Por Bernardo Sardinha
Cobal do Humaitá, sexta-feira à noite. Junto com uma
torre de chopp, um jovem designer que trabalha para uma grande firma de
comésticos, a qual não mencionaremos, contou uma história que deixou todos com
a pulga atrás da orelha:
- Tô falando, eu perdi dois meses trabalhando,
tentando bolar uma escova para a nova linha “teen” de utensílios de beleza.
Após vários conceitos, protótipos, meu supervisor gostou de uma que eu batizei
de Pinkteen. Adivinha que cor era? Rosa, delicada, com um cabo reto e
anatomicamente perfeito para as mãos delicadas da princesinha que vai escovar
suas lindas madeixas. As cerdas eram de pelo de javali, boa qualidade sabe? Porra!
Eu pensava: “Aonde há lugar para inovação na area de design de escovas?”. Não
estava muito motivado, sabe? Pois bem, entreguei a merda da escova e estava
esperando um “ok” dos diretores da empresa. Depois de uma semana, fui chamado
para uma reunião cujo conteúdo não me foi passado. Obviamente fiquei com o cu
na mão e achei que ia ser demitido.
Quando chegou o dia da tal reunião minhas mãos suavam
bicas e na sala só estava a diretora de produção e planejamento. Era uma loira
gordinha com um terninho hiper comportado. Como ela estava com um sorriso na
cara, eu me acalmei e consegui até conversar algumas amenidades até que ela
começou a me rodear com perguntas sobre a escova, coisas como: “ pode fazer uma
escova com menos cerdas?” ou “ponta mais tortinha”. Obviamente, eu disse sim a
todas as alterações que ela sugeria. Mas lá pelas tantas me dei conta: “Cacete,
essa escova está cada vez mais parecida com um vibrador.” E puta merda, e
comecei a rir na cara da loira. Ela me perguntou o porquê de eu estar rindo, e
eu, disse que era besteira minha e desconversei. Mas os pedidos estavam cada
vez mais difíceis de atender, empunhadura esquisita, e detalhes estranhos.
Então eu soltei logo: “porque você não me fala logo o que você tem em mente?” e
ela disse: “Não é óbvio? Eu quero que essa escova se pareça com um pinto.”
O amigo deu uma longa tragada no cigarro e deu um gole
no chopp para molhar a garganta:
- Eu não sabia se ela tava falando sério, então eu dei
uma risada achando que era uma piada. Nessas situações é sempre melhor achar
que é uma piada. Então, ela séria como um oncologista me diz: “Uma pesquisa
sobre os hábitos sexuais de meninas entre 10 e 18 anos mostrou que 30% utilizam
ou já utilizaram objetos para se masturbar: canetas, pinceis, escovas...
Afinal, a grande maioria não tem idade para entrar em uma sex shop ou um cartão
de crédito para comprar em um site. Outra coisa, se você é uma adolescente, é
muito mais fácil ter uma escova no fundo de uma gaveta do que um do que um
vibrador. Esse é um mercado que cresce e nós queremos uma fatia dele.”
Ela contou a história do massageador da Hello Kitty.
Parece que no Japão alguém teve a ótima idéia de fazer um massageador de bolso,
algo pequeno, cilíndrico e que vibrava. Por algum tempo, ninguém sabia explicar
muito bem o porquê do sucesso daquele simpático massageador. Quando
descobriram, o estrago já estava feito e dezenas de milhares meninas já se
divertiam com o simpático massageador. Dali floresceu a indústria dos
“potenciais primeiros vibradores” ou vibradores escamotiados. Duvidam? Olhem as
escovas de dentes eletricas. A parte de trás das cerdas parece anatomicamente
favoravel para uma fricção não é à toa! Pois então lá fui eu com a missão de
fazer uma escova de cabelo cujo cabo fosse anatômico, não só para a mão, mas também
para bucetas. A cada mês eu mostrava um modelo novo que era levado para
“teste”. Pensando agora, até imagino porque a minha chefe tem aquele sorrisso
na cara. Então, após algumas tentativas frustradas de fazer uma escova
anatomicamente superior, eu fiz o seguinte: tirei o molde em gesso do meu pau,
lixei até parecer um cabo de uma escova, adicionei alguns detalhes de borracha
e voilá!
De sua mochila, ele tira a tal escova e joga na mesa
para que todos pudessem admirar.
- Não é muito grande – diz um colega.
- A buceta da sua filha também não – retruca
irritado o designer que imediatamente continuou: Adivinhem só? A diretora de produção e
planejamento aprovou. Logo, vou estar dando orgasmos ou cabelos bem cuidados a
milhares de adolescentes de imaginação fértil.
Todos ficaram em silêncio meditando sobre aquela
história até que alguém propôs um brinde:
- A este mundo podre!
E todos erguemos nossos copos.
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