Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Racismo

Por Bernardo Sardinha 

Não sabia dizer o porquê, mas, no ar do ônibus da linha 571 havia um clima estranho. Olhei para os lados e percebi um casal jovem mais ou menos da mesma idade, que grosseiramente, podiam ser descritos como loirinha escandinava da zona sul e mulatinho favelado. Ele tentava beija-la puxando delicadamente o rosto dela, e ela se recusava virando o rosto e não tirando os olhos da janela. Cerrei o punho e pensei em agir, mas antes que qualquer ideia surgisse, aquele garoto de roupas surradas tirou um anel dourado de seu dedo e colocou no colo da menina. “É uma aliança...” – pensei, decidindo não me meter na briga do que seria supostamente um casal de namorados.
Mas, rapidamente, a garota colocou a suposta “aliança” em seu dedo e ficou claro que “aliança” sempre foi dela. A situação era nebulosa e fiquei me perguntando o que estava presenciando. Continuei a observar e após alguns minutos ele voltou com seus avanços sobre a menina. Ao ser negado fogo novamente, frustrado, deu um soco na cadeira da frente. Todos do ônibus continuavam a fingir que nada estava acontecendo, com exceção de uma senhora que estava sentada na cadeira preferencial lá na frente, ela olhou para trás e por um instante trocamos olhares, assim, soube que não era o único que estava estranhando a situação.
Após o soco, o garoto jogou uma mochila que estava no seu colo no chão. Era uma mochila bem colorida e feminina, que obviamente não pertencia a ele e que foi rapidamente apanhada pela menina. Ele estava roubando a mochila dela? Ou estaria fazendo a gentileza de carregar? O ônibus parou ao lado de uma patrulha da PM, a qual discretamente tentei chamar, mas o coletivo voltou a andar e quando me dei conta já estava na hora de saltar. Isso aconteceu há quatorze anos atrás e até hoje essa história fica sem desfecho na minha cabeça. 

Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela gentileza! Aguardamos a sua volta.