Por Amanda Leal
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Amanda Leal e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
O
clima estava pesado ao redor de Estela. Uma perda irreparável, o sumiço de Krya
e agora uma ameaça de morte. Apesar de tudo, Estela, não estava desesperada e
depressiva, no fundo ela estava mais preocupada em provar que não tinha sido
pelas suas mãos que o marido havia morrido.A
polícia ainda não havia descartado a participação de Estela no crime, suas
digitais foram as únicas (além da de Francesco) a serem encontradas no local,
exceto um fio de cabelo marrom que não era nem de Estela e nem do marido e
muito menos dos funcionários da casa.
Estela
optou por mudar mais uma vez de hotel. E dessa vez os policiais resolveram
ficar de olho, mas não como deveriam. Uma patrulha na porta do hotel não é
capaz de muita coisa, é? No fundo ela sabia que deveria tomar menos remédios,
fumar menos e prestar bastante atenção em tudo ao seu redor. Deveria estar
atenta e dormir o mínimo possível.Dessa
vez, ela fez um mini-altar perto do frigobar e dessa forma se sentia protegida.
Pedia ao seu Deus que a conservasse viva para que pudesse ainda nessa vida ser
feliz. Um tanto poético esse pedido para uma pessoa que parecia ser tão prática
e bem resolvida. Mas, Estela era assim surpreendia pelos gestos, atitudes e
decisões.
Por
volta das dez horas resolveu descansar, ligou a tevê e tomou um gole do seu
vinho preferido. Ela estava de saco cheio daquilo tudo e como já estava
evitando o cigarro e os remédios para dormir achou melhor ter algo que a
ajudasse a relaxar. Seria apenas uma pequena taça, mas o tédio a perseguia e
com isso toda a ansiedade por tentar entender o que estava acontecendo ao seu
redor. Foram duas garrafas. Duas garrafas até a meia-noite. E a insônia se
despediu rapidamente deixando nossa estrela tão desmaiada quanto a Bela
Adormecida.
Os
dois seguranças de Estela resolveram se ausentar da porta do quarto para
poder lanchar no restaurante do hotel. E como já era muito tarde, imaginaram
que ninguém se aproximaria dali de madrugada. Foi ai, justamente ai que a coisa
começou a se complicar. Uma mistura de burrice e incompetência pode transformar
uma situação de segurança numa tragédia anunciada. E Estela dormia tranquilamente
um sono profundo. Foi tudo muito rápido, ela dormia, os dois seguranças saíram para
jantar e alguém entrou no quarto.
Passos
lentos e muito cuidado para averiguar a situação. Afinal, o bandido era esperto
e sabia que devia estar preparado para tudo. A cena era de cortar o coração:
uma mulher dormindo na cama e duas garrafas de vinho vazias. Vítima vulnerável
e sem poder de defesa. Krya, que estava
ao seu lado, avistou a pessoa e soprou como se a conhecesse e não gostasse de
quem estava vendo. Estela não se mexeu.
A
figura de roupas negras e gorro preto (tampando o rosto), nos mostrava apenas
seus olhos negros e frios, agarrou o pescoço de Estela como quem agarra um
peixe para tentar lhe tirar o anzol, imediatamente ela reage, se sacode e tira
de baixo do travesseiro uma faca que o coitado do bandido jamais poderia
imaginar que ela teria. Sem pensar muito, no auge da adrenalina e fazendo uma
força absurda para respirar ela crava a faca na barriga da figura negra, que
imediatamente solta o pescoço de Estela. Ela volta a si por um minuto e tenta
buscar o ar de todas as formas, o bandido já está deitado agonizando
numa cama ensanguentada quando Estela lhe tira o gorro e reconhece quem está
por trás daquilo tudo.
Ela
quase foi morta pelo próprio irmão. A partir dai muitas coisas começaram a
passar pela sua cabeça: “- Será que eu estava sonhando e ele veio aqui apenas
falar comigo? Mas e essa roupa? Esse gorro? Ele apertou o meu pescoço, eu
senti.”. No meio de tantas indagações, Estela começou a gritar, pediu socorro e
seus seguranças num ato desesperado invadiram o quarto e controlaram a
situação. A ambulância foi chamada e a polícia também.
O
irmão de Estela agonizava na cama do hotel, ela se aproximou dele e perguntou:
- Por quê? E ele disse: - Porque você tinha tudo. Estela começou a chorar e saiu de perto dele,
a ambulância chegou, mas já era tarde. Por mais que ela não fosse culpada por
tudo que lhe havia acontecido antes, agora carregava o maior dos pesos: o peso
de ter tirado a vida do irmão. Mesmo que sem querer, ela sabia que era ou matar
ou morrer. E apesar disso tudo a vida precisava continuar. Estela mandou avisar
ao seu empresário que amanhã terá espetáculo sim. E
quanto a ser feliz? Talvez ainda não esteja na hora.
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