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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Mundial

Por Bernardo Sardinha


Atarefada e esbaforida joguei a correspondência sobre a mesa da sala e dali mesmo comecei a me preparar para tomar uma chuveirada daquelas. Compras do mês no Mundial, a que ponto nós chegamos? - pensava eu, enquanto desabotoava meu jeans. Com o pedido de falência da firma do meu marido, a cada mês alcançávamos um novo fundo do poço. No primeiro mês paramos de comprar vinho. No segundo dispensamos as empregadas. Agora no terceiro mês fui obrigada a fazer compras no supermercado Mundial. Me misturar àquela gente sem educação, cheirando a desodorante barato, isso quando não estava vencido.

De banho tomado me joguei na cama e de tão cansada quase chorei. Estiquei a mão para pegar um calmante na gaveta e foi quando encontrei uma fatura de banco jogada lá no fundo. Iria descartar e voltar a procurar meus "comprimidos da alegria", mas minha intuição feminina não deixou. Eu simplesmente tinha que olhar.

Quando me dei conta, ainda podia ainda escutar os ecos do meu grito de "Filha da Putaaaaaaaaaaaaaa" pelos corredores do nosso apartamento. Ele tinha uma conta com alguns milhões e escondeu de mim. Quando ele voltar, não sei se eu o mato, ou o encho de beijos.


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