Por Bernardo Sardinha
Morena bonita de vestido e cabelos
longos. Parecida com minha filha. Definitivamente ela será a minha última
corrida da noite. Ela mal entra no taxi e já vou ligando o taxímetro, ela
sussurra o endereço, uma casa no Guarujá e fala outras coisas tão baixo, que me
obrigou a abaixar o volume do rádio. Durante o trajeto, puxo assunto, falo do
tempo, do governo etc. Mas nada… Ela só quer saber de ficar olhando
melancolicamente pela janela. Havia algo de errado.
Após quarenta minutos, chegamos ao
endereço, o taxímetro marca 48 reais, 52 corrigido na tabela. Ela me diz que
vai em casa pegar o dinheiro e eu concordo em esperar, com o taxímetro ligado,
é claro.Espero por meia hora e decido ir até a porta da humilde casa, relutante
toco a campainha. Queria mesmo era ir para a minha casa, ver minha família, ter
uma boa janta e quem sabe assistir o jornal e dormir.
Um homem barrigudo com o umbigo de fora
e barba por fazer abre a porta de supetão.
- O que você quer?
- Eu trouxe uma menina aqui. Ela disse
que ia pegar o dinheiro para pagar a corrida, e até agora não apareceu.
- Menina?
- É. Uma moreninha.
O homem fica pensativo por instantes e
em seguida dá um berro:
- Joana!
Lá de dentro vem a morena em andar
vacilante e apertando as suas mãos de nervoso.
- Você pegou um táxi para vir para
casa?
Sem olhar para a cara do barrigudo ela
disse que sim. Acho que disse, não ouvi direito. Porque ele em seguida deu com
a mão na cara dela com tanta força que quando ela caiu no chão escutei alto
aquele som de coco oco caindo no chão que se escuta no MMA.
Obviamente eu sai correndo e foda-se os
50 reais. No carro escutei os gritos de uma mulher, que podia ser a mãe, irmã, vizinha, ou sei lá.
Quando cheguei em casa, minha esposa me
serviu o jantar no silêncio habitual. Mas eu devia estar bem estranho, porque
ela me perguntou se havia acontecido algo.
Comecei a contar o ocorrido, até o
momento em que fiquei esperando a pobre menina me trazer a grana da corrida.
Mas sentia que a história precisava de um final melhor, sem querer criei uma
super expectativa do que iria ocorrer na minha esposa.
Então…
- Quando bati na porta, procurando pela
menina, um homem atendeu.
- E aí?
- Ele me disse que estava sozinho em
casa, daí descrevi a moça. Ele ficou
branco e choramingando disse que eu descrevi a filha dele que morreu em um
acidente de carro.
- Você deu carona para um fantasma
homem?
- Acho que sim - e dei um grande gole no
café morno.
Ela não acreditou muito no começo, mas
acho que gostou tanto na história que resolveu acreditar.
- Sabe, sua mãe já me tinha dito que
você é meio médium… Esse tipo de gente que é sensível?
- Será? - falei com a cara mais dura do mundo. Digno de um Oscar. E como
um bom mentiroso, me retirei para o quarto e nunca mais toquei neste assunto.
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