Hoje acordei com uma sensação de morte. Uma angústia, uma vontade de chorar, um nó dentro do peito. Uma pena. De não sei o quê. De não sei de quem. Até tive pesadelos á noite. Claro que tive, mas não foi só por isso que acordei assim. Não foi só por causa da ficção do meu sonho. Essa sensação é real.

Ontem também não foi o melhor dia da minha vida. Nem sei se amanhã será. Tenho percebido que amadurecer tem dessas coisas, você abre os olhos para o mundo e enxerga o quão cruel ele pode ser. Com você. Com os outros. A gente vai começando a abrir os olhos e encosta num monte de trecos que antes nem percebia, nem sabia que existia.

Tenho aprendido a viver contente. Se você parar para pensar que existem pessoas numa situação pior que a sua, que o seu reclamar pode ser muito pequeno perto da realidade de outras, você pode estar na mesma situação que eu. Pode estar amadurecendo e aprendendo a lidar com as pequenas coisas da melhor forma. A dar valor ao que tem. A degustar ao invés de simplesmente engolir. Sabendo aprender com cada situação, seja boa, seja má.

Sinto meu peito apertado. Não paro de pensar em algumas pessoas específicas. Sinto que elas também pensam em mim. Você já sentiu isso? É muito louco. A vontade de chorar se aloja na minha garganta, mas não tenho motivos para o choro. Por quem chorarei? Por mim? Por eles? Por ele? Tudo é indefinido.

Ontem eu li uma passagem num livro e dizia que precisamos colocar limites no nosso amor. Amor não só no sentido passional. Amor no geral, amor com o próximo. Sabe, ás vezes nos pegamos cobrando que as pessoas nos amem incondicionalmente, ou fazemos de tudo por alguém já esperando que essa pessoa nos retribua. Ontem a ficha caiu. Amadurecer foi também entender que não preciso ser o centro das atenções e não preciso de pessoas que me amem incondicionalmente. Preciso de ao menos uma que me ame de verdade. E posso simplesmente fazer, sem querer nada em troca.

De ontem pra hoje eu cresci uns 10 anos. Foi preciso ler esse trecho para constatar. Para entender que eu já não pensava como há dois meses atrás. Que muita coisa tinha mudado dentro de mim. E se eu tivesse lido esse trecho antes? Acho que não o teria entendido.

 É impressionante como um dia qualquer pode se tornar inesquecível. Simplesmente um dia qualquer Deus te pega pela mão e te sacode, te acorda pra vida. Acho que vou lembrar de hoje pra sempre. Por quê? Porque aprendi mais uma coisa que vou levar pra vida toda. São de poucos dias assim que lembro nessa vida. Até agora.

A sensação continua, mas eu acho e acredito fielmente que uma hora vai passar. Talvez passe depois do lanche da tarde, depois de um café bem quente e forte. Bem, ao menos minhas dores de cabeça passam assim. Ou depois de uma conversa boba com uma amiga que acaba de chegar.  A verdade é que não passa. Não passou. E o telefone tocou. Ele partiu. Não me era tão chegado. Eu não era tão ligada. Só que eu senti. Senti que ele estava indo embora. Talvez Deus quis que eu soubesse disso. Soubesse para poder apreciar cada momento em que ainda estou aqui. 

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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ombro amigo

Por Bernardo Sardinha

Estou diante do pior inimigo de um escritor. A tela em branco. Pulo para a folha do papel e o resultado, ao invés de um conto, é um desenho sórdido e engraçado - pelo menos eu achei graça. Cada minuto que perco olhando meu desenho é um minuto a menos do meu prazo e mesmo assim decido ir mostrar para minha esposa meu desenho babaca.
- Clá - chamo por ela e minha voz ecoa pelo meu modesto apartamento em Copacabana. Caso vocês estejam se perguntando, Clá vem de Clarrisa.
- O que foi? - escuto a voz dela vir da sala.
Rindo feito um bobo vou até ela com meu desenho na mão e a encontro linda e loira, debruçada sobre uns livros de biologia na mesa.
- Olha o que eu desenhei! - estiquei o desenho como uma criança orgulhosa, afinal, agir como adulto nunca foi meu forte.
Ela analisa o desenho e ri de lado.
- É um homem usando uma roupa de ganso? O que é isso embaixo?
- É o outro "bico".
 - Bobo - ela sorri. Não querendo dar o braço a torcer ela volta para seu laptop - deixa eu terminar isso aqui.
Quero mostrar o desenho ao meu filho, mas antes decido apagar o "bico". Entro no quarto dele e no meio daquela bagunça típica de um adolescente, encontro meio escondida debaixo da cama uma revista pornográfica gay. Mesmo em choque, coloco a revista de volta no lugar. E quando ele me flagra em seu santuário me pergunta preocupado:
- Oi pai, o que cê está fazendo?
- Olha isso... - estico o desenho.
- Que desenho escroto! Parece o seu Reinaldo do 503! - disse ele rindo alto, não sei dizer se ele riu de nervoso por eu estar lá, se queria me agradar ou se realmente achou graça .
- É! Parece!
Rimos juntos e fui para o escritório.
 De volta ao meu trabalho e diante de mim estava àquela maldita tela em branco sob uma luz fria.
Ao olhar o desenho pensei: "Desculpe por ter apagado seu pinto, Reinaldo!". A página em branco em meu monitor continuava lá e percebi que trata-la como inimiga mortal seria um erro. Ela era uma amiga, de peito de aberto, pronta para ouvir tudo que tinha para contar.


