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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

E tudo terminou diante de um teatro lotado

Por Amanda Leal 


O clima estava pesado ao redor de Estela. Uma perda irreparável, o sumiço de Krya e agora uma ameaça de morte. Apesar de tudo, Estela, não estava desesperada e depressiva, no fundo ela estava mais preocupada em provar que não tinha sido pelas suas mãos que o marido havia morrido.A polícia ainda não havia descartado a participação de Estela no crime, suas digitais foram as únicas (além da de Francesco) a serem encontradas no local, exceto um fio de cabelo marrom que não era nem de Estela e nem do marido e muito menos dos funcionários da casa.

Estela optou por mudar mais uma vez de hotel. E dessa vez os policiais resolveram ficar de olho, mas não como deveriam. Uma patrulha na porta do hotel não é capaz de muita coisa, é? No fundo ela sabia que deveria tomar menos remédios, fumar menos e prestar bastante atenção em tudo ao seu redor. Deveria estar atenta e dormir o mínimo possível.Dessa vez, ela fez um mini-altar perto do frigobar e dessa forma se sentia protegida. Pedia ao seu Deus que a conservasse viva para que pudesse ainda nessa vida ser feliz. Um tanto poético esse pedido para uma pessoa que parecia ser tão prática e bem resolvida. Mas, Estela era assim surpreendia pelos gestos, atitudes e decisões.

Por volta das dez horas resolveu descansar, ligou a tevê e tomou um gole do seu vinho preferido. Ela estava de saco cheio daquilo tudo e como já estava evitando o cigarro e os remédios para dormir achou melhor ter algo que a ajudasse a relaxar. Seria apenas uma pequena taça, mas o tédio a perseguia e com isso toda a ansiedade por tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor. Foram duas garrafas. Duas garrafas até a meia-noite. E a insônia se despediu rapidamente deixando nossa estrela tão desmaiada quanto a Bela Adormecida.

Os dois seguranças de Estela resolveram se ausentar da porta do quarto para poder lanchar no restaurante do hotel. E como já era muito tarde,  imaginaram que ninguém se aproximaria dali de madrugada. Foi ai, justamente ai que a coisa começou a se complicar. Uma mistura de burrice e incompetência pode transformar uma situação de segurança numa tragédia anunciada. E Estela dormia tranquilamente um sono profundo. Foi tudo muito rápido, ela dormia, os dois seguranças saíram para jantar e alguém entrou no quarto.

Passos lentos e muito cuidado para averiguar a situação. Afinal, o bandido era esperto e sabia que devia estar preparado para tudo. A cena era de cortar o coração: uma mulher dormindo na cama e duas garrafas de vinho vazias. Vítima vulnerável e sem poder de defesa.  Krya, que estava ao seu lado, avistou a pessoa e soprou como se a conhecesse e não gostasse de quem estava vendo. Estela não se mexeu.

A figura de roupas negras e gorro preto (tampando o rosto), nos mostrava apenas seus olhos negros e frios, agarrou o pescoço de Estela como quem agarra um peixe para tentar lhe tirar o anzol, imediatamente ela reage, se sacode e tira de baixo do travesseiro uma faca que o coitado do bandido jamais poderia imaginar que ela teria. Sem pensar muito, no auge da adrenalina e fazendo uma força absurda para respirar ela crava a faca na barriga da figura negra, que imediatamente solta o pescoço de Estela. Ela volta a si por um minuto e tenta buscar o ar de todas as formas, o bandido já está deitado agonizando numa cama ensanguentada quando Estela lhe tira o gorro e reconhece quem está por trás daquilo tudo.

Ela quase foi morta pelo próprio irmão. A partir dai muitas coisas começaram a passar pela sua cabeça: “- Será que eu estava sonhando e ele veio aqui apenas falar comigo? Mas e essa roupa? Esse gorro? Ele apertou o meu pescoço, eu senti.”. No meio de tantas indagações, Estela começou a gritar, pediu socorro e seus seguranças num ato desesperado invadiram o quarto e controlaram a situação. A ambulância foi chamada e a polícia também.


O irmão de Estela agonizava na cama do hotel, ela se aproximou dele e perguntou: - Por quê? E ele disse: - Porque você tinha tudo.  Estela começou a chorar e saiu de perto dele, a ambulância chegou, mas já era tarde. Por mais que ela não fosse culpada por tudo que lhe havia acontecido antes, agora carregava o maior dos pesos: o peso de ter tirado a vida do irmão. Mesmo que sem querer, ela sabia que era ou matar ou morrer. E apesar disso tudo a vida precisava continuar. Estela mandou avisar ao seu empresário que amanhã terá espetáculo sim. E quanto a ser feliz? Talvez ainda não esteja na hora.



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