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sábado, 5 de abril de 2014

O Barão e o Pato

 Por Rodrigo Amém

O Barão não se importava com muitas coisas na vida. Dinheiro não era problema, conforto não era problema, solidão era um favor. Uma coisa que se descobre já na esquina final da vida: companhias são superestimadas.

Só, ele garantia que todo seu tempo fosse dedicado ao que realmente importava. Porque, ainda que sobrassem dinheiro, conforto e solidão, lhe faltava saúde. E preso no seu estéril laboratório de vidro, o Barão se protegia dos germes, vírus e agouros que pudessem se aproveitar de sua imunodeficiência.

Dentro do laboratório, apenas o Barão respirava. Seus mantimentos chegavam através de um elaborado sistema de correias e portas de descontaminação. O Barão mesmo fez questão de dispensar assessoria, ajuda ou qualquer tipo de interação com outros humanos. A esteira trazia tudo que ele precisasse. O resto, o Barão já tinha.

Uma noite, acordou de sobressalto. Um quack ecoou dentro das paredes de vidro. Batendo palmas, o Barão trouxe de volta a luz fria que ilumina o ambiente. Nada. Outro quack. Parecia vindo do alto da escadaria que, outrora, conduzia à sacada. A luz da lua imprimiu na parede contrária a silhueta de um pato selvagem.


Abrindo as asas, a sombra mergulhou na noite e desapareceu. Contrariado, o Barão apagou as luzes com uma palma e voltou à cama. No dia seguinte, contrataria um caçador. Ou compraria alguma forma de artilharia antiaérea, ou construiria um robô assassino de patos. Qualquer coisa que matasse esse desejo mortal de abraçar algo vivo.


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