Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Eu

Por Amanda Leal

Estou sentada em minha sala, num sofá confortável, pago em dez prestações de duzentos reais. O ar está ligado e tomo um café com leite morno.  Tenho um abajur turquesa ao meu lado e dele sai uma luz amarela de uma lâmpada de led que comprei no ebay. Quis transformar minha sala em um ambiente extremamente confortável. Consegui.

Quando você entra na minha sala você rapidamente se transporta para outro lugar que não é o Rio de Janeiro. Esqueci de dizer que estou de pernas pra cima e da minha janela olho o fim de tarde iluminado de cinquenta graus no Leblon. Aqui dentro tudo parece tão calmo e está.

Marido trabalhando, crianças na escola e empregadas de folga. Essa sim é a minha vida. Calma, serena, tranquila. Vejo na tevê um CSI para distrair a cabeça e após ver tanta gente morta no episódio de hoje, tive mais uma certeza: estou muito bem. Obrigada meu Deus.

É irônico beber um café com leite (mesmo que morno) no calor que faz lá fora, mas aqui dentro da sala já quase neva. Café com leite relaxa e hoje eu to ótima. Aboli o adoçante e carreguei no açúcar. Só por hoje. Poderia morrer agora que estaria feliz. E quando cientistas forenses encontrassem meu corpo saberiam que dentro do meu estômago havia café com leite.

Como minha vida vai ser longa, assim eu sinto, e como sinto também que o CSI de hoje me deixou meio zureta mudei de canal e fui ver programas de estilo. Mudança de visual. É tão bom ver gente feia ficando bonita. Dá um alívio. Nada estraga o meu fim de tarde. Ahhh!

Me sinto tão livre aqui, só com tempo pra mim. Tempo para não ter que usar a minha voz. Dar opiniões e ter que responder o porquê disso e daquilo...  Poderia ficar assim por horas, aqui no meu esconderijo, que não é tão escondido assim. No meu lugar ao sol, onde está quase nevando e não é ao ar livre e sim dentro da minha casa.

Eu aqui no sofá, sozinha bebendo café com leite é a imagem mais pura de liberdade. Eu posso ficar só. Fico um tempo naquele estado gostoso de soninho, preguiça, quase dormindo mas to acordada. Se eu tivesse dormido não seria tão bom.

 Meu marido chega e me vê naquela situação tão minha: nua, sentada esparramada no sofá caríssimo todo coberto por toalhas verdes e besuntada no hidratante. Ele estranha e faz uma cara de oi? Eu respondo já sem muitas forças: - Passei a manhã inteira na praia, to ardendo.

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