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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Brisa

Por Amanda Leal

Ai que vontade de sair correndo por ai gritando, ai que vontade de dizer para as pessoas que eu odeio o quão importante elas foram para o meu amadurecimento. Ai que vontade de tomar uma água de coco num dia de sol  na praia do Leblon, sentada numa espreguiçadeira bem gostosa e com um biquíni tomara que caia roxo claro e branquinho.

Nossa! Que vontade de pegar o meu celular e atender somente pessoas altamente especiais. Huummm, que vontade de olhar pra trás e pensar que os meus problemas foram apenas problemas passageiros e que a vida começa agora, a partir deste momento!
Como seria bom ir agora ao shopping, comprar um vestido bonito para ir a uma festa e passar direto no débito, não importando o valor.  Ahhhh seria bom, principalmente, ter o coração limpo de todas as tristezas e amarguras dos últimos dez anos.

Num dia ensolarado, como esse ai de cima, eu ia adorar saber que às quatro horas eu teria um horário marcado na minha massagista particular. Eu sempre acreditei que a felicidade é para todos, inclusive pra mim.

Um sorriso marcado de profunda alegria revigora o coração de qualquer um... Quando eu encontro alguém que consegue tirar isso de mim...meu DEUS! Que pessoa boa. Que talento! E essa alegria verdadeira, que vem de dentro, às vezes se manifesta do nada. Mas bom mesmo é quando alguém a estimula. Ou quando ouço uma música bonita e ela desperta essa coisa gostosa que droga nenhuma pode despertar.

Quando olho uma linda pintura, as cores todas misturadas...Principalmente quando formam um azul esverdeado, me deixa particularmente feliz. Os poemas do Drummond também me fazem penetrar nessa felicidade que para muitos parece distante, mas que ele me faz pensar que está perto. Quando o vejo questionando o mundo e falando de pedras no meio do caminho, eu penso que viver é questionar e sobreviver é conseguir pular as pedras. E isso me conforta de certa forma. Há coisas jogadas por ai. E você precisa lidar com elas. Podem ser coisas boas. Podem ser coisas ruins. Todas com o mesmo valor, o valor do conhecimento das coisas.

Agora estou viciada em café. Nesse momento estou sentada numa paisagem bem diferente da que descrevi acima. Estou numa salinha branca, à meia luz de um abajur e com o laptop ligado, um cigarro aceso e xícaras espalhadas pela mesinha de vidro onde estou sentada. Está bem frio. Uma manhã fria de julho. Sou jornalista. Preciso escrever ainda hoje um artigo sobre felicidade. Era mais fácil me imaginar na praia do que aqui, nesse frio, nessa solidão quase que forçada para tentar escrever. Ahhhh droga! Eu deixei os pães de queijo queimarem! Uma pausa para salvar o pão de queijo. Logo volto com mais um café e mais uma xícara.

- Ahhhh um capuccino agora não seria nada mau! Mas, não sei fazer. E ainda tem o artigo para a revista. Aff!

Seria mais fácil falar de felicidade usando uma protagonista altamente realizada. Mas será que todas as pessoas altamente realizadas são felizes? Acredito que sempre lhes falta alguma coisa. Veja no meu caso: eu me sinto realizada profissionalmente e nem por isso sou absolutamente feliz. Me faltam alguns pontos. Só pelo fato de ter saúde, ser livre para fazer as coisas que gosto eu me sinto feliz, mas ainda assim me faltam alguns pontos. Acho que a minha protagonista, então, merece ter mais algo meu do que algo inventado de uma suposta vida realizada e feliz, de dias de sol e praia.

A protagonista certa para meu conto fica triste em dias nublados, principalmente manhãs, odeia faltar á academia. Isso a deixa pra baixo. A minha protagonista cada vez mais se parece comigo. Estou aqui sentada consultando coisas sobre felicidade, mas a única coisa que achei de interessante veio do meu preferido, do Drummond. Numa frase brilhante de um poema lindo dele, chamado “Sentimento do mundo”, onde diz: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Isso já é o bastante para ser feliz, não é? Ter duas mãos para trabalhar, para abraçar as coisas boas e afastar as coisas ruins que acontecem conosco. Somente sentir o mundo como ele é. A busca pela maturidade que eu citei acima quando ainda criava uma protagonista praiana vem desse sentimento do mundo.

Existem milhões de livros que prometem entregar o segredo da felicidade, mas, o único que li até hoje e que realmente tocou o meu coração foi a Bíblia. Em Colossenses 3:12-17, o apóstolo Paulo nos ensina que o segredo da felicidade está em encher-nos de bondade, de humildade, de delicadeza e paciência. Nos fala também da importância do perdão e de ter amor uns pelos outros, pois “o amor une perfeitamente todas as coisas”. E que não devemos deixar de agradecer sempre a Deus por tudo que Ele nos dá.

Pensando assim, acho que a felicidade está mesmo nas pequenas coisas. Nas pequenas conquistas, num dia frio sentada na frente do laptop tentando escrever ou até mesmo como a vida da minha protagonista inicial, certamente sem perfeição. Faltando ainda algumas lacunas a serem preenchidas. Minha protagonista viveria então, uma felicidade praiana e seria uma pessoa rica e realizada...com algumas questões, mas não estaria no grupo dos ricos infelizes que dizem que dinheiro não traz felicidade, ela seria rica e feliz. Embora, ainda precisando de terapia para resolver pequenas infelicidades.

Ops! Um ventinho leve e frio passa pelo meu pescoço e invade toda a casa. Do quarto vem Mauro (meu marido) e me faz uma proposta indecente:

- Que tal sair e tomar um café?

- Um capuccino? – Disse eu.

- Dois. – Ele sorri. Eu coloco o sapato, pego a bolsa, nós damos as mãos e um beijo demorado.


Certamente a felicidade se encontra nas pequenas coisas.



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