Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Prefácio aos novos dias

Por Rec Haddock

Luís Roberto fazia parte de um grupo de 7 amigos que se reunia toda semana para contar histórias. Religiosamente. E digo religiosamente porque me disseram que era uma religião, mesmo, para eles. Nenhum acreditava em Deus, e nenhum queria ficar sozinho no mundo, então se reuniam toda semana para contar histórias.
Não falavam das suas vidas, de modo que não demonstravam preferências políticas, ou coisas assim, que poderiam fazer com que eles rompessem ligações. Dos outros conheciam apenas o rosto, o nome e as histórias.
Aquele encontro caíra no dia do Réveillon, e era o dia de Luís Roberto falar. E pelo que me disse, assim contou:
"Tudo estava tranquilo pelos lados de lá. Jonas era casado com uma mulher supimpa de corpo e mente, seus filhos não davam problemas demais, seu carro era novo, seu emprego não lhe custava muitos esforços e pagava acima da média, sua cerveja estava gelada e o Saia Justa estava pra começar.
"Ele tinha, por bastante tempo, – não admitia - um pouco de vergonha de gostar deste programa. Mas o Du Moscovis e o Chico Sá começaram a fazer parte da equipe de apresentadores, e aí ficou fácil de assumir pros amigos que assistia de vez em quando. Se o Chico Sá, que fala aquelas coisas de beber endométrio, pode fazer, ele podia ver sem comprometer a masculinidade.
"Naquela tarde, quem apresentava era o da raquete. Jonas não se achava um cara violento, mas se identificava com aquela brutalidade toda. Tudo o que o distanciava daquele cara era que toda a sua brutalidade estava reprimida.
"A garrafa de cerveja estava na metade. Miriam, sua mulher, lhe trouxe outra e disse que ia levar as crianças para uma peça infantil. Melhor assim. Teria mais tempo para si. Deu até um dinheiro para que a mulher e os filhos fossem de táxi, e não de ônibus.
"Ele terminou as duas cervejas quando acabou o programa. Jogou as garrafas na Mildred – nome que a sua esposa dera a lixeira da cozinha. Ele sempre achara extremamente estúpida aquela mania da Miriam de dar nomes pras coisas. Ele se sentia ofendido até. Tinha a sensação de que ela nomeava as coisas pra não se sentir sozinha, mas ele sempre estava lá. Não tinha motivo pra essas sandices.
"Com esse pensamento na cabeça pegou uma Playboy e foi ao banheiro, aproveitar que estava sozinho em casa. Quando chegou na porta do cômodo, o viu e lembrou-se: Césão estava pintando o seu banheiro. Aquele cara tinha 1,54m e era albino. Uma figura estranhíssima. As paredes que pintava pareciam murais de Mark Rothko. Parecia que tinha cheirado cocaína o tempo todo: piscava a rodo, meio que tremia, seus olhos estavam sempre mais abertos que o necessário e fazia contorções estranhas com a coluna, sem motivo aparente.
"Ele ficou um tempo observando Césão, que parecia em transe, pintando aquele banheiro. O cara fazia arte, mesmo. Seu banheiro ia valer uma fortuna, um dia.
"- Ei. Césão. Você já pensou em pintar quadros?
"- Já sim, seu Jonas. Eu pinto, na verdade, mas o mercado é bem complicado, sabe? Os quadros que pinto não vendem não.
"Jonas não entendia como podia aquilo. O cara era um gênio. Tanta gente medíocre fazendo milhões com pretensa arte – diga o que quiser, mas Jonas nunca concordaria que um mictório é arte – e ele pintando banheiros.
"- Essa playboy aí é boa, seu Jonas?
"- Não vi ainda não.
"- Quando o senhor terminar, posso dar uma olhada?
"- Precisa esperar não. Não quer ver agora?
"Jonas abriu a revista e ficou analisando as fotos com Césão. A mulher era boa. Césão não parava de se contorcer ao lado de Jonas. Fazia um negócio com as mãos, como se estivesse passando uma moeda entre os dedos, mas ali só tinha vontade. O homem era um poço de vontade reprimida.
"Jonas já não olhava mais pra Playboy.
"Césão não olhava para Jonas.
"Se ele quisesse que alguma coisa acontecesse, não haveria momento mais propício. Como ele poderia fazer para pegar o albininho sem causar furor? Talvez um beijo roubado à força?
"Mas ele queria se relacionar com Césão? Que palhaçada era essa agora? Ele tinha mulher, porra. E gostosa pra caralho. Malhava pra cacete, toda durinha e ele de olho no albininho? Ele era macho!
"Ia se controlar. Ia se controlar que nem quando andava na rua e tinha vontade de dar uma porrada em uma velhinha qualquer que atravessava seu caminho. Tinha essa vontade uma vez por semana, mas o soco nunca tinha chegado. Então ele era mais que capaz de conter aquela vontade.
"Fechou a Playboy.
"- Aí, seu merda! Tá achando que vai ficar vendo sacanagem no horário de trabalho? Vai pegando o pincel.
"- Olha só seu Jonas. Eu gosto bastante do senhor, mas não vou ficar aturando desaforo não, que não sou pago pra isso. Você que abriu a revista! Tá maluco?
"Jonas não esperava por aquilo. Césão além de talentoso era durão? Aquele tamanho, aquela pele e aqueles tiques deviam fazer ele se deixar dominar.
"- To de sacanagem, chefe. Que isso. Toma a revista aí. Tira meia hora. Depois você volta a pintar.
"Saiu do banheiro. Césão fechou a porta, e Jonas ficou pensando se devia entrar e surpreender o pintor. Ele entendeu, naquele momento, que mais cedo ou mais tarde ia ceder à tentação. Que fosse logo então.
"Deu meia volta, colocou a mão na maçaneta e hesitou.
 Luís deixou a mão de Jonas na maçaneta. Parou de contar a história. Choveram protestos dos outros seis, mas Roberto estava irredutível.
"Nesse momento, Jonas tinha dois caminhos pela frente. Poderia ceder a sua tentação e mudar a sua vida ou continuar a vida que devia ter. Mas o Jonas não existe. Quem existe sou eu, Luís. Eu não tive a coragem de me arriscar e mudar a minha vida até agora".
Luís nunca mais voltou aos encontros, e os sete viraram seis por um tempo. O que cabalisticamente era inaceitável. Se ele não tivesse saído, eu, Rec, não teria entrado. De qualquer forma, ele disse mais uma coisa antes de ir embora, me contaram:
“- Esse ano não vou contar histórias. Vou vivê-las. Eu desejo que todos vocês abram as suas portas por conta própria”.


