Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

Sextas da Amanda

 Pequenas Confissões - texto 9 -  Coincidência
 Por Amanda Leal



Ele me falou que estava confuso e não sabia ao certo o que estávamos vivendo. Ele me pediu um tempo, já era a quarta vez que isso acontecia. Dizia que me amava, mas ao mesmo tempo tinha dúvidas.

Eu estava decidida a terminar, mas eu gostava dele  e ao mesmo tempo eu já estava insatisfeita com tamanha indecisão. O tempo lhe foi dado e eu fiquei leve. Um tempo pode até funcionar pra muita gente, mas para mim não. Já era a quarta vez e essa me soou como última.

Conversei com uns amigos e decidi sair e me divertir.  Encontrei um amigo de infância, eu estava super  animada e bebi um pouco além da conta. Ficamos.

Quando a noite parecia já terminar eu encontro com o meu recém ex-namorado, exatamente depois de um beijo delícia no amigo da infância. Naquele momento eu tive certeza: terminamos.


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Pequenas Confissões - texto 8-  Pombinha branca 
Por Amanda Leal






Era onze e meia quando decidi puxar uma cadeira e conversar com Deus. Certa de que eu estava fazendo o melhor pra minha vida eu comecei a desabafar, eu não podia mais ser a mesma em 2015. Sentada eu estava confortável demais, ainda estava fácil pra mim...Eu não tinha saído da minha zona de conforto e foi então que eu resolvi ajoelhar. Por mais desconfortável que fosse eu precisava fazer um sacrifício, tudo fluiu melhor depois daquilo. Eu sabia exatamente o que dizer e por onde começar. 

Pedi fortemente que no novo ano eu me tornasse uma pessoa melhor, que pudesse compreender com mais facilidade os meus tropeços e não me julgasse tanto, pedi que minha vida fosse mais divertida, pois eu havia sentido que em 2014 eu não tinha rido demais. Pedi que minha paciência pudesse ser grande e que minhas TPM'S fossem brandas e que não atingissem ninguém, se não a eu mesma. 

Então, como que numa revelação eu comecei a visualizar o ano que queria: um emprego que eu gostasse, uma casa simples que eu pudesse pagar, a família tranquila e estabilizada financeiramente. Na verdade o que eu visualizava ali era bem diferente do que eu mesma sonhara até então. 

Em 2014, eu havia pedido muito dinheiro, um carro, um apartamento de cobertura, uma festa de casamento incrível e um emprego que fizesse de mim muito bem- sucedida. Tomada pelo desespero em conseguir tudo isso eu acabei não conseguindo nada, não sai do lugar. Fiquei parada à espera de um milagre. 

Com o coração cheio de emoção, eu fui sincera e desabei em silêncio e profunda concentração. Podia sentir uma energia boa naquela noite, não só por conta da virada do ano, mas uma energia especial, energia essa que eu não sentia há um tempo. Só abri os olhos quando os fogos começaram e quando meus amigos e parentes me abraçaram e desejaram feliz ano novo. 

Na janela, vendo os fogos refletirem no mar o meu amor me abraçou tão forte que eu poderia ficar assim por horas sem me mexer. Foi uma sensação de completude e de paz tão deliciosa quanto à brisa da manhã. E como que num passe de mágica, uma pomba branca passou na nossa frente na janela do décimo andar. Não sei se assustada com os fogos e desesperada para encontrar abrigo nas coberturas dos prédios da cidade, ou se porque simplesmente veio colorir o cenário a nossa frente. 

Tudo ficou mais bonito a partir daquele momento, voltei a sentir certeza de mim mesma e vi que muita coisa já havia se modificado naquele comecinho de ano. Levantar da cadeira e ajoelhar foi apenas o início, olhar para trás e enxergar o tanto que já deu certo e o tantão que ainda precisa mudar foi mágico. 

Revi minha vida e fiquei feliz,estou caminhando. Sei que não foi à toa que Deus me chamou para conversar, acho que 2015 vai ser o ano! E por mais que a maioria diga que a pomba branca estava ali por acaso, eu tenho sérias desconfianças. Deus sabe de todas as coisas...



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Pequenas Confissões - texto 7- Quando conversar já não adianta mais
Por Amanda Leal




Oi Fernando. Como você já deve ter percebido, eu entrei no seu apartamento. Peguei as minhas coisas e dei um jeitinho em algumas outras pra você. Se você procurar a sua coleção de carrinhos e não a encontrar, peça ao porteiro para te ajudar procurando-a na lixeira do condomínio.  Suas cuecas estão todas de molho na água sanitária e é bom que você as retire de lá assim que chegar em casa, pois a tendência é que percam a cor e  a elasticidade.  Suas camisas eu achei que estavam pequenas e doei para o zelador. 

Aconteceu um pequeno acidente e a sua cama foi banhada por alguns engradados de cerveja...acho que você terá que jogar o colchão fora.

E ahh, antes que eu me esqueça: seu notebook estava aberto em cima da mesa, esbarrei e ele foi parar direto na tela da sua tv nova. Uma pena ter perdido logo duas coisas tão importantes para você. Enfim, acidentes acontecem.

É isso. 

Ass: Flávia.


Ps= A vagabunda da sua amante te ligou 3 vezes.



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Pequenas confissões  - texto 6 - Sem prescrição médica
Por Amanda Leal



Toda mulher sonha um dia em ser mãe, eu confesso que não sonhava assim, muito não. Sonhava de leve. Como se fosse uma coisa natural da vida, assim como menstruar ou fazer preventivo: toda mulher um dia teria que passar por isso.

Acontece que há dois anos eu fui mãe, casei e o casamento já estava pedindo um algo mais e acabou acontecendo, foi natural. Eu gostei da sensação de barriga crescendo, dos mimos que eu recebia, do carinho do marido, ah... Eu gostei de tudo na gestação.

Me considero uma excelente mãe. Eu sou participativa, dou muita atenção, zelo pela saúde e bem estar do Pietro, mas também não me tornei o tipo de mãe chata que posta tudo no Facebook ou que conta pra todo mundo cada passo do meu pequeno. Fico na minha. Sou reservada.

Algumas vezes eu sinto falta de ter mais tempo para mim, acho que toda mãe sente isso e o problema maior é que eu, às vezes, não consigo conviver comigo mesma. Me dá uma vontade enorme de sumir, desaparecer de casa e ficar longe das responsabilidades. Normal, coisa de quem carrega muita carga nas costas.

Eu trabalho numa agência de publicidade e meu tempo até que é bem flexível, o que por um lado seria ótimo, se eu não tivesse que dar conta de tantas coisas ao mesmo tempo. Meu marido ajuda, um pouco, mas ele é muito agitado, é música alta, muita falação, com ele em casa parece que a casa está sempre cheia. Com criança então, pior ainda. Me cansa.

 Faz uns três meses que eu descobri uma maneira de melhorar a minha qualidade de vida e venho pondo em prática desde então. É simples, nos dias mais agitados eu coloco umas gotinhas do meu calmante preferido no suco do meu filho e do meu marido. É tudo natural, muito confiável e seguro. Eu estou gostando muito dos resultados.

Meu filho que era uma espoleta e não dormia uma noite sequer agora tira boas sonequinhas e meu marido que não parava de falar um segundo agora está sereno. Sinto que fiz um bem, não só para mim como para os dois. Acredito muito que a gente está aqui nessa vida pra ajudar quem precisa e eu comecei a minha missão aqui dentro de casa.

Outro dia eu estava num congresso e tinha uma moça alta, agitadíssima, dessas que gostam de falar alto, pisar forte no scarpin e dar umas risadas grotescas e berrantes. Aquilo me doeu por dentro. Como ela conseguia se aguentar? Estava na cara que ninguém tava à vontade com tamanha animação. Vi que não foi à toa que nossos caminhos se cruzaram.

Descobri que ela era coordenadora da minha área, o nome dela era Ivone. E toda a Ivone que eu conheço é assim, grande, esquisita, com uma voz forte, finais de frases prolongados e sem noção. Deve ser uma coisa do nome, sei lá.  Eu vi na cara dela que aquela agitação toda era uma mistura de muito cansaço e frustração. Ela estava um pouco deprimida também, embora se forçasse (até demais) em não demonstrar.

 A moça logo fez amizade comigo, sentamos para tomar um café e ela foi rapidamente pegar um papel no estande ao lado da lanchonete. O café chegou antes dela. Considerando peso e altura que prontamente calculei, vi que cinquenta gotas podiam dar a ela a paz interior que provavelmente ela nunca encontrara.

Três dias depois ela foi internada. Fiquei sabendo por uma amiga do trabalho. Foi um mês no hospital, intoxicação. Uma coisa terrível. Nossa amiga em comum disse que ela só culpava o cafezinho do congresso e que ficou admirada de eu ainda estar viva. Desde então ela nunca mais tomou café e eu achei melhor jogar fora a ideia de continuar dopando meu marido e filho, afinal, é melhor prevenir do que remediar. 



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Pequenas confissões - texto 5 - Quando o amar bate na porta
Por Amanda Leal




 Sou ariana com família em peixes, ou descendente de peixes, com lua em peixes, sei lá como é que se diz... Eu penso no agora, no presente, eu amo o André. Amo agora! Quero estar com ele agora, fazer tudo por ele agora.

Se ele é natureba, ok, eu como integral. Se ele gosta de acordar cedo pra caminhar na areia, ok, eu vou. Preciso da positividade desse momento a dois. Eu não vou desperdiçar a minha vida pensando no amanhã. O amanhã é hoje.

Deixa eu falar mais dele, bom...Ele é bacana, gosta de curtir o pôr do sol e tomar suco verde. Se energiza com um banho de mar e curte uma corrida no aterro nos fins de semana. Eu tenho espírito aventureiro. Então eu tenho pique pra acompanhar.

Tinha uma época em que eu jogava cartas, uma amiga me disse que era preciso estudar o tarô porque se você conhece as cartas, você conhece a si mesma. Fiquei buscando algum sentido nisso. Por um tempo até. Então, eu fiz. Estudei, eu tentei e não entendi nada, dai passou um tempo e eu desisti. Acho que foi uma coisa de momento, então nem posso dizer que eu tenha uma experiência como taróloga. E também não posso dizer que me conheço o suficiente. Ok. Eu nem sei porquê eu comecei a falar disso.

Ah, eu já disse que sou apaixonada pelo André, né? Estou. Quero dizer,estou. Agora. No momento. Amanhã eu já não sei. O André é bacana e tem uma energia bem boa. Gente bacana tatua um elefante nas costas e ele tem um. Elefante significa poder, paciência, sabedoria e grande energia sexual. Cara, o elefante do André é lindo. Mó vibe boa. Eu gosto.

Quando a Amanda me perguntou se eu queria me confessar aqui eu achei que não tinha nada a dizer. A minha vida é muito maneira, mas eu nunca tinha me tocado sobre os grandes acontecimentos que pudessem gerar uma história irada e ir parar num blog. Ainda mais num blog como o Salada de textos, que tem essa energia ótima. Mas aqui estou.

Eu ontem fiquei refletindo sobre o amor e percebi que amar é a coisa mais relaxante que existe na face da terra e que sexo é apenas a consequência desse amar. Eu não devia ter perdido a virgindade aos 14 com um índio de 18 numa tribo que fui visitar com meu pai no Mato Grosso na época do doutorado dele. Devia ter feito como antigamente, me guardado para o cara ideal e ter exibido ao mundo meu lençol com mancha de sangue depois da noite de núpcias, assim como os ciganos fazem.

Eu era totalmente contra o matrimônio e pregava o amor com liberdade. Eu acho que eu não sabia o que era o amor. Eu achava que sabia. Eu não era muito a fim de ter filhos, pois não me julgava capaz de ser uma boa mãe para eles. Eu realmente achava que uma mãe precisava ter espírito de mãe e eu tinha visto no meu mapa astral que eu não seria mãe nessa vida. Talvez em outra eu pudesse nascer evoluída o suficiente e pudesse, então, encarnar esse espírito mãe.

Desde ontem algo mudou dentro de mim e não foi culpa do pão de queijo de tapioca que eu comi na beira da estrada voltando de um fim de semana no Sana. Algo mudou dentro de mim um pouco antes de comer o pão de queijo. Foi quando o André me disse, na beira da cachoeira, que queria se casar comigo. Eu fiquei no mais profundo choque e a água ficou ainda mais fria nos meus pés e o meu estômago e o coração foram rapidamente apertados por um trovão daqueles que só acontecem em dias de chuva forte.

Eu fui tomada por uma sensação que eu jamais havia sentido, um constrangimento misturado com uma vergoinha boa e uma paz imensa. E a ficha caiu: eu amo esse cara! Eu não o amo como eu achava que amava antes não, eu amo por tudo que a gente viveu e por tudo que ainda vamos viver.

De repente eu quis ser mãe, esposa, amante, dona de casa, porto - seguro, naquela hora eu quis ser dele pra sempre. E desde então eu parei de me deixar levar só pelo momento e comecei a pensar em construir algo com ele para o amanhã. O nosso amanhã. No fundo, como uma boa ariana eu sabia que eu era um pouco egoísta por só pensar na minha felicidade momentânea e por não o deixar entrar de verdade na minha vida a ponto de construirmos algo. Ele forçou. A porta estava aberta e o amor entrou.

Acho que é a primeira vez que falo com alguém sobre isso. Não liguei pra amiga, não falei nem com ele, mas depois daquela experiência do pedido de casamento, estamos mais grudados, sintonizados, eletrizados. E hoje consigo até nos imaginar no amanhã, juntos sentados na orla admirando o pôr do sol, bem velhinhos e ainda muito apaixonados.



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Pequenas confissões - Texto 4 - O lado de dentro do muro
Por Amanda Leal



Minha confissão é pequena e como todos já sabem a minha história eu não irei me alongar muito. Meu nome é Joana. Há um tempo atrás, eu fui condenada por arquitetar a morte de duas pessoas que me eram muito ligadas, recebi ajuda do meu namorado na época. Achei que fôssemos conseguir uma boa grana com tudo isso e,como tudo mundo já sabe, eu fiquei sem nada.

Estou presa há uns quinze anos e desde o dia em que isso aconteceu nunca mais vi ninguém da minha família. Sei que eles têm seus motivos para não me procurar, na verdade eu não ligo muito se vou revê-los ou não. Eu quero é falar do agora. Agora eu estou presa e agora preciso muito me estabelecer aqui dentro. Nunca fui burra, desde que cheguei aqui sempre soube o jogo que iria fazer e como ia me segurar aqui dentro. Sobrevivi até então.

Faz pouco, conheci o amor da minha vida. Também julgava ter encontrado esse amor há quinze anos atrás, mas a distância e o tempo mudam a cabeça da gente. Só que na prisão eu tive que me adaptar, príncipe aqui, na verdade, é princesa e ao invés dele vir montado num cavalo branco, ela vem andando mesmo.

Quando olho para trás, eu vejo que tudo que vivi valeu a pena. Se eu não tivesse vivido tudo que vivi, feito tudo que fiz, talvez hoje eu jamais teria conhecido a minha princesa. Jamais viveria o amor de verdade.

Aqui no presídio é tudo diferente. É que nem na novela, você cria uma vida, mas o real mesmo te espera lá fora. Pode ser que eu nem saia daqui viva, mas pode ser que um dia eu esteja do outro lado do muro, no mundo real. E lá a vida que eu quero pra mim é bem diferente dessa daqui. A gente se adapta ao momento, mas dizer que gosta do que vive aqui é um pouco forçado da minha parte, você não acha?

Você joga o jogo que precisa jogar, até quando precisar jogar. Depois você muda, se arrepende, chora, fica calada. Acusa os outros ou simplesmente alega insanidade. Tem gente que diz que a cadeia cura, transforma e faz com que você se regenere. Na minha opinião, o que eu comecei lá fora só se aperfeiçoou aqui dentro.

Se não há arrependimento verdadeiro não há mudança, uma vez uma detenta me falou isso. Você só se arrepende quando julga o que fez como errado. Na minha cabeça eu tô certa. Sempre estive. Tive meus motivos para tudo o que fiz e ainda tenho motivos para o que faço. E quanto mais as pessoas me julgam como fraca, é ai que eu fico mais forte.


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Pequenas confissões -Texto 3 - O caso da difícil senhora
Por Amanda Leal




Era uma vez uma história...Uma história que é minha mesmo. Já faz uns cinco anos que eu, recém - separada fui obrigada a me mudar. Isso não estava nos meus planos já que eu amava o meu apartamento anterior, nunca gostei de prédio pequeno e amava o play. Minha filha, Luana, podia brincar sem eu ter que ficar que nem doida atrás dela, era só descer que lá estavam ela e suas amiguinhas.