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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Com que roupa?


Por Marcela de Hollanda

 - Você vem ou não vem?
- Não sei. Já vou, eu acho. Hoje nada está ficando bom em mim.
- Que besteira! Você está linda. Pode deixar que eu arrumo a montanha em cima da cama quando a gente voltar. Mas vamos agora ou vamos perder a hora.
- Eu estou horrorosa. Fico péssima de cinza.
- Então coloca o vermelho.
- O vermelho? O vermelho é de ficar em casa. Você tá de sacanagem com a minha cara?
- Não. Você fica muito gostosa com o vermelho. Bota o preto. Preto não tem erro, né?
- Eu já fui com o preto da última vez.
- E você acha que alguém vai lembrar?
- Claro que vão. E a sua prima vai comentar com certeza.
- Pára de implicar com a Sheila. Eu já disse que não tive nada demais com ela. Foi só coisa de criança.
- Ela chorou no nosso casamento. De soluçar!
- Estava emocionada, amor. Veste qualquer coisa e vamos logo. Pelo amor de Deus!
- Não me pressiona que é pior. Eu vou com o azul. Me dá só mais meia hora para me maquiar.
- Meia hora?
- Quinze minutos.
- ................................................................
- Estou pronta, amor. Vamos. Por que você tá de casaco?
- Por nada. Eu vou tirar. Vamos embora.
- Espera aí. (Abre a cortina) Por que você não me avisou que estava chovendo?
- Achei que você sabia.
- E se eu soubesse iria colocar esse vestido com essa sandália?
- Sei lá, amor. Pega um casaco e vamos.
- Não dá. Esse vestido não combina com casaco. Vou ter que trocar tudo.
- Então coloca o pijama.
- O que?
- Nós não vamos mais. Vou ligar pra minha mãe e dizer que você está doente. Quer pizza de que?

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terça-feira, 26 de novembro de 2013

O pior é quando você trai e só descobre depois

Por Rec Haddock

A porta ficou aberta, depois que ela foi embora. E ela nem tinha escovado os dentes, ainda.
O olhar de desprezo ficou.
Ela não queria nada comigo, eu sabia disso. Ela tinha repetido isso muitas vezes (espontaneamente!), mas, aparentemente, quando uma mulher diz que não quer nada com você, ela quer você. Vai entender.
Ela dormiu lá em casa. A noite tinha sido agradável. A gente saiu pra jantar, depois fomos dançar no Bukowski. A gente ficou bêbado pra caralho, saca? Bêbado como eu só fico quando saio com ela.
Vodka quando mistura com euforia é foda.
De manhã tavam expulsando a gente do bar, e ela tinha perdido as chaves de casa. Ela estava mal demais pra negociar com chaveiro – e chaveiro quando decide meter a mão pra abrir uma porta é que nem quando político resolve fazer orçamento pra obra pública – e por isso fomos pra minha casa, comer alguma coisa doce, dormir um pouco, e lidar com isso quando a gente acordasse.
Só que brother. A dispensa tava mais vazia que o peito do Nick Chopper. Ela tava tonta pra caralho, fiquei meio preocupado, então saí pra comprar um chocolate pra ela.
Voltei com o chocolate, uma escova de dentes, pra ela, e com a vizinha. Ela tava dormindo, no sofá. Porra. Eu tava cozinhando a vizinha há tempo pra caralho. A oportunidade surgiu. Cobri ela, com um cobertor e dei um beijo na testa dela.
Bom. Resumo da ópera é que ela pegou a gente na cama. Chorou pra caralho. Nem parecia mais que tava bêbada. Eu não entendi porra nenhuma. Ela gritou comigo que eu era um insensível da porra, e que não merecia ela, e coisa e tal.
Eu nunca achei que merecesse, pra início de conversa.
Enfim. Ela foi embora. E eu fiquei olhando as coisas que ela deixou pra trás, imaginando se ela ia voltar pra pegar. Acho que não. A vizinha sorriu, me deu um beijo, que eu não consegui retribuir. A vizinha sorriu, levantou. Eu fiquei pensando que tinha feito merda. A vizinha sorriu mais um pouco, filha da puta, e se vestiu.
A vizinha foi embora, mas o vazio já estava lá antes disso acontecer.


