Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Eu só queria

Por Danilo Marcks

Queria poder ver televisão, tomar um suco de maracujá e sonhar.
Eu poderia ir lá pro Japão, me isolando dessa solidão, tão perto.
Queria poder te ver mais, que uma vez por mês, te fazer tudo que sempre sonhei, mas tento.

Queria não te fazer magoar, não te fazer assim sempre chorar, mas faço.
Queria te tirar a cicatriz, e te curar de tudo que eu fiz, mas penso.
Queria poder não me explicar, viver as coisas sem raciocinar, mas não devo.

Queria tanto poder te roubar, quem sabe um dia até te sequestrar, mas sou preso.
Eu poderia até não te ligar, não ir ali aonde você tá, mas minto.
Eu poderia não falar inglês, e entender o seu mau português, mas falo.

Quem sabe um dia pode até mudar, e de repente vou lhe transformar, eu devo.
Mas se o mundo continuar assim, a gente foge pro um lugar feliz, eu juro.
Porque no fundo, eu só queria.


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domingo, 30 de março de 2014

Pelo filtro dos sonhos vejo...

Por Halliny Lima

Maravilhosa visão
A respiração se une
Feito os braços
Aconchegados
Plenitude divinal
O ontem e o hoje
Ou o hoje e o amanhã
São presentes
Presente pra mim
Sorte grande
E a pequena dormindo ao lado
Apenas sono
Realizado sonho
Quais serão os deles agora?
Semana parada
Sem vento
Sem nada
Meia vida
Meia bomba
Semana acabada
Pelo filtro dos sonhos agora ele corre
Dança o vento com a pena
E meu pequeno sonho corre
Pra debaixo do edredom
Me chama e pede pra nos escondermos
É noite
E a imensidão aqui
Só para eu olhar.


