Por Marcela de Holanda
— Mãe, posso pentear o seu cabelo?
— Pentear o meu cabelo? Por quê? O que
tem de errado com ele?
— Nada. Mas eu preciso disso. Você se
incomoda?
— Não. Só achei estranho.
— Então senta aqui nesse banco e tenta
relaxar.
— Tá bom.
— Se machucar, me avisa.
— Pode deixar.
Mariana começou lentamente a
desembaraçar os cabelos da mãe. Aos poucos, seus movimentos foram ficando mais
bruscos e descuidados causando um leve incômodo na mãe. De vez em quando, ela
perguntava se estava doendo mas a mãe, para não desencorajar a filha, dizia que
estava ótimo. Só quando começou a dar dor de cabeça é que Virgínia, a mãe,
pediu para a filha ter um pouco mais de cuidado porque estava começando a doer.
A partir daí, Mariana adotou movimentos tão suaves que era como se o pente
acariciasse o couro cabeludo de Virgínia e diluísse seus pensamentos até que
foi tomada por uma sonolência de tão relaxada que ficou.
— Obrigada, filha. Foi muito gostoso.
Você não imagina o quanto eu estava precisando disso.
— Você que pensa, mãe.
— O que é isso, filha?
— Lembra de quando eu era menor e
chorava toda vez que tinha que pentear os cabelos e que você me abraçava e
dizia para eu confiar em você? Você também precisa confiar em mim. Se você
esconder as suas dores de mim, eu não vou ter como te ajudar e posso acabar
piorando as coisas. Eu sei que você perdeu o emprego e está com medo de contar
pra gente. Sei também que você tem chorado todas as noites desde que o papai
foi embora. Não tem problema. Eu também choro. Mas você tem que acreditar que
esses problemas são como os nós dos cabelos. Devagarzinho eles vão se
desfazendo. Eu confio em você. Mas, por favor, confia em mim também.
Daquele dia em diante, o ato virou um
hábito. Todas as noites, antes de dormir, uma penteava o cabelo da outra enquanto
contavam o que se passava em suas cabeças. Eram ainda mãe e filha. Mas eram
também amigas.
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