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quarta-feira, 26 de março de 2014

Terapia

Por Marcela de Holanda


Eu quero alta. Desculpa, não é nada pessoal, eu adoro você. Mas é que eu não aguento mais fazer terapia. Eu sei que no começo eu precisava, que o meu caso era grave, mas eu acho que eu to curada. Não, eu tenho certeza. Eu sei que você vai dizer que eu não to curada coisa nenhuma, que cada semana eu chego aqui com uma história pior que a outra. Mas aí que tá. Eu só continuo fazendo essas coisas pra ter o que te contar. Você acha mesmo que eu fiquei com o namorado da minha melhor amiga porque eu não gosto dela? Ela é a minha melhor amiga, eu gosto dela mais do que de todas as outras amigas. E aquele dinheiro que eu peguei da carteira do meu chefe? Eu não estava precisando. E além do mais o homem não anda com nenhuma nota decente na carteira, encontrar uma amarelinha já foi sorte. Eu fiz isso por você. Porque eu não vou pagar trezentos reais pra sentar aqui e te contar o que eu comi no almoço. Eu quero ser uma paciente interessante. Você merece. Eu quero que você pense em mim a semana toda. Que você sonhe com as besteiras que eu faço. Que você case comigo. É isso. Eu te amo. (Silêncio) Eu te amo. (Silêncio) Eu te amo! (Silêncio) Tá vendo? Menti de novo. Não é que você seja horrível, mas não faz o meu tipo. Você nunca fala nada. Eu tenho que inventar umas coisas pra preencher os espaços. Por exemplo. Essa semana, eu fiquei gripada em casa. Não tive a chance de fazer nada de errado. O que eu pensei? Vou pedir alta na terapia que vai dar assunto pra sessão inteira. (Olha o relógio) Graças a Deus o tempo acabou. Semana que vem no mesmo horário. Por favor, não me abandona. É sério. Eu preciso de você!

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