Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nós

Por Marcela de Holanda

— Mãe, posso pentear o seu cabelo?
— Pentear o meu cabelo? Por quê? O que tem de errado com ele?
— Nada. Mas eu preciso disso. Você se incomoda?
— Não. Só achei estranho.
— Então senta aqui nesse banco e tenta relaxar.
— Tá bom.
— Se machucar, me avisa.
— Pode deixar.

Mariana começou lentamente a desembaraçar os cabelos da mãe. Aos poucos, seus movimentos foram ficando mais bruscos e descuidados causando um leve incômodo na mãe. De vez em quando, ela perguntava se estava doendo mas a mãe, para não desencorajar a filha, dizia que estava ótimo. Só quando começou a dar dor de cabeça é que Virgínia, a mãe, pediu para a filha ter um pouco mais de cuidado porque estava começando a doer. A partir daí, Mariana adotou movimentos tão suaves que era como se o pente acariciasse o couro cabeludo de Virgínia e diluísse seus pensamentos até que foi tomada por uma sonolência de tão relaxada que ficou.

— Obrigada, filha. Foi muito gostoso. Você não imagina o quanto eu estava precisando disso.
— Você que pensa, mãe.
— O que é isso, filha?
— Lembra de quando eu era menor e chorava toda vez que tinha que pentear os cabelos e que você me abraçava e dizia para eu confiar em você? Você também precisa confiar em mim. Se você esconder as suas dores de mim, eu não vou ter como te ajudar e posso acabar piorando as coisas. Eu sei que você perdeu o emprego e está com medo de contar pra gente. Sei também que você tem chorado todas as noites desde que o papai foi embora. Não tem problema. Eu também choro. Mas você tem que acreditar que esses problemas são como os nós dos cabelos. Devagarzinho eles vão se desfazendo. Eu confio em você. Mas, por favor, confia em mim também.


Daquele dia em diante, o ato virou um hábito. Todas as noites, antes de dormir, uma penteava o cabelo da outra enquanto contavam o que se passava em suas cabeças. Eram ainda mãe e filha. Mas eram também amigas.


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