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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Às Quartas – Parte 1

Por Marcela de Holanda

Sentou no banco da praça como sempre sentava às quartas, sempre naquela hora. Esperou por cinco minutos. Será que ele não apareceria? Mas lá veio ele correndo, suado e sentou ao seu lado como de costume. Com a respiração ofegante, ele parecia até que estava prestes a falar alguma coisa, mas abriu um livro. Ela já estava com o seu.

Há três meses, repetiam esse ritual e nunca tinham trocado nenhuma palavra. Só ficavam ali, lado a lado, por mais ou menos uma hora, conscientes da presença um do outro. Nessa quarta, ela sentiu que ele não estava bem, mas não tinha coragem de quebrar o silêncio mágico daquele momento. Tinha medo de perdê-lo se falasse.

Ela o amava. Esperava a semana toda por aquela horinha. E ele devia sentir alguma coisa por ela também já que era impossível que a sua presença fosse mera coincidência. Pouco antes de 13:00, percebeu que ele estava chorando. Quis consolar, quis perguntar, mas não conseguia nem olhar para o lado.

Ele se levantou, se afastou e só aí ela se virou. Trocaram um olhar pela primeira vez e ele se foi. Reparou que ele tinha esquecido o livro no banco. Preferiu guardar do que correr atrás dele. Na quarta seguinte devolveria e, quem sabe, ele agradeceria.



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