Por Rodrigo Amém
Não que Pedro tivesse deixado de amar
Samanta, muito pelo contrário. Mas homem tem dessas coisas.
A primeira vez que conversaram,
achou-a delicada, inocente. Recatada. Uma mulherzinha doce. Cabelos castanhos,
escorridos e finos. Finos como seus dedos e seus braços muito brancos. Samanta
parecia feita de louça, como um bibelô e dava a impressão que estava prestes a
quebrar em cacos. Lindinha, ela. "Essa é pra casar", pensou.
Na cabeça de Pedro, "mulher para
casar" é o antônimo de prostituta. Em outras palavras, alguém que daria só
para ele. Uma virgem, nascida apenas para o seu gozo, sem trocadilhos. Samanta
parecia ser essa moça. De tão branca, delicada e tímida, era difícil imaginá-la
com um brutamontes peludo, suado e ofegante acolhido no meio das coxas. Aliás,
as pernas de Samanta pareciam nunca terem se afastado mais do que trinta graus
uma da outra. Mulher para casar.
E assim foi. A noite de núpcias,
esperada e programadíssima, seria o grande momento. Até lá, por uma questão de
respeito à Samanta e sua família, Pedro só praticou sexo com profissionais e
uma ou outra ex-namorada, já em clima de despedida. Afinal, ele estava prestes
a deixar a solteirice. A primeira vez de Samanta e Pedro, logo após o
casamento, teve o lirismo e o ardor de um estupro consentido.
Com o passar do tempo, Pedro passou a
olhar Samanta com outros olhos. Ela tinha seios. Firmes, bonitos, de um bom
tamanho. E nádegas bem desenhadas, também. Afinal, sua mulherzinha era do tipo
falsa magra. Quando a via de pé em frente ao espelho, escovando os cabelos,
podia observar o corpo dela sob a camisola transparente. Mais que depressa,
corria até ela, levantava-lhe a camisola e a possuía violentamente. Voltava
para a cama satisfeito e dormia, deixando Samanta soluçando baixinho, apoiada
nas paredes do closet.
Certo dia, Pedro acordou, olhou para
Samanta e percebeu que estava entediado. Era preciso inovar. Ele queria algo
diferente. Então, lembrou-se de um filme pornô que havia assistido na sua
despedida de solteiro. Nele, um ator se roçava em duas americanas peitudas. Era
isso.
Neguem o quanto quiserem, mas a
grande fantasia sexual masculina sempre foi a "ménage à trois". E
como Pedro já tinha uma mulher, só faltava à outra. Pensou bastante e
lembrou-se de uma prima de Samanta que ele já havia pousado os olhos em cima.
Ancas largas, peitões. Tinha cara de safada, ela. Claro que ia topar. Com
aquela cara, deve gostar de uma sacanagem.
Samanta não foi consultada, foi
informada. Não expressou qualquer reação. Arregalou os olhos um pouco, ao que
parece. Mais tarde, naquela noite, Pedro ouviria mais soluços ecoando no
banheiro, se não estivesse roncando tão alto. Não que Pedro tivesse deixado de
amar Samanta, muito pelo contrário. Mas homem tem dessas coisas.
O plano era simples. Convidaram a
prima - chamada Marta - para um jantar em casa. Ela, solteira, foi sozinha.
Comeram, beberam uns drinks. Pedro babava no decote de Marta. Samanta ficou com
a missão de fazer a abordagem inicial. Ainda na sala de estar, em frente à TV,
colocou-se de pé atrás da poltrona onde Marta se sentava. Começou a massagear
seus ombros, enquanto conversavam sobre amenidades. Pedro tentava ser discreto
ao lamber os lábios, mas não dava. As mãos de Samanta corriam suavemente pelos
ombros, nucas e lóbulos das orelhas de Marta. A conversa foi morrendo aos
poucos e um silêncio profundo pairou na sala. Só a TV emitia sons.
Samanta convidou Marta, ao pé do
ouvido, para ir ao quarto, conhecer o novo jogo de quarto que havia comprado.
Marta disse sim antes mesmo ouvir o final da frase. Pedro foi recomendado que
aguardasse um pouco, antes de segui-las.
Cinco minutos mais tarde, Pedro
levantou-se decidido e, abrindo o zíper das calças, dirigiu-se ao quarto. Ao
girar a maçaneta, não conseguiu abrir a porta. Forçou-a algumas vezes até se
convencer que ela havia sido trancada por dentro. Pensou em gritar, chutar a
porta. Mas desistiu ao ouvir os sons que se esgueiravam pelos vãos, saindo do quarto.
Gemidos, gritos, sussurros, palavrões. Em grande parte, pareciam ser de
Samanta. E ele jamais a ouvira falar assim. Ficou ali, de pé, olhando para a
porta branca e ouvindo aquela sinfonia. E imaginando as duas se beijando,
chupando, roçando e lambendo. Imóvel.
Três anos se passaram e Samanta e
Marta estão felizes, juntas, e moram do outro lado do país. Pedro não se opôs
ao divórcio. Como disse, numa roda de amigos, ele "sempre soube que aquela
Samanta era uma vadia. Quando peguei ela dando para aquele negão, só não dei
tiro nos dois porque sou cristão. Nem sei porque me casei com aquela
piranha". A pior parte, para Pedro, era perder para alguém que não tinha
pau.
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