Por Marcela de Holanda
Ela estava tão chocada que o bilhete escorregou da sua mão e caiu no chão. Um turbilhão de sensações se espremiam correndo junto ao seu sangue. A felicidade e o pavor brigavam pra ver quem chegava mais rápido ao seu coração. Eram tantas vozes falando ao mesmo tempo na sua cabeça que ela resolveu não escutar nenhuma delas e simplesmente correu.
Correu sem saber para onde ia. No fim, suas pernas magrelas acabaram a levando para um hospital e depois outro e outro. Mal sabendo quem era, saiu perguntando para um monte de desconhecidos se algum deles sabia do desconhecido dela. Aquele homem alto, de cabelo preto, olhos verdes e uma manchinha no meio da testa. Ela precisava encontrá-lo. Precisava vê-lo. Precisava quebrar o silêncio. Precisava que ele estivesse vivo. Mas ninguém sabia. Ninguém podia informar. Se ela soubesse ao menos o nome dele...
Voltou para casa e
paralisou. Ela não sabia mais o que fazer. Passou uma semana sem comer, sem
dormir, sem trabalhar. Na quarta seguinte, teve uma luz. Talvez ele tivesse
sobrevivido e fosse procurá-la no banco da praça. Trocou de roupa e foi
trabalhar. Alimentou-se de esperança para encarar o tanto de explicações que
teria que dar por lá. Mas ninguém perguntou nada. Como se não tivessem notado a
ausência dela.
Sentou em sua mesa e,
encarando o monitor à sua frente, lembrou. Ele tinha dito que a janela dele
dava de frente para a mesa dela. Olhou para fora, para o prédio em frente. Não
viu ninguém que se parecesse com ele. Mas para que esperar até a hora do
almoço? Alguém naquele prédio acabaria com a sua agonia.
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