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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Mi Buenos Aires querida

Por Danilo Marcks

Voltar a um mesmo lugar, onde passamos bons e maus momentos, depois de um certo tempo, pode nos fazer bem a alma. Voltei depois de um ano a Buenos Aires, lugar onde morei por três anos. Saí da cidade cansado, exausto, estressado e senti como finalizado meu ciclo na capital portenha. Por obra do destino, ou não, um ano depois voltei por 20 dias. Tudo mudou. As pessoas mudaram, a urbanização, os lugares e até o cheiro.

Como é bom voltar a um lugar e poder retornar com uma nova “mirada”. Voltar com um olhar diferente do que saí. Como é bom ver as coisas e detalhes tão preciosos e bonitos; que antes; pela rotina e o dia a dia não via e também não percebia.

Como é bom reencontrar pessoas e sentir que houve movimento. Sim, Buenos Aires é uma cidade realmente em movimento. Nada estava do jeito que parou pra mim. Nada estava como estava. Bom, se não foi a cidade, talvez eu, talvez a gente. Talvez nós é que mudamos e também por questões do dia a dia não nos demos conta do quanto mudamos, do quanto nos transformamos. O quanto também, minuto a minuto, estamos nos renovando e nos reciclando.

Gracias, mi Buenos Aires querida, pela oportunidade de amá-la novamente e saber que podemos mudar sempre.     

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domingo, 29 de dezembro de 2013

Calor no litoral

Por Halliny Lima


 - Maiores de 18?
- Sim, sim
- Nomes?
...
Nomes...
Detalhe naquela noite desconhecida
Desconhecidos
Segredos
Mistério no ar
Pedimos nossas companheiras
Cerveja
Caipivodka
Sex on the beach
...
 Eram 5 andares
Escuro
Nebuloso
E fumaça com música
- Vamos só olhar.
E entramos 
E era um carnaval
No calor do litoral
Suor descendo
Olhares subindo
Mãos
...
- Tá muito calor aqui!
Terraço 
Ufa!
E elas nos acompanharam de novo
Molhar a garganta
Rir daquilo tudo
E agora?
 Olhar?

