Por Bernardo Sardinha
Enquanto
seu marido se aconchegava no sofá com um sorriso bobo na cara, colocou o CD
“para fazer amor” e deixou o som bem baixinho, quase inaudível. Fechou as
cortinas da varanda e acendeu algumas velas aromáticas e foi para o quarto, onde
rapidamente colocou sua camisola mais nova e uma calcinha diferente.
Quando
ela voltou para sala, viu o maridão ainda com aquele sorriso de bobo no rosto -
ou seria de safado? Devagar, começou uma dança bem insinuante, se esfregando na
parede, mexendo no cabelo e com todas as caras e bocas de que tinha direito, até
lembrar que a luz da cozinha estava acesa.
Com
a luz da cozinha agora devidamente apagada, volta a dançar se insinuando para
seu marido. Levanta devagar sua camisola, revelando para o maridão a calcinha
de renda e a noite que ela tinha preparado.
Sentou
no seu colo e fez o que as strippers
fazem nos filmes, balançou a cabeça e chegou a pensar em esfregar os peitos na
cara dele, mas como estavam muito doloridos mudou de ideia. De perto, notou as profundas
olheiras no rosto do marido e o ar de cansado, mas mesmo assim, não ia desistir
da sua noitada louca.
- Do
que você está rindo? – ela pergunta
-
Você está sem graça – sussurrou ele e os dois riram baixinho.
Ela
voltou a se concentrar no “lap dance”, recebendo
em retorno beijos preguiçosos no pescoço e cafungadas que a arrepiaram. O clima
esquentou até que Toquinho, um Dachshund de 2 anos,
parou para assistir seus donos se agarrarem no sofá branco da sala.
-
Ai! Droga... – resmungou ela ajeitando a alça da camisola.
- O
que houve? Por que parou?
-
Temos um voyeur... Não vou conseguir
fazer nada com o cachorro olhando.
-
Deixa ele – e voltou a beijar o pescoço comprido dela em uma tentativa de
manter aceso aquele fogo.
-
Não vou conseguir...
-
Não consegue transar com o cachorro olhando?
-
Não... Você acha isso estranho?
O
marido não se deu o trabalho de responder e começou a beijar sua esposa que
diante da paixão de seu companheiro esqueceu do cachorro e do mundo.
Os
dois se agarraram como adolescentes no sofá da sala, como adolescentes que
estavam há muito tempo sem transar e sem dormir e Toquinho, que não recebia
atenção a um tempo, coitado, aproveitou o momento.
-
Ah... Olha isso...
Os
dois param e olham Toquinho com uma bolinha na boca e uma carinha de infeliz.
Eles voltaram a se agarrar, mas, entre um beijo e outro, alternavam turnos
jogando a bolinha para o cachorro. Se demorassem para atirar o brinquedo,
Toquinho começava a rosnar, o que era um prenúncio para um latido e
imediatamente os dois desconcertados paravam de fazer o que estavam fazendo
para atender o cachorrinho.
-
Ele vai latir – sussurrava nervosamente a mulher,e o marido, estrambelhado se
esticava para pegar a bola e arremessar. Em uma dessas, a bola caiu atrás de um
vaso de planta e Toquinho ficou muito nervoso.
-
Rápido! Ele vai latir! Não deixa ele fazer barulho - disse ela desesperada.
O
maridão levantou trôpego tentando colocar as calças que caiam no joelho.
Cambaleando por causa de uma mistura perigosa (pouco sono e ter levantado muito
rápido), deu uma topada violenta com a ponta do dedo mindinho em uma quina
pontiaguda da mesa da sala de jantar:
-
Caralhameudedoputaquepariu – gritou entre outras coisas, mas sua voz atingiu um
tom gutural inteligível e Toquinho acompanhou o dono no barulho, soltando meia
dúzia de latidos histéricos.
Do
fundo do corredor escuro ecoou o choro do bebê, e eles abandonaram o papel de
marido e mulher, e assumiram mais uma vez o de pai e mãe.
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