Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Num quarto sem espelhos

Por Rec Haddock

O presidenciável José (que não era tão presidenciável assim, visto que as linhas que marcava as intenções de voto nele em todas as pesquisas eram retas sobre zero em todos os pontos e apitavam um “pi” deprimentemente constante toda vez que mencionadas) não esperava por aquela pergunta em um debate cortês entre os candidatos já que, afinal de contas, aquela pergunta poderia suscitar um debate.

Tinha que ser essa mulherzinha cretina. Socialista fingida, pensou ele, essa putinha acha que vai me foder com essa. Mas vai ver só.

- Pois bem. A senhora não fugiu da pergunta, não serei eu que (sic) vou fugir da resposta. Não vou ficar pagando de que aceito esse tipo de nojeira só para angariar votos. Mesmo porque até onde eu sei, homem e homem não fazem filhos e mulher e mulher também não. Fica até feio falar isso na televisão. Mas eu sou pai. Sou avô. Tenho que defender os valores da família. Vou acatar o que está na lei, mas não vou proteger minoria nenhuma. Não é certo eu ter que ver dois homens se agarrando em público, se não gosto disso e a maioria não gosta disso. Eles têm mais é que se esconder.

Isso encerrou a resposta de José, mas, claro, não a questão. Políticos nunca encerram questões, uma vez que suas respostas nunca respondem as questões que lhes cabem responder.

O resto do debate passou como o previsto. As pessoas não disseram nada e os políticos prometeram o mundo.

Ao fim do debate, José, muito cansado foi de carro para o hotel, acompanhado por seu motorista particular, seu assessor Jonas no banco do carona e uma estagiária muito gostosa ao seu lado, no banco de trás.

Sua família (mulher e 3 filhos, nenhum produzido por quaisquer aparelhos excretores que fossem) seguiam no carro de trás.

Chegando ao hotel, os assessores foram para o quarto modificado para virar um escritório, no intuito de acompanhar a repercussão do debate. Os meninos foram para o seu quarto, onde a babá os colocou para dormir. José e sua mulher foram para o quarto que lhes cabia, onde, conquistado o descanso merecido, o candidato colocou seu pijama e foi para a cama. Sua mulher deitou e aguardou-o nua, mas ele estava com dor de cabeça. Ela estava acostumada e logo dormiu.

É claro que a estagiária mandou uma mensagem para ele e é claro que ele saiu de fininho do quarto. Mas no fim das contas, José era um candidato coerente e a estagiária era testa de ferro, veja só. Ela estava apenas repassando a mensagem de Jonas.


José e Jonas se trancaram em um quarto e não se reproduziram, apenas, porque seus aparelhos excretores não permitiram. Mas, longe da vista de todos, tentaram. E como tentaram.


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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sangue

Por Rodrigo Amém

Edgard sentou-se ao lado do berço. Trinta e oito na mão direita, bebê no braço esquerdo. Ela dormia, imperturbada pelas gotas de sangue que caiam sobre sua manta rosa. Sangue de freira? De bandido? De sua mãe? De seu pai? Era um sangue sem dono, sangue de todo mundo, que ensopava o corpo de Edgard e pingava de seu nariz sobre a manta de sua filha. O zumbido do ouvido diminuíra. Silêncio.

Lúcia não devia estar vestida de freira. Não fazia sentido. Edgard não sabia que ela tinha concordado em trabalhar como babá do orfanato na madrugada para ficar mais perto da filha. Edgard não sabia que Lúcia roubara a arma de um dos capangas e tentava proteger a bebê. Edgard não sabia se seria capaz de se perdoar.

Momentos antes, ele jogou-se sobre o corpo de Lúcia, que já bateu no chão sem vida. Lúcia caiu de olhos abertos, fitando Edgard. Mas não havia expressão. Uma parte dele desejava uma reação, um sinal, uma expressão de horror. A outra torcia em silêncio para que seu amor não reconhecesse seu executor. Edgard sacudia, gritava, chamava. Os olhos de Lúcia só fitavam inertes. Então o sangue que descia da testa os cobriu. E nem assim eles se fecharam. O vermelho misturou com o azul, com o branco. Edgard tentou limpar o rosto da mulher com as mãos. O sangue só espalhava. Edgard soluçava.

- Deus sabe o que faz. – Disse uma voz enrugada, ardida.