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sábado, 28 de dezembro de 2013

Eufemismos

Por Rodrigo Amém

Ela carrega sobre os ombros um amontoado de peles de pequenos mamíferos mortos, entrelaçados por fios de algodão. Está elegante, sobre o couro de ruminantes mortos que envolvem seus pés. Ele, igualmente irrepreensível, traz seu cabelo untado com banha de origem animal, o que lhe dá um aspecto lustroso e arrumado.

Enquanto o sebo escorre nos castiçais mediante a crepitação da chama, resolvem comer lesmas. Sorriem um para o outro, à medida que seus maxilares vencem a consistência elástica dos pequenos invertebrados. Aproveitam também para beber o sumo de uvas velhas e esmagadas, que havia fermentado pela decomposição há muitos anos. Nem sequer lembrava a fruta fresca que havia sido comprimida pelos pés gordos e pesados de francesas obesas e suadas. E os dois ali, sorrindo. Um pouco depois, saboreiam moluscos crus e brincam com as ventosas gélidas dos tentáculos mortos em suas línguas. Se não fosse pela música ambiente que reverbera, seria possível ouvir a sutil sinfonia da mastigação de ambos.
Logo a seguir, o garçom lhes apresenta aparatos de metal com pedaços de bovinos mortos e em chamas, carbonizando-se lentamente. E eles se deliciam.

Mais tarde, estão sentados em peles de animais dentro de um uma estrutura metálica, sobre uma máquina à explosão que movimenta pedaços circulares de material proveniente de dejetos de répteis extintos. Ele toca o rosto dela, macio, graças à aplicação de lama e restos de vegetais em decomposição. Trocam bactérias e microscópicos restos de moluscos, lesmas e carne morta enquanto esfregam seus lábios sofregamente. A língua dele busca os orifícios auriculares dela e volta, salpicada de cera, a mergulhar na saliva da boca da fêmea, depositando tais resíduos entre as suas gengivas. Os poros dele começam a secretar a ureia que ela suga misturada ao álcool e aos aditivos químicos da essência vinda do mesmo país da moça gorda que pisa uvas.

Daquele ponto em diante, a troca de fluidos corpóreos se dá através de dedos, línguas, lábios, orifícios, reentrâncias e saliências. Um festim de micro-organismos, uma orgia de bactérias, interrompida apenas, talvez, por uma fina membrana de seiva de uma velha árvore sangrada com um facão cego e sujo de um caboclo seringueiro em meio à floresta tropical.

Gases, odores e fluidos exauridos e diluídos pelo ar, ele vai dizer, com seu hálito carregado de secreções genitais:

- Foi bom pra você?


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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A sós

Por Amanda Leal

Uma mesa antiga, dessas com a madeira descascada. Um peru de Natal devidamente pronto. Duas velas acesas. Dois lugares postos. Uma iluminação escura que valoriza ainda mais o clima rústico da casa. Há um tapete branco surrado perto da porta principal e um sofá de couro marrom, onde um homem chamado Edgar assiste tevê. Lucilene chega da cozinha ofegante carregando rabanadas. Ao fundo além da tevê ouvem-se barulhos de carros, motos, buzinas e vizinhos que conversam. Um cachorro late, uma ou outra criança briga, chora e a mãe retruca.  As onze em ponto Edgar está à mesa junto com sua companheira Lucilene. Entre eles há um silêncio absoluto.

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Feliz Natal,meu monstrinho.

Por Bernardo Sardinha


Era manhã de natal em um apartamento de setecentos metros quadrados em uma área nobre qualquer da cidade do Rio de Janeiro. O pequeno Duda, menino bem nutrido e com seus doze anos de idade corre para abrir os presentes espalhados ao pé da brilhante árvore de natal de dois metros de altura. Sobre os olhares carinhosos de seus pais ele rasga cada pacote de presente, sem dó. Adorou o jogo do Call of Duty, agradeceu trinta vezes pelo box de DVD´s  da última temporada de Dexter, sua série favorita, e começou a brincar de tiro ao alvo com as empregadas usando sua arma de paintball. Mas seu presente favorito de longe foi: Uma raquete de matar mosquitos. Ele saiu correndo com ela em mãos e deu um abraço apertado nos pais: “Agora vou poder matar de verdade!” Aquele grito ecoou pelo vão do prédio, gelando a espinha dos empregados, mesmo sabendo que o garoto se referia aos mosquitos. 

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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Já é Natal?

