Por Rec Haddock
Abri
a porta e vi um rato, com muitos documentos na mão, que prontamente se
apresentou:
-
Olá, bom dia. Meu nome é Iko Nutsamura. Pode segurar isso para mim, por favor?
Ele me deu os documentos que segurava, se serviu do café dormido que eu
guardava para este tipo de situação, sobre a mesa da sala, e continuou. Sou um
oficial do Ministério de Prevenção de Plágios à Obras Literárias
Internacionais. Você, por acaso, já sabe a linha da sua defesa? Se você...
Eu,
na verdade, estava mais preocupado em me transformar em humano, novamente, mas
acho que já restava muito pouca humanidade na Terra, já naquele tempo. Mas como
todos nós temos a tendência a almejar o inalcançável, nenhum de vocês,
leitores, podem me condenar.
-
Obviamente, - a ladainha do rato continuava - eu não vim aqui para te atacar.
Não ainda, pelo menos. Mas você tem que entender a posição do ministério: o
governo tem a obrigação moral de impedir que você seja o que quer que você
queira ser. De modo que estou aqui para me certificar do que você quer, para
depois poder te atacar com propriedade. Ninguém pode afirmar que o governo não
joga dinheiro fora com pesquisas o tempo todo, de qualquer modo. Alguma dúvida
até ai?
Tentando
entender se poderia utilizar-me do direito de ficar calado simplesmente,
calei-me.
-
Pois bem. Se a sua intenção é não cooperar.
A
porta da minha casa foi arremessada através da sala e caiu na rua, pela janela.
Um urso com um cassetete enorme nas patas estava parado, de pé, onde deveria
estar a porta da minha casa. A luz do corredor estava totalmente acesa,
enquanto a da minha sala estava totalmente apagada, de modo que o urso surgiu
em uma contra-luz cinematograficamente: BAM!
Tudo
o que eu consegui pensar naquela fração de segundo foi “fodeu”, o que expressa
coisa pra caralho. No caso, queria expressar que a porta da minha casa que já
tinha encontrado outra porta de outra casa na rua com a qual já passeava de
mãos dadas, sempre cumpre mais a função de me deixar vulnerável do que me proteger,
como deveria.
O
urso se apresentou.
-
Bom dia. Sou Oliver Jackson e trabalho como um oficial do Ministério de
inComunicações Diárias Não Necessariamente Planejadas. Tenho aqui em minhas
mãos uma ordem judicial – me entregou um papel. Se serviu da jarra de mel que
eu guardava ali, para este tipo de situação, enquanto eu lia o papel que estava
em minhas mãos. Era um papel higiênico recheado do que eu assumia que fosse
adubo orgânico, como quase tudo que vem das mãos dos juízes brasileiros. Ele
continuou. Minha função é fazer você falar, rapazinho. E a não ser que você
queira começar a perder patas.
-
Não seja tão grosseiro, por favor. Disse o rato, que, pelo menos, parecia
educado. De qualquer forma ficou claro que os ministérios não se entendiam.
-
Se você não quiser usar o consolo – o urso levantou seu cassetete – eu não
preciso fazer você chorar.
Eu
só conseguia imaginar a quem aquele instrumento ministerial consolaria, ao
governo ou a mim, cidadão. De tanto pavor, não abri a boca, e o urso começou a
andar na minha direção.
FINAL
DA PARTE DOIS
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