Eu sou o tipo de mãe atenta, que não deixa criança solta e nem marido, mas no caso do Osvaldo a coisa já não tinha mais jeito. Eram duas cabeças completamente diferentes: a minha e a dele. A coisa terminou de vez quando eu joguei fora toda a coleção de carrinhos de época que ele tinha, um bando de coisa antiga ocupando espaço. Comigo não tem essa, se eu tenho um problema eu vou lá e resolvo. Simples assim. E foi assim que nos separamos. Simples assim.

Infelizmente, resolver um problema me arrumou outro, pois tivemos que vender o apartamento e nos mudar (eu e Luana) para um menor. Essa coisa de separação é assim mesmo, te faz abrir mão de um monte de coisas que você gosta e já de outras, você dá graças a Deus por ter se livrado.

Mudamos para um quarto e sala, prédio antigo, mas jeitoso. Foram dois anos morando lá tranquilamente, o prédio era bem família, só dez apartamentos, maioria com idosos e mães solteiras. Acho que mudei para o lugar certo, não? Minha vizinha dona Lalá era muito tranquila em seu dia a dia, mas tinha um gênio e tanto.  

A empregada ficava com ela todos os dias de 8 ás 16:00, as duas viraram amigas e ficavam pra cima e pra baixo juntas, o filho de dona Lalá só visitava a mãe nos finais de semana, ele era gay e ela não aceitava. Vivia berrando com ele quando o via no jornal com seu namorado, um famoso promoter da noite carioca. Eu já vi o filho dela sair chorando de lá algumas vezes. Dava dó do coitado. Dona Lalá era assim, cheia de si, muito ranzinza e nunca dava o braço a torcer. Ao mesmo tempo em que sua casa era tranquila, encontrar com ela podia render uma briga de horas, por nada.

E no terceiro ano que eu e Luana estávamos morando lá, o prédio recebeu uma proposta de compra, uma construtora se interessou pelo local e fez uma oferta. Todos aceitaram, menos a dona Lalá. Isso gerou uma briga enorme, nos corredores era só discussão, ninguém queria a velha morando mais ali. - Como que ela podia rejeitar um milhão de reais e prejudicar os outros inquilinos? – dizia o síndico revoltado.  – Essa velha já está com a cara no caixão e quer prejudicar quem ainda tem muita vida pela frente? – gritou a novinha do 406.

A verdade é que dona Lalá já estava com os dias contados. Rolavam boatos de que ela não queria vender seu apartamento para não ter que deixar uma boa herança para o filho. – Mas que mãe é essa? – Pensei eu.  Durante os seis meses em que a construtora nos deu para resolver o caso amigavelmente, dona Lalá sofreu com xingamentos, tentativas de conversas civilizadas, macumbas e rituais estranhos feitos na porta de seu apartamento, até pastores do ratatá e padres exorcistas foram chamados para tirar o demônio que fazia dona Lalá não assinar o papel da venda. Muita coisa aconteceu, até sequestrada a velha foi.

Então, faltando uma semana para completar o sexto mês, dona Lalá apareceu morta. Todos que ainda estavam dormindo acordaram com o grito de sua empregada as 8 da manhã. Os que ainda tomavam banho ou desfrutavam do seu café da manhã se assustaram e corriam como podiam para ver o que estava havendo. A polícia foi chamada e semanas depois o prédio foi vendido.

Aparentemente, Dona Lalá morreu de causas naturais. Aparentemente, o filho não via a mãe há quase um mês. Aparentemente, todos estavam felizes. Mas, se eu te disser que no dia anterior a morte de Dona Lalá, quando eu fui botar o lixo fora, dei de cara com o tal promoter que namora o filho dela saindo do apartamento, você iria acreditar? Pois é a pura verdade. Só vou te dizer mais uma coisa, no enterro de dona Lalá estavam todos. Inclusive eu e o promoter. Quando nos encontramos, demos um oi simpático e um olhar cúmplice. Ao menos o problema estava resolvido. 


 Eu não tinha feito nada e também não tinha certeza se ele havia matado a difícil senhora.Difícil mesmo foi dormir nos dias seguintes ao enterro. Com o tempo, já na casa nova, um apartamento em um condomínio bem legal com play e piscina, até me esqueci de tudo. Mas ainda me pego pensando se o promoter tem problemas de sono. 


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Pequenas confissões -  Texto 2 - Festa surpresa
Por Amanda Leal






Eu tô casada há pouco tempo e ainda não posso opinar sobre o que realmente é um casamento. Não posso entrar em grupos de discussões, falar sobre as manias do meu marido e muito menos trocar experiências com outras mulheres casadas. Tudo ainda está como antes, a diferença é que agora moramos na mesma casa.

Eu sempre fui muito otimista e romântica. Eu tenho uns cliques que acho que só eu tenho, tipo: se o Pietro me diz que tem algo muito importante pra me falar eu vou logo pensar que ele vai me convidar para fazer uma viagem incrível e se a frase começa com “- Eu tenho uma surpresa...”, ai eu já visualizo todos os presentes.

 Eu já pensei uma vez que eu ia ganhar uma joia e não ganhei (aliás, faz tempo que ele não me dá uma),outro dia achei que ia ganhar flores e nada, terça passada eu pensei que ia receber chocolates, mas a caixa era para ele mesmo. Eu acredito nessas pequenas coisas, mas elas nunca acontecem.

Taí. Acho que tenho um problema. Posso até estar esperando demais, mas eu faço isso com ele, eu o surpreendo. Não toda hora. Pra não ficar chato, mas eu surpreendo sim. Compro uma roupa, escrevo um poema, uma cartinha, compro um vinho, tudo muito significativo. E ele gosta.

Não posso dizer que ele se acomodou com o casamento, já que ele era assim antes também. E olha, eu já dei uns toques, já comentei, já coloquei ele para assistir filmes românticos de pedidos de casamento e festas surpresa de aniversário, já fiz tudo que eu lembrei e que podia fazer no momento, mas não rolou. Ainda. E nem sei se vai rolar por um bom tempo.

Semana passada eu tava meio irritada, com muita coisa na cabeça, coisa de trabalho, coisa de vida e com essa questão me dominando, até que eu tive uma ideia. Fui ao shopping. Comprei um lindo cordão de ouro branco, um anel com um detalhe de pedraria maravilhoso, uma bolsa maravilhosa de uma loja que eu estava super atrás e um óculos de sol da coleção nova. Pensei até em levar um relógio, mas me questionei se realmente eu estava precisando e resolvi que não era a hora.

Após um tempo experimentando e tirando, experimentando e tirando eu me decidi sobre o que ia ficar e então resolvi sentar e tomar um lanche caprichado da tarde, numa padaria tudo de bom ali perto do shopping. Pães inspirados nos importados, bolos, cafés e chás de primeira. E lógico que mandei embrulhar uma linda caixa de bombom de mousse de chocolate em formato de coração. Ah, eu merecia! Dali, passei na floricultura e escolhi um lindo buquê de rosas vermelhas e um igualmente lindo cartão, onde escrevi: “ – Você me ama.”. Pequei um táxi e fui direto para casa.

Ao chegar, deixei as flores e o cartão em cima da mesa, ele estava estrategicamente aberto e com os dizeres bem visíveis a olho nu. Eu fui prontamente para o quarto e coloquei minha melhor camisola, o lindo colar,o anel, deixei a bolsa na poltroninha perto da cama, assim como o óculos novo na minha cabeceira e as sacolas de compras todas posicionadas junto com o cartão de crédito dele na parte da cama que lhe era de direito. Deitei na minha e adormeci. Já que ele não me surpreendia, resolvi surpreende-lo. Espera só chegar a fatura do cartão. Vai ser uma surpresa e tanto!




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Pequenas confissões -  Texto 1 - O caso da esteira
Por Amanda Leal






Preciso confessar, tenho medo de me desestabilizar. Receio perder as estribeiras e surtar. Tenho me segurado. Tenho segurado minha boca de tanta coisa que está engasgada bem dentro da minha goela. E se tenho segurado não será agora, aqui no Salada de textos, que vou colocar tudo pra fora. A gente precisa aprender a ser firme, sabe? A guardar as coisas. Essa história de “minha vida é um livro aberto” não é comigo.

Meu maior medo? Tem sido os momentos em que passo na academia, tenho sentido o peso da idade, trinta anos e sedentária. Eu me sinto com setenta, pode apostar! Agora eu sei como minha avó se sentia ao subir escadas e fazer movimentos bruscos. Tenho trinta, mas no fundo eu sou setentona. Minha vida está num clima geriátricamente precoce. E justamente por isso eu decidi, com certa urgência, que deveria me exercitar.

Eu já decidi isso outras vezes, na verdade. Há dois anos atrás eu tinha decidido também, mas antes eu estava muito bem de saúde, não sentia taquicardia ao subir ladeiras, escadas, ao limpar banheiro e também não tinha essas malditas dores na lombar. Bons tempos! Desde essa época eu já tinha um certo medo da esteira, tinha medo de cair e todo mundo olhar pra mim. Tinha medo de todo mundo me olhar na academia e gravar a minha cara: “- Olha lá a menina que caiu da esteira! É uma anta mesmo.”. Lembro que na época a mãe de um amigo da minha irmã havia caído da esteira e quantos anos ela tinha? Setenta.

Hoje meus medos estão avançados e tenho percebido que não foi só o meu corpo que enferrujou. Meu coração também. É tanta coisa que se vive, é tanta coisa que se deixa de viver e quando você volta a si já está tudo diferente. Você está diferente. E eu ainda com medo de cair da esteira, medo daqueles aparelhoszinhos da musculação, medo de fazer algo de errado e pagar mico na frente daquela gente.

Ah, na academia todo mundo fica diferente, todo mundo vira “aquela gente”. Até eu. A gente se mistura numa coisa pseudo independente e blasé, é um cada um por si meio forçado porque na verdade todo mundo depende de todo mundo, depende de dividir aparelho, depende de ter professor, depende de ter quórum para ter aula, depende do sistema, depende do dinheiro que paga o funcionamento do mundo.

Quando eu percebi que eu já estava ficando meio tan tan com essa coisa de modinha de academia, gastando o que não tinha para poder comprar roupa  pra malhar(onde já se viu isso?), quando eu percebi que ninguém estava nem ai pra mim e eu justamente pensando sempre o contrário: “- Faz certo estão te olhando, faz certo, faz certo! CERTO.”. Quando eu vi que meu medo da esteira só ia passar se eu relaxasse, então eu relaxei.

Optei por vencer minhas inseguranças, mesmo que isso me fizesse parecer ridícula. Coisa que não faria a menor diferença, pois eu já sou bem ridícula.  Ridícula sim. Primeiro porque sou o tipo de pessoa que tem medo de cair da esteira e que confere mil vezes o que está dentro da minha carteira, numa espécie de TOC consciente e obrigatório, algo que a minha mente criou para poder se sentir menos ridícula diante da vida. Óbvio que não adiantou. E dentro de toda essa “segurança” que a minha mente criou para ela mesma se sentir à vontade nesse mundo, ela me colocou como uma maluquinha beleza em meio a seres humanos superficialmente normais.

Sim, eu conto repetidas vezes o meu dinheiro com medo do troco estar errado, eu confiro o número do ônibus que tenho que pegar, eu fico nervosa para ouvir as estações do metrô mesmo já sabendo a ordem todinha do trajeto de cor e salteado, eu crio musiquinhas de direcionamento, músicas que eu componho e só canto dentro da minha cabeça. Eu confiro se o gás está fechado e se eu tranquei a porta. E eu te digo: eu faço tudo isso sem ninguém saber! Justamente para não parecer ridícula na frente de segundos e terceiros. Meu mundo tenta me colocar segura me gerando inseguranças. Isso está errado. Eu admito.

Simplesmente acordei e decidi. Chega! Agora é vida nova. Me arrumei, fui malhar, subi na esteira e corri, corri por quase uma hora, corri tranquila dentro de toda a intranquilidade que estava dentro da minha mente. Corri dentro de toda a contradição em que eu me encontrava.

Pela primeira vez na vida eu caguei, caguei para quem estava me olhando, caguei para o que podia acontecer. Eu precisava relaxar, precisava descansar a cabeça e o corpo. Então eu cai, mas eu cai bem feio, foi o tombo mais lindo da minha vida, senti uma dor física absurda, quebrei uma perna, arranhões leves pelo corpo e um dedo torcido. E muita felicidade interior. Vergonhosamente feliz. Vai entender! E eu estava muito suada também, o que deixou tudo mais bonito. Eu estava corada. Estava bem.

Fui por uma meia hora o centro das atenções, todo mundo queria saber como eu estava, todos queriam saber como eu tinha feito aquilo. Todos estavam olhando para mim e eu estava tranquila. Eu podia ter morrido, eu sei. Só uma ridícula como eu para se jogar de forma tão absurda e se submeter a um risco desses.

Hoje eu tô em casa me recuperando das questões físicas, mas a minha cabeça está tão leve e zen. Tá certo que me sinto idiota por ter deixado as coisas chegarem a esse ponto, não acho que você deva fazer o mesmo e, por favor, não faça. Eu não posso ser responsável pela tragédia de ninguém. Eu me sinto estranha por estar, de certa forma, feliz com o que eu fiz.

 A verdade é que eu não vejo a hora de me recuperar pra voltar a me exercitar, comprei novas roupas de ginástica e meias da moda. Tô outra! Doida para voltar a fazer o que eu descobri ser a minha paixão: correr. Às vezes a gente precisa se permitir, às vezes a gente precisa cair e recuperar um pouco a humanidade e redescobrir do que somos feitos. Depois da queda você levanta e segue em frente.  A partir de agora farei uso do sentido metafórico. Uma experiência dolorosa já basta, né? Ninguém gosta de sentir mais de uma vez a mesma dor. E te digo, cair da esteira dói. Dói demais. Não recomendo.

Fim do texto 1.



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Salada de textos
Por Amanda Leal


E quando você tem um sonho corra atrás. Tem vezes que o caminho pode ser bem difícil, mas a recompensa chega quando menos esperamos. A nossa Saladinha surgiu assim, de uma vontade enorme de escrever, de uma vontade súbita de fazer a diferença utilizando a ferramenta da escrita. 

O Salada vai além de lançar modinhas, de querer formar uma opinião obstinada e vai muito além de ser um lugar para colocar em cartaz o ego. O Salada é um misto de palco e livro onde as histórias é que tem voz, onde o autor se doa em prol de um bom resultado, onde entrega um pouco de sua vida para ser lida por outros habitantes desse planeta terra, pessoas que não sabemos quem são, mas que têm em comum conosco o hábito de gostar de histórias. 

Gostoso é ver que um sonho virou realidade e que está caminhando por uma estrada muito firme e que em cada placa, cada quilômetro, cada pedra no caminho vai chegando mais perto do seu objetivo que é incentivar o hábito da leitura. 

Gostoso é saber que sozinha eu não chegaria a lugar nenhum, então sempre tive a certeza de que os que cultivavam o mesmo hábito que eu (escrever) mereciam dividir e amadurecer junto comigo nesse espaço, são eles os meus amigos: Bernardo Sardinha, Danilo Marcks, Marcela de Holanda, Rec Haddock, Rodrigo Amém e Halliny Lima. E na formação atual com: Bernardo, Marcela, Rec, Rodrigo e eu.

Agradeço por acreditarem na vontade de uma artista louca que os convidou inesperadamente para escrever semanalmente, sem garantia de nada e apenas com a certeza de que estariam contribuindo, de alguma forma, com a educação desse país.

Agradeço pelos textos que animam a minha semana e que me tem feito enxergar o mundo de outra forma, afinal, eu leio todos os textos, corrijo, posto e aprendo muito.Vocês não têm ideia de como isso me tem feito crescer como autora. 

Uma salva de palmas para os meus autores! Parabéns meninos, vocês são meu orgulho.

Um muito obrigada a Adriana Marinho pela lindeza que está o nosso site e ao Paulo Menezes por me ajudar tanto com o computador. Obrigada também Marcela, por você postar os textos quando eu não posso e ao Bernardo por tudo e mais um pouco.

E a você, nosso querido leitor, eu agradeço pelas visitas diárias e também pelas críticas e sugestões. Vocês me alegram demais toda vez que me dizem: " - Eu adoro o Salada de textos!".

Que os nossos dias sejam sempre coloridos por muitas histórias e que nossa vida seja cheia de acontecimentos. 

Vamos viver que a estrada é longa!

Beijos. Amanda Leal.