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sábado, 29 de março de 2014

O Jantar

Por Rodrigo Amém

A sala era decorada à Luís XV. Alguns móveis - dizem - haviam pertencido ao próprio. Jantar findando em meio às pratarias, cristais e guardanapos borrados. Ele joga um olhar em direção a ela. Lembra o Neymar vendo uma brecha na defesa. Limpa a boca no guardanapo e avança em direção ao gol:
- Uma beleza, a sua casa. - comenta ele, com um sorriso obsceno.
- Obrigada. - limita-se a anfitriã. Ela é loira e tem cabelos muito presos num coque, sobre um vestido muito preto e uma pele muito branca.
Batom, ainda após a refeição, muito vermelho.
- E que belo jantar. Acho que comi mais do que podia! - continua o artilheiro.
- Nosso cozinheiro é realmente muito talentoso. Trabalhava no Palácio antes de ser contratado. Ganha mais que alguns Senadores.
- E eu devo dizer que é merecido. Que carne é essa que comemos? É sofisticado, agridoce... Uma textura incomparável. Única. Assim como a anfitriã, devo acrescentar, se me permite a ousadia... - Lá vem o sorriso de novo. E ela apenas retribui. Vai rolar, ele pensa. Novo ataque:
- Escuta, quero lhe propor algo. Estamos apenas nos conhecendo e ainda há muito sobre você que eu quero saber. Eu já sei que você é incrivelmente rica e bela. E que temos um negócio, digamos, arriscado em comum. Mas o que mais podemos falar sobre você?
- Não sei. Acho que é tudo que há para saber.
- Não, não. Vamos fazer o seguinte. Eu proponho um pacto de segredos. O que acha? É a melhor maneira de garantir nossa confiança mútua. Eu te conto um segredo meu e você me conta um segredo seu. Que tal?
- Eu não sei...
- Vamos, vai ser bom para aprofundar nossa cumplicidade, minha ... sócia. - Ao falar isso, ele pega delicadamente na mão dela sobre a mesa e a olha no fundo dos olhos. Ela sorri, envergonhada.
- Muito bem. Mas você começa - Exige ela.
- Acho justo. - diz ele, limpando a garganta. - Bem... Eu, quando era médico residente, tive este paciente, um senhor bem velho. Ele estava nos aparelhos há muitos meses. Os parentes nem iam visitá-lo mais. Era um cadáver inflando e murchando no respiradouro. Quantas pessoas eu vi morrendo nos corredores porque o velho não tinha a dignidade de morrer e ceder o lugar a quem realmente tinha chance de recuperação... Eu odiava aquilo. Um belo dia, um senhor muito rico apareceu com seu filho doente. Precisava de um transplante e o velho moribundo era o doador que ele procurava. Mas talvez o garoto não conseguisse viver tanto tempo para esperar a boa vontade do cadáver inflável. Então, quando chegou a madrugada, eu fui e desliguei tudo. Ele parou de murchar e inflar. Parecia um boneco. Mas então eu percebi que ele estava agonizando. Não era nada como eu pensava. Ele realmente estava sufocando calado e lentamente. Sabe o que é mais estranho? Eu gostei de ver. O resultado final é que o pai do garoto me pagou muito bem pelo órgão e tudo ficou certo. Desde então eu tenho estado nesse "ramo". Mas a parte que eu mais gosto, na verdade, não é da vida que eu salvo em cada transplante. Eu gosto é das eutanásias que eu tenho que fazer, vez ou outra. É isso. Acho que há, em todo mundo, um médico e um louco. Não é?
- É. Você deve ter razão. - comentou, laconicamente a loira.
- Sua vez.
- Bem, acho que tenho um segredo para contar pra você também. Sua fama, desde antes de nos conhecermos, sempre me impressionou. Por isso procurei você. Sabia que não se negaria a nos ajudar a conseguir novos órgãos. E desde que nos conhecemos, minha admiração tem aumentado. Mas há algo que eu preciso confessar, já que você foi tão honesto comigo. Eu não agencio órgãos humanos para a doação.
O médico ficou atônito e começou a olhar para todos os lados ligeira e sutilmente.
- Meu Deus, não me diga que você...
- Não, não sou da polícia. E isso não é uma armadilha. Eu realmente utilizo os órgãos que você me vende, mas para outros fins.
- Que fins?
- Bem, você sabe que há cerca de 100 pessoas no mundo que detêm mais dinheiro que os 30 países mais pobres juntos. A divisão de riquezas no planeta é muito desigual. Mas não são só os pobres que sofrem com isso. Os que estão no topo da pirâmide também. Chega um momento em que não há mais o que se fazer com tanto dinheiro. A vida fica monótona, repetitiva. Meu trabalho é arranjar novos prazeres a essas pessoas, que pagam pequenas fortunas por prazeres que seriam, no mínimo, inusitados para os reles mortais.
- O que isso tem a ver comigo?
- Bem, não há alimento que não se experimente, quando se é incontestavelmente rico. E quando já se comeu de tudo, acaba o prazer, a novidade, a emoção das reuniões gastronômicas...
- Essa não...
- Pois é, meu caro. Eu vendo os órgãos para um mercado negro de gourmets que cozinham miúdos humanos. Um fígado em bom estado pode custar 50 mil dólares a porção e render umas 4 delas. Que boi daria um lucro desses?
- Isso é inaceitável! Meu Deus, eu posso ter meus problemas éticos, mas não sou um açougueiro! Eu não posso admitir isso!
- Sabe aquele pâncreas do garoto alagoense, que iria salvar uma menina americana?
- Sim...?
- Como estava o molho?
O silêncio pairou sobre a sala e os móveis de Luís XV.


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sexta-feira, 28 de março de 2014

Felicidade inversa

Por Amanda Leal

E ali, naquele mar azul translúcido ela boiava. E junto dela os seus sonhos, investidas e títulos conquistados nos seus trinta e três anos de idade. Estava sobre o mar uma biografia inteira. Em casa, sua mãe e irmãos assistiam o noticiário, quando de repente o irmão do meio disse: - Encontraram o corpo! 