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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Somos A.M.I.G.O.S A.M.I.G.O.S do peito

Por Danilo Marcks

Voltar a rever bons amigos do peito é sempre uma grande delícia da vida. Voltar a rever grandes amigos que a gente nem sabia que iam ser grandes assim, é uma das coisas mais maravilhosas da vida. Rir, zoar, falar, chorar, se comover, conhecer e saber como o outro vai reagir, também é uma grande felicidade.

Essa semana voltei a rever dois grandes amigos. Desses que quando se conhece,nem pensamos que vamos nos tornar grandes amigos do peito assim. Voltamos ao bairro onde tudo começou: Ipanema. Não, não foi na praia. Não havia sol. Havia chuva, muita chuva, e entre guarda-chuvas e pulos pra desviar de poças, risos e sorrisos frouxos. Uma gostosura de viver. Sem pensar no tempo. Sem pensar em nada, pelo simples gostar de estar juntos de novo.

Do salgado da cantina da faculdade de 2 reais para um restaurante de saladas saudáveis, já se vão quase 10 anos. Sim, a idade chegou e com ela a preocupação da saúde. Com glúten, sem glúten. Com sobremesa, sem sobremesa. Light e Diet. Assuntos variados: Com perimetral, sem perimetral. A crise da idade, a chegada dos 30 (botox, sem botox). Casamento (com padrinhos, sem padrinhos!), casamento de novo (Filhos, sem filhos!),  trabalho (TV, teatro ou cinema?), dinheiro e claro, amor. Ahhh, o amor! Sempre uma grande pauta em nossos encontros.

Nesse dia a chuva não nos fez falta. Na verdade abrilhantou o dia. Ela fez do dia, um dia diferente, assim, daqueles que você acha que vai ser mais um banal encontro de sempre, com os mesmos papos de sempre, com as mesmas chatices de sempre, mas como sempre, o tempo, o dia e o hoje, sempre nos surpreendem. O tempo passa e com ele a gente muda. Dos assuntos dos 18 anos, aos assuntos dos nossos 30 anos. É bom ver que o outro mudou. Que outro superou. Que outro se enganou. Que outro virou outro, mas a essência daquele lindos encontros há tempos atrás, continuam nos nossos olhos brilhantes de amizades significantes!

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domingo, 24 de novembro de 2013

Calada

Por Halliny Lima

Esse silêncio
Inebria
Na calada da noite 
Ela
Grilos, insetos
Produção noturna
Viajar por entre elas
Essas que escondem
Mostram
E tiram a roupa
Ponte de ideias
Desejos
Suave como um riozinho
Doce
O ar que sai delas
Infla
Aquece, destrói 
A chama enche
E queima
Na sombra da calada da noite
Por detrás delas
Nuvens

...
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sábado, 23 de novembro de 2013

