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quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Jantar – Parte 2

Por Marcela de Holanda



O ar estava diferente naquela quarta-feira no restaurante Melgard's. Mas Carlos, o garçom mais experiente, ainda não tinha percebido. Chega na cozinha e encontra Wagner desesperado procurando o bolinho de chocolate desaparecido.

 

Carlos – Calma, rapaz. Fui eu que peguei o bolinho. Já entreguei na mesa 5. Olha, o  cara da mesa 3 está reclamando que a sobremesa dele está demorando.

 

Wagner – Mesa 5? Você tá falando daquela da morena de olhos verdes?

 

Carlos – Isso.

 

Wagner – Ai, meu Deus! Você viu se ela já comeu?

 

Carlos – Não. Por quê?

 

Enquanto isso, na mesa 3, Roberta não para de se mexer na cadeira e Bruno não para de olhar para a porta da cozinha.

 

Roberta – Bruno. É... Tava uma delícia. Obrigada por me trazer aqui. Você sabe muito bem como agradar uma mulher. Aliás, você é ótimo. Em muitos sentidos. Uma pessoa muito boa mesmo. Merece tudo de bom. É... Olha para mim, Bruno. Você sabe disso, né? Que você é especial. E nesses anos todos, eu... Aprendi muita coisa com você.  Obrigada. Mas é que... Ai, não tem jeito certo de dizer isso. Eu tava esperando um momento melhor, mas... Não dá mais. É isso. Melhor arrancar o band-aid de uma vez. Acabou. Não foi nada que você fez. E não tem nada que você possa fazer. Eu só não te amo mais. É isso. Desculpa. Fica bem. Por favor.

 

Wagner, muito sem jeito e morrendo de medo de perder o novo emprego, vai até a mesa 5. Quer morrer quando vê que a morena já está usando a aliança radiante de felicidade, mas precisa seguir em frente.

 

Wagner – Com licença, senhores. Eu não sei como me desculpar. Lamento terrivelmente, mas houve um engano na entrega da sobremesa. Esse bolinho de chocolate estava reservado para o casal da mesa 3. Imagino que vocês já tenham compreendido a razão de eu estar aqui. Havia uma joia que pertence àquele senhor de terno e infelizmente eu preciso pedir que por gentileza me devolvam para que eu possa entregá-la em outro bolinho. Perdoem-me pelo inconveniente.

 

À medida em que ele falava, Camila se sentia cada vez mais sufocada tentando mandar de volta a cachoeira que ameaçava sair pelos seus olhos. Não queria que aquele desconhecido visse as suas lágrimas. Já era humilhação o suficiente sem elas. O anel parecia pesar uns 100 kg e passou a parecer uns 3 números menor que o seu dedo. Tudo que ela não precisava era que ele ficasse preso agora. Conseguiu tirar como se tivesse arrancando seus sonhos e entregando para um qualquer. Os três estavam constrangidos demais para que houvesse alguma outra palavra. Wagner pegou o anel, olhou para Camila com profunda compaixão e culpa e se retirou para a cozinha. Assim que ele saiu, as lágrimas foram mais fortes e Camila desabou. Roberta, que achou melhor ir embora antes mesmo da sobremesa chegar, passa por ela e se sente aliviada. Não era dessa vez que ela sofreria por amor. O amor sempre ia embora antes do sofrimento.
 
 

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