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quinta-feira, 27 de março de 2014

Salto alto

Por Bernardo Sardinha

Três da manhã e o lixo se acumula na porta de minha casa. "Hora de agir feito um adulto responsável e ir jogar o lixo fora" - penso eu. Abro a porta de casa me deparo com a seguinte cena: um homem ajoelhado diante da minha vizinha, uma morena de cabelo encaracolado e belas curvas, que eu jurava que era puta, talvez fosse, eu não sei. Os dois me olharam e me senti paralisado. A morena vira de costas e rapidamente entra em casa, deixando eu e o rapaz, ainda ajoelhado, sem saber o que fazer. Como era tarde demais para fingir que não vi, eu delicadamente o pulei e joguei o lixo fora. Antes de entrar em casa ainda disse timidamente "Com licença" e fechei a porta devagar para não fazer barulho. Devia ter dito algo legal, ou bacana, mas não consegui. Tive impressão, que após bater a porta, escutei um soluçar o qual torci para que fosse da minha vizinha. 

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quarta-feira, 26 de março de 2014

Terapia

Por Marcela de Holanda


Eu quero alta. Desculpa, não é nada pessoal, eu adoro você. Mas é que eu não aguento mais fazer terapia. Eu sei que no começo eu precisava, que o meu caso era grave, mas eu acho que eu to curada. Não, eu tenho certeza. Eu sei que você vai dizer que eu não to curada coisa nenhuma, que cada semana eu chego aqui com uma história pior que a outra. Mas aí que tá. Eu só continuo fazendo essas coisas pra ter o que te contar. Você acha mesmo que eu fiquei com o namorado da minha melhor amiga porque eu não gosto dela? Ela é a minha melhor amiga, eu gosto dela mais do que de todas as outras amigas. E aquele dinheiro que eu peguei da carteira do meu chefe? Eu não estava precisando. E além do mais o homem não anda com nenhuma nota decente na carteira, encontrar uma amarelinha já foi sorte. Eu fiz isso por você. Porque eu não vou pagar trezentos reais pra sentar aqui e te contar o que eu comi no almoço. Eu quero ser uma paciente interessante. Você merece. Eu quero que você pense em mim a semana toda. Que você sonhe com as besteiras que eu faço. Que você case comigo. É isso. Eu te amo. (Silêncio) Eu te amo. (Silêncio) Eu te amo! (Silêncio) Tá vendo? Menti de novo. Não é que você seja horrível, mas não faz o meu tipo. Você nunca fala nada. Eu tenho que inventar umas coisas pra preencher os espaços. Por exemplo. Essa semana, eu fiquei gripada em casa. Não tive a chance de fazer nada de errado. O que eu pensei? Vou pedir alta na terapia que vai dar assunto pra sessão inteira. (Olha o relógio) Graças a Deus o tempo acabou. Semana que vem no mesmo horário. Por favor, não me abandona. É sério. Eu preciso de você!

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terça-feira, 25 de março de 2014

Sabe Quando Só se Percebe a Si Mesmo de Vinte em Vinte Anos?

Por Rec Haddock

Tenho um amigo que é artista. Ele é mais velho que qualquer pessoa que você conheça. Ele costuma dizer que viu a luz antes de existir horizonte, e que quando atravessou o horizonte pela primeira vez, a luz ainda não existia. “Vi a Criação”, ele diz “e vi o que ainda está por ser criado”.

Eu, Rec Haddock, vi que ele é um filho da puta pretensioso e, ainda assim, não consigo resistir a ele. Sempre que tomamos uma limonada rosa juntos, eu fecho os olhos e ouço.

“O problema é que acham que Arte é expressão. Os Egípcios sabiam melhor. Existiam padrões que deviam ser respeitados e ponto. O bom artista era o que copiava a tradição com perfeição. Não havia escolha, e se não há escolha, não há expressão. Os egípcios eram menos artistas?”

Não acredito que fossem...

