INT.
SALA DE AULA. FIM DA TARDE.
Vemos
RODRIGO de frente para uma grande janela que ocupa toda a extensão
de uma das paredes da sala de aula em que se encontra. Ele olha
apreensivamente para um ponto fixo.
Atrás
dele, no fundo da sala, enquadramos a porta do cômodo. Ao lado dela
vemos uma cartolina pregada ao mural, com os dizeres: “ZONA LIVRE
DE BULLYING!”. A porta da sala abre e vemos LUISA, entrar
apressada.
LUISA
Rodrigo!
Achei que dessa vez ia conseguir chegar antes de você.
RODRIGO
Tava
pensando em você!
Plano
em movimento de Rodrigo indo em direção à Luisa através das
carteiras bagunçadas da sala de aula, sorrindo timidamente. Ele
esbarra em uma cadeira e perde o equilíbrio por um instante, mas não
cai.
Vemos
Luisa fazendo menção de ir até ele, mas desistindo. Rodrigo chega
perto de Luisa. Estende a mão para apertar a dela, enquanto ela
aproxima o rosto do dele, para beijar-lhe a bochecha. A confusão os
diverte, e eles riem timidamente.
RODRIGO
(CONT’D)
Oi,
Luisa. Tudo bem?
Rodrigo
beija a bochecha de Luisa, à guisa de cumprimento.
LUISA
Tudo.
Vamos sentar?
Luisa
conduz Rodrigo até a cadeira do professor e a oferece à Rodrigo,
que senta. Ela sorri.
LUISA
(CONT’D)
Essa
é a mais confortável.
Luisa
começa a mexer em alguns papéis que estão sobre a mesa, procurando
alguma coisa.
RODRIGO
Tem
algum problema com a Emma?
LUISA
É...
Luisa
encontra a folha de papel que buscava.
LUISA
(CONT’D)
Olha
isso, Rodrigo.
Ela
estende a folha de papel a ele. Rodrigo pega a folha de papel, e
olha-a com espanto.
CORTA
PARA
EXT.
CAMPO DE FUTEBOL DA ESCOLA. FIM DA TARDE
Vemos
EMMA jogando um jogo no seu iPad, do seu ponto de vista. Seu dedo
cruza a tela freneticamente.
RODRIGO
(V.O.)
Foi
ela quem desenhou isso?
LUISA
(V.O.)
Foi.
Um
plano em movimento mostra as costas de Emma, jogando no iPad, e vai
se afastando, revelando que ela está sentada, sozinha, no meio do
campo de futebol da escola.
RODRIGO
(V.O.)
É
horrível? O que que isso significa?
LUISA
(V.O.)
Eu
tentei conversar com ela, mas ela não se abre comigo. A psicóloga
da escola diz que ela sente falta da mãe, mas me parece mais do que
isso.
RODRIGO
(V.O.)
E
você acha que eu devo procurar uma psicóloga fora da escola?
LUISA
(V.O.)
Talvez.
Essas coisas são complicadas, né? Tem mais do que isso, na verdade.
Emma
deita em posição fetal, largando o iPad atrás de si. Ela arranca
algumas folhas do solo e as deixa cair, lentamente, no chão.
RODRIGO
(V.O.)
O
que?
LUISA
(V.O.)
Ela
diz pras outras crianças que vê a mãe. Que elas conversam.
RODRIGO
(V.O.)
É
mentira.
LUISA
(V.O.)
Tem
certeza?
RODRIGO
(V.O.)
Tenho.
Se eu não achei ela, a Emma também não achou. Nunca procurei
alguém com tanto afinco na vida.
Emma
arranca mais algumas folhas do chão, e as deixa cair lentamente,
sobre si.
CORTA
PARA
INT.
SALA DE AULA. FIM DA TARDE.
LUISA
está sentada na mesa do professor, e RODRIGO na cadeira do
professor. Eles ficam em silêncio por alguns segundos. Rodrigo
encara o desenho.
LUISA
Mas
talvez ela tenha procurado a Emma. Se ela não teve que procurar a
mãe...
Rodrigo
não responde. Apenas olha para Luisa, confuso.
Vemos
ela pegando uma das mãos dele entre as suas e a acariciando.
LUISA
(CONT’D)
Conversa
com ela numa boa. Talvez ela se abra com você.
RODRIGO
Tá.
‘Brigado. É melhor eu ir, então.
Luisa
solta a mão de Rodrigo.
LUISA
É.
Se
levantam. Ela o leva até a porta da sala e a abre para que ele
passe. Ele para na porta.
LUISA
(CONT’D)
Me
dá notícias, tá?
RODRIGO
A
gente vai se falando.
Se
beijam no rosto.
FADE
OUT.
INT/EXT.
PICAPE DO RODRIGO. NOITE
EMMA
está sentada no banco do carona, cansada. Ela olha a rua com a
cabeça encostada na janela. RODRIGO dirige com os olhos correndo da
estrada à sua frente para a sua filha, ao seu lado.
RODRIGO
Como
foi hoje na escola, amor?
Emma
responde sem olhar para o pai.
EMMA
Normal.
RODRIGO
Normal
bom ou normal ruim?
EMMA
Ok,
eu acho.
Emma
liga o rádio do carro. Está tocando a música “Born to be Wild”.
Rodrigo diminui o volume do rádio.
RODRIGO
Conversa
comigo, amor.
EMMA
Tá.
Você pode me dar um peixe novo?
RODRIGO
Claro.
Emma
olha para o pai, e eles cruzam o olhar. Rodrigo se empolga.
RODRIGO
(CONT’D)
Qual
você quer?
EMMA
Não
sei se eu gosto mais do peixe-gato de vidro, ou um basslet. Qual você
prefere?
Rodrigo
tira um pedaço de grama do cabelo da filha.
RODRIGO
Como
você consegue se sujar tanto, Emma? Pelo amor de deus.
Vamos
ver qual é o que combina mais com o seu aquário quando a gente
chegar em casa, tá?
EMMA
Tá.
Brigada, pai. Te amo.
Rodrigo
faz carinho na cabeça da filha.
RODRIGO
Tem
alguma coisa que você queira me contar, meu amor?
EMMA
Sim!
Eu nasci pra viver na selva! Vou fugir pra morar numa caverna!
Emma
começa a cantar com a música.
EMMA
(CONT’D)
Born
to be wild! Born to be wild!
Rodrigo
desliga a música, e para o carro bruscamente.
Vemos
o carro parado no acostamento.
Enquadramos
Rodrigo olhando fixamente para o rosto da filha, e um ângulo
invertido da filha assustada, olhando para o pai.
RODRIGO
Não
repete isso. Me jura que nunca vai fugir de mim, Emma.
EMMA
Era
só uma brincadeira com a música.
RODRIGO
Me
jura, Emma!
EMMA
Juro!
Desculpa.
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