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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Tradição: respeito ou evolução?

Por Marcela de Hollanda

Falo hoje na primeira pessoa do singular para não embutir meu ponto de vista em nenhuma forma. Há alguns anos, ainda no Ensino Médio, um professor de geografia olhou para mim e disse que eu tinha cara de feminista. Do nada. Eu não tinha emitido nenhuma opinião, não estava sendo discutido nenhum assunto relacionado. Ele olhou para mim, sentiu e disse. Eu não compreendi, nem concordei. Não identificava em mim nenhuma necessidade de defender essa bandeira, nem tinha consciência se pensava ou não sobre isso. Quando nasci, as mulheres já tinham conquistado direitos que a minha geração sequer consegue conceber direito que algum dia tivessem sido negados. Demorou um tempo para eu começar a perceber que o que antes era uma diferença legalmente instituída, deixou ainda tantos resquícios sob o nome de Costume ou Tradição. Não digo aqui que eles devem ser todos abandonados. Longe disso. Mas é sempre bom lembrar que eles não são verdades absolutas, não são os mesmos desde que o mundo é mundo. Os antepassados que os criaram e a quem podemos achar que devemos reverenciar respeitando seus legados culturais, um dia também quebraram a corrente. E, por isso, as tradições podem e devem ser constantemente questionadas e, se necessário, mudadas. Não é um desrespeito, é um respeito. Respeito pela necessidade de constante evolução do ser humano. Respeito pelos que tiveram coragem antes para transformar as coisas e tornar possível o mundo de hoje. Quem tornará possível o mundo de amanhã? Os que agora aqui estão. Já foi o tempo em que as crianças eram criadas na base do “Isso é assim porque é assim.” E bendita seja a necessidade de argumentar. Ela está aí para nos ajudar a questionar, refletir. A cabeça não está aí para adornar o pescoço. Isso não se limita às questões relacionadas à igualdade de direitos entre os sexos, mas passa por elas. Não se limita à questão das tradições, mas passa por ela. Podemos perder tanta coisa boa simplesmente por achar que as coisas só podem ser como sempre foram. Não acho que preciso citar aqui exemplos. Sei que quem lê é capaz de identificá-los sozinho e terá maior ganho fazendo isso. Ao professor de geografia eu digo: não sei se feminista é uma palavra que pode ser aplicada à minha pessoa, mas conformista também não.


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3 comentários:

  1. Muito bem escrito e pertinente. A nossa cabeça deve estar sempre aberta e alerta para as transformações e, principalmente, para os sinais que elas nos mostram. Respeitar o passado e aprender com ele para construir um futuro melhor.

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  2. Eis que a Literata vira Colunista e mantém o nível!
    Incrível!
    Parabéns, Marcela de Hollanda, por esse texto maravilhoso.

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