“Agora. Caravaggio, Gainsborough. Esses loucos que abdicaram por completo da tradição pavimentaram o caminho da individualidade na Arte. Com a Revolução Industrial veio a possibilidade de pintar-se o tema que se quisesse. Pois bem. O que se ganhou com isso?”

Quadrinhos de lulas e japonesas transando, suponho.

“Pela primeira vez nós artistas não pintávamos sob encomenda. Tínhamos que pintar o que quiséssemos, da forma que quiséssemos, no estilo que nos fosse apropriado. De certo modo, este afastamento das vontades de público e de artistas causou o maior sofrimento da profissão nos dias de hoje: ou bem o artista produz o que quer e corre o risco de morrer de fome por não conseguir vender as suas obras; ou bem faz concessões ao gosto do cliente e perde o respeito próprio. “Muitos caíram na armadilha de acreditar que eram gênios porque não vendiam suas obras, quando na verdade não vendiam suas obras porque eram medíocres. Esta ‘arte de expressão’ que nos rege, hoje, premia a individualidade do artista original. Existe, no entanto, uma corja que se diz artista, se pretende original, e nem ao menos compreende a própria individualidade.”

Se eu produzir, então, uma cópia fiel da Mona Lisa, serei um grande artista?

“Depende do que é a Arte para você, Rec. Se para você Arte é o Novo, não. Se é o Belo, sim. A Arte não é uma só. O importante é que você entenda que o único que pode determinar o que é Arte e o que não é arte, sou eu, porque eu sou a arte. Eu farei com que alguns sejam lembrados e outros não. Eu farei com que obras fiquem e obras sumam. Eu farei e destruirei reputações. Sou incansável. Interminável. Indissolúvel. Incompreensível. Inexorável.”

Como sempre, tentei compreender. Quando abri os olhos, ele não estava mais lá. Não tinha reparado o quão rápido o Tempo havia passado.


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segunda-feira, 24 de março de 2014

Acelerar

 Por Danilo Marcks

Sua voz ainda passa em meus ouvidos
Eu não te entendo muito bem
Seu português errado não convence ninguém
Seus olhos castanhos da cor do Leblon
Em dias nublados me deixam mais desequilibrado

Seu cheiro forte invade a varanda
Seu sorriso torto me deixa pensar
Eu não quero pensar em mais nada
Escuto seus diálogos com vinho na mão

Você vai embora e eu peço perdão
Não sei aceitar o Não e o Talvez
Dorme essa noite de novo comigo
Prometo que eu faço você relaxar
Já são 4 horas, pra que vai voltar?

É só um abraço e vejo você tão bem
A semana passa, meus olhos estão.
Repletos de lágrimas na escuridão
E eu tento pensar, mas a cabeça.
Chora também

Invento desculpas pra poder te ouvir
Pedir-te pra ficar em toda essa confusão
Você me promete milhões de promessas
Eu nunca sei no que acreditar, e fico nervoso.
Quando deixo escapar qualquer indício de
Realizar, e fico também, por horas e horas assim.
Eu sei que te amo, uma dor vem aqui.
Pensar em perder-te, não é mais pra mim.

A saudade bate acelerar
Saudade bate acelerar
Nesse final de mês
Abril não quer passar
E minha cabeça roda
Mais que ontem à noite



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domingo, 23 de março de 2014

O preto e o branco

Por Halliny Lima


Dois entre vinte

Dezesseis anos mais ou menos

Cada um

Amigos irmãos

Um preto um branco

Correntes

Anéis

Boné pra trás

Bermuda na metade da bunda

E o sempre companheiro funk

No celular da moda

Funk da hora

Mc's idolatrados

E o verso de uma vida ao contrário

Seguiam o caminho das avessas

Fáceis presas

Submundo

Imundos pensamentos

Sobrevivendo no risco

No vício

Um, dono de três bocas

Pai preso

Mãe... Sabe-se lá

Internados fora daqui

Clínicas

Novo mundo se projeta

Agora com a nova visão

Nova vida se completa

Pensando de grão em grão

Não mais dinheiro fácil

No entorpecente barato

Acordar cedo

Estudar

Lá na frente, olhar

E ver

Se ver

Crescidos

Amadurecidos

Novas perspectivas

Vidas que passaram na minha mão

Universos trocados

Entrar no deles

Entrar no meu

Rica experiência

Vivência real

Momento atual

Diante do desigual

Ver o possível

Que eu consigo

Levá-los a outro patamar.