O sorriso de Marilza

Por Rodrigo Amém

Marilza acreditava em muitas coisas. Acreditava no Senhor do Bonfim, Iemanjá, dedos cruzados e horóscopo. Mas acreditava ainda mais no poder transformador do próprio sorriso. Mais forte inclusive que o preconceito contra sua pele negra, o sorriso de Marilza arrebatava transeuntes. Desceu o morro e foi ganhar o mundo pela boca.
Moça nova, não sabia muito de trabalho, mas queria “lidar com o público” e conquistar seus clientes usando sua arma secreta. Foi distribuir panfletos em frente a um supermercado. Via o desânimo dos colegas nos semáforos e lamentava com suave condescendência. Não era culpa deles, tão rendidos. Só que a vida não lhes emprestara o sorriso certo. O sorriso de Marilza.
Em seu primeiro dia, Marilza pôs-se à calçada como quem entra num palco. Como uma porta bandeira, agitava por sobre a cabeça as ofertas de costela, sabão em pó e detergente enquanto rodopiava sobre os calcanhares. No giratório de seus movimentos, metralhava os passantes com o brilho dos seus caninos enquanto os olhos dardejantes, emoldurados em sobrancelhas esquálidas, escrutinavam a vítima ao som de um sibilante “bom dia, freguesa!”.
Em pouco tempo, a porta-estandarte-de-ofertas do supermercado do bairro virou atração entre os moradores. Mesmos os que, em mau humor, recusavam-se a entrar no breve samba no caminho de casa ou do trabalho, evitavam endereçar à Marilza a rispidez reservada aos pivetes de sinal. Era diferente. Tinha aquele sorriso da negra linda.
E Marilza girava, sorria, sonhava. Era questão de tempo e um repórter apareceria para contar a história para o mundo. A TV se enamoraria dela. Logo os novelistas a convidariam para interpretar mocinhas de época e ela desceria do morro. Toda vez que o gerente vinha em sua direção, Marilza arrepiava-se. Será que era telefonema da Globo pra ela? Será que era uma bonificação por sua participação no aumento das vendas? Por anos a fio e sol, Marilza alimentou seu samba de asfalto com o angu do sonho de seu reconhecimento público. Montada no próprio impávido sorriso, estava a um rodopio de ser alguém.
Hoje, Marilza é puta.

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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Quando fecho os meus olhos

Por Amanda Leal

Quando fecho os meus olhos e sonho só consigo imaginar coisas boas. Deixo os sonhos ruins para os pesadelos, aleatórios e não escolhidos a dedo. Eu escolho meus sonhos, não os de quando a gente dorme. Mas os sonhos que se sonha acordado. Que se sonha antes de dormir...

Sonhar pode muitas vezes significar um devaneio, uma fantasia ou ter uma ideia fixa. Não importa o significado o que importa é que ninguém pode tirar isso de você. Se você sonha de menos, meu conselho é: Sonhe mais. Se você sonha demais, continue, mas comece a se mexer para realizar. Muitas pessoas vão tentar frustrar seus sonhos, talvez por inveja, maldade, ou para simplesmente parar a sua vida e fazer de você um fracassado.  Isso se você deixar!

Às vezes a desgraça é tanta que a gente até esquece de sonhar, ou simplesmente desiste. Eu já desisti muitas vezes, começava a pensar e vinha um outro lado meu que dizia: - Não! Pode parar, isso não vai acontecer. E por muito tempo fiquei assim, sem sonhar. Fiquei verde. Isso mesmo, minha cor mudou. Não pegava sol. E ganhei uma coloração roxa abaixo dos olhos: Olheiras. Pra mim quem não sonha fica verde. Mas pra amadurecer é necessário ser verde um dia.

Quando você entende o quão importante é sonhar, você ganha um novo colorido. Sua vida muda e tudo ao seu redor fica mais alegre. Porém, é importante ser o sonhador consciente. O sonhador pé no chão. O sonhador realizador. Porque como diz a música “sonhar não custa nada”. Nadinha. Realizar custa, dá trabalho, nos faz sofrer, mas ensina.  Mas queremos deixar de ser verdes não é mesmo? E nem queremos ter manchas roxas abaixo do nosso olhar! Então é preciso amadurecer. Ao trabalho?

Eu mesma sonhei muitas vezes em escrever um livro, uma poesia, uma música e me boicotei, deixei que me boicotassem. Porém, quando entendi que aquilo que eu queria fazer só podia depender de mim, foi ai que minha escrita aflorou e continuei a sonhar, a criar e a dar asas à imaginação. E foi assim que o Salada de textos nasceu.

 Por muito tempo foi mais fácil não sonhar. Difícil também era encarar a realidade. E uma hora a casa cai e você precisa pisar no chão, largar o balão e decidir. Eu tô aqui na terra, idealizei uma coisa assim, assim, assim e vou fazer acontecer. Ou ao menos vou tentar. Acho que foi assim que consegui deixar de ser verde. Foi quando comecei a me arriscar, a parar de ter pena de mim mesma e aí a minha cor foi mudando. Se eu tivesse continuado, temo que até meu sangue poderia ter adquirido tal coloração. Não queria ter o sangue verde. Não queria ser totalmente verde.  

