Por Rec Haddock
A
luminária vazada desenhava com luz e sombra um sol cor de sangue coagulado no
teto da sala. O chão estava gelado, e ele queria tirar os pés de lá, mas não
tirava. Não se mexia.
Na
TV, um filme B sem o pudor que ele estava sentindo. A sala estava mergulhada na
penumbra e fedia àquela porra que fica espirrando um cheiro enjoativo de 7 em 7
minutos. Àquela porra tentava disfarçar o cheiro de sexo, mas ele não sabia. Ele
não conhecia o cheiro de sexo. Talvez o negócio não fedesse tanto, afinal. Mas
ele nunca saberia.
Jonas
estava feliz.
Jonas
não queria que aquele momento passasse.
A
cabeça dela tinha um formato estranho, apoiada assim sobre o colo dele. Ele
nunca tinha percebido. Tinha tanto que não sabia sobre ela. Ela não era virgem
como ele. Ele não sabia disso. Ela chorava baixinho, no colo dele. Ele não
sabia disso, porque não se mexia, e não via.
Jonas
estava feliz.
Mas
Jonas não tinha dinheiro o suficiente.
Quando
o dinheiro acabava, o carinho na cabeça dela acabava e os pés entravam nos
tênis. Ele jurava que, assim que tivesse dinheiro, voltava, porque a amava, e
ela tentava – mas não conseguia – acreditar. Ela jurava que o amava, e ele
acreditava, porque era verdade. Mas ela não.
Jonas
era feliz. Ela não.
Jonas
nunca iria fazê-la feliz.
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