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Monotonia cotidiana
Por Amanda Leal

A cada ano que passa menos eu sei quem sou. É necessário encontrar um lugar para os pedacinhos de mim que não me cabem. Abro e fecho a janela, durmo e acordo, há sempre essa rotina feia e pesada. Os dias já não são tão coloridos e a luz agora é fria.

- Levanta dai e muda essa realidade! – Diz quem vê de fora.

 Fácil é falar, fácil é julgar sem saber, difícil mesmo é ser eu.  

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Caminhar
Por Amanda Leal

Sinto como se houvesse uma mochila com cimento em minhas costas, sinto como se o mundo me engolisse e me abafasse e sinto que, por mais que eu ande, sempre parece que não saio do lugar. Sinto que estou perto e longe ou tudo ao mesmo tempo. Por onde eu devo caminhar numa rua onde as pedras são como cactos que machucam meus pés? Olho pra cima e nem sinal de onde devo me segurar. Caminha comigo? No silêncio da tua resposta só me resta pedir novamente que não me abandones. 

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E tudo terminou diante de um teatro lotado
Por Amanda Leal 




O clima estava pesado ao redor de Estela. Uma perda irreparável, o sumiço de Krya e agora uma ameaça de morte. Apesar de tudo, Estela, não estava desesperada e depressiva, no fundo ela estava mais preocupada em provar que não tinha sido pelas suas mãos que o marido havia morrido.A polícia ainda não havia descartado a participação de Estela no crime, suas digitais foram as únicas (além da de Francesco) a serem encontradas no local, exceto um fio de cabelo marrom que não era nem de Estela e nem do marido e muito menos dos funcionários da casa.

Estela optou por mudar mais uma vez de hotel. E dessa vez os policiais resolveram ficar de olho, mas não como deveriam. Uma patrulha na porta do hotel não é capaz de muita coisa, é? No fundo ela sabia que deveria tomar menos remédios, fumar menos e prestar bastante atenção em tudo ao seu redor. Deveria estar atenta e dormir o mínimo possível.Dessa vez, ela fez um mini-altar perto do frigobar e dessa forma se sentia protegida. Pedia ao seu Deus que a conservasse viva para que pudesse ainda nessa vida ser feliz. Um tanto poético esse pedido para uma pessoa que parecia ser tão prática e bem resolvida. Mas, Estela era assim surpreendia pelos gestos, atitudes e decisões.

Por volta das dez horas resolveu descansar, ligou a tevê e tomou um gole do seu vinho preferido. Ela estava de saco cheio daquilo tudo e como já estava evitando o cigarro e os remédios para dormir achou melhor ter algo que a ajudasse a relaxar. Seria apenas uma pequena taça, mas o tédio a perseguia e com isso toda a ansiedade por tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor. Foram duas garrafas. Duas garrafas até a meia-noite. E a insônia se despediu rapidamente deixando nossa estrela tão desmaiada quanto a Bela Adormecida.

Os dois seguranças de Estela resolveram se ausentar da porta do quarto para poder lanchar no restaurante do hotel. E como já era muito tarde,  imaginaram que ninguém se aproximaria dali de madrugada. Foi ai, justamente ai que a coisa começou a se complicar. Uma mistura de burrice e incompetência pode transformar uma situação de segurança numa tragédia anunciada. E Estela dormia tranquilamente um sono profundo. Foi tudo muito rápido, ela dormia, os dois seguranças saíram para jantar e alguém entrou no quarto.

Passos lentos e muito cuidado para averiguar a situação. Afinal, o bandido era esperto e sabia que devia estar preparado para tudo. A cena era de cortar o coração: uma mulher dormindo na cama e duas garrafas de vinho vazias. Vítima vulnerável e sem poder de defesa.  Krya, que estava ao seu lado, avistou a pessoa e soprou como se a conhecesse e não gostasse de quem estava vendo. Estela não se mexeu.

A figura de roupas negras e gorro preto (tampando o rosto), nos mostrava apenas seus olhos negros e frios, agarrou o pescoço de Estela como quem agarra um peixe para tentar lhe tirar o anzol, imediatamente ela reage, se sacode e tira de baixo do travesseiro uma faca que o coitado do bandido jamais poderia imaginar que ela teria. Sem pensar muito, no auge da adrenalina e fazendo uma força absurda para respirar ela crava a faca na barriga da figura negra, que imediatamente solta o pescoço de Estela. Ela volta a si por um minuto e tenta buscar o ar de todas as formas, o bandido já está deitado agonizando numa cama ensanguentada quando Estela lhe tira o gorro e reconhece quem está por trás daquilo tudo.

Ela quase foi morta pelo próprio irmão. A partir dai muitas coisas começaram a passar pela sua cabeça: “- Será que eu estava sonhando e ele veio aqui apenas falar comigo? Mas e essa roupa? Esse gorro? Ele apertou o meu pescoço, eu senti.”. No meio de tantas indagações, Estela começou a gritar, pediu socorro e seus seguranças num ato desesperado invadiram o quarto e controlaram a situação. A ambulância foi chamada e a polícia também.


O irmão de Estela agonizava na cama do hotel, ela se aproximou dele e perguntou: - Por quê? E ele disse: - Porque você tinha tudo.  Estela começou a chorar e saiu de perto dele, a ambulância chegou, mas já era tarde. Por mais que ela não fosse culpada por tudo que lhe havia acontecido antes, agora carregava o maior dos pesos: o peso de ter tirado a vida do irmão. Mesmo que sem querer, ela sabia que era ou matar ou morrer. E apesar disso tudo a vida precisava continuar. Estela mandou avisar ao seu empresário que amanhã terá espetáculo simE quanto a ser feliz? Talvez ainda não esteja na hora.


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E tudo parecia calmo diante de um teatro lotado
Por Amanda Leal


Depois de tudo, Estela, ainda brilhava todas as noites em seu show. É irônico pensar que seu espetáculo fazia tanto sucesso logo nessa fase tão complicada de sua vida. As pessoas gostam de ver de perto certas tragédias e assistir, Estela dançar é o que as deixava mais perto dos acontecimentos dos últimos dias. Analisar sua expressão, sentir o clima pesado do ar, comentar sobre sua postura nos agradecimentos, isso tudo fazia parte da cruel investigação do público sobre a vida alheia. 

Muitos não entendiam de onde ela tirava forças para seguir em frente, muitos diziam que a frieza de Estela era sinal de culpa. Julgar, julgar, julgar...Quando você tem a sociedade toda por perto, muitas vezes, você não precisa de juiz. E o júri era dividido mesmo, uns diziam: 
"- Tá na cara que foi ela" e outros a defendiam ferozmente. Apesar de tantos julgamentos e indagações sobre a sua vida, a verdade era que Estela sabia que não podia e não devia parar de dançar. 

Era uma sexta-feira, a segunda sexta-feira após a tragédia que marcaria a sua vida para sempre. Após a apresentação com casa cheia, Estela voltou para o seu camarim e lá dentro havia um lindo buquê de rosas roxas.Ela estranhou, pois não era comum receber flores. Na verdade, o único que as mandava com frequência era o seu falecido marido. Segurou o buquê com certo pânico, pois sentia algo muito esquisito vindo daquelas flores. Abriu imediatamente o cartão e lá estava escrito: " Você será a próxima.".

Em um ataque de fúria, medo e desespero Estela quebrou o camarim inteiro e teve que ser contida pelo seu empresário e dois seguranças que a acompanhavam desde a tragédia. Estela parecia saber do que tudo aquilo se tratava, ela parecia saber que as coisas eram mais sérias e profundas do que aparentavam, mas nós que acompanhávamos de fora não tínhamos a menor noção do que realmente estava acontecendo.


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E tudo parecia sob controle diante de um teatro lotado
Por Amanda Leal

Estela terminou sua apresentação que nessa altura do campeonato, estava lotando todos os dias e foi para um hotel, onde ficaria até tudo isso terminar. Preferiu jantar sozinha no quarto e diante de uma garrafa de vinho começou a refletir sobre sua vida. Estava abalada com tudo o que havia acontecido, afinal, havia perdido o marido. Fosse ela a culpada ou não, em algum momento (penso eu) a consciência pesaria e a dor viria.  

Refletiu ali sentada, em frente a uma taça já vazia. Se perguntava se não teria sido melhor ter filhos e que talvez, agora, num momento como esse não estivesse se sentindo tão sozinha. Se ao menos sua cobra não tivesse desaparecido (isso acontecera desde o dia do crime) ela teria alguém para quem desabafar. 

O tempo foi passando, a garrafa esvaziando e Estela adormeceu ali. Recostada na mesa, acordou apenas quando sentiu algo gelado se enroscar em sua perna. Abriu os olhos num desespero absurdo e quando recuperou os sentidos pós - sono, vinho e susto, avistou Krya, a cobra.

Vasculhou o quarto procurando alguém, numa mistura de desespero com coragem e imediatamente pegou o telefone e ligou para a polícia. Depois disso, Estela, não conseguiu mais dormir.

Continua...


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E tudo parece natural diante de um teatro lotado
Por Amanda Leal

Uma música mística toca na sala de paredes marrom e Estela está dançando para uma plateia lotada. A luz ambiente é bem fraca, como se estivesse iluminada por velas. Ela dança belamente o número ensaiado durante os últimos dois meses. Havia passado poucas e boas por causa desse número, seu coreógrafo a deixou no meio do caminho e precisou substituí-lo por um outro não tão qualificado. 

A dança mística que era feita pelo grupo de Estela era uma mistura de dança do ventre com ioga e ballet. Tudo acontecia de forma muito sedutora e misteriosa, tudo isso embalado por um músico que tocava ao vivo. Sem dúvida o grupo sabia muito bem o significado de superação, o espetáculo estava lindo e todos da plateia estavam inebriados com tamanho talento e técnica expressos pelos dançarinos. 

Estela era uma artista e como toda artista tinha suas esquisitices. Dormia colada com uma cobra enorme e tinha um altar gigante com a própria foto onde acendia velas e incensos para si mesma. Tamanha esquisitice eu nunca tinha visto em toda a minha vida como repórter, mas ao entrevistar Estela você logo percebe a atmosfera pesada que ela carrega. 

Abandonada pelos pais numa tribo cigana em Arraial do Cabo, Estela viajou o mundo com seus novos pais, ciganos. Na tribo, foi amada e bem cuidada por todos que a cercavam, mas um dia uma epidemia de dengue matou quase toda a sua família e Estela precisou caminhar com as próprias pernas. 

Os sobreviventes foram apenas ela, sua mãe adotiva e um irmão menor. Estela se estabeleceu na Itália após se casar com um italiano que a ajudou a se formar em dança numa das melhores escolas de Roma. Seu irmão e sua mãe ficaram no Brasil e ela os ajudava como podia e os dois, ainda hoje, levam uma vida tranquila morando numa casa confortável e simples em Arraial do Cabo, onde tudo começou. 

A estrela Estela já foi alvo de muitas situações estranhas em sua vida e muitas pessoas a criticam por sua esquisitices e rituais em que se envolve, mas o que nos traz hoje a falar dela é o último escândalo no qual se envolveu: a morte do marido, Francesco.

Ela nega e jura de pés juntos que não teve nada a ver com isso e que dormia enquanto o marido era assassinado ao seu lado na cama. Mas como Estela não teria escutado os gritos? E as manchas de sangue que invadiram o seu lado do colchão? O vidro da janela ao seu lado estava quebrado por um vaso de plantas e mesmo assim ela disse que não escutou nada e que só acordou quando sentiu o cheiro de queimado da cortina que havia sido atingida por uma vela que ficava na cabeceira da cama ao lado do marido. 

Essa mulher que hoje dança tranquilamente num teatro lotado, carrega uma bagagem enorme de sofrimento e agora, junto com tudo o que aconteceu, carrega também o peso da morte. E como ela mesma gosta de dizer, dança para poder se livrar de tudo isso, para poder esquecer por um instante dos pesadelos em que está imersa e também para se preparar para tudo que ainda há de vir. 

Continua... 


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Notas sobre mim
Por Amanda Leal


É madrugada. Chove.


Me olho no espelho do meu pó compacto após arrancar um pelinho saliente da sobrancelha com a pinça. Meu rosto está visivelmente mais magro. Bom pra mim.  Meu manequim mudou, minha alimentação, meu humor e minhas expectativas sobre mim mesma também mudaram. Os problemas também ganharam outra dimensão: antes o que era problema, agora, não mais o é. E o que era levado numa boa ganhou cara de problema.  



Eu mudei. As taxas do meu colesterol abaixaram e a vitamina D está em falta, o que me fez ser adepta de suplementos e fui obrigada a acordar cedo e aproveitar o sol da manhã. Isso tudo me fez ter outras responsabilidades, precisei crescer e ter mais disciplina comigo mesma. Ainda bem, assim a coisa não ganha um tom monótono e a vida ganha um colorido.



Como hoje em dia escrevo pouco usando a caneta, minha letra também já não é mais a mesma. A letra bonita e caprichada da escola ficou um pouco preguiçosa e “garranchuda”. Falta de exercício tem um preço. Digo isso em todos os sentidos. Para de ler por um tempo para você ver só! Fica sem malhar por um mês que seja, que ai quando você for subir uma escada vai entender bem o que eu digo.



Minha pele parece ter amadurecido juntinho com meu coração e algumas ruguinhas me fazem lembrar de preocupações que por um tempo eu já havia esquecido. Sou outra dentro de mim mesma. O cabelo certinho ganhou uma cara bacana, as roupas adequadas e monótonas foram enriquecidas com estilo e eu não fiquei rica, apenas sai da zona de conforto e aprendi a garimpar, procurar, criar... Ter uma aparência muito certinha, muito corretinha cansa e pode fazer com que você aparente algo “beeemm” esquisito e até um pouco chato. É necessário ter uma harmonia, o interior e exterior precisam se complementar.



Ah, com o tempo a gente percebe que ninguém é perfeito e que nem tudo precisa estar sob controle, descobri que para ter estilo o importante (em primeiro lugar) é agradar a mim mesma. Sem ser cafona, sem ser brega, mas também sem ser monótona e caxias. E hoje sou outra dentro de mim mesma. Uffa! Que bom. A mudança quando vem aos poucos gera menos expectativas e garante maior efetividade.



Esse ano a minha unha do pé caiu pela primeira vez e sim eu tive mais dores de cabeça e acne do que quando eu era adolescente. As responsabilidades aumentam e a chegada ao pódio parece se atrasar. E pra quem achava que viver era tranquilo a realidade te mostra o quão a vida pode ser cruel. Vai ver que é por isso que tem tanta gente louca por ai, gente que não consegue lidar com essa coisa confusa chamada de vida. Gente que não consegue se segurar e sai cambaleando e se quebrando por ai.



Nesse tempo de sobrevivência eu descobri algumas verdades: não há como viver sem o apoio do Criador, as pessoas vão te decepcionar o tempo inteiro e se você não fizer a sua vida acontecer, ninguém fará. Às vezes me sinto como em um naufrágio onde há apenas um barco, muitas coisas boiando em volta do meu corpo e muito de longe, bem lá no fundo e quase impossível de alcançar eu vejo terra. Nesse caso, aguardar resgaste nunca foi uma opção. É preciso lutar até o fim.



Sou outra dentro de mim mesma.



Eu já não caibo dentro de mim.



E cada dia que passa eu amo mais quem eu sou e descubro como é bom ser eu.



E isso não me impede de sofrer por sonhos não realizados, metas não cumpridas, sofro também por não exercitar a minha arte como gostaria, com as pedras no meio do caminho, com os tropeços e com as decepções. Mas como uma sobrevivente do naufrágio de mim mesma, eu diria de forma extremamente otimista que as coisas, agora, parecem estar se encaminhando.



Eu sou outra dentro de mim mesma e já não caibo mais dentro de mim.



Por isso é chegada a hora do florescer, do brotar e do voar por ai.



Me aguardem! Pois, eu estou longe de parar por aqui.





Ainda chove forte. O dia já está amanhecendo.


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 Grito

Por Amanda Leal

A noite passa e a minha agonia continua. O telefone não toca desde sexta passada. Foi quando você se foi. Triste mesmo é saber que mesmo que ele toque eu jamais ouvirei a sua voz novamente. Essa dor no meu peito ninguém pode tirar,não agora. Talvez o tempo amenize o vazio que você me deixou. Peço a Deus que eu resista,só por hoje que seja,sem você por perto. Quanto a mim,só me resta lembrar de tudo que vivemos e gritar de dor pela presença constante da sua ausência.

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Quando acordo com chuva
Por Amanda Leal


Debaixo dos meus pés só tem areia.

Esmago cada grão com o peso de um corpo e de uma alma cansada.

É tarde. Chove. O céu está cinza e o mar bate. 

