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sábado, 12 de abril de 2014

A Sogrinha, a Esposinha e o bolo de fubá.

Por Rodrigo Amém 

Ele havia procurado por ela a vida inteira. Ela nunca chegava. E ele começou a se cansar. E apareceu a esposinha. Nada de errado com a esposinha.

Prendada, leitora assídua de Sabrina e seria com certeza uma boa mãe em breve. Mas era do tipo standart. Não dava problema. Nem tampouco os benefícios de uma grande paixão. E a esposinha tinha uma mãe. Calma lá, não se apresse! "Sogra, já vi tudo!", deve ter pensado você. Mas não era o caso.

Dona Dilma, a mãe da esposinha, era uma candura de pessoa e realmente o amava como a um filho. Os amigos invejavam a sogra abençoada, que fazia tudo pra ele. Dona Dilma brigava pelo genro com até mais afinco do que pela própria filha. Afinal, era o "futuro pai dos meus netos".

E havia uma forma doce de demonstrar o apreço pelo esposo da filha-esposinha. Bolo de Fubá. Dona Dilma fazia fantásticos Bolos de Fubá. E ele adorava. Assim, como uma espécie de mesada pelos bons serviços prestados na construção de um futuro lar, todos os sábados, pela manhã, ele recebia nacos generosos do bolo de fubá da sogrinha.

E ele ia pra casa quase feliz, carregando seu prato temperado, cheio de pedaços cúbicos de bolo de fubá, cobertos por um pano de prato com desenhos de frutas tropicais feitos à mão. E ele descia a rua até sua pequena casa. Jardim, antena parabólica, forno de microondas. A geladeira jamais precisava ser descongelada. O fogão era auto-limpante e ele conseguira programar o videocassete para gravar o Globo Repórter toda semana. Sempre teve uma habilidade especial para lidar com eletrônicos. Um dom.

No meio do caminho, eles se encontraram. Ela abriu um sorriso impactante. Não havia dúvida. Sorrira para ele! Ele quis fazer de conta que não. Tentou mudar de calçada mas era tarde. Estavam parados, frente a frente.

- Pensou no que eu te disse? - Perguntou ela, esperançosa.

- Pensei.

- E então?

- Olha, eu acho que não vai dar. Sinto muito, mas eu sou casado, você sabe.

- Casado? Isso nunca foi problema pra você quando a gente está fazendo amor!

- Por favor, fala baixo...

- E quando você diz que me ama? Que quer largar tudo e ficar comigo? Você nem se lembra que é casado! Nem se lembra da sua esposinha!

- Pelo amor de Deus, tem gente olhando...

- Meu amor, olha pra mim. Esquece esse pano de prato e olha pra mim! A gente se ama! Eu sonhei com você todas as noites da minha vida! Você é o homem da minha vida! Eu adoro seu beijo, sua boca, sua voz... A maneira que a gente faz amor... Por favor, vem comigo... Vamos ser felizes... Você não ama essa mulher... Fica comigo... Você não me ama?

- ... amo...

- Você não me quer?

- ... quero...

- Então me assume, me beija, casa comigo, meu amor! Vem, quero fazer amor com você agora mesmo, embaixo dessa jabuticabeira. Vem! Te quero!

- Pára com isso! Não me pega! Tem gente olhando! Tá maluca?

Ele foi rude. Ela parou, de súbito. Olhou para ele. Seu lábio inferior começou a tremer. Uma lágrima rolou.

- Por que você tá fazendo isso comigo?

- Olha, não é que eu não te ame... Mas... Sabe... Dona Dilma, minha sogra... É ela quem faz esse bolo de fubá...
Ela levantou a mão pedindo para que ele parasse. Era demais. Não estava sendo preterida por uma mulher mais bonita, jovem, fogosa ou apaixonada. Era trocada por um bolo de fubá. Respirou fundo e o olhou nos olhos.

- Adeus, meu amor. Seja feliz. - E, soluçando, virou-se e fugiu dali andando depressa. Jamais voltaria.

Ele ficou ali parado, olhos embotados. Pensando na antena parabólica, no microondas, na geladeira, no fogão, no videocassete e no amor de sua vida indo embora aos prantos. A mulher que ele cansou de esperar veio ao seu encontro e foi embora. Ele deixara. De longe, quem o observava ali impassível, de pé, segurando o prato de vidro temperado cheio de bolo fubá, tinha a viva impressão de que, encobertas pelo pano de prato pintado à mão com motivos de frutas tropicais, suas mãos estavam algemadas...



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