Edgard não precisou olhar. Era a voz dos seus pesadelos. A voz da caolha, acumulada de ódio, rancor e soberba. Como se Deus fosse seu cão de guarda, dilacerando desafetos, martelando sua justiça torta. “Deus sabe o que faz”, disse ela. Como quem diz “Você rouba de mim, Deus tira de você. Por suas próprias mãos. Porque você ousou contra ele. Contra mim. Vocês arderão juntos no inferno”.

Não foi preciso olhar. A fúria guiou a mão de Edgard e foi certeira. O estômago da velha explodiu em tripas e pólvora. Edgard baixou a arma e abraçou Lúcia. Alguns minutos depois, Edgard contemplava a placidez de sua filha, sentado em seu trono de sangue.

Léo entrou limpando o cenho.

- Vambora.

Edgard levou um tempo, mas finalmente notou a presença do companheiro. Balançou a cabeça num sim lento e se levantou. Léo lhe estendeu uma faca enorme, virando o cabo para Edgard.

- Não esquece da lembrança do chefe.


Edgard guardou o trinta e oito e pegou a peixeira. Tinha uma cabeça de freira pra cortar. 



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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Salada de textos

Por Amanda Leal



E quando você tem um sonho corra atrás. Tem vezes que o caminho pode ser bem difícil, mas a recompensa chega quando menos esperamos. A nossa Saladinha surgiu assim, de uma vontade enorme de escrever, de uma vontade súbita de fazer a diferença utilizando a ferramenta da escrita. 

O Salada vai além de lançar modinhas, de querer formar uma opinião obstinada e vai muito além de ser um lugar para colocar em cartaz o ego. O Salada é um misto de palco e livro onde as histórias é que tem voz, onde o autor se doa em prol de um bom resultado, onde entrega um pouco de sua vida para ser lida por outros habitantes desse planeta terra, pessoas que não sabemos quem são, mas que têm em comum conosco o hábito de gostar de histórias. 

Gostoso é ver que um sonho virou realidade e que está caminhando por uma estrada muito firme e que em cada placa, cada quilômetro, cada pedra no caminho vai chegando mais perto do seu objetivo que é incentivar o hábito da leitura. 

Gostoso é saber que sozinha eu não chegaria a lugar nenhum, então sempre tive a certeza de que os que cultivavam o mesmo hábito que eu (escrever) mereciam dividir e amadurecer junto comigo nesse espaço, são eles os meus amigos: Bernardo Sardinha, Danilo Marcks, Marcela de Holanda, Rec Haddock, Rodrigo Amém e Halliny Lima. E na formação atual com: Bernardo, Marcela, Rec, Rodrigo e eu.

Agradeço por acreditarem na vontade de uma artista louca que os convidou inesperadamente para escrever semanalmente, sem garantia de nada e apenas com a certeza de que estariam contribuindo, de alguma forma, com a educação desse país.

Agradeço pelos textos que animam a minha semana e que me tem feito enxergar o mundo de outra forma, afinal, eu leio todos os textos, corrijo, posto e aprendo muito.Vocês não têm ideia de como isso me tem feito crescer como autora. 

Uma salva de palmas para os meus autores! Parabéns meninos, vocês são meu orgulho.

Um muito obrigada a Adriana Marinho pela lindeza que está o nosso site e ao Paulo Menezes por me ajudar tanto com o computador. Obrigada também Marcela, por você postar os textos quando eu não posso e ao Bernardo por tudo e mais um pouco.

E a você, nosso querido leitor, eu agradeço pelas visitas diárias e também pelas críticas e sugestões. Vocês me alegram demais toda vez que me dizem: " - Eu adoro o Salada de textos!".

Que os nossos dias sejam sempre coloridos por muitas histórias e que nossa vida seja cheia de acontecimentos. 

Vamos viver que a estrada é longa!

Beijos. Amanda Leal.


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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Empregada

Por Bernardo Sardinha


Ele come feito um porco.

A comida cai de sua boca enquanto mastiga e sem tirar o olho do prato pede:

- Suco.

Hesito e em resposta a minha demora, sou fuzilada com o olhar, da mesma maneira que ele faz com os bandidos na delegacia.

Então… Pensou sobre o que conversamos? - o sirvo e fico apreensiva por sua reação.
Pensei. Esse negócio de empregada doméstica é muito caro. E você lembra daquele caso da Souza Lima, né? Não dá para confiar em qualquer um para colocar em casa.

O caso da Souza Lima… Sabia que ele iria mencionar este caso. Ele sempre o faz. A empregada que envenena os patrões para se vingar dos supostos abusos e roubá-los. Sempre a mesma desculpa para não ter uma empregada. Com o salário de inspetor não é possível .