Por Marcela de Hollanda

Antes do meu vigésimo sétimo Natal, eis que eu descubro que o Papai Noel não era a única mentira da data. Aquele motivo verdadeiro e nobre para se comemorar, o que a gente reclama que muita gente esquece, o do nascimento de Jesus, também é uma farsa. Não que Jesus não tenha nascido e que seu nascimento não deva ser comemorado, mas ele não nasceu no dia 25 de Dezembro. Só tinham esquecido de me contar isso até hoje. Se você não acredita, é só dar uma olhada no Google e verá uma enorme quantidade de matérias sobre isso. Não se sabe o dia do seu nascimento. Na falta de um dia, lá atrás na História em Roma, escolheram um que continha uma celebração pagã e transformaram na maior das datas cristãs. Por sua vez, a sociedade capitalista transformou na maior data do comércio.

E que sobra então? Tudo. O que vale é a intenção. Que o espírito natalino viva ao menos um dia por ano, seja o dia que for. Que as crianças tenham sempre direito à magia. O Natal é uma data essencialmente familiar e, por isso, fundamental. Nesses tempos tão corridos, toda desculpa é válida para parar e se reunir com todos aqueles a quem você foi ligado pelo nascimento, seja o seu ou o do outro. É hora de lembrar que Deus não coloca ninguém na nossa vida por acaso. Cada familiar carrega uma possibilidade de aprendizado, de crescimento pra gente. E o maior exercício de crescimento é a prática do amor.

Com alguns desses familiares você pode se dar particularmente bem. Aproveite e seja agradecido por ter a oportunidade de ter tais companhias. Outros podem representar um verdadeiro e constante desafio. Dê especial atenção a essas relações. São as com que você pode crescer mais se souber colocar o amor acima de todas as dificuldades. Ame e compreenda a sua família. Se vocês estão juntos nessa vida, é pelo bem de todos. Que nesse Natal os presentes não sejam uma obrigação, mas uma forma de dizer “eu te amo”. O Natal é como uma caneta marca texto, mas o texto é válido para todos os dias.


Feliz Natal!!!

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Fröhliche Weihnachten

Por Rec Haddock

       Estava chovendo bastante naquele dia. Sempre chove bastante nessa época, e ele começou a procurar o cheiro, mas não encontrou. O cheiro que a chuva fazia lá, a chuva não faz em nenhum outro lugar.
Lá, no caso, era o Golf Resort Club Vermont. No meio da estrada, um hotel que acabou crescendo demais. Dois circuitos de golfe independentes, várias piscinas, lagos para pesca, churrasqueiras, boliche, bocha, cavalos, um campo de futebol gigantesco e mais dois pequenininhos, quadras de vôlei, tênis, basquete, academia, restaurantes, lojas de souvenir, mesas de sinuca, campeonatos de tranca, jogos de pôquer. Quartos e chalés e restaurantes e prédios projetados por Niemeyer e jardins projetados por Burle Marx. De tudo o que ele descreveu sobre o lugar, é isso o que lembro – talvez ele e eu tenhamos esquecido algumas coisas, mas com certeza as memórias da infância dele e a minha empolgação com o lugar compensaram estes esquecimentos.
Seu bisavô fora um investidor e investiu naquele hotel quando ele era apenas uma série de quartos amontoados. Por isso, na sua infância, a sua família ainda era dona de uma parte do Resort e ele ia passar os últimos 15 dias do ano lá. Todo ano. E todo ano chovia. E a chuva que chovia lá tinha um cheiro especial, como de grama recém-cortada. Era disso que mais gostava.
Seu bisavô não fora o único investidor, e outras famílias, também donas de suas partes do Resort,iam para lá todos os anos. E, como não poderia deixar de ser, tantas famílias acabavam virando uma família só, por quinze dias por ano. Até que as pessoas das famílias diferentes começaram a casar entre si e criar novas famílias de fato, e todos acabaram virando uma família por todo o ano, em todos os anos.
Tem famílias que se unem em torno do circo, outras que se unem em torno da música. Tem famílias de dentistas e outras que adoram velejar. Algumas famílias se unem em torno de alguma coisa que todos amam. Essa se uniu em torno do Natal no Golf Resort Club Vermont, e mesmo que alguns não fossem parentes de sangue, todos se amavam como irmãos e primos e tios, porque amavam aquele lugar.
E como amavam o Natal. Todos eles atacavam a ceia no Restaurante dos Flamboyants e reclamavam juntos do péssimo cantor que o Hotel contratava todo ano. Um deles – um dos homens mais velhos, sem filhos – sempre era acometido por uma dor de barriga súbita, perto da meia noite, e desaparecia. Logo, tocavam-se os sinos e surgia o Papai Noel para distribuir os presentes para as crianças, depois, é claro, de descobrir através de uma severa arguição oral se a criança em questão tinha ou não sido boazinha naquele ano.
Tudo era perfeito.
Mas merdas acontecem, e a família dele perdeu muita grana na época em que um Banco Internacional, na sua escalada, estava comprando hotéis pelo mundo inteiro. E o hotel da vez era, claro, o seu hotel. Venderam a sua parte quando ele tinha 19 anos.
Parte da sua magia já tinha acabado, é verdade, mas o Golf Resort Club Vermont ainda era um lugar especial para ele. E agora chovia, mas a chuva não tinha cheiro de chuva.
Então ele decidiu que era melhor que ele voltasse para a casa. Ele sentia muitas saudades daqueles momentos, e naquela véspera de Natal, quando virou a chave do seu apartamento, chorava - como eu choro quando conto essa história – por não ter mais nada daquilo.
Acontece que milagres acontecem.
Quando a chave virou e a porta abriu, ele viu a sua mulher. Junto com ela, estavam seus pais, seu irmão, avós e tio. Todos estavam sorrindo, felizes. Sua avó estava um pouco bêbada.
A sua memória estava no seu coração, mas a sua família não estava junta em torno do Natal do Golf Resort Club Vermont, afinal. Nem sequer estava junta em torno do Natal. Ela estava junta porque se amava. E ele amava todos. Ele amava aquela mulher que tinha escolhido para ser sua parceira na vida, e, para a sua mais completa felicidade, eles também a amavam.

