O ar estava diferente
naquela quarta-feira no restaurante Melgard's. Mas Carlos, o garçom mais
experiente, ainda não tinha percebido. Chega na cozinha e encontra Wagner
desesperado procurando o bolinho de chocolate desaparecido.
Carlos – Calma, rapaz. Fui
eu que peguei o bolinho. Já entreguei na mesa 5. Olha, o cara da mesa 3 está reclamando que a
sobremesa dele está demorando.
Wagner – Mesa 5? Você tá
falando daquela da morena de olhos verdes?
Carlos – Isso.
Wagner – Ai, meu Deus!
Você viu se ela já comeu?
Carlos – Não. Por quê?
Enquanto isso, na mesa 3,
Roberta não para de se mexer na cadeira e Bruno não para de olhar para a porta
da cozinha.
Roberta – Bruno. É... Tava
uma delícia. Obrigada por me trazer aqui. Você sabe muito bem como agradar uma
mulher. Aliás, você é ótimo. Em muitos sentidos. Uma pessoa muito boa mesmo.
Merece tudo de bom. É... Olha para mim, Bruno. Você sabe disso, né? Que você é
especial. E nesses anos todos, eu... Aprendi muita coisa com você. Obrigada. Mas é que... Ai, não tem jeito
certo de dizer isso. Eu tava esperando um momento melhor, mas... Não dá mais. É
isso. Melhor arrancar o band-aid de uma vez. Acabou. Não foi nada que você fez.
E não tem nada que você possa fazer. Eu só não te amo mais. É isso. Desculpa.
Fica bem. Por favor.
Wagner, muito sem jeito e
morrendo de medo de perder o novo emprego, vai até a mesa 5. Quer morrer quando
vê que a morena já está usando a aliança radiante de felicidade, mas precisa
seguir em frente.
Wagner – Com licença,
senhores. Eu não sei como me desculpar. Lamento terrivelmente, mas houve um
engano na entrega da sobremesa. Esse bolinho de chocolate estava reservado para
o casal da mesa 3. Imagino que vocês já tenham compreendido a razão de eu estar
aqui. Havia uma joia que pertence àquele senhor de terno e infelizmente eu
preciso pedir que por gentileza me devolvam para que eu possa entregá-la em
outro bolinho. Perdoem-me pelo inconveniente.
À medida em que ele
falava, Camila se sentia cada vez mais sufocada tentando mandar de volta a
cachoeira que ameaçava sair pelos seus olhos. Não queria que aquele
desconhecido visse as suas lágrimas. Já era humilhação o suficiente sem elas. O
anel parecia pesar uns 100 kg e passou a parecer uns 3 números menor que o seu
dedo. Tudo que ela não precisava era que ele ficasse preso agora. Conseguiu
tirar como se tivesse arrancando seus sonhos e entregando para um qualquer. Os
três estavam constrangidos demais para que houvesse alguma outra palavra.
Wagner pegou o anel, olhou para Camila com profunda compaixão e culpa e se
retirou para a cozinha. Assim que ele saiu, as lágrimas foram mais fortes e
Camila desabou. Roberta, que achou melhor ir embora antes mesmo da sobremesa
chegar, passa por ela e se sente aliviada. Não era dessa vez que ela sofreria
por amor. O amor sempre ia embora antes do sofrimento.
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Marcela de Holanda e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
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