Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Lenda urbana

Por Bernardo Sardinha

Morena bonita de vestido e cabelos longos. Parecida com minha filha. Definitivamente ela será a minha última corrida da noite. Ela mal entra no taxi e já vou ligando o taxímetro, ela sussurra o endereço, uma casa no Guarujá e fala outras coisas tão baixo, que me obrigou a abaixar o volume do rádio. Durante o trajeto, puxo assunto, falo do tempo, do governo etc. Mas nada… Ela só quer saber de ficar olhando melancolicamente pela janela. Havia algo de errado.  

Após quarenta minutos, chegamos ao endereço, o taxímetro marca 48 reais, 52 corrigido na tabela. Ela me diz que vai em casa pegar o dinheiro e eu concordo em esperar, com o taxímetro ligado, é claro.Espero por meia hora e decido ir até a porta da humilde casa, relutante toco a campainha. Queria mesmo era ir para a minha casa, ver minha família, ter uma boa janta e quem sabe assistir o jornal e dormir.


Um homem barrigudo com o umbigo de fora e barba por fazer abre a porta de supetão.

- O que você quer?

- Eu trouxe uma menina aqui. Ela disse que ia pegar o dinheiro para pagar a corrida, e até agora não apareceu.

- Menina?

- É. Uma moreninha.

O homem fica pensativo por instantes e em seguida dá um berro:

- Joana!


Lá de dentro vem a morena em andar vacilante e apertando as suas mãos de nervoso.

- Você pegou um táxi para vir para casa?

Sem olhar para a cara do barrigudo ela disse que sim. Acho que disse, não ouvi direito. Porque ele em seguida deu com a mão na cara dela com tanta força que quando ela caiu no chão escutei alto aquele som de coco oco caindo no chão que se escuta no MMA.


Obviamente eu sai correndo e foda-se os 50 reais. No carro escutei os gritos de uma mulher, que podia ser a mãe, irmã, vizinha, ou sei lá.


Quando cheguei em casa, minha esposa me serviu o jantar no silêncio habitual. Mas eu devia estar bem estranho, porque ela me perguntou se havia acontecido algo.


Comecei a contar o ocorrido, até o momento em que fiquei esperando a pobre menina me trazer a grana da corrida. Mas sentia que a história precisava de um final melhor, sem querer criei uma super expectativa do que iria ocorrer na minha esposa.

Então…

- Quando bati na porta, procurando pela menina, um homem atendeu.

- E aí?

- Ele me disse que estava sozinho em casa, daí descrevi a moça.  Ele ficou branco e choramingando disse que eu descrevi a filha dele que morreu em um acidente de carro.

- Você deu carona para um fantasma homem?

- Acho que sim - e dei um grande gole no café morno.

Ela não acreditou muito no começo, mas acho que gostou tanto na história que resolveu acreditar.

- Sabe, sua mãe já me tinha dito que você é meio médium… Esse tipo de gente que é sensível?


- Será? - falei com a cara mais dura do mundo. Digno de um Oscar. E como um bom mentiroso, me retirei para o quarto e nunca mais toquei neste assunto.  



Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela gentileza! Aguardamos a sua volta.