E, finalmente, ele percebeu. Sua casa estava com cheiro de chuva.


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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Mente que mente

Por Danilo Marcks

Tudo passou aqui, eu olhei para ali e o mundo mudou
Eu sou tão imbecil, fico preso a ti
Mas isso é tão normal
E vai, vai passar o tempo todo
Vai passar…
E minha mente vai mudar toda…
Mas eu não sei fazer o que mandam fazer
E eu fico um pouco sem querer dizer
Já liguei para você, já mandei receber e
Ninguém entende o por que
E vai, vai passar o tempo todo.
E minha mente vai mudar o tempo todo
Mas eu não entendo a minha mente
Eu não me entendo
Minha mente eu não entendo
Minha mente não se entende
Quanto mais você mente
Minha mente se mete e se mente
Mas eu não sei fazer o que minha mente mente

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domingo, 22 de dezembro de 2013

Shiiiiiii...

Por Halliny Lima

Silêncio
Shiiiiiii...
Eles podem acordar
Silêncio
Shiiiii....
A voz que cala no ar
Os movimentos acabam dizendo
Mergulhamos pra dentro
O olhar foge ao encontrar
Shiiiii...
O peito grita 
A mente inquieta
Por quê?
É tempestade no oceano
Quero voltar pra reta
Plano
No oásis brincar
Na terra que é só nossa
Que eu vôo baixinho
Ninho
Shiiiii...
Eles podem acordar
Carinho
Vamos deitar...

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sábado, 21 de dezembro de 2013

A cobra, o rato, o velho

Por Rodrigo Amém

Três e tantas da madrugada e o caminho de casa. Os sons dos motores adquiriram, subitamente, tons proféticos do colapso iminente. À beira da estrada, o apalermado eu, cercado de fumaça cheirando a óleo queimado e frustração.

Nem sei bem o porquê, mas a primeira coisa que me ocorreu foi olhar para o céu, culpando estrelas. E uma delas, desaforada, cuspiu-me o olho. Outras tantas a seguiram e logo banharam o mundo. Como um bicho, corri curvado em direção à coisa alguma, procurando sei lá o quê. Nem sei por que corria e por que curvado. De certo achava que dobrando minha espinha choveria menos, enquanto eu corria para um lugar onde molhasse pouco. Muito chato ser patético e todo mundo é, vez por outra. 

Achei barraco sinuoso e sem porta para esticar a coluna e maldizer a bestice, que não me deixou ficar no carro. Eu e o arrependimento, dentro do barraco: Chovia mais que fora.

E as gotas caíam leitosas na sala podre. Vi uma cobra engasgada fornicar-se no buraco de rato. Debaixo de uma mesa manca e caída, o ex-inquilino chacoalhava a chuva dos pêlos. Foi preciso que eu dissesse saúde, depois do atchim, para lembrar que não tinha espirrado e olhar em volta.

