Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O todo não contempla tudo o que há

  Por Rec Haddock

              Giulia não conseguia acreditar nos seus ouvidos.
- Eu não acredito que eu joguei tanto tempo da minha vida fora tentando agradar alguém que não tem como ser agradada.
- Você está querendo dizer que eu não tenho como ser agradada?
- Com tanto talento para afirmar o óbvio.
- Você é um porco, simplista. Você quer que eu injete sertralina e diga que sou feliz sempre? Larga essa mala.
Ela sabia o que ele estava fazendo. Henrique ia colocar suas roupas na mala, e ir embora, esperando que ela ligasse, pedindo que ele voltasse, mas ela não faria isso. Não de novo.
- Se você acha que precisa de sertralina pra ser feliz casada comigo, realmente.
- Para de showzinho, porra. Ei. Essas roupas são minhas!
OK. Isso era novo.
- Suas como? Você comprou com o seu dinheiro?
- Que isso? Você nunca falou assim.
- Agora você vai pegar as roupas que eu paguei e vai embora daqui. Eu não aguento mais ter que olhar pra essa sua cara de cu, não importa o que eu faça pra te fazer feliz.
Talvez, se ela conseguisse entrar numa discussão que já tivesse ensaiado.
- O problema é que eu gasto o seu dinheiro, ou que você não me faz feliz?
- Então eu não te faço feliz, mesmo?
- Não é você quem tem que me fazer feliz. A minha felicidade não depende de você, nem do seu dinheiro.
- Pois é. Nada depende da gente. Tudo depende do cosmos. Pois bem. Casa com o cosmos pra ver se ele te faz feliz.
- Eu não gasto mais o seu dinheiro, Henrique. Vou arranjar um trabalho.
- Você vai precisar mesmo. Aqui você não pisa mais.
- Se é assim. To indo. Pode ficar com as roupas que você pagou. Pode ficar com as que eu paguei também. Assim a sua nova mulher vai ter menos trabalho.
Era bom que ele a seguisse. A tática era arriscada, mas talvez desse certo.
Não deu. Depois que saiu e fechou a porta atrás de si, não ouviu um pio que fosse do lado de lá. Talvez ele tivesse razão. Giulia deu dois ou três passos sem bolsa nem mala, nem destino. Percebeu que era livre. E sorriu.



Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Rec Haddock e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela gentileza! Aguardamos a sua volta.