Por Marcela de Holanda
Eu quero alta. Desculpa, não é nada
pessoal, eu adoro você. Mas é que eu não aguento mais fazer terapia. Eu sei que
no começo eu precisava, que o meu caso era grave, mas eu acho que eu to curada.
Não, eu tenho certeza. Eu sei que você vai dizer que eu não to curada coisa
nenhuma, que cada semana eu chego aqui com uma história pior que a outra. Mas
aí que tá. Eu só continuo fazendo essas coisas pra ter o que te contar. Você
acha mesmo que eu fiquei com o namorado da minha melhor amiga porque eu não gosto
dela? Ela é a minha melhor amiga, eu gosto dela mais do que de todas as outras
amigas. E aquele dinheiro que eu peguei da carteira do meu chefe? Eu não estava
precisando. E além do mais o homem não anda com nenhuma nota decente na
carteira, encontrar uma amarelinha já foi sorte. Eu fiz isso por você. Porque
eu não vou pagar trezentos reais pra sentar aqui e te contar o que eu comi no
almoço. Eu quero ser uma paciente interessante. Você merece. Eu quero que você
pense em mim a semana toda. Que você sonhe com as besteiras que eu faço. Que
você case comigo. É isso. Eu te amo. (Silêncio) Eu te amo. (Silêncio) Eu te
amo! (Silêncio) Tá vendo? Menti de novo. Não é que você seja horrível, mas não
faz o meu tipo. Você nunca fala nada. Eu tenho que inventar umas coisas pra
preencher os espaços. Por exemplo. Essa semana, eu fiquei gripada em casa. Não
tive a chance de fazer nada de errado. O que eu pensei? Vou pedir alta na
terapia que vai dar assunto pra sessão inteira. (Olha o relógio) Graças a Deus
o tempo acabou. Semana que vem no mesmo horário. Por favor, não me abandona. É
sério. Eu preciso de você!
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