Era um velho roto e fedido, olho caído outro não, mão estendida pra esmolar, cumprimentar e ler destino. Quis saber de mim sem perguntar. E eu também nem respondi que tinha medo e queria que ele morresse agora, antes de mim, do rato e da cobra. Ficamos ali, dançando sem mexer.

Eu nem ia mesmo pegar, o velho guardou sua mão pedinte, ainda me cravando o olho bom. Quis que se virasse e fosse embora, mas tive medo de querer bater-lhe pelas costas. E se ele saísse de ré, não poderia mover-me. Vai que me vigia. Melhor não saber por onde vou. Quero sumir dele. E se a cobra vir morder? Será que o mataria? Mas a cobra engasgada não morde, só engasga e fornica no buraco dos ratos.

Demorou uma vida quando a chuva foi embora. Do mesmo modo que entrou, o velho saiu, sem que eu visse, nem sei como. Só vi que já tinha sol, sem velho, sem cobra e sem rato e o caminho era azul até a estrada.

Muito chato ser patético e todo mundo é, vez por outra. 

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sacolas cheias

Por Amanda Leal

Saio na rua e não vejo pessoas, vejo sacolas. Sacolas cheias de histórias, pensamentos e intenções. Nessa época do ano não costumamos olhar no rosto de ninguém e sim para as sacolas. Olhamos para a personalidade das sacolas. Quanto mais sacolas mais queremos olhar. Muitos as invejam sem ao menos saber o que tem dentro. E então podemos fazer um exercício mental maravilhoso: Imaginar o que tem ali! O que será? É grande? É pequeno? É feio? Eu usaria? A pessoa gastou muito? Ou comprou apenas uma lembrancinha? Pela marca, ás vezes, dá até para saber o que tem ali dentro. Cem por cento de certeza? Não. É arriscado demais fazer um chute certeiro. Mas é gostoso imaginar o que tem dentro de cada sacola. A mente vai longe e o que fica é a pergunta: E se fosse pra mim? E se eu pudesse comprar nessa loja o que colocaria ali?

 O nosso Natal ainda é Natal ou é apenas uma desculpa para se ter mais sacolas? Papai Noel sabe disso? Será que ele sabe que estamos comprando adoidados? Estamos todos trabalhando por ele. E trabalhando demais. O saco vermelho está ficando vazio e o bolso da galera cheio de dívidas. Estão todos esquecendo da sua realidade, saem para as compras e esquecem da vida. Acabam comprando não por eles mesmos e sim pelo outros. Em alguns casos ocorre uma competição de famílias, quem vai ter a árvore mais recheada, hein? Natal sem presentes não é natal, assim pensa a maioria.

Fico pensando que se eu pudesse ser uma sacola, qual eu gostaria de ser. Acho que eu seria uma sacola de loja de jóias. Pequena, chique e discreta, mas que esconde uma bela recompensa. E você? Qual sacola seria? Lembrando que nossas vidas como sacolas seriam passageiras, seríamos apenas uma "mula" que carrega algo para o seu destinatário. Assim também vivem os envelopes, caixas e saquinhos de presentes. Vida difícil essa. Depois de abertas, elas perdem o seu valor.

Parece que o Natal virou mesmo a época de compras, assim como o ano novo é a época das viagens. Mais fácil é não pensar e sair comprando, gastando e sendo feliz por pouco tempo. Assim como as sacolas outros ícones importantes também acabaram ficando sem valor: Papai Noel, o nascimento de Jesus e o peru ficaram um pouco pra escanteio.Mas as contas  a pagar, essas sim permanecem. 


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Facebook aberto

Por Bernardo Sardinha


Ela foi tomar banho e deixou para mim uma simples tarefa: Ver em qual cinema está passando aquele romance água com açúcar O QUAL EU NÃO QUERO VER. Com tanto filme interessante no cinema, eu tenho logo que assistir a mais um romance bobo? Não mesmo. Tenho duas opções: Mentir falando que não tem sessão disponível e que a única opção que temos é ir assistir um filme maneiro ou... Pedir para ver outro filme, o que provavelmente vai gerar uma briga desembocando em uma longa e chata "DR", que vai terminar comigo pedindo desculpas por ser um monstro egoísta.
  
Assim, após escutar a porta de Blindex bater e o som da água caindo no chuveiro, sentei no PC para verificar o tal horário. Logo vejo que a sorte não estava ao meu lado. Há várias sessões do tal filme. "Oh destino! Por que me obriga a mentir?" - penso eu. Não sou companhia para ver esse tipo de filme. Vou ficar entediado nos primeiros 15 minutos, se não tiver pelo menos um tiro, uma explosão, ou sei lá, qualquer coisa mirabolante.

