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quinta-feira, 10 de julho de 2014

A fome com a vontade de comer

Por Bernardo Sardinha

"Vamos! Concentre-se!" - respirou fundo e deixou o roupão cair. Modelo vivo. O emprego perfeito para quem era um exibicionista nato. Buscava uma explicação lógica para aquilo. Devia ter um ancestral índio que gostava de andar pelado pelo mato e se mostrar para as índias, ou descendia de uma nobre linhagem de tarados que gostavam de tirar a roupa e mostrar a genitália. Talvez fosse os dois. Quem sabe?

Embora seu corpo não mostrasse ainda, ele era pura exitação. Um monte de mulher, olhando o seu corpo nu. 
- Muito bom - sussurrou a professora para a gatinha da terceira fila.

"Muito bom? Tá gostando é? Quer mais!?" - pensou para imediatamente se censurar.
Durante um bom tempo, a única coisa que se escutava era o som do grafite riscando o papel. Nem um pio, um suspiro de tédio, nada. E de repente, tudo ficou chato e sem graça. Seu pervertido interior apagou, morreu, deixou de existir ou fora completamente saciado. Sentiu que seus ancestrais, índio e tarados, o olhavam com desprezo naquele momento.
Teria que então, buscar outra alegria na vida, qualquer coisa que não fosse mostrar seu corpo por aí, porque, infelizmente, ele se regenerou.

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