Por Bernardo Sardinha
“- Pare de fumar. Agora.” Disse a pessoa diante do
espelho que suspirou derrotada.
“- Não vou me convencer nesse estado. Preciso de
alguém mais firme, bem sucedido e menos como eu.” O sujeito se atirou em um
banho revitalizador, digno de comercial de sabonete. A barba, que cresceu por
puro desleixo, foi feita com capricho e atenção. Penteou os cabelos para trás
no melhor estilo lobo de wall street e vestiu uma camisa preta para disfarçar a
gordurinha que teimava em ficar. Escovou os dentes até a gengiva sangrar e
bochechou com Listerine até as lagrimas verterem pelo seu rosto. Diante do
espelho, de peito erguido disse firme: “- Pare de fumar. Agora!” – e completou
ainda com um “- Seu merda.”
A pessoa que estava diante do espelho, jamais poderia
convencê-lo. Era um merda de marca maior.
Estava prestes a se rastejar para mais um dia de
trabalho, quando foi surpreendido por um estalo na orelha. Era sua mulher,
dando aquele beijo estalado, daquele que ele odiava. Ela o abraçou por trás e
ficou admirando o maridão pelo espelho do banheiro. Ela sorria. Um belo sorriso
levado de menina e quando se deu conta, estava pelado na cama com sua mulher e
atrasado para o trabalho. Como de praxe pegou o fantástico cigarro pós-coito,
quando escutou dela um: “- Para de fumar?” transformador.
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.
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