Eu fujo de mim mesma e me concentro no horizonte, olho para a beira do mar e vejo o quão grande é a imensidão de mim mesma. 

Então, eu choro um choro suave e quase sem lágrima, e eu me lembro de um tempo bom com sol e sem nuvens.

O cinza do dia reflete a cor do meu atual coração.

Saudade de estar ao seu lado, saudade de um beijo seu. 

Vontade de cair de um lugar bem alto e de te encontrar lá onde for.

Vontade de fechar os olhos e de estar junto de você.

É estranho sentir essa sensação de morte e saudade por quem ainda está vivo.

Na mesma hora você me liga e eu fico bem, te atendo e abro um sorriso que não abri desde que acordei. 

Só você tem esse poder, de me despertar.

Saio de um sono profundo para ser alguém que quero ser todos os dias. 

- Mas o que houve comigo? - Eu me pergunto, diante dessa linda paisagem nublada. 

Nada. Absolutamente nada. 

É que têm dias que a gente acorda triste mesmo e se sente assim, estranha. 

Dá um medo danado do mundo, fobia das pessoas e uma saudade doentia daquilo que já se tem por perto.

Têm dias que o coração sangra sem motivo e dói sem pancada.

É que têm dias que o coração bate rápido sem nenhuma razão e desacelera enquanto se corre.

Pois apesar de toda dor sem causa que hoje me atinge, a mais pura e verdadeira felicidade também me acomete: a de poder te ver a qualquer hora.


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Não vai ter copa
Por Amanda Leal

Sala. Dia. Duas malas grandes estão no corredor, há uma mochila e duas sacolas também.

Ele escreve um bilhete:

"Vou ao jogo do Brasil, espero que na volta possamos conversar e nos entender. Não me conformo com certas decisões. Ao final do jogo eu volto para conversarmos."

Ele sai. Ela lê o bilhete. Sente no peito uma dorzinha que só as mulheres sentem quando são colocadas em segundo plano. 

 - Ele podia ter ficado. Poderíamos ter conversado agora e resolvido tudo. Eu podia até mudar a minha decisão, então veríamos o início da Copa juntos. E hoje ainda é dia dos namorados. Filho da puta! -  pensou ela.

Do lado de fora do apartamento, ela coloca as malas, a mochila e as sacolas. E junto há um bilhete que diz assim:

- Depois não.

Ele irá entender quando ler.


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Você e eu.
Por Amanda Leal 


Sinto esse frio que gela a minha alma.
Essa dor adormecida sempre acorda quando a noite cai,
Seu amor por mim resplandece nas manhãs .
A esperança me fortalece nas tardes tristes e nubladas.
Podem mudar as estações,
O tempo pode até não parar, mas a minha certeza continua:
Quero estar sempre ao seu lado.
Seu cabelo bagunçado e sua blusa preta de sempre,
Seu cheiro de suor e suas grandes mãos só me fazem respirar e transpirar o meu querer.
A atenção que me entregas e o carinho com que me recebe só aumenta o que você já sabe.
Meu coração contigo não chora.
No seu aconchego durmo noites que nunca dormi.
No seu edredom encontro o aquecer perfeito e a temperatura essencial para me acalmar.
E quando for dormir não te esqueças de mim.
E quando acordar não te esqueças de mim.
E quando me amar não te esqueças de mim.
Quero estar sempre ao seu lado.
Há ainda muito para se conquistar
E essa certeza comigo sempre está.
Eu preciso do seu amor e você do meu,
Combustível eficiente que faz a nossa vida funcionar.
E se um dia esqueceres da vida, dos sonhos, ao menos não se esqueça do amor que sentes por mim.
Eu já não posso mais me esquecer de você. 



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Classificados
Por Amanda Leal 

Aos cuidados de Luiza:


Vendo casa completa  nos Jardins com três filhos, um marido, dois cachorros e um gato preto. 120 metros de área. Sendo uma suíte e dois banheiros sociais. Contendo uma sogra maluca, uma irmã solteirona e o resto da família interesseira do marido que aparece todo o sábado para tradicional encontro. Também estão inclusos: sócios filhos da puta que todos os dias ligam lá pra casa querendo ocupar o cargo do meu, agora, ex-marido numa empresa escrota em que ele nem ao menos merecia estar. Duas vagas de garagem bem espaçosas, mas só há um carro: o dele. Que apesar de podre de rico sempre alegou que se eu quisesse um, teria que comprar do meu próprio dinheiro. Dependências completas e quarto de empregada inabitado. Aviso: Não pense que quando você vier morar aqui terá mordomias. Acredito que será uma excelente oportunidade para você ter tudo aquilo que sempre quis. E será uma excelente oportunidade para que eu me livre de tudo que sempre me fez mal. Sol da manhã, aquecedores e Split em todos os ambientes. Condomínio caro, IPTU igualmente caro. Não aceito negociações. Porteira fechada. Não é interessante para quem quer investir. Maravilhoso negócio para quem olha de fora. 



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Hoje
Por Amanda Leal

Hoje é dia de positividade.  De alegria.  Alegria plena. Nada te abala ou entristece. Hoje é dia da folia do dia a dia. De tomar café da manhã com calma e de desabafar ao som de boas gargalhadas ao invés de lágrimas.  Hoje é dia de fé. De parar de acreditar em tudo que os outros nos falam, de brigar por nada e de fingir não reparar nos olhos invejosos que nos cercam. Hoje é dia de parar de amenizar tudo, é também dia de não se envolver demais nos problemas. É dia de sorrir. Gargalhar.  Dançar a dancinha do engraçado. Mesmo que sozinho.  Hoje é dia de deixar pra lá cada espírito de porco e sobreviver aos percalços.  Hoje é mais um dia.


Vamos sambar na cara da tristeza e mostrar que a alegria transbordante muda qualquer coisa. Não sejamos irônicos, sejamos alegres ao extremo, tão alegres que os que tentam acabar com nossa paz serão pegos por uma tristeza absurda.  A tristeza dos que tentam nos parar mas não conseguem. A tristeza dos que tentam nos calar, mas ainda ouvirão muito a nossa voz. A tristeza dos pobres de espírito e que se alimentam da desgraça alheia.  Hoje e mais um dia. Estamos vivos. E precisamos estar felizes, alegres e sorridentes. Ninguém pode parar o seu movimento e se isso acontecer foi porque você deixou. Que possamos passar mais um dia da nossa vida na plenitude de um sorriso sincero! Bom dia pra você. 



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Passos
Por Amanda Leal


Ao passar pela ponte, ela parou o carro no acostamento e decidida foi em direção ao parapeito. Admirou por um tempo à distância até o mar. Resolveu se sentar na mureta e pensar na vida. Não sabia porém, que já haviam acionado a equipe de resgate, bombeiros e uma pessoa de sua família.
Passado alguns minutos estranhou o barulho de tantos helicópteros e a movimentação ao seu redor. Não teve nem tempo de pensar quando ,de repente,foi agarrada por um homem forte. Um susto horroroso, pensou ela.
Ao ser interrogada, ela disse:  - eu só parei o carro porque queria pensar. Não daria nenhum passo adiante. Só precisava desse tempo pra mim. 



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Brisa
Por Amanda Leal

Ai que vontade de sair correndo por ai gritando, ai que vontade de dizer para as pessoas que eu odeio o quão importante elas foram para o meu amadurecimento. Ai que vontade de tomar uma água de coco num dia de sol  na praia do Leblon, sentada numa espreguiçadeira bem gostosa e com um biquíni tomara que caia roxo claro e branquinho.

Nossa! Que vontade de pegar o meu celular e atender somente pessoas altamente especiais. Huummm, que vontade de olhar pra trás e pensar que os meus problemas foram apenas problemas passageiros e que a vida começa agora, a partir deste momento!
Como seria bom ir agora ao shopping, comprar um vestido bonito para ir a uma festa e passar direto no débito, não importando o valor.  Ahhhh seria bom, principalmente, ter o coração limpo de todas as tristezas e amarguras dos últimos dez anos.

Num dia ensolarado, como esse ai de cima, eu ia adorar saber que às quatro horas eu teria um horário marcado na minha massagista particular. Eu sempre acreditei que a felicidade é para todos, inclusive pra mim.

Um sorriso marcado de profunda alegria revigora o coração de qualquer um... Quando eu encontro alguém que consegue tirar isso de mim...meu DEUS! Que pessoa boa. Que talento! E essa alegria verdadeira, que vem de dentro, às vezes se manifesta do nada. Mas bom mesmo é quando alguém a estimula. Ou quando ouço uma música bonita e ela desperta essa coisa gostosa que droga nenhuma pode despertar.

Quando olho uma linda pintura, as cores todas misturadas...Principalmente quando formam um azul esverdeado, me deixa particularmente feliz. Os poemas do Drummond também me fazem penetrar nessa felicidade que para muitos parece distante, mas que ele me faz pensar que está perto. Quando o vejo questionando o mundo e falando de pedras no meio do caminho, eu penso que viver é questionar e sobreviver é conseguir pular as pedras. E isso me conforta de certa forma. Há coisas jogadas por ai. E você precisa lidar com elas. Podem ser coisas boas. Podem ser coisas ruins. Todas com o mesmo valor, o valor do conhecimento das coisas.

Agora estou viciada em café. Nesse momento estou sentada numa paisagem bem diferente da que descrevi acima. Estou numa salinha branca, à meia luz de um abajur e com o laptop ligado, um cigarro aceso e xícaras espalhadas pela mesinha de vidro onde estou sentada. Está bem frio. Uma manhã fria de julho. Sou jornalista. Preciso escrever ainda hoje um artigo sobre felicidade. Era mais fácil me imaginar na praia do que aqui, nesse frio, nessa solidão quase que forçada para tentar escrever. Ahhhh droga! Eu deixei os pães de queijo queimarem! Uma pausa para salvar o pão de queijo. Logo volto com mais um café e mais uma xícara.

- Ahhhh um capuccino agora não seria nada mau! Mas, não sei fazer. E ainda tem o artigo para a revista. Aff!

Seria mais fácil falar de felicidade usando uma protagonista altamente realizada. Mas será que todas as pessoas altamente realizadas são felizes? Acredito que sempre lhes falta alguma coisa. Veja no meu caso: eu me sinto realizada profissionalmente e nem por isso sou absolutamente feliz. Me faltam alguns pontos. Só pelo fato de ter saúde, ser livre para fazer as coisas que gosto eu me sinto feliz, mas ainda assim me faltam alguns pontos. Acho que a minha protagonista, então, merece ter mais algo meu do que algo inventado de uma suposta vida realizada e feliz, de dias de sol e praia.

A protagonista certa para meu conto fica triste em dias nublados, principalmente manhãs, odeia faltar á academia. Isso a deixa pra baixo. A minha protagonista cada vez mais se parece comigo. Estou aqui sentada consultando coisas sobre felicidade, mas a única coisa que achei de interessante veio do meu preferido, do Drummond. Numa frase brilhante de um poema lindo dele, chamado “Sentimento do mundo”, onde diz: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Isso já é o bastante para ser feliz, não é? Ter duas mãos para trabalhar, para abraçar as coisas boas e afastar as coisas ruins que acontecem conosco. Somente sentir o mundo como ele é. A busca pela maturidade que eu citei acima quando ainda criava uma protagonista praiana vem desse sentimento do mundo.

Existem milhões de livros que prometem entregar o segredo da felicidade, mas, o único que li até hoje e que realmente tocou o meu coração foi a Bíblia. Em Colossenses 3:12-17, o apóstolo Paulo nos ensina que o segredo da felicidade está em encher-nos de bondade, de humildade, de delicadeza e paciência. Nos fala também da importância do perdão e de ter amor uns pelos outros, pois “o amor une perfeitamente todas as coisas”. E que não devemos deixar de agradecer sempre a Deus por tudo que Ele nos dá.

Pensando assim, acho que a felicidade está mesmo nas pequenas coisas. Nas pequenas conquistas, num dia frio sentada na frente do laptop tentando escrever ou até mesmo como a vida da minha protagonista inicial, certamente sem perfeição. Faltando ainda algumas lacunas a serem preenchidas. Minha protagonista viveria então, uma felicidade praiana e seria uma pessoa rica e realizada...com algumas questões, mas não estaria no grupo dos ricos infelizes que dizem que dinheiro não traz felicidade, ela seria rica e feliz. Embora, ainda precisando de terapia para resolver pequenas infelicidades.

Ops! Um ventinho leve e frio passa pelo meu pescoço e invade toda a casa. Do quarto vem Mauro (meu marido) e me faz uma proposta indecente:

- Que tal sair e tomar um café?

- Um capuccino? – Disse eu.

- Dois. – Ele sorri. Eu coloco o sapato, pego a bolsa, nós damos as mãos e um beijo demorado.


Certamente a felicidade se encontra nas pequenas coisas.



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Dor
Por Amanda Leal

Ao Senhor:

    Difícil entender o caminho. Tenho tentado e até hoje não consegui. Será mesmo que devo entender? Me pergunto para onde ir, que placa seguir, onde, finalmente, devo atracar.  Sei que o Senhor sabe e talvez não queira que eu descubra. Acho que faz parte do projeto eu ter que procurar, sofrer, chorar, errar e acertar. É preciso investigar.  Minuciosamente. Sobre o meu caminho.

   Tantos erros, poucos acertos. Será a vida assim pra sempre? Preciso perguntar isso para algum idoso e me certificar. Na verdade Senhor, acho que vou ter que consultar alguns idosos. Diferentes idosos. Assim terei mais precisão na minha pesquisa. Preciso entender se essa falta de domínio e direção fazem parte da “matéria viver”. Ou se estão aqui de passagem.

   Engraçado é que mesmo me sentindo sozinha, em meio aos fracassos, eu sinto que você me observa de longe. Mas por que não me dá uma luz? Ok. Você quer que eu caminhe sozinha, como um pai que observa o seu filho crescer. Isso eu entendo, sinto e vejo. Mas é que às vezes uma mãozinha vai bem. Tudo bem. Você têm seus métodos. E quem sou eu para discordar!

  Prometo parar de falar de mim, afinal foram três parágrafos dedicados a isso. Agora, falemos de você: eu sei que assim como eu, você sofreu , chorou, sorriu e sentiu dor, muita dor. A dor da alma, uma dor profunda e que só Deus pode tirar. E eu te amo por isso. Por ser muito mais forte do que eu para sentir dores. Também te amo por ser bondoso, tranquilo e confiante. Te amo por me ensinar a ter fé.

    Hoje é um dia em que muitos se lembram de você, mas eu queria te dizer que eu me lembro de você todos os dias. Para onde eu olho eu vejo você. E eu preciso sim de você por perto, sempre. Por favor, não me observe, apenas,de longe pode ficar sempre que quiser aqui ao meu lado segurando minha mão. Eu preciso.

     Você pode me ajudar a levantar todos os dias e me ensinar a ser forte. Eu preciso. Porque apesar de não entender todo o meu sofrimento, minhas derrotas, meus fracassos, existe uma coisa que eu entendendo: preciso e quero ter você comigo todos os dias. Não se esqueça de mim. E não se coloque tão longe. Eu preciso e quero ter você comigo todos os dias. Te agradeço pela minha vida ,família e pelas pessoas e bichinhos que me cercam.

    E hoje, nesse dia tão seu, eu não podia simplesmente sentar e escrever sobre qualquer coisa. Eu não podia lembrar como todos lembram, tinha que ser você e eu. Pois a dor que hoje me dói, um dia lhe doeu mãos, corpo, alma e coração.

Fica comigo.

Eu preciso.

E isso eu não quero entender. Quero, apenas, sentir.

Te amo!


Ass: Amanda. 

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Pra lugar nenhum
Por Amanda Leal

Fundo do mar. Dias quentes do verão. Tardes, noites e dias.

Havia uma sereia de calda azul brilhante que adorava nadar sem rumo. Para nós humanos seria como sair andando sem destino, se exercitando até o fôlego terminar. Ela fazia isso todos os dias e assim, diziam, era como a mocinha mantinha a forma. Natação faz bem a saúde dizem os médicos e principalmente aos pulmões, vai ver que é por isso que o canto da sereia é inconfundível e maravilhoso de se ouvir.

E ela tinha mesmo uma bela voz, uma voz de dar inveja. Inveja. Pensava eu, que no mar não havia essas coisas. Mas nada é perfeito em lugar nenhum. Ela havia ganho uns quinze concursos de canto, alguns dentro e fora da sua aldeia e também havia sido escolhida como a menina mais bonita do lugar em que morava.