Mas, esta casa é muito grande para eu ficar sozinha. Quando você disse que íamos morar em um apartamento de três quartos me prometeu que eu ia ter ajuda. Estou cansada de ter que arrumar a casa e cozinhar!

Ele continua a ruminar sobre o prato e fico esperando uma resposta que não vem.
Quer carne moída? - digo sem forças e o sirvo.

Os sons dele comendo me dá ânsia de vômito e vou para cozinha. Lá vislumbro uma pia imunda a me esperar.

Enquanto lavo os pratos escuto ele engasgar na sala. Os pratos caem no chão se espatifando e os talheres fazem também um estardalhaço. Ele ainda se estrebucha no chão, mas minha mente está no pratos sujos da pia e na empregada que vou contratar com sua pensão.

   


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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dupla jornada

Por Marcela de Holanda

       Todas as noites, ela escovava os dentes, fingia um beijo de boa noite e esperava ele dormir. Aí, vestia uma roupa etérea, lhe dava um beijo na testa e voava em direção a mais uma aventura intimamente proibida. De dia, andava com os pés bem fixos na terra. Mas, à noite, gostava de hidratar seus cabelos nas nuvens antes de sair por aí conhecendo lugares e pessoas.
         
      Vivia, nessas horas, uma vida de filme. Às vezes romance, às vezes drama, muitas vezes comédia, constantemente aventura, de vez em quando terror e até ficção científica. Tinha uma fila interminável de amantes dos quais nem sempre se lembrava do rosto. Seus poderes especiais a levavam do Brasil ao Japão antes mesmo de virar a esquina. Tinha dias em que ela resolvia ser homem e, simplesmente, era. Sem se dar conta, mudava de rosto e de corpo como uma “camaleoa” descontrolada.
      
       Devia ter muita sorte porque, nos seus passeios noturnos, presenciava momentos que pareciam impossíveis. Via elefantes darem cambalhotas, leões vivendo em apartamentos e bebendo chá gelado na tigela. Via bicicletas voarem, ingleses dançando a dança da chuva, fora a quantidade de vezes que ela mesma ganhou na loteria sem nunca ter apostado. Vivia bem feliz no meio da bizarrice. Amava o inesperado. Não planejava nada. Deixava-se levar e confiava que nada de mal ia lhe acontecer.

       Quando a morte chegava perto e vinha a abraçar querendo fazer amizade, ela lhe apertava a mão e dizia que ia ali e já voltava. Um dia, acabava voltando mesmo, mas sempre dava um jeito de escapar na última hora e depois gargalhava se lembrando do risco que tinha corrido.

      Ela também tinha, sem querer, descoberto uma maneira de viajar no tempo. Estava andando por uma rua escura e se deu conta de que estava no século XVI. Depois disso, era só pensar que gostaria de conhecer determinada época, que lá ela aparecia. Conseguia também misturar os tempos. Uma vez se viu no meio de uma guerra medieval. Pegou seu celular e pediu socorro para um amigo dinossauro que em dois minutos chegou e a tirou dali.

     Era uma vida um pouco cansativa. Mas valia a pena. Ela não tinha do que reclamar. Gostava de sentir seu coração palpitando por baixo da blusa e também de quando ele subia até sua boca ou escorria pras suas mãos. A sua vida era tão boa que nem reclamava quando percebia que estava amanhecendo lá embaixo e que tinha que voltar.

     Na ponta dos pés, ia em direção à sua cama e se enfiava com o máximo cuidado debaixo das cobertas pra ele nada perceber. Quando acontecia de ser pega, dizia que tinha ido ao banheiro rapidinho. Ele sempre acreditava. Como ele pensava que ela tinha dormido a noite inteira, ela nunca podia descansar. Fingia que já estava bem descansada, se espreguiçava, escovava os dentes, descia para comprar pão e jornal e voltava pra fingir um beijo de bom dia. Ele perguntava se ela tinha dormido bem e ela sempre dizia um "ahan" bem indiferente pra não gerar mais perguntas. Por dentro, ela sorria por não precisar dividir seu segredo. Aquela vida era só dela. Eles não tinham se casado naquela vida.

      Ele saía para trabalhar e ela se preparava para mais um dia vazio. Fazia tudo mecanicamente contando as horas para a noite chegar. Gostava de assistir às novelas só para ter o prazer de saber que nenhuma vida ali era melhor do que a dela. Não essa, diurna e sem graça, mas aquela que era de verdade. Porque ela sabia que tinha nascido ao contrário e que vivia enquanto a maioria dormia e esperava enquanto a maioria vivia.

