Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Programa de domingo

Por Rec Haddock

A luminária vazada desenhava com luz e sombra um sol cor de sangue coagulado no teto da sala. O chão estava gelado, e ele queria tirar os pés de lá, mas não tirava. Não se mexia.
Na TV, um filme B sem o pudor que ele estava sentindo. A sala estava mergulhada na penumbra e fedia àquela porra que fica espirrando um cheiro enjoativo de 7 em 7 minutos. Àquela porra tentava disfarçar o cheiro de sexo, mas ele não sabia. Ele não conhecia o cheiro de sexo. Talvez o negócio não fedesse tanto, afinal. Mas ele nunca saberia.
Jonas estava feliz.
Jonas não queria que aquele momento passasse.
A cabeça dela tinha um formato estranho, apoiada assim sobre o colo dele. Ele nunca tinha percebido. Tinha tanto que não sabia sobre ela. Ela não era virgem como ele. Ele não sabia disso. Ela chorava baixinho, no colo dele. Ele não sabia disso, porque não se mexia, e não via.
Jonas estava feliz.
Mas Jonas não tinha dinheiro o suficiente.
Quando o dinheiro acabava, o carinho na cabeça dela acabava e os pés entravam nos tênis. Ele jurava que, assim que tivesse dinheiro, voltava, porque a amava, e ela tentava – mas não conseguia – acreditar. Ela jurava que o amava, e ele acreditava, porque era verdade. Mas ela não.
Jonas era feliz. Ela não.


Jonas nunca iria fazê-la feliz.


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