Por Bernardo Sardinha
Desci de pijama para a portaria, armado com uma
vassoura e no processo quase matei o porteiro do coração.
- Você ouviu algo? Acho que ouvi algo vindo do
elevador.
O porteiro
abaixou o volume da TV e ficamos quietos por um tempo. Poucos carros passavam na
rua e somente de muito longe podia se escutar uma sirene.
Ele pareceu ter escutado algo também, pois levantou de
maneira decidida.
- Escutou também?
- Acho que são ratos.
O porteiro abriu a gaveta de sua velha mesinha e tirou
um molho de chaves atroz de grande.Cautelosamente fomos para a sala de máquinas e quando
acendemos a luz percebemos um grande movimento nos sacos de lixo. Foi quando
vimos duas massas pelanquetas enormes.
Eram dois mendigos. Transando. Dois
mendigos velhos transando em cima do lixo. Na hora nós dois ficamos
desconcertados meio sem saber como reagir até que o Faxineiro do prédio
apareceu e com um sorriso desdentado e amarelo disse:
- Calma chefia, que tá tudo em trank – disse o
Faxineiro amarrando as suas calças frouxas.
Enquanto os mendigos se escondiam de vergonha, ele
contou que alugava a sala de máquinas para os moradores de rua terem seu
momento de intimidade por dez reais. Mas, por quinze reais ele separava alguns
sacos de lixos macios, sem vidros ou coisas que espetassem para serem usados de
cama.
Após esse episodio passei a “reciclar” meu lixo, separando garrafas e metais. E de quebra, meu faxineiro me dava uma pequena porcentagem de seu próspero negócio.
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