Para quem ainda não perdeu a inocência tudo parece bem. E assim a sereia achava que estava tudo na mais perfeita paz. Ela continuava com o seu hábito de sair por ai nadando, nadando , nadando sem destino quando um belo dia encontrou uma caixinha de joias. Eram todas muito lindas e nunca antes vistas por ali. Devia ser coisa da gente aqui de cima, penso eu.

Mas o colar coube direitinho nela, o anel ficou um pouco frouxo e o broche perfeito em seus cabelos verdes. A sereia apareceria ainda mais linda em sua aldeia. Todas as outras sereias da sua idade ficaram impressionadas com a tamanha beleza das joias. Todas queriam estar em seu lugar. Todas queriam ser sortudas. Mas nenhuma delas se aventurava a sair e procurar o resto do tesouro. Não eram corajosas, diziam por ai.

Nossa sereia se chama Alana. Sua família não é uma das mais poderosas do reino. Ela ainda não tem um pretendente e nem sequer pensa em casar, mas (mesmo sem saber) já possui uma grande inimiga. Elas só se esbarraram uma vez e se você perguntar a Alana se ela lembra de certa mulher morena, por volta dos sessenta anos, ela dirá que nunca a viu na vida.
Leona, a mulher, ficou estranhamente interessada nas joias que a nossa sereia usava e desde que se encontraram na saída do metrô (sim, eles têm metrô no fundo do mar), nunca mais a sua vida foi a mesma. Leona começou a seguir Alana e usando de truques forjou várias coincidências, encurralou Alana como pôde e ofereceu fortunas para comprar a tiara, o colar e o anel, porém Alana disse que não faria negócio. Isso provocou a ira da mulher e foi o suficiente para transformar a vida de Alana em um inferno.

Em uma semana Alana quebrou o braço, teve três escamas removidas bruscamente de sua calda num passeio com as amigas por um peixe esquisitíssimo que passara correndo por elas. Seu cabelo ficou preso atrás de uma porta de ferro na entrada da sua faculdade, tendo que cortá-lo bem curto para poder se locomover novamente. Alana sentia que sua vida estava bem estranha e que precisava tomar cuidado.

Certo dia saindo da escola, se sentiu seguida. Estava sozinha, suas amigas ficaram para trás. Ela lamentou muito por não ter esperado pelas amigas. Primeiro erro de Alana.  Só que resolveu continuar assim mesmo e como num passe de mágica uma serpente gigante apareceu na sua frente e ela deu um berro de susto. Berro esse que pareceu não ser ouvido por ninguém. A rua continuava deserta.

A serpente cercava a sereia que a todo custo tentava se desvencilhar, mas não conseguia. Eis que na sua frente apareceram oito braços de polvo bem cinzas e pegajosos e logo em seguida ela avistou Leona, a mulher da saída do metrô. Agora sim ela podia lembrar, pois ao menos o rosto estava igual.

Alana sabia o que a esperava. A mulher segurava um frasco com um líquido vermelho dentro e disse para a sereia que se ela não entregasse as joias então a mataria. Assalto a mão armada e nós conhecemos isso muito bem. Alana não pensou duas vezes e retirou tudo o que tinha e entregou para a mulher. Rapidamente a mulher desapareceu com tudo o que tinha em mãos e em seguida a serpente se afastou.

Alana se encostou na parede de pedras e ficou ali recuperando o fôlego e pensando no quão burra ela tinha sido por sair com joias tão bonitas por ai. Deveria, como sua mãe havia recomendado, guardá-las para uma ocasião especial ou poderia ter vendido as joias para a mulher na primeira oportunidade que teve. De repente apareceu uma senhorinha bem velhinha e decrépita. Ela ofereceu ajuda a pobre sereia que prontamente aceitou. As duas trocaram meia dúzia de palavras e a senhora lhe ofereceu um gole da coca-cola que segurava, para que a sereia pudesse recuperar o fôlego e assim voltar para sua casa. Desde esse dia Alana nunca mais acordou.

Ela foi encontrada pelas amigas que finalmente voltaram da escola e foi imediatamente levada para perto de seus pais. O caso mobilizou toda a aldeia e muitas pessoas tentaram ajudar a jovem, mas ainda sem sucesso. Certo dia, sua mãe, foi a uma livraria e comprou um livro. Onde descobriu um caso bem semelhante ao de Alana e que no fim da história a moça era acordada pelo beijo de um príncipe. Surgiu a esperança. Faz dois anos que Alana dorme e aguarda o seu príncipe chegar. Existem rumores de que o príncipe do reino do sul vai tirar umas férias na pequena aldeia do norte e ele está solteiríssimo. Bem, o fim? Ah, o fim vocês já sabem, né!   


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Felicidade inversa
Por Amanda Leal


E ali, naquele mar azul translúcido ela boiava. E junto dela os seus sonhos, investidas e títulos conquistados nos seus trinta e três anos de idade. Estava sobre o mar uma biografia inteira. Em casa, sua mãe e irmãos assistiam o noticiário, quando de repente o irmão do meio disse: - Encontraram o corpo! 

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Amigo meu
Por Amanda Leal


Para todos os amantes de animais:

Me acorda com lambidas
Me conforta quando eu choro
Ouve minhas lamentações da vida
E me entende como sou.
Faz festa até mesmo quando eu não mereço
E me conquista diariamente ao me chamar pra brincar.
Sempre me leva pra passear quando nem de casa eu quero sair.
Rouba o meu bife, é só dar bobeira,
Mas é incapaz de fazer besteira.
Me ama do jeito que sou.
E eu te amo como você é.
Confuso, brincalhão, grande ou pequeno
E mesmo quando morde o meu pé.
Sem palavras, sobram apenas olhares, gestos, atitudes.
O diálogo mais puro que pode existir.
Sempre me leva pra passear quando nem de casa quero sair.
Nosso amor não se expressa de qualquer jeito.
No conforto do seu abraço e você no conforto do meu.
Me ama do jeito que eu sou.
E eu te amo como você é.
Juntos somos um.
E nos divertimos sem precisar de muito.
Meu amigo, amigo meu.
Meu filho, que Deus me deu.
Se para sempre existisse, eu escolheria pra nós dois.
Por agora vamos celebrar a vida
E fazer dos nossos dias pequenos mundinhos de felicidade explícita.
Pois, mesmo que eu não os quisesse, você traria esses dias até mim.
Com sua alegria ao me ver e a gratidão em cada saída
Nós vamos juntos percorrer esse belo mundo a passeio!

Àquele que maltrata um animal eu digo:
Você não conhece o verdadeiro significado do amor.


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Quando não se tem o que dizer
Por Amanda Leal 

Há apenas um cansaço. Um cansaço da vida, das pessoas e suas maldades. Das vezes que não somos compreendidos ou das vezes em que pessoas egoístas nos pisam por nada. Por diversão até. A vida anda assim, sem graça. É tanta gente podre e tanta violência. Mas existem os egoístas que não sentem nada disso e parecem viver num mundo perfeito. Não se envolvem com nada. Não estão acostumados a resolver problemas e só mandam. São extremamente dependentes e incapazes.

Conheço bastante esses egoístas, sou cercada por vários. Às vezes eu penso: - Olha só aonde eu fui me meter! Talvez eu atraia esse tipo de gente, só não consigo ser como eles. Ainda bem. Se eu fosse igual, poderia até achar normal ser como eles. Ainda bem que não sou assim. Há apenas um cansaço.

Ninguém disse que viver seria fácil. Que eu não teria que fazer esforço. A vida é muito cruel e cada dia que passa ela está ficando pior. É o fim dos tempos! Já dizia a minha avó. Coitada, se ela soubesse que o fim dos tempos não era o fim. Ao menos na época dela. Se ela visse agora, nossa! Tá muito pior.

Existem pessoas que nós queremos ter ao nosso lado para a vida toda. Por toda a vida. São pessoas que queríamos ter na prateleira, só pra admirar. Pegar para conversar. Depois guardar. E ter sempre a certeza de que estariam lá. Mas e quando até essas pessoas se mostram egoístas, imaturas, desonestas e desumanas? Difícil viver assim. Há apenas um cansaço.

A vida é cheia de coisas ruins. De gente querendo que você vá para o inferno. De gente que quer até mesmo o nada que você tem. De gente querendo te ferrar o tempo inteiro. A vida é a vida. Há apenas um cansaço. Ninguém disse que seria fácil. Que não teríamos que fazer esforço.

Antigamente a gente sempre escutava os nossos pais falando: - Basta olhar nos jornais pra ver a violência em que estamos! Agora basta sair na rua que você pode assistir de camarote. A vida não está de brincadeira não. E as pessoas estão cada vez piores, nessa brincadeira salve-se quem puder e tenha fé em Deus.

Se tudo está perdido, como diziam nossos avós, pais, jornais... Só nos resta aprender a viver! A sobreviver em meio ao caos. E precisamos parar de nos colocar em redomas de vidro onde cada um inventa seu próprio mundo para fugir da realidade. E lutar, lutar, lutar. E ser feliz. Por que é a aquela velha história: não há vitória sem luta e Deus ajuda a quem cedo madruga. Se não está fácil pra você, acredite: Não está fácil pra ninguém. E o que nos resta? Continuar lutando. Há apenas um cansaço, quando não se tem o que dizer. 


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Do que está implícito
 Por Amanda Leal


Meia luz. Um abajour está aceso, um pouco fraco. O quarto está bagunçado. As roupas estão pelo chão: um vestido vermelho de festa e um terno. Luca está de cueca e Érica usando uma camiseta Hering branca e calcinha. Ela toma uma coca-cola gelada na latinha.

Luca deitado de bruços na cama.

Érica arrota alto.

Luca - ( a olha querendo rir) Ela arrota!

Érica - ( risos) Lógico. Você não? ( ri novamente).

Luca - Ok. Sim. Sempre. (brincando) Mas o seu eu posso suportar.

Érica - ( coloca a coca na mesa do lado da cama e ao mesmo tempo roça seus pés em Luca) Eu não dava nada por você.

Luca -  Ah, é?

Érica -  Sim.(sacana) Nadinha.

Luca -  Me dá um beijo.

Érica -  Ah, Luca não enche!

Luca -  Me dá um beijo, porra!

Érica -  Hum. Nossa. Às vezes é bom quando a gente ouve certas coisas nesse tom.

Luca ri.

Érica - ( o beija) Você não bebe,é?

Luca - Não.  Aqui em casa só tem coca-cola e água. Tinha maconha também, mas eu parei. ( Érica ouve interessada) Depois que o meu filho nasceu eu parei. Queria ser um bom exemplo e acho que tô conseguindo.

Érica - Taí. Você é um bom exemplo.

Luca -  Obrigado. Até que enfim um elogio.(Ele senta ao lado dela)

Érica -  (acende um cigarro) Putz. Esqueci de perguntar. Pode?

Luca- Melhor não. ( Pega o cigarro dela e apaga na mesa que está ao lado de Érica,seus rostos se cruzam)

Érica-  Sabe que você é bem gostosinho? ( Luca esboça um sorriso charmoso)

Luca-  Mais um elogio? Não acredito.

Érica-   Sério cara. Você é todo definido. Depois você diz que não malha.

Luca-   Vôlei de praia.

Érica-  Hum. Isso te coloca num patamar mais interessante ainda. Vôlei de praia! Acho que você é um homem sério.

Luca-  Muito.

Érica-  Já foi casado, separou, tem um filho. Nossa! Você é um partidão. (risos) Tô falando igual a minha avó.Mas taí a palavra: partidão.E ainda joga vôlei de praia.  Depois que a sua mulher te traiu você podia muito bem ter virado um galinha, cafajeste, mas não. Você é um cara legal. Essas suas qualidades deveriam ficar guardadas em segredo. Esse tipo de coisa a gente não conta. (Dá um sorriso charmoso e depois fica séria) A mulherada fica doida.

Luca-  E você?

Érica-  Ah! Isso não me surpreende.

Luca-  Mentira porra!

Érica fica sem graça e começa a mexer no celular que está na mesa ao lado da cama.

Luca-  Do que você tem medo?

Érica-  Do amor.

Luca-  Ou de amar?

Érica-  Dos dois.

Luca-  Eu acho que a gente pode dar certo.

Érica-  Vamos com calma.

Luca-  Calma? São oito semanas já. ( com ênfase) Oito semanas de sexo casual. Cada um na sua. Eu nem conheci a sua família ainda, você nem sonha em conhecer a minha. Passou por mim e pelo meu filho no shopping e só me deu um oi de longe. E como assim você não sabia do vôlei de praia? Eu lembro de ter comentado. Mas tudo bem. Você nunca quis ir me encontrar na praia. Se você tivesse me encontrado na praia saberia que eu jogo vôlei, porra.

Érica-  Ah, sem drama Luca! Olha que coisa boa aconteceu hoje: eu vim dormir pela primeira vez na sua casa.Descobri que você realmente não bebe nadinha de álcool e que parou de vez com a maconha. Pô! A gente tá se conhecendo ainda, cara.

Luca-  Érica, são oito semanas juntos. Você deveria saber de tudo isso. Qualquer pessoa perguntaria, mas você não.

Érica-  Eu sou diferente,ok? ( Nervosa e incomodada com o rumo da conversa) Eu vou fumar, tá? (firme) Preciso.( Luca pega o cigarro da mão dela quando ela está prestes acender) Ah, me dá aqui! Porra Luca! Que merda! Que merda é essa as quatro da manhã? Você quer discutir relação, é isso? Vamos resolver logo isso. Vai, fala! (irritada, resmungando) Já que não posso fumar vou terminar com essa coca. Fala Luca! Fala!

Luca-  A gente vai namorar?

Érica-  Como é que eu vou saber?

Luca-  Você quer? ( tempo. Silêncio entre os dois) Eu tô perguntando numa boa. ( Érica ainda em silêncio) Quer ou não quer, porra?!

Érica-  Tá. Pode ser.

Luca-  Sabia.

Érica-  Sabia o quê?

Luca-  Que você ia aceitar.

Érica-  Mas eu vou poder fumar?

Luca-  Lógico que não. Isso faz mal porra. Se eu parei você também consegue parar.

Érica-  Então não.

Luca-  Não o quê?

Érica- Não vamos namorar.

Luca-  Por causa da porra de um cigarro você não quer mais namorar comigo?

Érica-  Não. Não quero.

Luca- Me diz o porquê Érica!

Érica-  Porque ele chegou primeiro.

A luz apaga.
Fim da cena.


  
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O milagre do carnaval
Por Amanda Leal

Deusemar, mulata, corpo escultural, 30 anos e um sonho: desfilar no carnaval. Sair na Sapucaí não era apenas um desejo, mas sim um objetivo que ela tinha certeza de que iria conquistar. Não queria sair em carro alegórico, não queria sair na diretoria, queria apenas percorrer a avenida sambando com pouca roupa e absorvendo a energia do samba.

2013 foi um ano de muito trabalho, fez faxina para complementar o orçamento de doméstica e até ajudou a cuidar dos cachorros dos patrões durante uma viagem deles. Tudo isso para bancar a tão sonhada fantasia. Economizou no presente de Natal da família, pois qualquer graninha era bem-vinda.

Deusa, como era conhecida, tinha um filho. O pequeno Sidney. O menino agitado e sapeca tinha cinco aninhos e já vivia a dois sem seu pai. Cléber morreu durante uma incursão dos policiais na comunidade onde trabalhava, era homem honesto e trabalhador e mais uma vítima de bala perdida.

O ano do objetivo foi bem complicado, cheio de impedimentos, mas no fim lá estavam: os quatro mil reais de sua fantasia. Sorte da Deusa ter um primo que trabalha no barracão. Ele até tinha conseguido que ela desfilasse de graça, mas seria sem fantasia, ao lado da galera da escola. Sem fantasia? Nada feito para ela.

Finalmente chegou o grande dia e Deusemar era só expectativa. Acordara cedo para fazer o cabelo, pegou um pouco de sol na lage, já tinha combinado com a mãe que tomaria conta de Sidney. E por falar nele, o menino acordou um pouco quietinho hoje. Com uma tossezinha chata. Deve ser gripe, afinal de contas criança gripa toda hora.

A hora do desfile foi se aproximando e Deusa estava cada vez mais linda, montada em sua fantasia cheia de plumas e paetês. As amigas da comunidade morriam de inveja. Nessa hora todas lamentaram por não ter os quatro mil reais para também poder sambar na avenida. Deusa além de linda era guerreira.

Foi até o quarto do filho e estranhou novamente a aparência do menino. Resolveu sentar ao seu lado e esperar um pouco mais, mas o tempo ia passando, passando e a preocupação com a condução e com o menino aumentava. Se saísse agora chegaria a tempo na Sapucaí, se demorasse mais corria o risco de ter que sambar dentro do ônibus.

