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quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Jantar – Parte 3

Por Marcela de Holanda



Na cozinha, Wagner preparava novamente a surpresa da mesa 3, rezando para que ninguém mais percebesse o que tinha acontecido. Mas na mesa 5, Camila começava a se descontrolar.

Camila (entre lágrimas) – Eu. Não. To. Conseguindo. Segurar. Rodrigo. Por que você não falou nada? Me. Deixou. Fazer esse papelão! Eu nunca me senti. Tão. Envergonhada. Eu não mereço isso. Você achou o quê? Que era brinde do restaurante? Você. Não. Foi. Homem o suficiente. Para admitir que você não quer casar comigo. Coisa nenhuma. Que eu sou uma boba. De pensar isso. Você me ama, Rodrigo? Como você me deixou passar por essa situação e não teve a coragem de dizer nada?!? Me deixou colocar o anel de outra! Fala alguma coisa, Rodrigo!

A essa altura, as pessoas nas mesas em volta, disfarçadamente prestavam atenção no que eles falavam e tentavam entender a situação. Wagner, sai da cozinha com o bolinho de chocolate e vai entregar na mesa 3.

Wagner – Com licença, senhor. Perdoe-me pela demora. A sua senhora foi ao toilette? Prefere que eu venha depois quando ela tiver voltado ou já posso deixar a surpresa aqui?

Bruno, ainda chocado com o que tinha acontecido, nem consegue responder. Só faz um gesto para que o garçom deixe em cima da mesa mesmo. Nesse momento, os últimos anos da sua vida passam pela sua cabeça e ele tenta entender o que pode ter acontecido que não percebeu. Entre as muitas lembranças da sua relação com Roberta, surgem de vez em quando memórias ainda mais antigas. Aline. Há quanto tempo ele não se permitia pensar nela? Mas agora o seu rosto aparecia nítido como se tivessem acabado de se despedir. Por onde ela andaria? E aí se lembrava que deveria pensar em Roberta e no quanto estava sofrendo pelo que ela tinha feito. Mas não sabia se sofria de verdade ou se só achava que esse era o sentimento apropriado para o momento.

Rodrigo, que daria tudo para voltar o tempo em algumas horas e escolher outro restaurante, não vê outra saída a não ser falar tudo que estava no seu coração. Mesmo já tendo notado que algumas pessoas os observavam.


Rodrigo – Calma, meu amor. Calma. Respira, por favor. Me desculpa. Você tem toda razão. Eu fui um covarde. Não devia ter te deixado passar por isso. Mas quando eu percebi o que estava acontecendo já era tarde demais. Você tem ideia de como eu me senti de saber que aquele sorriso que eu devia ter colocado no seu rosto, não tinha sido provocado por mim de verdade? O que eu podia dizer? Que na verdade eu sou um ninguém que nunca vai poder te dar um anel daquele? Que você merece um homem que possa te dar muito mais do que eu posso te dar? Você pode ter o homem que quiser. Na hora que quiser. Eu nem sei o que você ainda está fazendo comigo. Se eu te amo? É óbvio que eu te amo! Só se eu fosse um completo idiota para não amar você. E é justamente porque eu te amo que não fui capaz de falar nada. Como você acha que eu me sinto de te ver chorar assim? Eu falhei com você. Não só por não falar nada. Eu falhei porque já devia ter te pedido em casamento há muito tempo. Mas eu não queria que fosse de qualquer jeito. Eu queria que você tivesse tudo que você tem direito. Eu economizei durante os últimos dois anos planejando o dia em que você me aceitaria para sempre na sua vida. E eu estava perto de conseguir o que achava que precisava. Mas como eu disse. Eu falhei com você. Não tenho mais nada para te oferecer agora. Só o meu amor. 

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