Por Rec Haddock
A
porta ficou aberta, depois que ela foi embora. E ela nem tinha escovado os
dentes, ainda.
O
olhar de desprezo ficou.
Ela
não queria nada comigo, eu sabia disso. Ela tinha repetido isso muitas vezes
(espontaneamente!), mas, aparentemente, quando uma mulher diz que não quer nada
com você, ela quer você. Vai entender.
Ela
dormiu lá em casa. A noite tinha sido agradável. A gente saiu pra jantar,
depois fomos dançar no Bukowski. A gente ficou bêbado pra caralho, saca? Bêbado
como eu só fico quando saio com ela.
Vodka
quando mistura com euforia é foda.
De
manhã tavam expulsando a gente do bar, e ela tinha perdido as chaves de casa.
Ela estava mal demais pra negociar com chaveiro – e chaveiro quando decide
meter a mão pra abrir uma porta é que nem quando político resolve fazer
orçamento pra obra pública – e por isso fomos pra minha casa, comer alguma
coisa doce, dormir um pouco, e lidar com isso quando a gente acordasse.
Só
que brother. A dispensa tava mais vazia que o peito do Nick Chopper. Ela tava
tonta pra caralho, fiquei meio preocupado, então saí pra comprar um chocolate
pra ela.
Voltei
com o chocolate, uma escova de dentes, pra ela, e com a vizinha. Ela tava
dormindo, no sofá. Porra. Eu tava cozinhando a vizinha há tempo pra caralho. A
oportunidade surgiu. Cobri ela, com um cobertor e dei um beijo na testa dela.
Bom.
Resumo da ópera é que ela pegou a gente na cama. Chorou pra caralho. Nem
parecia mais que tava bêbada. Eu não entendi porra nenhuma. Ela gritou comigo
que eu era um insensível da porra, e que não merecia ela, e coisa e tal.
Eu
nunca achei que merecesse, pra início de conversa.
Enfim.
Ela foi embora. E eu fiquei olhando as coisas que ela deixou pra trás,
imaginando se ela ia voltar pra pegar. Acho que não. A vizinha sorriu, me deu
um beijo, que eu não consegui retribuir. A vizinha sorriu, levantou. Eu fiquei
pensando que tinha feito merda. A vizinha sorriu mais um pouco, filha da puta,
e se vestiu.
A
vizinha foi embora, mas o vazio já estava lá antes disso acontecer.
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