O menino só piorava, estava com um febrão. A mãe de Deusa disse que ela poderia ir tranquila, que daria conta de cuidar do menino. Deusa fez que ia umas quatro vezes e do meio do caminho, voltou. Coração de mãe. Ela sabia que precisava estar ali.

Assistir pela tv só aumentava sua agonia e a fazia lembrar do tamanho sacrifício que foi até chegar esse dia. A febre do menino aumentava e resolveram levá-lo para a Upa mais próxima.

Chegando lá tiveram sorte, muita sorte de estar vazio. Parecia que estava todo mundo em algum outro lugar. E realmente estavam, estavam em seus mundos particulares curtindo o carnaval. Os médicos até que permaneciam de bom humor, o que era estranho, pois ninguém gosta de trabalhar quando todo mundo está se divertindo, assim julgava Deusa. E o menino foi atendido.

Doutora Suzana disse que tiveram muita sorte, pois a pneumonia estava em estágio avançado e que se o menino tivesse ido para a emergência em um dia comum, talvez não tivesse sobrevivido. A Upa dali costumava ser muito cheia. E Deusemar ainda pensou que hoje estaria insuportável, pois a quantidade de gente doida no carnaval só contribui para que os hospitais fiquem ainda mais cheios. Vai ver foi um milagre. O milagre do carnaval.

Com a situação sob controle a Dra Suzana garantiu que o menino ficaria bem. Se tudo fosse feito da maneira correta e que se fosse preciso iriam até mesmo tentar vaga em um hospital maior. A noite foi longa para Deusa, Sidney e toda a sua família. Ela ali, sentada num banco improvisado ao lado do filho, abaixou a cabeça e agradeceu a Deus baixinho por ter seguido o seu instinto de mãe e ter ficado com ele e também pela doença ter se manifestado justamente naquele dia. Pois como a médica mesmo lhe tinha dito, com a Upa vazia tudo foi mais fácil.


Em um mês o menino já estava novinho em folha, correndo e bagunçando por ai. E na sala da casa, ao lado do sofá havia um manequim que usava a fantasia daquele fatídico carnaval. Estava ali como lembrança. Para recordar não as lembranças de uma Sapucaí cheia e sim de um hospital vazio e da vida de seu filho Sidney. 



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Mania de mim
Por Amanda Leal

Mania de arrumação tem nome? Sim. Mania de arrumação. Cada dia tiro uma coisa do lugar, ponho outra, limpo e varro o que precisa ser varrido. Esfrego o chão com muito gosto e aquela água preta vai embora. Passo tanto sabão em pó que consigo deixar tudo azul e o preto vai virando cinza e se esvai ralo abaixo.

Começo borrifando o tira limo e pelas paredes de azulejo o verde cai. A alma fica até leve depois disso. Nossa, quanta sujeira por aqui! Eu sempre gostei do tira limo, ele funciona como um papelzinho para o nariz que escorre e resolve.

Cada esfregada sinto como se dez quilos de poeira saíssem de mim, cada vez que passo o aspirador vejo como é bom quando as coisas simplesmente desaparecem da sua frente.  A água sanitária tem o poder de clarear tudo e às vezes isso é bom e ás vezes nem tanto, mas mesmo assim eu nunca deixo de usá-la.

Ah, cada dia de faxina é renovador. Doloroso pra quem trabalha, mas no fim dá um alívio. Alívio no corpo, na mente, na casa. Cada dia de arrumação nos faz sentir como se as coisas realmente estivessem no lugar e que não importa se alguém vai mexer ali, vai bagunçar, porque no fim elas estão onde deviam estar.


Nada mais gostoso como a minha mania de arrumação. Sem exageros, sem psicose. Apenas uma mania, positiva. Uma mania que conta a meu favor, que me faz estar sempre em movimento. Me virando para deixar as coisas bem. Pra mim. Dentro de mim. Minha casa, aqui no caso, é o meu coração. E com uma habilidade que só Deus poderia me conceder, eu venho todos os dias exercitando a faxina da minha alma. 



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Janelas abertas e um rolêzinho
Por Amanda Leal


Interior. Restaurante chique de um shopping de ricos. Dia.

Dafne - Alô, oi. Tudo bom? É a Dafne, amiga. Coloquei número desconhecido pra ninguém saber que sou eu que estou ligando. A parada é a seguinte: vamos fazer um rolêzinho no shopping. (ouve) Rolêzinho. Isso mesmo! Só de mulheres lindas, ricas...ricas com y.(gargalhada forçada). A gente precisa mostrar pra todo mundo que nós garotas “rycas” merecemos respeito. Esse povo do shopping está perdendo a noção, já olham pra nossa cara e nos tacham de milionárias? Aumentam em 50% o preço de uma bolsa e de um sapato só de olhar na nossa cara? ( ouve) Sim amiga! Isso é um absurdo. E quando a gente resolve comer no Burger King sempre tem uma atendente que olha pra nossa cara como se nós fôssemos obrigadas a só comer alface e ficar trancadas numa academia ao lado de um personal. Absurdo amiga! Absurdo. (ouve) Isso! Isso! Concordo com você. Tá uma bagunça esse mundo. A gente vai no shopping e quando quer pegar um taxi o motorista não tem troco pra uma nota de cem? Esse cara não quer trabalhar? ( ouve) Pois é. Ahhhh, outro dia fui levar o meu Chihuahua ao banheiro e  não deixaram, como assim? Me disseram que cachorro faz xixi no chão. O meu não faz, faz na privada. Rebeca, tá me ouvindo? (ouve) Então...Eu preciso ser respeitada. Você, eu, todas nós. Burguesas, ricas e herdeiras merecemos respeito. Por isso te digo Rebeca, nós vamos lotar hoje aquele shopping.(ouve) Isso, o do Leblon. Esse aqui que eu to não vai chamar tanta atenção. Já acionei a galera do Twitter, os invejosos que me seguem no Facebook e toda a alta sociedade feminina. A gente vai lutar pelo nosso direito de ir e vir de um shopping! Os seguranças vão parar de fazer cara feia pra gente quando pedirmos uma ajudinha para carregar a sacola. Esse é o ano da copa Rebeca, a mídia toda vai aparecer e nós vamos ser ouvidas! Rebeca? Rebeca? (ouve) Amiga, parece que o povo se adiantou aqui e começou um agora. E tem violência sim. Ihhh quebraram tudo lá fora. As portas do restaurante estão trancadas, abaixaram as de metal. Amiga, o bom de ser vip é que você é vip até numa hora dessas. To aqui dentro assistindo de camarote essa confusão toda que a maioria da população só assiste da tevê. Se é sério? Claro que é Rebeca! Vou te mandar um vídeo pelo whatsapp. Para de latir Brad! Mamãe tá aqui, mamãe tá aqui. Ai Rebeca liga ai a televisão porque pode ser que me entrevistem quando a confusão terminar. Aliás,(fala alto para o garçom) vocês tem janelas aqui nesse restaurante?

Garçom- Sim senhorita. Duas ali na frente.

Dafne- Rebeca, amiga. Daqui a pouco eu te ligo. Beijo. Tchau linda. Tchau. Claro que mando notícias. Já ligo Rebeca. Tchau. (liga para outra pessoa) James é a Dafne. (ouve) Está tudo bem, James. Tudo bem. (ouve) Mas já está ao vivo na tevê? Nossa que rápido!  Providencia um helicóptero para me buscar aqui no shopping. (ouve) Que polícia vai impedir o quê? Faz o que eu estou mandando James. A janela do restaurante dá de frente pra praia é no último andar, não tem erro. (ouve) Ok. Estou aguardando. Tchau. Garçom, traz um champagne rosé e abre as janelas que o meu pessoal está vindo me buscar!



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Realidades
Por Amanda Leal


Acordo de um sonho esquisito, levanto da cama e meu coração bate a mil por hora. Nele meus amigos morriam com vários tiros  dentro de um prédio residencial que virava uma casa de festas infantis. Homens armados entravam e atiravam em todo mundo. Não tinham medo de mostrar o rosto e também não tinham misericórdia.

 Eu escutava tudo de dentro de um armário. Ficava ali por horas esperando que ninguém me visse, mas eu tinha mesmo um papel invisível naquilo tudo. Meu papel era assistir ao sonho e narrá-lo pra quem eu encontrasse depois.

No fim, quando já estavam todos mortos, a polícia aparecia e matava os bandidos. Parte do sonho em que (com certeza) fui influenciada pela minha paixão por séries policiais.  Os corpos de bandidos e vítimas ali no chão e eu passando como uma mulher invisível entre eles, carregando a mesma sensação de tristeza que milhões de famílias brasileiras já sentiram nessa vida. Sem ao menos eu ter passado por isso.



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Meu branco. Meu vazio.
Por Amanda Leal


Está quente lá fora. Sentei na frente do computador e nada me sai.  Sem ideias, sem saber por onde começar. O branco da tela ilumina o meu rosto e as páginas do meu dia. Nenhuma ligação no celular, nenhuma certeza, nenhum assunto.

Ouço uma música que toca lá longe, me lembra a nossa. Agora ela parece tão distante de mim, tão vazia, mas cheia de significado e lembranças. Meu branco. Meu vazio.

Só queria poder escrever tudo o que não consegui te dizer ontem e mesmo que essa carta nunca chegasse até você, ao menos sairia de mim. Minhas mãos não se mexem, nada sai. Branco no papel em branco.

As quatro da tarde a campainha toca e penso:  - Será novamente a chata do 302 falando do vazamento? Corro para entender, esbarro na escrivaninha e derrubo um copo de água. Ele quebra. Vou espumando de raiva para abrir a porta e quando vejo ali está você. Me quebro toda por dentro, me derreto por fora. Me esquento e sinto frio ao mesmo tempo.

Você me abraça, pede desculpas, eu digo que era eu quem deveria pedir. E você me beija e você me ama e você colore a minha vida, a minha tela em branco, o meu coração.



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Dramaturgia alheia - capítulo 2
Por Amanda  Leal

É noite. Casa de Márcia Villaverde. Ela está deitada na cama com seu marido assistindo a um programa na tevê, o clima está descontraído. Os dois dividem uma caixa de bombons finos. O telefone da casa toca. Márcia atende.

Márcia - Alô?

Antonio -  (com uma voz péssima) Não desliga. Por favor não desliga!

Márcia -  (contida por causa do marido) Eu acho que não é uma boa hora.

Antonio -  Por favor. Não desliga. Eu só preciso ouvir a sua voz.

Cácio, o marido de Márcia dá uma olhada pra ela de como quem já sacou tudo.

Márcia -  (gesticulando para o marido, tom de voz baixo) Calma. (para Antonio) Oi, pode falar Antonio.

Antonio - Eu só queria ouvir a sua voz mais uma vez.

Márcia -  (preocupada com o tom esquisito de Antonio) Está tudo bem? O que houve?

Antonio - Nada. (voz de choro contido) É só saudade.

Márcia -  Certeza?

Antonio -  Sim. Obrigada por me deixar te ouvir. Vou indo Márcia. Tchau.

Márcia - (ainda um pouco tonta com a ligação e inebriada pelo clima estranho da voz de Antonio) Tchau.

Cácio senta na cama. Olha pra ela.

Cácio - O que esse cara queria?

Márcia - Não sei. Tava estranho. Com uma voz fúnebre. Disse que era saudade.

Cácio - Ainda vou me irritar com esse babaca. Aguentei até agora por você. O que você fez pra deixar esse cara assim?

Márcia - Ei, o que você tá querendo dizer? Eu não fiz nada. Acho que eu simplesmente existi. Já não basta? O Antonio é assim meio obsessivo com as coisas, foi comigo também.

Cácio - Espero que esse filho da puta pare de ligar pra você.

Márcia - Espero que ele seja feliz. Vem cá me dá um beijo.

Cácio - (meio resistente) Você sabe que eu fico puto com isso.

Márcia - Eu sei (beija) Eu sei (beija), mas eu amo você.

Os dois começam a se beijar e a luz apaga.

Amanhece. Cácio acorda e liga a tevê em um desses canais de notícias da cidade.

Repórter: O ator Antonio Cansas sofreu, na madrugada de hoje, um acidente de carro na Barra da Tijuca. O ator voltava de uma festa e seu carro capotou após sair de uma curva, ele estava sozinho no carro. Ainda não tivemos informações sobre o estado de saúde do ator.

Cácio assiste a reportagem atônito. Olha para o lado e Márcia dorme tranquila. É uma manhã de sol no Rio de Janeiro. 



Continua ...



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Eu
Por Amanda Leal

Estou sentada em minha sala, num sofá confortável, pago em dez prestações de duzentos reais. O ar está ligado e tomo um café com leite morno.  Tenho um abajur turquesa ao meu lado e dele sai uma luz amarela de uma lâmpada de led que comprei no ebay. Quis transformar minha sala em um ambiente extremamente confortável. Consegui.

Quando você entra na minha sala você rapidamente se transporta para outro lugar que não é o Rio de Janeiro. Esqueci de dizer que estou de pernas pra cima e da minha janela olho o fim de tarde iluminado de cinquenta graus no Leblon. Aqui dentro tudo parece tão calmo e está.

Marido trabalhando, crianças na escola e empregadas de folga. Essa sim é a minha vida. Calma, serena, tranquila. Vejo na tevê um CSI para distrair a cabeça e após ver tanta gente morta no episódio de hoje, tive mais uma certeza: estou muito bem. Obrigada meu Deus.

É irônico beber um café com leite (mesmo que morno) no calor que faz lá fora, mas aqui dentro da sala já quase neva. Café com leite relaxa e hoje eu to ótima. Aboli o adoçante e carreguei no açúcar. Só por hoje. Poderia morrer agora que estaria feliz. E quando cientistas forenses encontrassem meu corpo saberiam que dentro do meu estômago havia café com leite.

Como minha vida vai ser longa, assim eu sinto, e como sinto também que o CSI de hoje me deixou meio zureta mudei de canal e fui ver programas de estilo. Mudança de visual. É tão bom ver gente feia ficando bonita. Dá um alívio. Nada estraga o meu fim de tarde. Ahhh!

Me sinto tão livre aqui, só com tempo pra mim. Tempo para não ter que usar a minha voz. Dar opiniões e ter que responder o porquê disso e daquilo...  Poderia ficar assim por horas, aqui no meu esconderijo, que não é tão escondido assim. No meu lugar ao sol, onde está quase nevando e não é ao ar livre e sim dentro da minha casa.

Eu aqui no sofá, sozinha bebendo café com leite é a imagem mais pura de liberdade. Eu posso ficar só. Fico um tempo naquele estado gostoso de soninho, preguiça, quase dormindo mas to acordada. Se eu tivesse dormido não seria tão bom.

 Meu marido chega e me vê naquela situação tão minha: nua, sentada esparramada no sofá caríssimo todo coberto por toalhas verdes e besuntada no hidratante. Ele estranha e faz uma cara de oi? Eu respondo já sem muitas forças: - Passei a manhã inteira na praia, to ardendo.

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Aguardando a sua aprovação
Por Amanda Leal

Apaguem os ponteiros do meu relógio digital.
Atrasem as tristezas e decepções.
Invoquem as alegrias constantes.
Tirem os encontros desnecessários.
Aprovem logo.
Provem a comida antes de reclamar.
Isso! Coloquem a toalha no banheiro ao invés da cama.
Mantenham a tampa da privada no lugar pra sempre.
Prendam o cabelo na hora do banho para jamais entupir o ralo.
Feijão será sempre bem-vindo.
E novamente: o banho será uma questão de honra.
Mães não serão sobrecarregadas e pais mais requisitados.
Avós mais mimados e filhos ganharão mais atenção e carinho.
Palmadas serão esquecidas e mulheres respeitadas.
Beijos serão espontâneos e abraços doados verdadeiramente.
Solidariedade começará ao sair de casa.
Sexo só com amor.
Animais não serão esquecidos e suas companhias serão eternas.
2014 será um novo ano.
Aprovem logo!
2014 será ano novo, não será mais um.
Mas será recomeço.
Hora de modificar tudo e crescer!
Seguir em frente sem olhar pra trás e fazer diferente e melhor do que já foi.
Engolindo sapos, se arranhando, sofrendo, perdendo, ganhando, acertando, andando...
Essa é a vida.
Aprovem logo o recomeço!!!
Façam o relógio andar em direção ao novo.
E que não haja igual nunca mais.
Cada vez melhor , mais e mais.
Feliz 2014!
FELIZ RECOMEÇO PRA VOCÊ.