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sábado, 22 de março de 2014

Epaminondas

Por Rodrigo Amém

Epaminondas sonhava criança com a Harley rasgando a terra árida, gata e garupa. De começo, cascalho era empecilho, não pele de estrada. Quanto mais possante e cromado sonhava, maior a distância entre Epaminondas e seu cavalo de ferro. Mas Epaminondas foi lá. Geral brincou, ele estudou. Geral namorou, ele trabalhou. Geral foi feliz, ele poupou. Pregou a vida no sonho e vice-versa. Virou avô, careca, barrigão. Mas motoqueiro. Idade é cabeça, geral diz. Mas a dona Vilma, esposa do Epaminondas, de calça de couro de oncinha, é irrefutável. Idade também é bunda. E a do Epaminondas murchou de esperar.



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sexta-feira, 21 de março de 2014

Amigo meu

Por Amanda Leal


Para todos os amantes de animais:

Me acorda com lambidas
Me conforta quando eu choro
Ouve minhas lamentações da vida
E me entende como sou.
Faz festa até mesmo quando eu não mereço
E me conquista diariamente ao me chamar pra brincar.
Sempre me leva pra passear quando nem de casa eu quero sair.
Rouba o meu bife, é só dar bobeira,
Mas é incapaz de fazer besteira.
Me ama do jeito que sou.
E eu te amo como você é.
Confuso, brincalhão, grande ou pequeno
E mesmo quando morde o meu pé.
Sem palavras, sobram apenas olhares, gestos, atitudes.
O diálogo mais puro que pode existir.
Sempre me leva pra passear quando nem de casa quero sair.
Nosso amor não se expressa de qualquer jeito.
No conforto do seu abraço e você no conforto do meu.
Me ama do jeito que eu sou.
E eu te amo como você é.
Juntos somos um.
E nos divertimos sem precisar de muito.
Meu amigo, amigo meu.
Meu filho, que Deus me deu.
Se para sempre existisse, eu escolheria pra nós dois.
Por agora vamos celebrar a vida
E fazer dos nossos dias pequenos mundinhos de felicidade explícita.
Pois, mesmo que eu não os quisesse, você traria esses dias até mim.
Com sua alegria ao me ver e a gratidão em cada saída
Nós vamos juntos percorrer esse belo mundo a passeio!

Àquele que maltrata um animal eu digo:
Você não conhece o verdadeiro significado do amor.



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quinta-feira, 20 de março de 2014

Promessa

Por Bernardo Sardinha

Observou cuidadosamente o vídeo. Viu e reviu no monitor em alta resolução e ao mesmo tempo em que ficava empolgado com sua descoberta, sentia arrepios. Sua esposa esvaziava o armário rapidamente, jogando de qualquer jeito as roupas para cima.

Tudo começou quando ele, teve a ideia de apimentar o relacionamento e decidiu filmar uma transa. Ela no começo negou fogo, mas, depois pulou no barco e decidiu que ia fazer bem para o relacionamento que andava morno, desde que ele não mostrasse o filme para NINGUÉM. Como não queriam filmar um simples papai e mamãe, investiram pesado em uma produção.

Gastaram uma baba na internet comprando fantasias, chicotes, algemas, velas aromáticas, vibradores, e até pensaram no enredo de uma historinha, que no final foi posta de lado porque estava ficando complicada demais. O romance entre o salva- vidas e a colegial safada foi deixado para outro dia. Então, colocaram uma câmera no tripé na beira da cama, encheram a cara e tiveram uma noite de pura putaria.

