Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Notas sobre mim

Por Amanda Leal

 

É madrugada. Chove.

Me olho no espelho do meu pó compacto após arrancar um pelinho saliente da sobrancelha com a pinça. Meu rosto está visivelmente mais magro. Bom pra mim.  Meu manequim mudou, minha alimentação, meu humor e minhas expectativas sobre mim mesma também mudaram. Os problemas também ganharam outra dimensão: antes o que era problema, agora, não mais o é. E o que era levado numa boa ganhou cara de problema.  

Eu mudei. As taxas do meu colesterol abaixaram e a vitamina D está em falta, o que me fez ser adepta de suplementos e fui obrigada a acordar cedo e aproveitar o sol da manhã. Isso tudo me fez ter outras responsabilidades, precisei crescer e ter mais disciplina comigo mesma. Ainda bem, assim a coisa não ganha um tom monótono e a vida ganha um colorido.

Como hoje em dia escrevo pouco usando a caneta, minha letra também já não é mais a mesma. A letra bonita e caprichada da escola ficou um pouco preguiçosa e “garranchuda”. Falta de exercício tem um preço. Digo isso em todos os sentidos. Para de ler por um tempo para você ver só! Fica sem malhar por um mês que seja, que ai quando você for subir uma escada vai entender bem o que eu digo.

Minha pele parece ter amadurecido juntinho com meu coração e algumas ruguinhas me fazem lembrar de preocupações que por um tempo eu já havia esquecido. Sou outra dentro de mim mesma. O cabelo certinho ganhou uma cara bacana, as roupas adequadas e monótonas foram enriquecidas com estilo e eu não fiquei rica, apenas sai da zona de conforto e aprendi a garimpar, procurar, criar... Ter uma aparência muito certinha, muito corretinha cansa e pode fazer com que você aparente algo “beeemm” esquisito e até um pouco chato. É necessário ter uma harmonia, o interior e exterior precisam se complementar.

Ah, com o tempo a gente percebe que ninguém é perfeito e que nem tudo precisa estar sob controle, descobri que para ter estilo o importante (em primeiro lugar) é agradar a mim mesma. Sem ser cafona, sem ser brega, mas também sem ser monótona e caxias. E hoje sou outra dentro de mim mesma. Uffa! Que bom. A mudança quando vem aos poucos gera menos expectativas e garante maior efetividade.

Esse ano a minha unha do pé caiu pela primeira vez e sim eu tive mais dores de cabeça e acne do que quando eu era adolescente. As responsabilidades aumentam e a chegada ao pódio parece se atrasar. E pra quem achava que viver era tranquilo a realidade te mostra o quão a vida pode ser cruel. Vai ver que é por isso que tem tanta gente louca por ai, gente que não consegue lidar com essa coisa confusa chamada de vida. Gente que não consegue se segurar e sai cambaleando e se quebrando por ai.

Nesse tempo de sobrevivência eu descobri algumas verdades: não há como viver sem o apoio do Criador, as pessoas vão te decepcionar o tempo inteiro e se você não fizer a sua vida acontecer, ninguém fará. Às vezes me sinto como em um naufrágio onde há apenas um barco, muitas coisas boiando em volta do meu corpo e muito de longe, bem lá no fundo e quase impossível de alcançar eu vejo terra. Nesse caso, aguardar resgaste nunca foi uma opção. É preciso lutar até o fim.

Sou outra dentro de mim mesma.

Eu já não caibo dentro de mim.

E cada dia que passa eu amo mais quem eu sou e descubro como é bom ser eu.

E isso não me impede de sofrer por sonhos não realizados, metas não cumpridas, sofro também por não exercitar a minha arte como gostaria, com as pedras no meio do caminho, com os tropeços e com as decepções. Mas como uma sobrevivente do naufrágio de mim mesma, eu diria de forma extremamente otimista que as coisas, agora, parecem estar se encaminhando.

Eu sou outra dentro de mim mesma e já não caibo mais dentro de mim.

Por isso é chegada a hora do florescer, do brotar e do voar por ai.

Me aguardem! Pois, eu estou longe de parar por aqui.

 

Ainda chove forte. O dia já está amanhecendo.
 
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