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A sós
Por Amanda Leal

Uma mesa antiga, dessas com a madeira descascada. Um peru de Natal devidamente pronto. Duas velas acesas. Dois lugares postos. Uma iluminação escura que valoriza ainda mais o clima rústico da casa. Há um tapete branco surrado perto da porta principal e um sofá de couro marrom, onde um homem chamado Edgar assiste tevê. Lucilene chega da cozinha ofegante carregando rabanadas. Ao fundo além da tevê ouvem-se barulhos de carros, motos, buzinas e vizinhos que conversam. Um cachorro late, uma ou outra criança briga, chora e a mãe retruca.  As onze em ponto Edgar está à mesa junto com sua companheira Lucilene. Entre eles há um silêncio absoluto.


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Sacolas cheias
Por Amanda Leal

Saio na rua e não vejo pessoas, vejo sacolas. Sacolas cheias de histórias, pensamentos e intenções. Nessa época do ano não costumamos olhar no rosto de ninguém e sim para as sacolas. Olhamos para a personalidade das sacolas. Quanto mais sacolas mais queremos olhar. Muitos as invejam sem ao menos saber o que tem dentro. E então podemos fazer um exercício mental maravilhoso: Imaginar o que tem ali! O que será? É grande? É pequeno? É feio? Eu usaria? A pessoa gastou muito? Ou comprou apenas uma lembrancinha? Pela marca, ás vezes, dá até para saber o que tem ali dentro. Cem por cento de certeza? Não. É arriscado demais fazer um chute certeiro. Mas é gostoso imaginar o que tem dentro de cada sacola. A mente vai longe e o que fica é a pergunta: E se fosse pra mim? E se eu pudesse comprar nessa loja o que colocaria ali?

 O nosso Natal ainda é Natal ou é apenas uma desculpa para se ter mais sacolas? Papai Noel sabe disso? Será que ele sabe que estamos comprando adoidados? Estamos todos trabalhando por ele. E trabalhando demais. O saco vermelho está ficando vazio e o bolso da galera cheio de dívidas. Estão todos esquecendo da sua realidade, saem para as compras e esquecem da vida. Acabam comprando não por eles mesmos e sim pelo outros. Em alguns casos ocorre uma competição de famílias, quem vai ter a árvore mais recheada, hein? Natal sem presentes não é natal, assim pensa a maioria.

Fico pensando que se eu pudesse ser uma sacola, qual eu gostaria de ser. Acho que eu seria uma sacola de loja de jóias. Pequena, chique e discreta, mas que esconde uma bela recompensa. E você? Qual sacola seria? Lembrando que nossas vidas como sacolas seriam passageiras, seríamos apenas uma "mula" que carrega algo para o seu destinatário. Assim também vivem os envelopes, caixas e saquinhos de presentes. Vida difícil essa. Depois de abertas, elas perdem o seu valor.

Parece que o Natal virou mesmo a época de compras, assim como o ano novo é a época das viagens. Mais fácil é não pensar e sair comprando, gastando e sendo feliz por pouco tempo. Assim como as sacolas outros ícones importantes também acabaram ficando sem valor: Papai Noel, o nascimento de Jesus e o peru ficaram um pouco pra escanteio.Mas as contas  a pagar, essas sim permanecem. 


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Engasgo
Por Amanda Leal

É um cansaço. Uma dor que me corrói. A dor no peito outra vez. Ela vem e vai, vem e vai. De mês em mês! Mas, porque ela não me abandona? Quando penso que tudo vai bem. Ai piora. Meu coração foi esmagado. E dói. Foi um caminhão que passou por cima. Tem conserto? Sinto muito mas, o conserto é terceirizado. Terceirizado? O que estou dizendo? Queria que tudo melhorasse. Que você me olhasse como sou. Que me desse atenção porque sente minha falta. Ahhh eu queria....como eu queria um beijo seu!


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Dramaturgia alheia
Por Amanda Leal

 Márcia Villaverde é uma atriz famosa no Brasil e agora no mundo. Ela foi a primeira atriz a ganhar um personagem fixo em uma série americana, na qual participou por quatro anos consecutivos e arrebatou um prêmio de melhor atriz coadjuvante de seriado internacional no Festival de Seriados de Porto Rico em 2012. Com apenas trinta anos é considerada uma grande atriz e atrai público por onde passa. Canta, dança, interpreta, escreve e tem muita opinião. Márcia é conhecida pela sua discrição na vida pessoal, onde é casada desde os 25 com o produtor de cinema Cácio Milardis.

Antonio Cansas é um ator brasileiro. De trinta e cinco anos. Galã. Nunca fez um filme na vida, nem sequer sabe o que é ter uma carreira internacional. Porém é muito famoso pelas novelas que participou. Era modelo e se tornou ator após participar de uma mini série e chamar a atenção por sua beleza agressiva. Antonio não era um bom ator, mas podemos dizer que é um profissional dedicado e vem surpreendendo a crítica especializada com seu crescimento na telinha. É solteiro, galinha e mega interessante. Encanta os corações por onde passa,  por ser um homem comunicativo, gentil e muito atraente. Antonio é carisma puro!


Márcia está sentada sozinha no camarim após uma apresentação de sua nova peça. Ela retira a maquiagem concentrada, eis que surge Antonio Cansas (seu par romântico em tantas novelas). Ela logo levanta e lhe dá um abraço.

Márcia – Antonio, que saudade!

Antonio – Eu também, por isso vim te ver. Ontem eu te liguei à beça, mas você não atendeu.

Márcia – Desculpe, estava em um evento de família e não devo ter visto o celular tocar. Nossa, você tá com uma cara ótima!

Antonio – ( segurando no braço de Márcia, forte, mas carinhoso...como quem quer dar o bote) É que eu tava com saudades.

Márcia – ( tentando se esquivar) Ai Antonio a gente já conversou sobre isso. Você sabe que sou casada e que amo o meu marido.

Antonio – Eu sei. Mas você nunca vai me dar uma chance?

Márcia – Antonio, as coisas não são tão simples assim...eu sou casada, amo o meu marido, não quero trair.

Antonio – Vai dizer que você não sente nada por mim? E aquela química toda em
“Sentimentos no Leblon” ?

Márcia – Aquilo foi novela Antonio, nós somos atores temos que saber diferenciar.

Antonio – Só que eu estou apaixonado por você e não sei diferenciar. Eu te amo. E eu sei que tem algo entre a gente. Eu sinto algo no ar. Eu sei que você se sente atraída por mim. E você sabe que eu sei.

Márcia – Pára com isso Antonio.

Antonio – Não paro. Não paro mesmo. Diz, diz que você não se sente atraída por mim?
(ele puxa Márcia para mais perto de si, por mais que ela tente se esquivar, seus lábios ficam perto um do outro, mas não se encostam).

Márcia – ( visivelmente nervosa, empurra Antonio, mas continua perto dele) Eu acho que você está confundindo tudo. Eu achei que pudesse ser sua amiga, mas o que você quer? Você só pode ser louco. Sai com um monte de mulheres e chega aqui agora e se descobre apaixonado por mim?

Antonio – Você sabe que não foi de uma hora pra outra. Você sabe. E você também sabe que por mais que na novela fossem a Roberta e o Miguel se beijando, tinha uma essência nossa. Tinha uma sensação boa.

Márcia – Pára! Pára com isso Antonio. Nem mais uma palavra. Esse é o nosso trabalho, temos que saber diferenciar. Eu sei diferenciar.

Antonio – (ele vai chegando até Márcia, faz um carinho no rosto dela, tipo esses de novela...o estranho é que ela diz não querer nada com ele, mas também não consegue se esquivar. Será apenas para não magoá-lo?) Olha nos meu olhos Márcia, olha nos meus olhos e diz que eu não mexo com você?

Márcia – Mexe, é isso que você quer saber? Mexe sim. Mas, não é amor. É só uma atração. Pois o fato de eu te achar um homem interessante não faz com que eu queira arriscar meu casamento por você.

Antonio – Mas a gente tem que viver isso.

Márcia – Não, não Antonio. Eu não quero viver isso. Imagina se eu fosse me relacionar com cada homem por quem eu me sinto atraída? Mesmo que role essa química absurda que existe entre nós dois. Não vale a pena. Não vai valer a pena. Por mais que eu sinta vontade de te beijar às vezes quando você está falando comigo, por mais que eu queira, eu sei que não duraria pra sempre. Tesão por tesão. Não. Você sabe que a quantidade de pessoas interessantes com as quais convivemos é enorme, uma hora ou outra alguém chamará a nossa atenção. Só que é preciso fazer escolhas. E eu sou casada. Eu amo e desejo o meu marido. Não vou trocar o Cácio por aventurinha nenhuma. Pra algumas pessoas pode ser normal trair. Mas pra mim não. Não vou trair, não vou me separar. E não sou burra de me deixar levar por você e estragar tudo que eu e o meu marido construímos juntos. Eu amo o meu marido. Eu não amo você. Você acha que me ama, mas daqui a pouco a novela muda e o seu amor por mim muda também. Até que, quem sabe, uma hora você vai encontrar alguém com quem queira passar a vida toda, alguém que você vai amar, desejar e querer ter uma história limpa. Ai você vai entender o que eu to dizendo. Agora, por favor, pára com essa história de nós. Porque não tem nós. Temos eu. Você. Uma novela que terminou e uma amizade que fica. E só.

Antonio – ( cabisbaixo como quem perdeu) Tudo bem, eu já entendi. Vou respeitar. ( ele dá um beijo na testa de Márcia) Te amo. ( sai).

Márcia senta para terminar de se arrumar. Ainda está atônita. O celular toca.

Márcia – Oi amor, eu já estou terminando de me arrumar pra sair.(ouve) Não, não precisa de ajuda não. (ouve) Ta, ta bem pode vir aqui, a porta está aberta.

Cácio entra com flores. Os dois se beijam apaixonadamente.

Cácio – Você estava linda. Eu te amo!

Márcia – Eu também. Muito.

Se abraçam.




Continua...



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Ainda aprendendo sobre este mundo cão
Por Amanda Leal

Hoje acordei com uma sensação de morte. Uma angústia, uma vontade de chorar, um nó dentro do peito. Uma pena. De não sei o quê. De não sei de quem. Até tive pesadelos á noite. Claro que tive, mas não foi só por isso que acordei assim. Não foi só por causa da ficção do meu sonho. Essa sensação é real.

Ontem também não foi o melhor dia da minha vida. Nem sei se amanhã será. Tenho percebido que amadurecer tem dessas coisas, você abre os olhos para o mundo e enxerga o quão cruel ele pode ser. Com você. Com os outros. A gente vai começando a abrir os olhos e encosta num monte de trecos que antes nem percebia, nem sabia que existia.

Tenho aprendido a viver contente. Se você parar para pensar que existem pessoas numa situação pior que a sua, que o seu reclamar pode ser muito pequeno perto da realidade de outras, você pode estar na mesma situação que eu. Pode estar amadurecendo e aprendendo a lidar com as pequenas coisas da melhor forma. A dar valor ao que tem. A degustar ao invés de simplesmente engolir. Sabendo aprender com cada situação, seja boa, seja má.

Sinto meu peito apertado. Não paro de pensar em algumas pessoas específicas. Sinto que elas também pensam em mim. Você já sentiu isso? É muito louco. A vontade de chorar se aloja na minha garganta, mas não tenho motivos para o choro. Por quem chorarei? Por mim? Por eles? Por ele? Tudo é indefinido.

Ontem eu li uma passagem num livro e dizia que precisamos colocar limites no nosso amor. Amor não só no sentido passional. Amor no geral, amor com o próximo. Sabe, ás vezes nos pegamos cobrando que as pessoas nos amem incondicionalmente, ou fazemos de tudo por alguém já esperando que essa pessoa nos retribua. Ontem a ficha caiu. Amadurecer foi também entender que não preciso ser o centro das atenções e não preciso de pessoas que me amem incondicionalmente. Preciso de ao menos uma que me ame de verdade. E posso simplesmente fazer, sem querer nada em troca.

De ontem pra hoje eu cresci uns 10 anos. Foi preciso ler esse trecho para constatar. Para entender que eu já não pensava como há dois meses atrás. Que muita coisa tinha mudado dentro de mim. E se eu tivesse lido esse trecho antes? Acho que não o teria entendido.

 É impressionante como um dia qualquer pode se tornar inesquecível. Simplesmente um dia qualquer Deus te pega pela mão e te sacode, te acorda pra vida. Acho que vou lembrar de hoje pra sempre. Por quê? Porque aprendi mais uma coisa que vou levar pra vida toda. São de poucos dias assim que lembro nessa vida. Até agora.

A sensação continua, mas eu acho e acredito fielmente que uma hora vai passar. Talvez passe depois do lanche da tarde, depois de um café bem quente e forte. Bem, ao menos minhas dores de cabeça passam assim. Ou depois de uma conversa boba com uma amiga que acaba de chegar.  A verdade é que não passa. Não passou. E o telefone tocou. Ele partiu. Não me era tão chegado. Eu não era tão ligada. Só que eu senti. Senti que ele estava indo embora. Talvez Deus quis que eu soubesse disso. Soubesse para poder apreciar cada momento em que ainda estou aqui. 

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Quando fecho os meus olhos
Por Amanda Leal

Quando fecho os meus olhos e sonho só consigo imaginar coisas boas. Deixo os sonhos ruins para os pesadelos, aleatórios e não escolhidos a dedo. Eu escolho meus sonhos, não os de quando a gente dorme. Mas os sonhos que se sonha acordado. Que se sonha antes de dormir...

Sonhar pode muitas vezes significar um devaneio, uma fantasia ou ter uma ideia fixa. Não importa o significado o que importa é que ninguém pode tirar isso de você. Se você sonha de menos, meu conselho é: Sonhe mais. Se você sonha demais, continue, mas comece a se mexer para realizar. Muitas pessoas vão tentar frustrar seus sonhos, talvez por inveja, maldade, ou para simplesmente parar a sua vida e fazer de você um fracassado.  Isso se você deixar!

Às vezes a desgraça é tanta que a gente até esquece de sonhar, ou simplesmente desiste. Eu já desisti muitas vezes, começava a pensar e vinha um outro lado meu que dizia: - Não! Pode parar, isso não vai acontecer. E por muito tempo fiquei assim, sem sonhar. Fiquei verde. Isso mesmo, minha cor mudou. Não pegava sol. E ganhei uma coloração roxa abaixo dos olhos: Olheiras. Pra mim quem não sonha fica verde. Mas pra amadurecer é necessário ser verde um dia.

Quando você entende o quão importante é sonhar, você ganha um novo colorido. Sua vida muda e tudo ao seu redor fica mais alegre. Porém, é importante ser o sonhador consciente. O sonhador pé no chão. O sonhador realizador. Porque como diz a música “sonhar não custa nada”. Nadinha. Realizar custa, dá trabalho, nos faz sofrer, mas ensina.  Mas queremos deixar de ser verdes não é mesmo? E nem queremos ter manchas roxas abaixo do nosso olhar! Então é preciso amadurecer. Ao trabalho?

Eu mesma sonhei muitas vezes em escrever um livro, uma poesia, uma música e me boicotei, deixei que me boicotassem. Porém, quando entendi que aquilo que eu queria fazer só podia depender de mim, foi ai que minha escrita aflorou e continuei a sonhar, a criar e a dar asas à imaginação. E foi assim que o Salada de textos nasceu.

 Por muito tempo foi mais fácil não sonhar. Difícil também era encarar a realidade. E uma hora a casa cai e você precisa pisar no chão, largar o balão e decidir. Eu tô aqui na terra, idealizei uma coisa assim, assim, assim e vou fazer acontecer. Ou ao menos vou tentar. Acho que foi assim que consegui deixar de ser verde. Foi quando comecei a me arriscar, a parar de ter pena de mim mesma e aí a minha cor foi mudando. Se eu tivesse continuado, temo que até meu sangue poderia ter adquirido tal coloração. Não queria ter o sangue verde. Não queria ser totalmente verde.  

Acredito que todos os percalços da vida fazem de nós uma misturinha. Há sempre algo para melhorar, há sempre coisa para mexer. Só que hoje minhas partes verdes ficaram menores e não aparecem com tanta nitidez, é claro que dentro de mim ainda existem muitas partes verdes e que com o tempo irão se modificar, alterar a coloração. Mas ser totalmente verde? Jamais!

Siga sempre sonhando. Se eu pudesse te desejar uma coisa boa hoje, eu diria: - Sonhar, sonhar e sonhar! Nunca perca de vista seus sonhos, vai que Deus está lá de cima só de olho nos seus sonhos e resolve te dar uma ajudinha? Mas “Deus só ajuda a quem cedo madruga”! Então vai dar trabalho sim. Só que vai ter uma recompensa tão gostosa. E ahhh mais uma coisa: Fé e perseverança na caminhada, ok?

