Por Danilo Marcks
Ela não sabe bem a idade que tem. Às
vezes tem 23, 28. Às vezes 25, às vezes 30, 35. Depende do momento. Ela parou
de contar na verdade. Ela era uma menina bonita. Muito bonita. Dessas meninas
que parecem uma bonequinha. Uma bonequinha de porcelana de tão branca. Ela
continua branca. Não pega sol faz bastante tempo.
Dizem que atrizes não podem pegar sol.
Ela é atriz. Atriz há bastante tempo. Atriz numa cidade em que há mais atores
do que médicos e advogados juntos. É uma atriz sozinha. Mora sozinha em um
bairro classe média carioca: em Copacabana, posto 5.
Tem um cachorro pelo qual é a razão
que a faz sair de casa já que tem mais de três meses que ela não é chamada para
nenhum teste. Ela tem um bom book, um bom corte de cabelo. Um bom videobook, um
bom texto decorado na ponta da língua, para qualquer teste eventual. Ela já
passou dos trinta na verdade e ainda não conseguiu um bom papel. Ela não faz
mais testes para personagens meninas, adolescentes, nem meninas problemáticas e
pra Malhação precisa mentir a idade, sempre. Ela hoje faz testes para a mãe.
Ela não tem filhos, mas tem um
noivo que não pode casar porque está na mesma situação que ela. Sem grana. Sem
testes. Sem papéis. Sem o seu perfil. Ela não o vê muito, só quando está desesperada.
Ela tem insônia e sempre dorme depois das quatro da manhã e acorda depois das
quatro da tarde. O tempo passa pra ela. Não há testes nem pra personagens
depressivos. Suas olheiras não servem pra nada. Todos os dias ela toma 12 gotas
de rivotril pra dar uma acalmada. Pra tentar acordar no dia seguinte. Quando
não consegue dormir escreve bobagens sem sentido em um caderno verde espiral.
O pai paga seu aluguel. A mãe a
sua comida. E no final do mês a tia ajuda com algumas contas. Quando acorda,
passa três horas na frente do computador enviando seu material de trabalho para
variados produtores de elenco e às vezes consegue como resposta um simples
“ok”. Um “ok”, que faz com que ela lembre que tem uma vida lá fora ainda, e
isso a impulsiona a pegar a coleira do cachorro e leva-lo a passear pelo
bairro. Nesses 20 anos de carreira, já tentou tantas outras. Tantas outras sem
muito sucesso: maquiadora, patinadora, produtora, escritora, professora,
decoradora, locutora, dubladora, divulgadora e animadora de festas infantis.
Foi morena, ruiva, platinada e hoje é loira com luzes. Sem luzes. Sem fama. Sem
nada. Ana Laura, carioca, 30 anos, atriz.
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