Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
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quinta-feira, 13 de março de 2014

Cliffhanger

Por Bernardo Sardinha

Eram por volta das onze horas quando a gritaria começou no apartamento 402. Nele morava um ex-jogador de futebol famoso no Rio de Janeiro com sua esposa de longa data. Ele era cordial nas reuniões de condomínio e tinha uma cabeça boa, digo, não era esbanjador. Ela, uma loira ex-miss bumbum que não dava nem bom dia no elevador. Apaguei as luzes e fiquei tentando ouvir os gritos da loira, que infelizmente estavam abafados, fazendo com que minha curiosidade mórbida aumentasse. As brigas deles eram a minha novela, meu big brother, meu prazer proibido. Uma rádio novela cheia de baixarias, que valeria um bloco inteiro do Show do Ratinho.

- Sai da Janela! - disse Marcela, minha esposa, sussurrando.

- Me deixa, droga! Estou tentando escutar algo.

- Você não tem uma tese de doutorado para terminar?
           
 Olhei por cima dos ombros para a pilha de livros sobre a mesa. Eles estavam carentes de atenção. Dei com os ombros e como um pai irresponsável falei:

- É rapidinho.

- Ih! Olha! Você tem um amigo! - disse ela apontando para um homem de binóculo do outro lado da rua. O safado estava de camarote enquanto eu só podia ouvir os gritos da loira satanás. Fiquei com invejinha.

- Vamos, você fica sugando essa energia podre dessa vaca.

- Shhhh! Deixa eu ouvir só um pouco, droga.
            
Marcela cruzou os braços e ficou no parapeito da janela junto comigo. Ela era uma companheira admirável. Entre os gritos e rosnados da ex-miss bumbum, fiquei ali admirando- a sobre a luz pálida da rua até que veio a bomba. A loira foi para a janela e gritou:

- Porque a minha boceta, você não come mais!!! Eu estou indo embora.

Em seguida houve um barulho de porta e a gritaria cessou. Marcela foi para dentro balançando a cabeça em desaprovação ao meu passatempo e eu fiquei na expectativa do próximo capítulo, se é que ia haver um próximo.


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