Por Rec Haddock
O nome
dele era uma dessas hipérboles fonéticas que se veem por aí. Eu não sei bem o
que ele pretendia com aquele nome tão agressivo aos sentidos dos outros, mas o
homem ostentava aquele nome como Musashi sustentou a sua espada.
O
rosto dele era lindo. Ele era todo muito bonito, na verdade, e as outras
mulheres babavam por ele, mas ele era meu. Não que eu não sentisse ciúmes. Não
que eu não chorasse no chão do box uma vez ou outra, mas ele era meu.
A
gente foi pescar num domingo. A gente pescava às vezes, era melhor que ver TV.
Não fazer nada era melhor que ver TV, principalmente aos domingos, então a gente
ia pescar que é mais ou menos a mesma coisa que ir não fazer nada, enfim.
Eu
já tinha ido pescar, mas nunca tinha pescado, de fato, peixe nenhum. A gente
tava no meio de um lago gigantesco, cheinho de tilápias. De repente, gente, o
tempo virou que virou e começou um temporal. Ele tirou a camisa e eu fiquei com
vontade de largar a vara e agarrar aquele macho, mas não larguei, porque na
hora que começou a relampejar e trovejar a vara começou a tremer, e têm coisas
que são importantes e, naquele instante, tudo o que importava eram a vara, a
linha, o anzol, a isca e o peixe.
Eu
preciso abrir um parêntese pra falar do barco que a gente tava. Não era um iate
nem coisa do tipo. Tava mais pra bote. Era pequeno, feio, velho e a madeira
parecia meio podre em alguns lugares, mas era dele, e ele amava o barco. Tinha
o nome da mãe dele, vê se pode. Se um filho, meu, me homenageasse nomeando um
barco daquele com o meu nome eu deserdava o desgraçado, mas a velha gostava,
então estava tudo certo.
De
volta à história, ele tava sem camisa, desesperado, e eu focada na vara. Ele
pegou os remos, os remos, e começou a remar pra longe, e eu falei pra ele
parar. Eu precisava daquele peixe. Nunca tinha pescado nada. Enfim.
Confesso
que talvez tenha ficado envolta demais com a minha situação para perceber o
perigo em que a gente se encontrava. Ele estava tentando salvar a minha vida. A
vida dele também, e a vida de Marla, o barco, e eu ficava pensando no quanto o
homem é um ser egoísta, que não pensa nas necessidades femininas de deixar a
gente atingir os nossos próprios objetivos. É claro que a gente brigou pra
caralho na hora.
Não
vou dizer que eu tinha toda a razão, mas também não estava totalmente
desprovida de uma partezinha que fosse dela. Enfim.
Eu
pesquei o peixe, afinal. O peixe se debatia, lindo, no barco, eu estava
satisfeita, meu garanhão estava satisfeito. Ele remava super rápido, a gente
estava quase na beira do lago quando o peixe caiu no lago, de volta.
Eu
chorei, gente. Tenho que admitir. Chorei bastante.
E
ele foi um herói. Fez a coisa mais estúpida e mais romântica que já vi alguém
fazer. Se jogou na água pra pegar o peixe de volta. Voltou com um peixe entre
os dentes.
Mas
não era o meu peixe. Mas você sabe que foi até poético? Aquele peixe nunca ia
ser feliz comigo...
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