Por
Rodrigo Amém
É um
lugar úmido, frio, silencioso. Quatro paredes altas, recobertas de limo e
angústia. Uma cela escura e sem janelas, de onde o prisioneiro acorrentado
vislumbra duas portas. Uma está a sua frente, dourada, com anjos em alto
relevo, destoando do resto do aposento. Por suas frestas, uma luz azul
engatinha, acompanhada de uma leve brisa perfumada.
Atrás
de si, o prisioneiro vê uma porta rústica e desgastada, rangendo suas
dobradiças enferrujadas enquanto parece ser forçada de fora para dentro. Urros,
lamúrias e gargalhadas histéricas ecoam pelas falhas na madeira carcomida. Algo
está prestes a colocá-la abaixo,com as piores das intenções.
Confuso,
o prisioneiro teme por seu futuro. A cada vez que olha para trás, vê a porta
velha maior e mais fragilizada pelas tentativas de arrombamento. Toda vez que
olha pra frente, reza para que algum daqueles anjos se liberte da forma dourada
e venha resgatá-lo antes que seja tarde.
Ao
olhar para o teto, o prisioneiro percebe que uma escotilha se abre de tempos e
tempos, através dela, pessoas o observam com cara de piedade. Outras, apenas
apontam e riem, sarcásticas. Algumas atiram coisas como pão, restos de frutas e
frases prontas de livros auto-ajuda. Às vezes, um beijo misericordioso vem de
cima e pousa em seus lábios. Após o breve período de alívio que cada beijo
proporciona, a porta de trás treme mais furiosa.
O
prisioneiro daria tudo para entender porque fora jogado naquele limbo. O que
fizera de errado? Que crime cometera? Ele grita,pedindo por sua liberdade. Por
um segundo, ambas as portas tornam-se silenciosas. Apenas o barulho de um
relógio invisível ecoa pelo aposento. De súbito, a porta dourada começa a se
iluminar. Uma cantilena angelical anuncia o que está para acontecer e o
prisioneiro sorri em meio a uma oração. É possível ver a maçaneta dourada
girando, lentamente.
Mas a
porta carcomida inicia uma trepidação febril e descontrolada, acompanhada por
urros de uma fera assustadora. A porta angelical queda em silêncio, ainda
fechada. Da mesma forma, a porta medonha. Apenas os risos de uma ou outra
pessoa na escotilha invadem o silêncio. O prisioneiro fecha os olhos, em
desespero. E sente saudades do tempo em que uma mulher não demorava para dizer
sim e o não sob pena de atrasar a cerimônia.
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