      Até que um dia, enquanto fazia o jantar, se sentiu mal e foi correndo para o banheiro. Pôs pra fora todo o tédio que tinha ingerido nas últimas horas. Não assistiu à novela nesse dia, pois o marido insistiu que tinha que levá-la para o hospital. O médico, um senhor de barba branca com um sorriso bondoso, anunciou que eles estavam prestes a embarcar numa grande aventura com um bebê a caminho. Ela não sabia se ria ou se chorava. Não estava acostumada a sentir nada àquela hora do dia. Na sua vida secreta, ela nunca tinha tido filhos. Não tinha treinado para isso. Ela, que gostava de sentir seu próprio coração, agora sentia mais um, na sua barriga, que batia ainda mais acelerado do que o dela durante suas aventuras mais doidas. Olhou para o marido e viu que o rosto dele não estava borrado como o de costume. Ela agora conseguia ver nitidamente as linhas do rosto dele. E eram agradáveis. Por elas, escorriam pequenos riachos salgados de emoção. Ele também tinha cara de quem não sabia o que fazer. Voltaram para casa e ela repetiu seu ritual de sempre.

        Naquela madrugada, depois de visitar dois ou três lugares, ela encontrou uma menina de uns cinco anos, com cachos dourados e olhos azuis. Perguntou pra menina o que ela fazia fora da cama e sozinha por ali. A menina contou que ainda não tinha cama e que não estava sozinha, mas com ela. A menina era tão linda e estranhamente familiar, que ela aceitou levá-la junto nas aventuras seguintes. Conheceram lugares incríveis e conversaram durante horas. Ficaram amigas.

      Acabou perdendo a hora e, quando voltou para se esquivar para debaixo da coberta, viu que o marido já não estava mais lá. Nervosa pelo seu segredo, ficou deitada esperando o que ia acontecer. Ele voltou, uns minutos depois, com uma bandeja com pão, jornal e uma rosa. Ele perguntou se ela tinha dormido bem e ela disse que tinha dormido "muito bem, obrigada". Ele disse que não ia trabalhar e que passaria o dia todo fazendo as vontades dela. No começo, foi muito estranho. Mas, apesar dos enjoos dela, eles tiveram momentos felizes naquele dia. A felicidade diurna a fez se sentir um pouco culpada pelo seu segredo.   

       Resolveu que, naquela noite, tentaria dormir. Mas quanto mais tentava, mais rolava na cama. Passou a noite toda ali mesmo, do lado dele, acordada, pensando em como faria para administrar agora duas vidas agitadas. Mesmo com a culpa, ficou levando sua dupla jornada como podia. Estava até começando a gostar da sua vida diurna. Cada dia era diferente. Cada dia mais pesada e redonda, ela tentava recuperar o tempo perdido e aprender tudo que precisava para cuidar de uma terceira vida que estava dentro dela.

       Nove meses depois, passeando de madrugada, ela reencontrou a menina dos cachos 
dourados. As duas se abraçaram longamente. A menina pegou na mão dela e disse que hoje decidiria pra onde elas iriam. Foram até uma nuvem bem fina e transparente. A menina disse que era pra ela olhar para baixo. Ela viu a própria casa. A menina perguntou se ela gostaria de ir lá embaixo e espiar pela janela. Ela concordou e foi espiar o marido dormindo. Quando chegou lá, nada entendeu. Ao lado do marido, dormia ela mesma com sua enorme barriga. Mas como ela estava lá se tinha levantado e fugido para viver sua vida secreta?

      A menina a levou de volta para a nuvem e disse que fechasse os olhos e contasse até dez que, quando abrisse, teria uma surpresa. Quando abriu, a linda menina já não estava mais lá, mas outra pessoa vinha andando na direção dela. Ao perceber que era o marido, ela morreu de vergonha pensando que ele tinha descoberto tudo e que agora a deixaria para sempre. Justo agora que ela estava voltando a gostar dele? Ele olhou bem no fundo dos olhos dela e ela pediu desculpas por tê-lo enganado durante tanto tempo. Ele disse que não só sabia de tudo, mas como tinha estado ao lado dela escondido durante todos os momentos. Porque ela era o sonho da vida dele, embora ele não fizesse mais parte dos sonhos dela. Tinha esperado pacientemente que ela voltasse a viver do lado dele e entendia que aquela vida secreta era necessária pra que ela aguentasse a vida que não estava mais querendo viver durante o dia, e que ele tinha sofrido dia e noite por não conseguir ajudá-la.