Acredito que todos os percalços da vida fazem de nós uma misturinha. Há sempre algo para melhorar, há sempre coisa para mexer. Só que hoje minhas partes verdes ficaram menores e não aparecem com tanta nitidez, é claro que dentro de mim ainda existem muitas partes verdes e que com o tempo irão se modificar, alterar a coloração. Mas ser totalmente verde? Jamais!

Siga sempre sonhando. Se eu pudesse te desejar uma coisa boa hoje, eu diria: - Sonhar, sonhar e sonhar! Nunca perca de vista seus sonhos, vai que Deus está lá de cima só de olho nos seus sonhos e resolve te dar uma ajudinha? Mas “Deus só ajuda a quem cedo madruga”! Então vai dar trabalho sim. Só que vai ter uma recompensa tão gostosa. E ahhh mais uma coisa: Fé e perseverança na caminhada, ok?

Quando fecho os meus olhos só consigo imaginar coisas boas. Espero que quando você fechar os seus para um descanso, um cochilinho ou apenas para um sossego, espero que você possa ser capaz de transitar por coisas maravilhosas e não deixar que tudo o que você almeja fuja de você. Se for da vontade do Pai e se você perseverar, ai simplesmente vai acontecer. Se não, se esse não for o caminho, assim que você fechar os seus olhos Ele vai te dizer.  E você saberá pra onde ir...mas não desista nunca de sonhar.

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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Racismo

Por Bernardo Sardinha 

Não sabia dizer o porquê, mas, no ar do ônibus da linha 571 havia um clima estranho. Olhei para os lados e percebi um casal jovem mais ou menos da mesma idade, que grosseiramente, podiam ser descritos como loirinha escandinava da zona sul e mulatinho favelado. Ele tentava beija-la puxando delicadamente o rosto dela, e ela se recusava virando o rosto e não tirando os olhos da janela. Cerrei o punho e pensei em agir, mas antes que qualquer ideia surgisse, aquele garoto de roupas surradas tirou um anel dourado de seu dedo e colocou no colo da menina. “É uma aliança...” – pensei, decidindo não me meter na briga do que seria supostamente um casal de namorados.
Mas, rapidamente, a garota colocou a suposta “aliança” em seu dedo e ficou claro que “aliança” sempre foi dela. A situação era nebulosa e fiquei me perguntando o que estava presenciando. Continuei a observar e após alguns minutos ele voltou com seus avanços sobre a menina. Ao ser negado fogo novamente, frustrado, deu um soco na cadeira da frente. Todos do ônibus continuavam a fingir que nada estava acontecendo, com exceção de uma senhora que estava sentada na cadeira preferencial lá na frente, ela olhou para trás e por um instante trocamos olhares, assim, soube que não era o único que estava estranhando a situação.
Após o soco, o garoto jogou uma mochila que estava no seu colo no chão. Era uma mochila bem colorida e feminina, que obviamente não pertencia a ele e que foi rapidamente apanhada pela menina. Ele estava roubando a mochila dela? Ou estaria fazendo a gentileza de carregar? O ônibus parou ao lado de uma patrulha da PM, a qual discretamente tentei chamar, mas o coletivo voltou a andar e quando me dei conta já estava na hora de saltar. Isso aconteceu há quatorze anos atrás e até hoje essa história fica sem desfecho na minha cabeça. 

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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

De casca nova

Por Marcela de Hollanda

- Shhh!!! As paredes tem ouvidos. Você não sabia? Mas será que elas têm memória ou entra tudo por um ouvido e sai pelo outro? O que será que elas lembram dos antigos moradores? Será que sofreram? Coitadas! Na dúvida é melhor mudar tudo. É preciso conquistar a confiança e a fidelidade delas. Uma boa camada de tinta pra elas esquecerem. Carinho com o rolo pra elas gostarem da gente. Um bocado de energia para dar-lhes novos ouvidos. Que elas nos protejam. Que testemunhem muitas alegrias. Que não desabem com os desentendimentos. Que isolem tudo que for íntimo demais para ser exposto. E que se um dia formos buscar novas paredes, elas não contem nada para ninguém. É. Não há lugar no mundo como a nossa casa. E nada melhor do que estar com você, não entre quatro, mas entre muitas paredes. Nossas paredes.

