Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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sábado, 5 de julho de 2014

Avisados

Por Rodrigo Amém

Você convida alguém para um cinema e ouve: “Legal, mas é filme que tem que pensar, é?” A gente não quer mais pensar. Pelo menos não de graça. A gente quer relaxar. A gente quer curtir. Festa. Bebida. Churrasco. Música. Música alta, pra falar gritando, pra abafar angústias, pra afogar pensamentos, pra tirar o pé do chão.

Talvez seja a poluição, ou o uso indiscriminado de antibióticos durante a infância. Pode ser o excesso de hormônios na carne dos animais servidos nas redes de fast food. Talvez sejam as emissões invisíveis dos aparelhos de telefonia celular. Talvez seja um sinal do final dos tempos. O fato é que, para um crescente número de pessoas, pensar dói.  Receber uma informação, compará-la com o repertório de outros dados previamente adquiridos e extrair uma conclusão tornou-se um processo extenuante.

Pode ser que não haja nada de errado com a gente. Talvez o problema seja o mundo. Talvez o mundo tenha se tornado tão complexo que seja realmente exaustivo encontrar sentido em tudo. Ou em qualquer coisa. Mais provável, nunca foi fácil as revoluções da vida. Só que antes, ilhados em nossas bolhas de certeza, o mundo fazia sentido. Era uma mistura de ignorância, falta de contexto e tradição. As coisas faziam sentido porque não tínhamos informação suficiente, nem parâmetros de comparação e, além do mais, era assim que as coisas funcionavam desde sempre, sem precisar fazer sentido. Fazia sentido.

Agora, não. Agora tudo é complexo e fractal. Nenhuma certeza é absoluta exatamente na mesma época em que opinião virou tatuagem digital. E toda visita ao Facebook vira uma arena de teses, antíteses e sínteses. Agora que ninguém tem certeza de nada, querem que a gente mude de opinião, que a gente reveja nossos conceitos. Que a gente se desfaça de tudo que aprendemos com nossos pais, nossos amigos, nossos ídolos.  Querem que a gente pense.

Logo agora que ninguém sabe o caminho, querem que a gente mude de rumo. E tudo que a gente quer é entrar numa sala escura, olhar para uma tela e desligar por duas horas. Obrigado pelo aviso, bilheteiro. Vê duas pro novo filme do Adam Sandler, por favor.


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