      Os dois choraram muito e se beijaram mais ainda. Voltaram para a cama de mãos dadas e acordaram ao mesmo tempo. A cama molhada indicava que tinha chegado a hora. A bolsa estourou. Foram correndo para o hospital, mas o bebê não quis esperar e nasceu, ainda no caminho, nas mãos do pai. Era uma linda menina de olhos azuis e uma leve penugem dourada na cabeça.

      Depois daquele dia, a vida era tão agitada que quase não sobrava tempo para dormir. Sonhavam acordados mesmo. Atrapalhados, atarefados, mas felizes. A antiga vida secreta dela ia ficando desbotada para trás. Quando dava tempo de sonhar, ela quase sempre sonhava que estava ali mesmo naquela casa, com seus dois amores que com o passar dos anos viraram três e depois quatro. Retomou a sua profissão um ano depois do nascimento da primeira filha. Nessa nova dupla jornada, sua vida acordada valia por duas e era mais emocionante que o seu mais louco sonho da época em que pensava que estava acordada.

FIM



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terça-feira, 23 de setembro de 2014

O pior é não conseguir enxergar a melhora que há

Por Rec Haddock

Eu vim duma terra que homem não ficava sentado com mulher em pé por perto. Se a mulher chegava o homem levantava e dava lugar.   O homem botava a mulher no cavalo e ia puxando. Botava as criança no cavalo e ia puxando. Não tinha essas coisa de hoje em dia não. Lá na Paraíba homem é homem de verdade. De palavra. Como meu senhor Jesus Cristo disse que tem que ser. Eu era menino levei 60 mulher pra cortar cana. Ia todas no cavalo e eu ia puxando na frente. Eu era o responsável por 60 mulheres. Um menino.

Aqui na cidade grande é mais difícil, né? Muito difícil ouvir deus com toda essa gente falando ao mesmo tempo. aí a gente não sabe o que é certo, não é mesmo? Quem vai dizer o que é certo? Não é presidente, não é o Estado. É Jesus.

Esses importante aí, todos falando besteira. Falando de aborto, que tem que abortar. Não é assim. Nosso senhor disse que toda vida humana tem que vir ao mundo. O importante que fala que tem que abortar ia querer morrer na barriga da mãe? Ia? Não ia. Como Jesus falou.

Eu por exemplo. Sou iluminado. Já tive câncer, pneumonia, tuberculose e continuo vivo. Meu bom senhor Jesus me salvou. O diabo cansou de tentar me levar embora e não conseguiu. As pessoas tem medo da morte, mas agora a morte é que tem medo de mim. Quando tive essas doença era velho, mas agora fiquei novo. Fui velho e agora sou novo. Não tenho medo mais de nada.


Pra não dizer que não tenho medo de nada, tenho medo de ter que viver pra sempre nesse mundo aqui.


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Dia de festa



Um agradecimento especial aos nossos queridos autores que se dedicam, semanalmente, trabalhando em novos textos. Invadem o dia do nosso leitor, buscando sempre proporcionar uma quebra em sua rotina e uma pausa prazerosa para o hábito da leitura. São eles : Amanda Leal, Bernardo Sardinha, Marcela de Holanda, Rec Haddock e Rodrigo Amém.

Um carinhoso agradecimento também ao Danilo Marcks e Halliny Lima que foram parceiros mais que especias nessa nossa estrada. 

Ainda há muito o que trilhar e sem você, leitor, nada disso seria possível. 

Muito obrigada por nos prestigiar todos os dias!!!!

Um abraço, 

Salada de textos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A vítima

Por Rodrigo Amém

Descendo as trilhas da favela, Edgard sentiu-se poderoso pela primeira vez. Ao seu lado, o braço direito do dono do morro, Léo, empunhava uma doze. Ambos seguiam escoltados por dois soldados armados de metralhadoras Ak-47. Em sua mão, o peso do maior revólver que Edgard já vira. Por onde passavam, os moradores desviavam o rosto, fechavam portas, janelas, apagavam as luzes. Era como se a favela baixasse os olhos em reverência. 

Edgard jamais se esqueceria da sensação de ser reverenciado. E essa era apenas a primeira sensação inesquecível que aquela noite traria para sua vida. 

- Tá por cima, hein, guri? – Léo nem olhou para Edgard ao cuspir o comentário. – Esse berro aí é do chefe. 

