Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

quarta-feira, 5 de março de 2014

Às Quartas – Última parte

Por Marcela de Holanda

Depois daquela quarta, o que se passou foi que a vida dela virou uma sucessão de quartas-feiras de cinzas. Seus movimentos calmos se tornaram nervosos, entrecortados. O suco natural foi substituído pela cerveja. A solidão à espera virou uma solidão acompanhada. Não tinha nenhuma companhia em especial. Só um monte de desconhecidos que vinham e iam sem deixar nada.

Até que um deixou. Mas ela não sabia qual. Nunca se lembrava de muita coisa. Há tempos tinha deixado o inconsciente sozinho no comando. Mas agora vivia tonta, vomitava e não conseguia nem sentir o cheiro da bebida. Só podia ser uma coisa. Deus tinha resolvido mudar a vida dela de novo.

Grávida de um novo destino, começou a sentir lá dentro uma coisa lutando para se soltar. Não, não era o bebê já querendo sair. Era uma coisa que ela tinha trancado bem lá no fundo e jurado nunca mais libertar. Mas, junto com o seu bebê, essa coisa foi crescendo até ficar grande e forte o bastante para arrebentar as correntes e cadeados e tomar conta dela.


Tomada de amor, sentiu que tudo estava de volta em seu lugar. Duas semanas antes do tempo, numa quarta-feira de sol, deu a luz a um menino loirinho, de olhos castanhos e uma pequena manchinha vermelha no meio da testa. Pegou-o no colo e apressou-se em quebrar o silêncio: “Seja bem-vindo. Eu te amo, meu filho. Meu Miguel.”

Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Marcela de Holanda e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela gentileza! Aguardamos a sua volta.