Por Marcela de Holanda
Hoje eu acordei cheia de coragem.
Pensei mesmo que podia fazer tudo diferente. Não seria só mais um dia naquela
mesma agonia. Tomei meu café pensando nele e me jurei terminar o dia mais
próxima do meu objetivo. Cheguei cedo para sentar na carteira ao lado daquela
que ele sempre senta. Planejei mil maneiras, penteei o cabelo 50 vezes. Pintei
a unha de vermelho. Escondi meu lápis de pluma rosa e meu estojo da Hello
Kitty. Não fiz nenhuma pergunta na aula de matemática mesmo não tendo entendido
nada. Esqueci de propósito os óculos em casa. Pedi para minha melhor amiga me
chamar pelo nome algumas vezes bem alto pra ver se ele gravava. Deixei a caneta
cair. E peguei. E deixei cair. E peguei. E deixei cair. E peguei. Nenhum olhar.
Só aquele sorriso maravilhoso. Que não era pra mim. Ainda. De repente, se eu
fingir passar mal ele se preocupa e ajuda. Mas não quero que ele pense que sou
uma fraca ou fresca. Deus me livre disso. O que dizer? O que fazer? Como serão
os nossos filhos? Será que ele é gato demais para mim? Claro que é. As aulas
estão quase acabando. Vai ser mais um dia sem nenhum avanço. Mas eu me prometi.
Eu jurei. Me empresta a borracha? Foi tudo que eu consegui dizer no desespero
do final do último tempo. E eu corei. Quase morri. Porque ele respondeu com
aquele sorriso que dessa vez era para mim: “Só se você me prometer não apagar
meu nome do seu caderno”.
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