- Esse morro é do chefe. – Edgard só se deu conta da insolência depois que ela saiu de sua boca. Mas não era o momento pra mostrar arrependimento ou qualquer outro tipo de fraqueza. 

- A primeira vez que Seteoito passou alguém foi com esse ferro, aí. – disse Léo.

Edgard olhou para a arma em sua mão.

- Você já usou ela?

- Você já atirou alguma vez na sua vida? – desconversou Léo. 

Edgar se lembrou das suas guerras de lama. 

- Eu sou bom de mira.

- Se tu fizer merda...

- Vai ter problema, não. Valeu a força, aí. 

Edgard parou sob a sombra do orfanato. Olhou para o lado, na distância, a sua ponte. Apertou sua cicatriz contra o coldre da arma.Lembrou-se dos bichos e sua revolução. Léo levantou o queixo como quem pede uma definição. 

- Partiu. – sussurou Edgard.

Os dois capangas usaram seus pés enchinelados num movimento sincronizado e a porta de entrada explodiu para dentro. 

- Você entra quando eu mandar. – disse Léo, apontando primeiro para o peito de Edgard e depois para o próprio peito. De dentro do casarão, as crianças e freiras começavam a gritar. Os capangas gritavam para que todos fossem ao chão.  Edgard pensou em argumentar algo, mas Léo já estava imerso na escuridão. Um tiro. Um tiro?! As metralhadoras ecoaram e os gritos de pânico encheram os corredores de ecos, pólvora e sangue. 

Edgard não esperou. De arma em punho, mergulhou no caos. As crianças choravam. A primeira freira ensanguentada desabou na frente de Edgard, saída de um dos quartos. Mesmo na penumbra, ele conseguiu reconhecer a irmã que dava aulas e que cuidava das crianças menores. Muito sangue saia de sua boca. A vida se esvaindo de seus olhos. 

Corredor a dentro, um braço puxa Edgard para dentro de um dos quartos. Nem deu tempo de levantar o 38. Felizmente, era Léo. Ou infelizmente. 

- Seu filho da puta! Essas freiras tão maquinada! Mataram o João, seu puto!

Nada daquilo fazia sentido. As freiras não tinham armas. Não que Edgard soubesse. E quem era João? 

Uma outra rajada de metralhadora. Tiro. Uma pancada surda no vão das escadarias. 

- Léo!!! Léooo!!! Eu peguei o filha da puta, Léo!!! 

Do alto da escada, o outro capanga gritava. 

- Quem é esse merda?! – gritou Léo.

- Sei lá! Tava comendo uma freirinha! A gente entrou e ele puxou o trabuco na cara do João! Mas eu peguei ele! Tá tranqui... – Tiro. 

O corpo do último capanga bateu no chão no primeiro andar e fez barulho de melancia espatifando. 

Um chorinho de mulher ecoou. Tinha uma freirinha armada. Provavelmente com a arma do amante da colega. O sangue subiu nos olhos de Léo. 

- Eu vou tacar fogo nessas piranhas. 

Léo saiu pronto pro crime. Edgard foi atrás, temendo o pior. Na primeira porta que passou o braço direito do tráfico entrou disposto a uma chacina. Descarregou sua escopeta em algumas crianças e duas freiras que usavam seus corpos para proteger os órfãos. Não era mais uma operação de resgate. 

Era um massacre. 


Edgard se adiantou em busca de sua família. No fim do corredor mal iluminado, uma freirinha apontou um 32 e disparou contra Edgard. A bala pegou de raspão no ombro esquerdo e levou o rapaz a empunhar seu canhão e disparar. Acertou a freirinha no meio dos olhos. 


E foi assim que Edgard fez sua primeira vítima, o amor de sua vida. 



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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Luz

