Por Marcela de Holanda
Sentou no banco da praça como sempre sentava às quartas, sempre naquela
hora. Esperou por cinco minutos. Será que ele não apareceria? Mas lá veio ele
correndo, suado e sentou ao seu lado como de costume. Com a respiração
ofegante, ele parecia até que estava prestes a falar alguma coisa, mas abriu um
livro. Ela já estava com o seu.
Há três meses, repetiam esse ritual e nunca tinham trocado nenhuma
palavra. Só ficavam ali, lado a lado, por mais ou menos uma hora, conscientes
da presença um do outro. Nessa quarta, ela sentiu que ele não estava bem, mas
não tinha coragem de quebrar o silêncio mágico daquele momento. Tinha medo de
perdê-lo se falasse.
Ela o amava. Esperava a semana toda por aquela horinha. E ele devia
sentir alguma coisa por ela também já que era impossível que a sua presença
fosse mera coincidência. Pouco antes de 13:00, percebeu que ele estava
chorando. Quis consolar, quis perguntar, mas não conseguia nem olhar para o
lado.
Ele se levantou, se afastou e só aí ela se virou. Trocaram um olhar pela
primeira vez e ele se foi. Reparou que ele tinha esquecido o livro no banco.
Preferiu guardar do que correr atrás dele. Na quarta seguinte devolveria e,
quem sabe, ele agradeceria.
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