Aproveitando o embalo vou para o Facebook  enquanto penso em uma desculpa/mentira. Digito rapidamente no browser e dou enter e  para minha surpresa, eu entro na página principal DELA. Toda a rede social dela está aberta para mim. Para quem não sabe, rede social é que nem conta de banco. Não se deve dar a senha para qualquer um, no máximo, talvez, para o cônjuge (talvez seja por isso que tanto casal cria contas conjuntas no Facebook). Lá estava um milhão de mensagens não lidas, outras tantas solicitações e não sei quantas atualizações de status, todas prontas para serem lidas. Eu sabia que vasculhar a rede social da minha namorada era errado, mas como resistir a uma olhadela rápida? Era proibido como ler um diário e tão prazeroso quanto.

A primeira mensagem me deixou de cabelo em pé. Era um "empresário" do submundo, chamando-a para participar de um torneio de artes marciais em Macau onde os participantes lutam até A MORTE. Não. Mentira. ISSO É O FILME QUE EU QUERO VER NO CINEMA. Mas achei algo tão interessante quanto: Um grupo onde ela e as amigas ficam falando putaria. Entrei lá e fiquei surpreso. Entre várias fotos de paus e comentários maldosos sobre os namorados não havia nada vil escrito por ela. Ela era de fato uma dama. Que orgulho (se bem que ela poderia ter dito algo sobre meu dote para as amigas, mas só de não falar mal já fiquei grato).

Depois fuxiquei sua lista de solicitações. Vários caras sem camisa. Puta que pariu namorar mulher bonita é foda. Ela rejeitou muitos mas haviam outros babacas a adicionando. Ao ver tantos babacas, lembrei de um outro babaca. O ex dela. Aquele que a perseguiu por meses a fio durante o nosso começo de namoro.

O som do chuveiro cessa, tenso eu já me posiciono para fechar a janela, mas escuto o som do secador de cabelo, e calculo que tenho alguns minutos a mais no mundinho particular dela. Fui ver mensagens privadas que ela trocou com o ex. Ele era um cara fortão com bom emprego e sua foto, que surpresa, era sem camisa. Li a última conversa deles e vi que apesar dele estar jogando indiretas ela se esquivava com classe. Ele pegou pesado. Disse que tinha saudades, que gostava da mãe dela, da família e blá blá blá. Daí veio a facada no peito. Ele falou que adorou "Pontes de Madison", filme que eles viram juntos. O Ex gostava de ver filmes chatos com ela e eu não. "Sou pior que ele, que troca infeliz ela fez..." - sussurrei. Ela terminou a conversa e se despediu cordialmente e eles nunca mais se falaram. As mensagens datavam do ano passado.

E de repente das caixas de som saiu um e sonoro "PLAM!" e uma mensagem surgiu no canto da tela:
- Está no Face é? Já viu o horário do cinema!?

 - gritou ela desligando o secador.

- Jáááá! - gritei bem alto para logo em seguida ela voltar a ligar as malditas turbinas do secador. Fato: Eu tinha pouco tempo.
           
 No canto da tela tinha uma mensagem onde vários amigos em comum participavam. No começo fiquei sem entender o porquê, mas descobri que era tudo por um motivo nobre. Ela estava organizando uma festa surpresa de aniversário para mim! Pronto. Obviamente me senti um merda. Não possuía abdômen sarado, não possuía qualidades a serem mencionadas no grupinho da putaria que ela tinha com as amigas (neste momento não ser mencionado soou algo ruim), não conseguia ver filmes românticos com ela e mesmo assim, ela organizava uma festa surpresa com meus amigos. Ouvi o trinco da porta do banheiro e fechei a janela do Facebook.

- Tem horário? - disse ela entrando no quarto, parcialmente arrumada.
- Tem. - respondi sem esconder minha nova admiração por ela.
- Vai...Dar para assistir? Ou a sessão é muito tarde? - diz ela já esperando uma desculpa minha para não ver o filme.
- Dá sim.
- Ótimo! Me dá cinco minutos!
E foi assim que meu "monstro egoísta interior" fora derrotado e se escondeu para nunca mais ser visto.

Epílogo
Após bater a porta de casa, ela, esperta, aproveitando o momento em que eu estava todo fofo, me manda essa:
- Ah! Sexta que vem tem o chá de bebê da Joana, vamos? – ela disse sorridente.