Por Marcela de Holanda


Seu prazo estava apertado. Tinha que entregar o texto para sua coluna mensal numa revista de grande porte. Como sempre, tinha deixado para o último dia. Procurava uma luz. Não tinha ideia do que escrever. Não conseguia simplesmente parar e espremer seu cérebro até sair alguma palavra. Eram tantas coisas que chamavam sua atenção que parar não era uma opção. O máximo que conseguia era se concentrar por dois minutos. Justo naquele dia celebridades tinham tido suas fotos íntimas reveladas, candidatos à presidência tinham feito declarações bombásticas, discussões muito relevantes aconteciam no Facebook e estava passando Lagoa Azul na TV. Mas nada daquilo era tema para sua coluna. Até que acabou a luz. E agora? Sem luz, não sobrava nada. Aliás, acabou a eletricidade, porque a luz do Sol ela ainda tinha. Não por muitas horas. Se tivesse sido uns tempos antes, ela sentaria na sua poltrona e aproveitaria para adiantar o livro que estivesse lendo. Mas tinha substituído todos os livros da sua estante por livros digitais quando teve que se mudar para um apartamento menor depois do aluguel do anterior subir absurdamente. Adorava seu leitor de livros! Mas ele tinha parado de funcionar no dia seguinte ao término da garantia e ela estava esperando lançarem o modelo novo para poder comprar o antigo mais barato. Sua única salvação era a internet do celular. Sua última chance de comunicação com o mundo. Mas a bateria já estava pela metade. Quantas horas duraria esse apagão? Resolveu que não podia se desesperar nem agir sem pensar. Esquematizou um plano. Talvez se ela só se permitisse usar a internet por cinco minutos a cada meia hora, a bateria durasse tempo suficiente. Achava que meia hora era capaz de aguentar. E o que fazer nos intervalos? Lembrou de um objeto que tinha guardado no armário junto com relíquias da infância e cartinhas dos seus namorados de adolescência. Era um caderno roxo junto com uma caneta de cheiro de framboesa. Nos intervalos da sua existência digital, tentaria lembrar como se escrevia em papel para rascunhar sua coluna. Finalmente a luz, uma ideia. Escreveria para as gerações atuais e futuras sobre a importância de preservar as reservas energéticas e procurar fontes alternativas, pois tinha certeza que o ser humano não era mais capaz de sobreviver na escuridão. Quando deu por si, o texto estava pronto. No mesmo instante, a televisão ligou, o modem voltou a piscar, o ar condicionado religou e ela enfim respirou aliviada.



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terça-feira, 16 de setembro de 2014

WABAC

Por Rec Haddock

EXTRA!

EXTRA!

Por um milagre científico que não temos como explicar, tivemos acesso ao último jornal impresso na história da Terra, que será datado de 13 de Setembro de 2036.

Seguem as suas manchetes:

1) PF abre inquérito sobre vazamento de informações sobre operação Pasárgada;

2)Presidente da CPI da Eletrobrás pede acesso à delação;

3)Ferunal puxa maior queda da Bovespa desde fevereiro;

4) Laura afirma que Jonas tem responsabilidade política;

5) 'Novas denúncias têm que ser apuradas', cobra Tancredílio;

6) Fogo em comunidade de MG pode ter sido criminoso;

7) Última Lettering de jovem que fez aborto: 'Pânico';

8) STDJ condena Avaí à perda de 15 pontos e Fluminense se salva do rebaixamento;

9) Asseiro diz que riu de boato sobre corte de Lucas: 'Não sou homossexual';

10) Torcedor que jogou banana sobre Brandão ainda não foi punido;

11) Candidatas ao Miss Clitóris trocam ofensas pela internet: 'Evangélica de araque'.


Tendo em vista o teor da publicação, podemos afirmar que o futuro nos ensina que somos tão iguais aos nossos filhos quanto somos aos nossos pais.




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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Seteoito

Por Rodrigo Amém



Dois tipos de pessoas chegam ao posto de chefe da favela: enxadristas e sobreviventes. Seteoito com certeza pertencia à primeira classe. Franzino, poucos dentes emoldurados num bigode fino, não era um tipo imponente. Mas Seteoito era um pensador. Logo que sua habilidade com número foi percebida pelos antigos chefões, foi promovido a contador do bando ainda moleque. De contador, virou conselheiro. De conselheiro, virou braço direito. De braço direito, virou chefe quando não sobrou mais ninguém vivo na cúpula da favela.  A trajetória de um sobrevivente, diriam alguns. Outros, mais bem informados, suspeitavam da conveniência de tantas mortes. Esses aplaudiam em silêncio o xeque-mate do contador magricela. 

Seteoito se orgulhava de suas mãos relativamente limpas de sangue, apesar da extensa lista de óbitos que sua ascensão proporcionou. Para ele, matar era como masturbação: melhor quando outras pessoas fazem por você. Eventualmente, no entanto, Seteoito se permitia um ou outro homicídio onanista. Dizem que o antigo chefe viu Seteoito acender o fósforo que ateou fogo a suas roupas encharcadas de gasolina. Quem “dizem”? Ninguém.