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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Os que mostram o caminho do jardim proibido

Por Rec Haddock

         Estava sentado com uma espingarda na mão. A varanda a sua volta estava toda surrada. Não chovia, mas uma goteira transbordava em um balde com uma água marrom esverdeada com um cheiro tão agradável quanto o humor de uma freira.
Ele roncava baixo, como quem tem vergonha de roncar. Não que ele fosse desse tipo. Ele falava o que quer que tivesse que ser falado. Mas roncava baixo.
Folhas farfalharam embaixo dele, e o movimento deixou seu sono mais leve. Ouvia vozes que talvez fossem sonho.
- Ele tá pronto?
- Não parece.
Talvez no sonho engatilhasse sua espingarda, e matasse os donos das vozes, mas suas mãos pareciam leite de tão úmidas e pálidas, e o ferro era muito gelado em suas mãos.
O hálito das vozes do talvez-sonho não era religioso. Não era humano, tampouco. Era superior.
- Porque deram essa espingarda para ele?
- Para que ele pudesse atirar.
Mas ele não podia sequer tentar. Não havia forças. Estava amarrado em seu talvez-sonho, e as cordas eram água em seus pulmões.
As vozes soavam ameaçadoras, como um segredo contado à média distância, seguido por um riso e um olhar. Era chegada a hora de abrir os olhos e ver a sua varanda, na sua casa, e furar aquelas vozes.
- Devemos esperar que ele atire?
- Porque o deixaríamos com a espingarda, então?
A sua espingarda. De sua propriedade. As suas palavras, dos seus pensamentos. De repente nada mais daquilo era seu, e a consciência de que nada é sonho o fez acordar.
Mas seus olhos permaneceram fechados. Por medo.
- Devemos ensiná-lo a atirar?
- Devemos ensiná-lo a descobrir como atirar.
Os olhos se abriram. A varanda, de repente, ficou vermelha. O sol se punha.
- Puxe a trava.
As vozes se viam, mas os corpos só podiam ser ouvidos. A trava foi puxada.
- Aperte o gatilho.

Nada aconteceu. O mal aluno se formou sem munição.


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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Como a chuva nos faz falta

Por Danilo Marcks

        Quando pensamos no momento em que estamos passando e paramos para nos perceber, é algo positivamente importante. O que somos? O que temos? O que já nos cabe? E o que nos faz falta? Vivemos em um momento em que a falta daquilo que se quer, sabendo o que é, já nos causa um sofrimento terrível. Quando penso nisso, percebo e vejo, que aquilo que nos traria felicidade, seria justamente, aquilo que nos traz, em algum momento, a falta. É como comprar algo que faz falta para você, e no exato momento ao conseguir o objeto de desejo faltoso, nos preenchemos e nos enchemos de total felicidade. Depois disso, o dia seguinte, o instante seguinte, o momento após, já seria um tédio total.
O dia segue e seguimos a nos perguntar: “Meu Deus, e hoje, o que me faz falta? O que nos faz falta?”. Aliás, é falta ou é a saudade daquilo que tivemos ou que gostaríamos de ter? Se há amor demais, sentimos falta do começo da paixão. Se há frio de mais, sentimos falta do calor. Se há seca e sol demasiado, sentimos a falta da chuva.
É um círculo vicioso, viciante e às vezes estressante. Felicidade, atual, seria então, suprir de minuto a minuto, essa falta que a “chuva nos faz”. Será?

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domingo, 17 de novembro de 2013

Café, milho, laranja... e poeira na mochila

Por Halliny Lima

Éramos duas
13 e poucos
Início de tudo...
Fome de aventuras
Sede de perigos
Avisamos e...nos deu não
Concebemos?
Ha!!
Papel rasgado
Enunciado:
- “Voltamos amanhã”.
Na mochila, o kit
Biscoitos, iogurtes
Surpresas.
Pulamos a janela na ponta dos pés      
O portão,
Sorrateiras
E o mundo na ponta dos dedos.
Corremos aquela linda alameda
Entre risadas, sonhos
Pernas.
O ônibus não demorou muito
A viagem
Viagem...
Pela ponte olhamos longe a água
Chegamos
E a poeira que subiu ao descermos.
Café
Milho
Laranja
E grandes cerrados.
Cavalo
Carroça
E uma carona até a porteira.
Tocamos o berrante do peito
Ouvimos eco
Tem gente!
Café na xícara
Milho cozido
Suco de Laranja
E risadas no fogão à lenha.
Ao cair da noite
Passeamos com os vagalumes
Trilha com lata e vela dentro
Sono
Cerrados olhos.     
...
Parto do seguinte
E os raios chegando aos poucos
Já ouvimos os pássaros
E passos
Café com leite
Bolo de Milho
Doce de Laranja
E nossas mochilas recheadas.
Levantar acampamento
Estrada à dentro
E a poeira do ônibus de novo...

