Com
raiva da vida, peguei uma faca e exagerei na geleia. Era de morango, a minha favorita.
Tenho certeza que se meu clínico a visse, iria se sentir afrontado. “- Você tem
que emagrecer! Como você pode ser tão negligente consigo?!" berraria o
hipócrita que ostenta um cinzeiro cheio de guimbas de Marlboro em seu
consultório. Lambuzei a faca mais uma vez e espalhei delicadamente aquele sumo
vermelho vivo e voilá! No meio da torrada, um planalto vermelho de 800
calorias.
"-
Cê tá brincando né? Devolve parte dessa geleia para o pote ou divide
comigo!" exclamou minha senhora sentada do outro lado da pequena mesa da
cozinha. Normalmente, eu aturaria ser repreendido como um moleque, mas hoje
estou abusado, então vou aproveitar.
“- Quer?
É toda sua!" e atirei a torrada na mesa. A violência foi tamanha que a
torrada girou em torno de si mesma, como se estivesse praticando um esporte
radical e se exibindo para uma multidão.
Se
existisse justiça neste mundo, as chances eram de 50% de a torrada cair com a geleia
para baixo. Meio a meio. Se caísse para cima, eu seria um herói atrevido, se caísse
para baixo, eu levaria uma bronca, e com razão. “- Ô DEUS! Ouça meu clamor e
faça esse manjar, essa obra de arte de comida sobreviver à minha ousadia!”.
Mas
o mundo não é justo. E Deus não existe. Hoje eu durmo no sofá.
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.
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