Suspirei fundo e ouvi lá de dentro o  "Monstro egoísta interior" GRITAR "Sexta que vem eu voltarei Muahahah!".


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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Saudade

Por Marcela de Hollanda


A pior saudade
É a saudade de quem ainda não foi                       
Essa saudade antecipada
Imaginada, pressentida
Com a saudade concretizada
A gente convive, se adapta. Suporta.
Aquela que não tem remédio
Remediada está
Mas a saudade que ainda vem
A que parece que você pode evitar
Te faz querer se agarrar e não largar
Projetar cenários caóticos
Faz o peito apertar e doer
Faz o pulmão fechar, o intestino revirar
E o pior
Te faz deixar de enxergar
Que a outra pessoa ali ainda está
E te faz perder todo o tempo
Que você tinha para aproveitar

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Surto metafórico

Por Rec Haddock

Uma borboleta pousou no meu indicador. Bom presságio. Uma borboleta pousou no meu indicador e as suas irmãs se acalmaram no meu estômago. 
Eu já sabia o que devia fazer. Cai sobre um joelho, e ela não pareceu nem um pouco surpresa. A natureza ao redor se surpreendeu. 
Abri a boca para fazer o convite que mudaria nossas vidas e as borboletas jorraram. Por pouco não deixei cair os anéis, dentro daquela nuvem. 
O sol brilhava em todo canto.

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Encontro inesperados e aguardados

Por Danilo Marcks


    Como reagir diante de um encontro não proposto e não marcado com um antigo grande amor? Como sentir o coração e perceber que o grande amor que foi da nossa vida, está aí diante dos nossos olhos?
            Quando sabemos antes, que vamos encontrar ou reencontrar, nos fazemos todas aquelas perguntas: - Será que vou ficar com as mãos transpirando? Será que vou conseguir dizer “oi”? Será que o coração vai bater pulsante? Será que não vou sentir nada? Bem, todas essas perguntas são um preparatório para tentar lidar com tudo isso que pode passar ou não, quando sabemos de antemão que haverá o encontro. E quando esse encontro acontece assim, do nada, sem aviso prévio?
            É como o término de relação, em que por muitas vezes não nos damos conta que acabou e do nada ouvimos um: “Eu quero terminar com você”. Com um reencontro inesperado, e às vezes, inusitado quiçá seja a mesma sensação. Não há como controlar. O ex-amor, ou o amor, aparece na sua frente, e todas as perguntas não feitas aparecem ai, no momento presente, ao mesmo tempo, em formas de sensações físicas, e claro, psicofísicas. Enfim, a gente respira e é necessário aquele pequeno tempo para saber se segue sendo o grande amor da sua vida, se foi o grande amor ou se não é e nunca foi aquele grande amor da nossa vida.
 É interessante perceber e notar isso. Às vezes ficamos presos a falsos amores inventados por histórias que muitas vezes não se sucederam, além da nossa imaginação. Mas ele tá ai, na sua frente e de repente volta tudo, por mais que o término tenha sido o pior de todos, por mais que seja a pior pessoa do mundo, por mais que não seja quem parece ser, o amor está ai. O cheiro volta, o sabor volta, o coração acelera, e a gente se desconstrói.
  É preciso controle para não sair do controle e não deixar tudo a perder. Mas às vezes perder o controle faz parte do jogo. Se deixar, desfrutar do presente, sabendo que é apenas um sentimento, sem capítulo que segue, não e de todo mal, afinal, amamos, já  se amou,  houve amor e um pouquinho de “relembrar o passado” não faz mal a ninguém. Passou comigo, pode passar com você.


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domingo, 15 de dezembro de 2013

Olho mágico

Por Halliny Lima

Te vejo
Você me vê
Será que vê?
Vê mas não olha
Olha por dentro
O que ta lá no meio
O que sinto
Esse filtro da verdade...
Anestesia às vezes
Te adoro? Te odeio
Tudo bem? Por educação
Saudades? Ficar bem na fita
Adesiva as palavras
Amortece o sorriso
Mas não é o que sente
Nesse filtro da verdade
Novamente, às crianças 
Desconhecem essa lâmina
Saltitam os olhos
Brilham reluzentes
Porque nelas é vivo
É verdade ou não é
Te adoro
Não gosto de você.
Vamos ser amigos?
Enrijecemos
Parede com o tempo
Concreto
Eu vivo pra mudar
Mudo pra viver

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