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terça-feira, 18 de março de 2014

Modelo de formatação

Por Rec Haddock

Eu me senti muito mal avaliando as suas respostas. Todos vocês, sem exceção, falaram do quanto a Arte é importante. Alguns falaram que o mundo não existiria sem Arte, outros disseram que é impossível imaginar um mundo sem Arte. Enfim.

Sei que vocês não se deparam frequentemente com esse tipo de pergunta. “Como seria um mundo sem Arte?” é subjetivo demais, pessoal demais. A dúvida que fica é: se é tão subjetivo, se é tão pessoal, porque todos vocês – quase cem pessoas – responderam a mesma coisa? Vocês todos são iguais? São todos a mesma pessoa, com a mesma subjetividade, e por isso responderam a mesma coisa?

Não acredito que sejam. Dou aula para vocês toda semana, e vejo pessoas diferentes, que discordam quase o tempo todo entre si, e, mais ainda, discordam de si mesmos em intervalos de horas. Acho que isso pode ter acontecido por dois motivos.

O primeiro, que é muito grave, é que vocês responderam a resposta que achavam que eu queria ler. Afinal de contas, se vocês escreverem para o professor de História da Arte que o mundo sem Arte é impossível, porque a Arte é a coisa mais importante do mundo ele não tem como te dar errado, certo? Errado. Se a pergunta era subjetiva e pessoal, eu queria respostas subjetivas e pessoais. A sua resposta, e não a resposta de um gabarito que vocês acham que existe, mas, que fique bem claro, não existe.

O segundo, que é ainda mais grave, é que vocês responderam a resposta que achavam que eu queria ler, sem sequer perceber que estavam fazendo isso. Quantas vezes eu vou ter que dizer que não educo vocês para o vestibular? A vida não é como a escola, que tem sempre uma resposta certa! Pelo amor de Deus! Se livrem disso. Dois mais dois só é sempre quatro na matemática!

Noventa e oito por cento das respostas de vocês não só responderam a mesma coisa, como responderam do mesmo jeito: não teria nada, não teria cor, não teria projeto de nada, não teria etc e tal. Pois bem. A resposta pra determinadas perguntas vem de profundas reflexões internas. Temos ou não temos alguma coisa é o suficiente para explicar o funcionamento de um mundo? Me arrisco a dizer que “somos isso” ou “queremos aquilo” ou ainda “tememos isto e por isso agimos assim” ainda não são o suficiente.

Dessa forma, cheguei à conclusão de que não só vocês buscam a resposta certa, como se dão por satisfeitos com qualquer coisa que pareça com ela. Vocês vão crescer para se tornar pessoas extremamente manipuláveis desse jeito. A pergunta era “Como seria um mundo sem Arte?” e não “O que não teríamos num mundo sem Arte?”. Quase todos responderam a segunda, e não a primeira.

Por último, vocês têm que entender o que diabos é arte para vocês. Eu li que amor é arte, o mar é arte, a mãe natureza é arte, sungas são arte. Se vocês me dizem que tudo isso é Arte, ótimo. Agora me digam porque essas coisas são obras de arte. Qual é a característica que transforma essas coisas que vocês disseram que é Arte, em Arte? Se não existir um elemento que faça com que aquilo vire arte para você, uma característica qualquer, toda e qualquer coisa poderá ser Arte.


E assim a Arte não existe.



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