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sábado, 16 de novembro de 2013

Waltinho

 Por Rodrigo Amém


Quando Waltinho, magricela e frágil, chegou na roda, a turma já sabia da novidade. Havia um misto de constrangimento e curiosidade no ar. Os homens se entreolhavam e seguravam o riso. As mulheres, compadecidas. 

E o próprio Waltinho também não estava à vontade. Sentia-se observado, vigiado. Queria sair correndo e a coragem lhe faltava. Dado o primeiro passo, pior seria a meia-volta. Sentou-se com toda a possível altivez. Por dentro, em pânico. 

A turma entoou um coro enjoado para recepcioná-lo. Involuntariamente, o uníssono de "Oi, Waltinho!" assemelhou-se a uma chacota, ladainha infantil. Soou como um punhal. 

Uma das moças ofereceu-lhe uma bebida com a delicadeza de quem serve à velha tia, sorriso frouxo e simpático lábios afora. Waltinho agradeceu e todos os olhos acompanharam sua mão acomodar-se, delicadamente, ao redor do copo. Rapidamente, Waltinho recolheu o braço. 

Por mais ansiosos que estivessem, ninguém ousava tocar no assunto. Por mais amigos que fossem, não se sentiam no direito, faltava-lhes a liberdade. Outra moça, mais atirada, soltou um "Tudo bem?" que soou como um escrutínio. Ora, o "tudo" era obviamente específico, direto, mordaz.Não se tratava do trabalho, da missa de ontem, da prestação do carro. Queriam saber do sórdido, chafurdar. Waltinho não tinha o direito de não dividir aquilo com a turma, que sempre soube, ou melhor, desconfiou de tudo.

Quem ele pensa que é para tomar uma decisão dessas e não comunicar aos amigos? Audácia típica daqueles que não tem coragem. Dos que não têm certeza do que são. Dos que não confiam. E seriam eles que não mereciam mais confiança? Afinal, quem havia mudado era ele. Os amigos, pelo contrário, eram as mesmas pessoas de sempre.  O sentimento de traição crescia. 

 Waltinho, em meio aos lobos, não se sentia seguro ou preparado. Mas sabia que era preciso uma manifestação. Havia se tornado o amigo dos sonhos das mulheres da turma. Mas sentia-se ameaçado pela incompreensão do outro segmento. Respirou fundo. Empinou o nariz, juntou as mãos ao tronco e disse, mastigando as palavras por detrás de uma máscara carmim.

- A-do-rei! - e calou-se, triunfante.

A densa nuvem dissipou-se na roda. Todos sorriram e aplaudiram contidamente.  A conversa voltou a fluir sem que o assunto voltasse a ser mencionado.  Pelo menos não na presença de Waltinho.


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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Carpe diem