Empolgado, o marido foi conferir sua performance, e se deparou com algo inesperado. A câmera não filmou só a transa, mas flagrou ali no quarto mesmo um fenômeno paranormal: uma aparição negra assistia tudo no canto do quarto. Era uma sombra, quase uma névoa que flutuava, com forma semi-humana girava em uma espiral macabra. Ao fundo as luzes da casa piscavam e as portas batiam. Coisa de filme de terror mesmo.

- Para de ver essa droga e vamos embora! Agora!

- Imagine a grana que podemos ganhar com isso! Vamos vender!

- Você me prometeu que não ia mostrar isso a ninguém! - berrou a mulher ainda tremendo de medo.

- A prova da vida após a morte! Ou sei lá o que é isso - disse ele sem tirar os olhos da tela.

Ela sentou ao lado dele, segurou na sua mão e disse chorosa:

- Você prometeu...


Ele ficou pensativo por instantes, reviu o filme pela última vez e o apagou, já que estava ansioso pelo encontro do salva-vidas e a colegial safada. 


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quarta-feira, 19 de março de 2014

Sistema

Por Marcela de Holanda

- Eu vou repetir pela última vez. O plano precisa autorizar a operação da minha mãe agora. É uma emergência. Não amanhã, muito menos depois. Ela precisa agora. É caso de vida ou morte. Eu já não entendo isso de pedir autorização. Eu pago uma fortuna todo mês.

- Senhora, como eu disse, eu não vou poder estar autorizando agora. O sistema está fora do ar. Pro sistema, a mãe da senhora não está doente. Quando o sistema voltar, eu vou estar atualizando a situação dela e dentro de três dias úteis ele libera para autorizar a marcação da cirurgia da mãe da senhora.

- Você não tem mãe não, minha filha? Não é possível que não tenha alguém que possa resolver isso. Eu quero falar com o seu superior. Passa para o seu chefe, por favor.

- Me desculpa, senhora. Mas eu não tenho acesso a ninguém que possa estar te encaminhando agora. Só pelo sistema mesmo.

- E você sugere que eu faça o que com a minha mãe? Espere ela morrer?

- Não, senhora. De jeito nenhum. A senhora poderia estar pedindo um empréstimo no banco para pagar a operação da mãe da senhora. Se o plano autorizar depois, a senhora pode pedir um reembolso.

- Era só o que me faltava. Eu vou entrar na justiça contra esse plano de saúde. E eu não vou me esquecer do seu nome.
(Desliga. Liga)

- Alô. O Gustavo, por favor.

- É ele. Quem fala?

- Oi, Gustavo. É a Clara Abrantes. Lembra daquele empréstimo pré-aprovado que você me ofereceu?

- Claro, dona Clara. Está à disposição.

- E preciso ainda pra hoje. É uma emergência. Minha mãe precisar operar.

- Nossa, dona Clara. Sinto muito pela mãe da senhora. Estimo melhoras. Mas no momento eu não vou conseguir liberar. Eu sistema está fora do ar. Mas assim que ele voltar eu ligo para a senhora.

- Sistema? Eu vou te dizer o que você faz com o seu sistema! Quem inventou essa porra de sistema pra tudo? De que adianta se nunca funciona? E o meu sistema nervoso? E o sistema circulatório da minha mãe? Isso sim é sistema. O resto é castigo!

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terça-feira, 18 de março de 2014

Modelo de formatação

Por Rec Haddock

Eu me senti muito mal avaliando as suas respostas. Todos vocês, sem exceção, falaram do quanto a Arte é importante. Alguns falaram que o mundo não existiria sem Arte, outros disseram que é impossível imaginar um mundo sem Arte. Enfim.

Sei que vocês não se deparam frequentemente com esse tipo de pergunta. “Como seria um mundo sem Arte?” é subjetivo demais, pessoal demais. A dúvida que fica é: se é tão subjetivo, se é tão pessoal, porque todos vocês – quase cem pessoas – responderam a mesma coisa? Vocês todos são iguais? São todos a mesma pessoa, com a mesma subjetividade, e por isso responderam a mesma coisa?

