Por Rodrigo Amém
O Barão não se importava com muitas
coisas na vida. Dinheiro não era problema, conforto não era problema, solidão
era um favor. Uma coisa que se descobre já na esquina final da vida: companhias
são superestimadas.
Só, ele garantia que todo seu tempo
fosse dedicado ao que realmente importava. Porque, ainda que sobrassem
dinheiro, conforto e solidão, lhe faltava saúde. E preso no seu estéril
laboratório de vidro, o Barão se protegia dos germes, vírus e agouros que pudessem
se aproveitar de sua imunodeficiência.
Dentro do laboratório, apenas o Barão
respirava. Seus mantimentos chegavam através de um elaborado sistema de
correias e portas de descontaminação. O Barão mesmo fez questão de dispensar
assessoria, ajuda ou qualquer tipo de interação com outros humanos. A esteira
trazia tudo que ele precisasse. O resto, o Barão já tinha.
Uma noite, acordou de sobressalto. Um
quack ecoou dentro das paredes de vidro. Batendo palmas, o Barão trouxe de
volta a luz fria que ilumina o ambiente. Nada. Outro quack. Parecia vindo do
alto da escadaria que, outrora, conduzia à sacada. A luz da lua imprimiu na
parede contrária a silhueta de um pato selvagem.
Abrindo as asas, a sombra mergulhou
na noite e desapareceu. Contrariado, o Barão apagou as luzes com uma palma e
voltou à cama. No dia seguinte, contrataria um caçador. Ou compraria alguma
forma de artilharia antiaérea, ou construiria um robô assassino de patos.
Qualquer coisa que matasse esse desejo mortal de abraçar algo vivo.
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