Como todo mundo que veio de baixo, Seteoito olhava a base de sua pirâmide com particular interesse. Ele procurava atentamente pessoas de potencial. Mão de obra talentosa e motivada devia ser trazido para perto do chefão. Muito de sua força vinha da gratidão daqueles que Seteoito resgatava do lixo. As crianças do lixo viravam os melhores soldados e, eventualmente, os melhores oficiais. Trazidos para perto de seus olhos, Seteoito podia avaliar aqueles que tinham futuro e eliminar os incontroláveis ou exageradamente talentosos. Ninguém gosta de neguinho exibido. 

O único barraco da favela com ar condicionado era o de Seteoito. Debaixo das cobertas, Seteoito fumava um cigarro aquecido por três de suas esposas. A cama, feita sob encomenda, comportaria sete, oito esposas.

O telefone tocou três vezes antes da esposa número dois pegar o telefone, levar ao ouvido e repassar ao marido. Era o Leo. Era importante. Seteoito atendeu desinteressado. Leo, seu sargento de plantão, explicou que um dos garotos novos da entrega estava desesperado e precisava de ajuda. Tinham levado a mulher e a criança dele. Alguma coisa sobre uma freira caolha. Seteoito cutucou a esposa três. Ela saiu debaixo das cobertas nua. O ar frio eriçou pelos e mamilos. Ela saltou nas pontas dos pés até o cabideiro e trouxe o roupão com os números sete e oito bordados em linha dourada. O marido levantou e virou-se de costas com os braços apontados para trás e para baixo. Número três vestiu o roupão no marido. 

Na sala do barraco, um transtornado Edgard esperava impaciente. A porta se abriu revelando um negro baixinho e magricela, de roupão roxo. Seteoito parou em sua frente. Edgard se levantou, ansioso. Um dos soldados que o escoltavam acertou a coronha de sua AR-15 na parte de trás do joelho de Edgard, prostrando-o de joelhos. Seteoito aprovou a nova relação de altura com um discreto sorriso. 


- Roubaram tua mulher, moleque? É isso mermo?

Edgard balançou a cabeça em prantos. 

- Para de chorar, viadinho. É homem na hora de fazer filho. Quando dá merda, vira neném. 

– O desprezo na voz de Seteoito secou as lágrimas de Edgard instantaneamente.

- É parceiro? – perguntou Seteoito para Leo, parado perto da porta. 

- Não fez merda ainda.  – respondeu Leo.

Seteoito arqueou o corpo para olhar nos olhos de Edgard.

- Tu quer que Seteoito dê jeito, é? 

Edgard balançou a cabeça.

- Não vai ser de graça. Mas pode ser barato.

Edgard parecia confuso. Seteoito gritou para dentro do quarto. Três de suas esposas apareceram nuas e posicionaram ao seu redor. Levou alguns segundos, mas Edgard desviou o olhar.

- Eu te arranjo uma esposa nova, mermão. Uma boa. Filho, tu faz mais. Vai?

Edgard olhou com um misto de horror e aversão antes de balançar a cabeça negativamente. Seteoito riu.

- O amor é lindo. Vai ser caro, então. – A expressão de Seteoito ficou subitamente sombria.

O chefe dispensou as esposas nuas de volta ao quarto. Seteoito fez um gesto com a cabeça e Leo entregou um 38 na mão de Edgard. 

- O Leo e os meninos vão com tu. Mas tu me traz a cabeça de quem roubou tua mulher. Foi uma freira, né? Melhor. Deus já fica sabendo com quem que tu tem aliança. 

Edgard se levantou lentamente, segurando o revólver como se fosse uma bomba. 

- Não vacila. Ou a cabeça da freira ou a sua. 

Seteoito fez um gesto dispensando o grupo, abraçou suas esposas e sumiu quarto adentro. 

 Edgard ficou atordoado. Os capangas e Leo começaram a conduzi-lo para fora. 

- Bem que ele falou que ia ser caro – sussurrou um dos capangas. 

- Eu pegava uma mulher nova – sussurrou o outro. 


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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Monotonia cotidiana

Por Amanda Leal

A cada ano que passa menos eu sei quem sou. É necessário encontrar um lugar para os pedacinhos de mim que não me cabem. Abro e fecho a janela, durmo e acordo, há sempre essa rotina feia e pesada. Os dias já não são tão coloridos e a luz agora é fria.

- Levanta dai e muda essa realidade! – Diz quem vê de fora.

 Fácil é falar, fácil é julgar sem saber, difícil mesmo é ser eu.  



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