Não acredito que sejam. Dou aula para vocês toda semana, e vejo pessoas diferentes, que discordam quase o tempo todo entre si, e, mais ainda, discordam de si mesmos em intervalos de horas. Acho que isso pode ter acontecido por dois motivos.

O primeiro, que é muito grave, é que vocês responderam a resposta que achavam que eu queria ler. Afinal de contas, se vocês escreverem para o professor de História da Arte que o mundo sem Arte é impossível, porque a Arte é a coisa mais importante do mundo ele não tem como te dar errado, certo? Errado. Se a pergunta era subjetiva e pessoal, eu queria respostas subjetivas e pessoais. A sua resposta, e não a resposta de um gabarito que vocês acham que existe, mas, que fique bem claro, não existe.

O segundo, que é ainda mais grave, é que vocês responderam a resposta que achavam que eu queria ler, sem sequer perceber que estavam fazendo isso. Quantas vezes eu vou ter que dizer que não educo vocês para o vestibular? A vida não é como a escola, que tem sempre uma resposta certa! Pelo amor de Deus! Se livrem disso. Dois mais dois só é sempre quatro na matemática!

Noventa e oito por cento das respostas de vocês não só responderam a mesma coisa, como responderam do mesmo jeito: não teria nada, não teria cor, não teria projeto de nada, não teria etc e tal. Pois bem. A resposta pra determinadas perguntas vem de profundas reflexões internas. Temos ou não temos alguma coisa é o suficiente para explicar o funcionamento de um mundo? Me arrisco a dizer que “somos isso” ou “queremos aquilo” ou ainda “tememos isto e por isso agimos assim” ainda não são o suficiente.

Dessa forma, cheguei à conclusão de que não só vocês buscam a resposta certa, como se dão por satisfeitos com qualquer coisa que pareça com ela. Vocês vão crescer para se tornar pessoas extremamente manipuláveis desse jeito. A pergunta era “Como seria um mundo sem Arte?” e não “O que não teríamos num mundo sem Arte?”. Quase todos responderam a segunda, e não a primeira.

Por último, vocês têm que entender o que diabos é arte para vocês. Eu li que amor é arte, o mar é arte, a mãe natureza é arte, sungas são arte. Se vocês me dizem que tudo isso é Arte, ótimo. Agora me digam porque essas coisas são obras de arte. Qual é a característica que transforma essas coisas que vocês disseram que é Arte, em Arte? Se não existir um elemento que faça com que aquilo vire arte para você, uma característica qualquer, toda e qualquer coisa poderá ser Arte.


E assim a Arte não existe.



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segunda-feira, 17 de março de 2014

Telefonema dopado

Por Danilo Marcks

Alô? Oi. Tudo. É você? Não, não. Tudo bem. To ouvindo. Olha, eu não sei. Eu não tava querendo fazer nada nesse fim de semana. Não. Nada. É, dormir. Dormir o dia todo. Tomar uns comprimidos aí e dormir. Sei La! Tá chato... Não, não é você. É essa vida mesmo. Nada... Já tentei de tudo. Ah, não quero mais. Não, não quero não. Sei lá, eu não quero. Não, é isso. Só não quero. Meu Deus do céu! Não posso ter essa opção?  Sei lá, tá tudo tão repetitivo. Você não acha não? Olha... Que bom pra você! Tá. Tá sim. Tá chato pra cacete! Ah sei La. Não sei. Ontem, eu já sai.  É, bebi. Não, não. Só um pouco. Faz bem. Às vezes. É, eu sei mas ela nem me convidou. Ah, eu também não ia mesmo. É, isso mesmo. Dormir!!! É a melhor coisa que você me faz. Tá. Uhum. Tá. Tá bom. Tchau. (Pausa) Gente chata!

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