Por Amanda Leal

Após um dia lindo de sol, chove. Chove em Macaé. Chove no Rio. Chove nessa parcelinha de terra onde fica o meu mundo. Nada demais para contar sobre o meu dia: Fiz um monte de coisas que não gostaria de ter feito. Se eu pudesse passaria minhas horas fazendo coisas mais instigantes e divertidas.
Nem todo mundo pode escolher. Eu não escolhi viver assim. A gente sempre acha que no próximo mês tudo dará certo, que no próximo ano a vida vai ser diferente, mas nem sempre é assim...
Eu sempre deixei para começar a dieta nas segundas, nunca emagreci e nem sequer comecei. Quando realmente decidi emagrecer,adivinha? A dieta começou num sábado. Nunca mais engordei. Perseverei. Não dava mais.
Em meio a tudo isso, ao caos, você se revolta. E entristece, gargalha, chora e ás vezes nem consegue mais sorrir. Não de verdade. Mas é só por um tempo. Depois passa. Por que nada na vida é definitivo. E no meio desse caos você vai se surpreendendo, vai descobrindo que as pessoas que mais sorriam pra você, na verdade, te detestam. Sem ao menos você ter feito nada pra elas. Aí você começa a aprender a jogar.
Essas pessoas existem não pra te enfraquecer e sim pra te mostrar o quão forte você é. Por elas só resta nojo e pena. E observação, muita observação. " Orai e vigiai", " Vigiai e orai". Ai você vai jogando o jogo da vida e pra você sair vencedor é preciso perseverança, paciência e fé em Deus. É preciso muita fé. É preciso dizer: - Deus me ensina a ter fé em mim! A acreditar que sou capaz.
Você vai cair. E vai se levantar, até que irá chegar uma hora em que você estará tão esperto que olhará sempre por onde anda.As pessoas falsas deixarão de te incomodar,suas presenças na sua vida serão meramente decorativas e você vai vigiar, orar, seguir em frente e então cuidará somente do que interessa.O resto entregará para Deus.Você aprenderá a delegar!
Ufa! Você vai se sentir mais leve, seu sorriso vai voltar aos poucos.E você dirá (muitas vezes): Chega!!! Chega de andar com medo de fantasmas de pessoas vivas ,de carregar seu coração de mágoas e infestar a sua mente de balões de pensamentos. Após o chega, você aprenderá a viver o dia. O carpe diem.Aprenderá a curtir o momento,aprenderá a se contentar com o que tem.
Ou você se revoltará absurdamente e virará um ser humano não humano.Irreconhecível. Revoltado. Afinal, sempre há mais de um caminho a se trilhar. Nesse momento pára de chover aqui, o céu é tomado por um vermelho intenso. Mistura de chuva e sol. Mistura de sensações. E mais uma vez aquilo que me ronda: A certeza de que valeu a pena até aqui. Amanhã? Amanhã é mais um dia.  

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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Do outro mundo

Por Bernardo Sardinha


Foto de Craig Sellars via Reddit.
(http://www.greensocksart.com/)


- Oi querida, duas coisas. Primeiro, hoje vou chegar atrasado para o jantar...Eu sei que seus pais vão estar aí hoje...Não. Não estou inventando nada, é coisa do trabalho... De um orelhão. É. Porque meu celular acabou a bateria. Não tem mulher alguma. Que piranha o quê? Amante? Pára com isso meu amor... Não... O que tem ela? Dona Glória só serve o café. Eu não tenho um caso no trabalho. MEU DEUS.... Grito? Ah... É um macaco. Lá do laboratório.... É meio complicado. Por isso preciso que você pegue para mim o telefone do Richard. Como assim porquê?! Acabei de falar que meu celular acabou a bateria! Não. Desculpa. Não queria gritar. É que as coisas estão meio tensas e tem um amigo meu que quer falar com o Richard. É. O que é casado com a Beth. Sei lá se eles estão juntos ainda. Pode pegar o telefone POR FAVOR? É um amigo... Que veio de longe conhecer o Richard. Também te amo. Não... Não chora...Num...Mas... Num é nada disso, já falei. Tem um amigo aqui que quer falar com o Richard. Tá bom. Prometo. Compro. Eu passo no supermercado e compro. Só isso? Não tenho caneta. Ok. Vou comprar só o pão, geleia e o yogurte. O resto não vou lembrar. Agora... O telefone do Richard. É. O macaco é uma das cobaias. Eu sei que é crime. É uma das cobaias do Richard, sim. Agora o telefone... Não estou escutando fale de novo. O macaco está nervoso. Não...Não estou fazendo nada. Aham...Certo. Não se preocupa eu decoro... Sim eu vou decorar o telefone e NÃO vou decorar o caralho da merda das porcarias que tenho que comprar na droga do supermercado. Agora o telefone. Aham.... Obrigado benzinho.
 O "visitante" olha para seu refém e pergunta:
- Estou intrigado com a líder com quem você falou no telefone e tenho algumas perguntas.
- Eu também estou me fazendo algumas, agora.

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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Filhos de uma mãe gentil

Por Marcela de Hollanda

Talvez o grande problema
Dos seres humanos nascidos brasileiros
Seja o excesso de apego pela vida
Por mais Severina que seja
Nos parece melhor que a luta

Independência ou morte é história, ficção, piada
Se tem sol, praia, novela, futebol
Pra que arriscar perder tudo?
A pizza é amarga, mas desce com Coca-Cola

Vivemos todos mais ou menos anestesiados
Aprendemos a não ver, não ouvir, não pensar
É mais fácil, é mais simples, é mais seguro
De vez em quando, entre uma dose e outra,
Acordamos, lamentamos, nos revoltamos

Mas a dose seguinte ou a gente toma
Ou nos enfiam goela abaixo
Estamos todos internados nesse país surreal
Que sobrevive dia a dia esperando o Carnaval


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