Quando fecho os meus olhos só consigo imaginar coisas boas. Espero que quando você fechar os seus para um descanso, um cochilinho ou apenas para um sossego, espero que você possa ser capaz de transitar por coisas maravilhosas e não deixar que tudo o que você almeja fuja de você. Se for da vontade do Pai e se você perseverar, ai simplesmente vai acontecer. Se não, se esse não for o caminho, assim que você fechar os seus olhos Ele vai te dizer.  E você saberá pra onde ir...mas não desista nunca de sonhar.

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Carpe Diem 
Por Amanda Leal

Após um dia lindo de sol, chove. Chove em Macaé. Chove no Rio. Chove nessa parcelinha de terra onde fica o meu mundo. Nada demais para contar sobre o meu dia: Fiz um monte de coisas que não gostaria de ter feito. Se eu pudesse passaria minhas horas fazendo coisas mais instigantes e divertidas.
Nem todo mundo pode escolher. Eu não escolhi viver assim. A gente sempre acha que no próximo mês tudo dará certo, que no próximo ano a vida vai ser diferente, mas nem sempre é assim...
Eu sempre deixei para começar a dieta nas segundas, nunca emagreci e nem sequer comecei. Quando realmente decidi emagrecer,adivinha? A dieta começou num sábado. Nunca mais engordei. Perseverei. Não dava mais.
Em meio a tudo isso, ao caos, você se revolta. E entristece, gargalha, chora e ás vezes nem consegue mais sorrir. Não de verdade. Mas é só por um tempo. Depois passa. Por que nada na vida é definitivo. E no meio desse caos você vai se surpreendendo, vai descobrindo que as pessoas que mais sorriam pra você, na verdade, te detestam. Sem ao menos você ter feito nada pra elas. Aí você começa a aprender a jogar.
Essas pessoas existem não pra te enfraquecer e sim pra te mostrar o quão forte você é. Por elas só resta nojo e pena. E observação, muita observação. " Orai e vigiai", " Vigiai e orai". Ai você vai jogando o jogo da vida e pra você sair vencedor é preciso perseverança, paciência e fé em Deus. É preciso muita fé. É preciso dizer: - Deus me ensina a ter fé em mim! A acreditar que sou capaz.
Você vai cair. E vai se levantar, até que irá chegar uma hora em que você estará tão esperto que olhará sempre por onde anda.As pessoas falsas deixarão de te incomodar,suas presenças na sua vida serão meramente decorativas e você vai vigiar, orar, seguir em frente e então cuidará somente do que interessa.O resto entregará para Deus.Você aprenderá a delegar!
Ufa! Você vai se sentir mais leve, seu sorriso vai voltar aos poucos.E você dirá (muitas vezes): Chega!!! Chega de andar com medo de fantasmas de pessoas vivas ,de carregar seu coração de mágoas e infestar a sua mente de balões de pensamentos. Após o chega, você aprenderá a viver o dia. O carpe diem.Aprenderá a curtir o momento,aprenderá a se contentar com o que tem.
Ou você se revoltará absurdamente e virará um ser humano não humano.Irreconhecível. Revoltado. Afinal, sempre há mais de um caminho a se trilhar. Nesse momento pára de chover aqui, o céu é tomado por um vermelho intenso. Mistura de chuva e sol. Mistura de sensações. E mais uma vez aquilo que me ronda: A certeza de que valeu a pena até aqui. Amanhã? Amanhã é mais um dia.  

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Pausa
Por Amanda Leal

Ela diz:

Se você me ama grita agora.
Se você me ama, berre aos quatro cantos: EU TE AMO!
Essa minha necessidade de ouvir o "eu te amo" vem do teu silêncio. 
Toda mulher gosta de se sentir amada.
Toda mulher odeia o silêncio.
Toda mulher gosta de sentir amada e odeia o silêncio. 
Toda mulher gosta de se sentir nua.
Até mesmo quando está vestida. 
Toda mulher apaixonada é capaz de fazer qualquer coisa. 

(Apontando uma faca para o pescoço dele ) Por isso eu te imploro: DIZ QUE ME AMA!

Ele fica imóvel, em silêncio. Ela chora.

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Esperando por você
Por Amanda Leal

Porque demoras tanto meu amor? Porque tudo que se trata de mim é tão extenso, vazio, doloroso? E eu perdendo meu tempo te escrevendo poemas de amor. Me beije. Me faça feliz. Me acalme. Abra os meus olhos. Diga que eu sou única. Lembre-se de mim. Das tardes. Das músicas. Vamos indo que eu e você somos um só. Acho que eu estou apaixonada. Ou estou com medo de não estar.


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Amanhã sem demora
Por Amanda Leal

A vida é como uma brisinha que vai e passa
Sem demora e nos deixa sem graça
Nos surpreende a cada instante
Nos prova, move, cansa
Hoje estamos aqui,
Amanhã já não se sabe
A única certeza é que com Ele quero estar
Tudo parece ser  tão breve
Mesmo que dure uma eternidade
De cada um e cada hora,
O tempo só Deus sabe
Como areia molhada que bate a onda
Nossos dias vão e vêm
Não quero perder um só do meu tempo
Tudo é um aprendizado
Frieza, carinho, tristeza
Isso tudo serve pra que eu entenda meu chamado
A única certeza é que com Ele quero estar
Vento doce, forte impacto
Dias quentes, frias noites
Tudo parece ser tão breve
Mesmo que dure uma eternidade
Medo qualquer um sente
Mas se vem de Deus esse abraço
Vá em paz meu amigo
Segue o seu passo.

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Estoque
Por Amanda Leal

Fim de tarde. Dia de chuva.

Oi?
No que posso ajudar?
Vocês vendem amor?
Depende do tipo.
Tem amor de novela?
Hum, esse está em falta. Mas se você quiser tem amor romance. É mais literário, menos dramático, só que é mais intenso. Tá saindo por noventa e cinco reais.
Ah, OK. Vou levar.
Atenção tá pra quanto?
Mil e duzentos.
Nossa, mais caro que amor?
É, independe de amor, daí sai mais caro.
E vocês dividem esse valor?
Acima de dois mil, somente.
Bom, então vou ter que levar mais alguma coisa pra inteirar. Compreensão tá muito caro também?
Na verdade, nós não trabalhamos com compreensão, senhora.
Tá difícil encontrar compreensão por ai. Acho que não estão fabricando mais.
Isso eu não sei te informar, senhora.
Se o carinho ali da prateleira é cento e vinte e cinco e ser ouvido é duzentos, estamos chegando perto.
Ainda estamos em mil seiscentos e vinte. Então, senhora falta ainda trezentos e oitenta.
Deixa eu pensar aqui. E vocês entregam em casa?
Uhum. Sai a cento e trinta o frete.
Ué, mas eu vi na internet que o frete era grátis.
Bom, se você comprar pelo site é sim. Mas também corre o risco de você levar amor que não é amor, atenção que não é atenção, falta de carinho e orelhas ao invés de ouvidos.
Ahhh, mas se é mais barato.
O barato sai caro, minha senhora.
Tá bom. Então, eu pago o frete.
Será satisfação garantida. É muita coisa para a senhora carregar sozinha.
Aí meu querido, eu concordo. É muita coisa para eu carregar sozinha. Mas aí teria que ter alguém pra dividir isso comigo. De que adianta tantos sentimentos sem ter alguém pra dividir?
A senhora pode guardar para o caso desse alguém aparecer.
To evitando guardar coisas. Na verdade, eu tava é arrumando a casa e de repente me dei conta de que faltava tudo isso para a casa estar completa. Para eu me sentir realizada. Mas não vai adiantar se não tenho onde guardar. Vai apenas ocupar espaço. E eu sei que vou me frustrar. Faz seguinte, suspende.
Suspender?
Sim. Primeiro eu vou ver se realmente preciso disso. Se eu realmente precisar... Decidi, não vou comprar. Vou é arrumar alguém disposto a me presentear.
OK, senhora. Boa tarde. Até a próxima.
Boa tarde, querido. Até nunca mais.

A moça pega o guarda- chuva, abre e sai da loja. O rapaz se senta e olha pelo vidro da loja as pessoas que passam. Sentimentos cheios de poeira continuam nas prateleiras do lugar. Ninguém entra. 

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Garota Propaganda
Por Amanda Leal


Ela é uma mulher super maravilhosa com uma pele de pêssego e um bumbum de melancia. Com cabelos de L’Oréal e unhas  by Impala. Ela é calça jeans da Levi's e brincos H. Stern, ela é corpinho Bodytech e sapatos Carmen Steffens.

Ela é Garota Carioca que frequenta o Pitanguy, ela diz estudar na PUC e só toma shake Herbalife porque é bom, porque faz bem. Trio gostoso e crocante só compra no Mundo Verde e remédio na Drogaria Pacheco.

Anda de Audi, toma nota no Ipad, atende no Iphone. Está sempre tudo lindo e colorido. Sorrisão nos dentes. Brancos. Colgate. Loungerie pra debaixo da roupa Forum e bolsas Victor Hugo.

Seus olhos são Dior e sua make é M.A.C, preenchendo sua rugas invisíveis Botox do Dr. Hollywood. Para os momentos de ansiedade vai um Carlton vermelho e para as noites de insônia Lexotan de 6.

Namorados no estilo Cavalera e família Renner. Móveis Lacca e apartamento alugado. Felicidade não tem preço. Ou tem.

Na frente de seu público ela é só simpatia e pelas costas, pelas costas ela é simplesmente ela mesma.  E ainda dizem que nada pode te definir.


Mas apesar de todas as marcas ninguém a compra. 



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Moça de fino trato
Por Amanda Leal
          
            
         
                       Tudo parecia tranquilo numa quarta –feira à noite. Para Karina sua vida estava na mesma, havia acertado em todos os seus planos e escolhas. Encontrar um homem que julgava ser um bom pai para o seu filho, uma família que julgava ser uma boa família para seu filho. Era isso. Ela queria um filho. Um homem. Um varão como ouvia nas novelas de época, desde pequenininha era essa a sua obsessão.
                         Karina não tinha o costume de brincar com bonecas. Para ela eram somente os bonecos que importavam. O que era estranho para uma menininha tão mimada e delicada como ela. Certa vez sua mãe teve que ir a Rua do Ouvidor encomendar um boneco, igualzinho a um bebê porque era difícil de se encontrar boneco menino.
                   Ela cresceu, continuou a mesma menininha mimada. Até um pouco chata, ás vezes, quase sempre chata. Nossa! Como era chata. Mas Karina enganava bem. Tinha até muitos amigos, chatos como ela, mas tinha. Suas amigas eram quase sempre mulheres frustradas na fase dos trinta e cinco, com carreiras em serviço público que ganhavam no máximo cinco mil por mês e via-se claramente que seria o máximo que conseguiriam em suas vidas. Eram todas burras, pois acreditavam que melhorar de vida só seria possível se conseguissem um marido rico e que bancasse tudo. Assim seria bem fácil sobreviver com cinco mil só pra gastarem com si mesmas.

Criado o perfil de Karina, voltemos à quarta- feira à noite.
               
                      Estava bem elegante em um vestido preto colado no corpo, o que evidenciava um pouco suas gordurinhas localizadas. Gordura que ainda não havia perdido desde o nascimento do filho há seis anos atrás. Ah, esqueci de dizer: Karina teve um filho homem. Tudo estava absolutamente do jeito certo. Mas havia algo de forçado na vida dela: Marido escolhido, amigos escolhidos, filho escolhido, casa escolhida, nada era muito comum em sua vida. Nada acontecia pela lei natural. Ela forçava para que tudo desse certo. E saísse exatamente do seu jeito. Karina além de chata era egoísta. Karina mentia.
                   Karina ás dez da noite deixa a sua casa perfeita, seu marido perfeito, seu filho varão perfeito e vai em direção ao seu carro perfeito e segue rumo ao que seria um jantar de negócios. No seu jantar de negócios está Jonas, sentado em um restaurante de classe baixa (estranho Karina ter ido parar ali), afinal, era trabalho. Logo se vê que há uma intimidade no ar. O homem bonito, normal , pobre, ué ela não era casada e cheia de amor pelo marido? Enfim, esse homem fazia com que se sentisse dominante, superior, melhor. No fundo ela era tão seca, tão triste, tão ligada nas aparências. Karina mentia pra si mesma.
                     Estava tão inebriada com aquele encontro que não conseguia nem perceber que estava sendo seguida. Fotografada. Monitorada. Ela e Jonas riam, um segurava na mão do outro, trocavam carícias e na saída do restaurante deixaram escapar um beijo. Pronto. Foi o suficiente.
                 Quando retornou à sua casa tudo estava normal. Estava feliz. Com sua vida de verdade e de mentirinha dando certo. Com sua carreira estabilizada e suas amigas chatas com a vida pior do que a dela, o que lhe oferecia certa vantagem. Tudo ia bem. Jantares chiques, comprava roupas caras, viajava muito. Tudo com o dinheiro do marido. Karina mentia para todos e pra si mesma.
                   No dia seguinte acordou, foi para o trabalho e quando voltou para casa às roupas do marido não estavam mais lá, então correu para o quarto do filho e nenhuma roupa do menino no closet. Pegou o carro e correu para a casa da sogra, onde foi recebida com tamanho desdém e a mesma fez questão de esfregar na cara dela as fotos de ontem à noite. Seu mundo caiu. Ou melhor seus mundos.
                 Karina conseguiu ver o filho que estava com a avó paterna, sorte de justamente nesse dia ela o ter ido buscar na escola. Mas e as roupas da criança? Estavam todas lá. O pai entregou tudo a ela e disse que precisava de um tempo só para ele. Uma coisa era certa: Não queria ver a cara da esposa tão cedo! A sogra de Karina entregou a criança para ela, pois acreditava que não era justo que um menininho daquela idade ficasse longe dos seus pais. Se não podia ter os dois de imediato, que ao menos ficasse perto de um.  No fundo no fundo a sogra sabia que Karina amava o filho e que sempre foi uma mãe dedicada, embora fosse chata.
                    E assim foram passando os anos. Karina agora estava morando com Jonas e seu filho em um apartamento pequeno de dois quartos. A criança passa os fins de semana na casa do pai e ela e Jonas sustentam a casa com certa dificuldade, já que ele não ganha muito e Karina ainda não se acostumou a viver somente com o que ganha. Gasta sempre mais. Precisa recorrer à ajuda dos pais. Ainda bem que o ex-marido banca os gastos do menino.
                  Ao menos agora, ela é uma pessoa só. De certo não ficou pobre, só não era mais rica. De certo não deixou de ser chata, mas amadureceu um pouco. De certo não mudou muita coisa. E é certo dizer que Karina agora é o pivô da separação de seu chefe e de sua mulher. Tudo isso porque ele tem muita grana. E quanto a isso ela não mente. É o que gosta.
                
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Me dê a mão
Por Amanda Leal


 Pega e leva embora essa tristeza
 Por favor, faça isso agora          
 Me ajuda a ser mais leve que o vento                                         
 A sorrir das minhas próprias palavras                                           
 Pois não há dor que resista, nem sofrimento                                 
 A um bom humor                                    
 Pega e leva embora essa tristeza
 Por favor, faça isso agora               
 Que eu encontre mais comédia nessa vida                                     
 Que minhas tardes sejam movimentadas                            
 Que minha aparência seja divertida                                     
  Junto contigo em noites animadas                                     
  Manhãs gostosas no acordar                                          
 O meu amor sempre aqui ao meu lado       
 Leva embora tudo que há de ruim                              
 Juntos  sonhando acordados         
 Eu sou sua, você é meu                 
 Vamos agora olhar lá fora?          
  Só eu e você, você mais eu                  
 Vem amor, vambora.                        
  Pega e leva embora essa tristeza
  Por favor, faça isso agora           
  Vamos rir das coisas más             
  Acreditar no que é bom         
  Pedir a Deus nossa paz                
  E rachar nosso bombom              
  Se o amor não puder ser assim  
  Então de nada adianta                 
  Só juntos vamos nos libertar        
  Mas ainda assim                            
  Será difícil se viver                               
  Pega e leva embora essa tristeza
  Por favor, faça isso agora              
  Me dê a mão, vamos partir           
  Em direção ao infinito                   
  Com sorrisos largos e ir                
  Juntos, sempre juntos                  
  Construindo um amor bonito                 
  Pega e leva embora essa tristeza
  Por favor, faça isso agora             
  Me beije calminho                       
  Me ame pra sempre                     
  Pois ninguém consegue amar sozinho                                     
  Ou se ama, o outro não sabe nem sente.


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