Por Marcela de Hollanda
Falo hoje na primeira pessoa do
singular para não embutir meu ponto de vista em nenhuma forma. Há alguns anos,
ainda no Ensino Médio, um professor de geografia olhou para mim e disse que eu
tinha cara de feminista. Do nada. Eu não tinha emitido nenhuma opinião, não
estava sendo discutido nenhum assunto relacionado. Ele olhou para mim, sentiu e
disse. Eu não compreendi, nem concordei. Não identificava em mim nenhuma
necessidade de defender essa bandeira, nem tinha consciência se pensava ou não
sobre isso. Quando nasci, as mulheres já tinham conquistado direitos que a
minha geração sequer consegue conceber direito que algum dia tivessem sido
negados. Demorou um tempo para eu começar a perceber que o que antes era uma
diferença legalmente instituída, deixou ainda tantos resquícios sob o nome de
Costume ou Tradição. Não digo aqui que eles devem ser todos abandonados. Longe
disso. Mas é sempre bom lembrar que eles não são verdades absolutas, não são os
mesmos desde que o mundo é mundo. Os antepassados que os criaram e a quem
podemos achar que devemos reverenciar respeitando seus legados culturais, um
dia também quebraram a corrente. E, por isso, as tradições podem e devem ser
constantemente questionadas e, se necessário, mudadas. Não é um desrespeito, é
um respeito. Respeito pela necessidade de constante evolução do ser humano.
Respeito pelos que tiveram coragem antes para transformar as coisas e tornar
possível o mundo de hoje. Quem tornará possível o mundo de amanhã? Os que agora
aqui estão. Já foi o tempo em que as crianças eram criadas na base do “Isso é
assim porque é assim.” E bendita seja a necessidade de argumentar. Ela está aí
para nos ajudar a questionar, refletir. A cabeça não está aí para adornar o
pescoço. Isso não se limita às questões relacionadas à igualdade de direitos
entre os sexos, mas passa por elas. Não se limita à questão das tradições, mas
passa por ela. Podemos perder tanta coisa boa simplesmente por achar que as
coisas só podem ser como sempre foram. Não acho que preciso citar aqui
exemplos. Sei que quem lê é capaz de identificá-los sozinho e terá maior ganho
fazendo isso. Ao professor de geografia eu digo: não sei se feminista é uma
palavra que pode ser aplicada à minha pessoa, mas conformista também não.
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Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.
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Muito bem escrito e pertinente. A nossa cabeça deve estar sempre aberta e alerta para as transformações e, principalmente, para os sinais que elas nos mostram. Respeitar o passado e aprender com ele para construir um futuro melhor.
ResponderExcluirEis que a Literata vira Colunista e mantém o nível!
ResponderExcluirIncrível!
Parabéns, Marcela de Hollanda, por esse texto maravilhoso.
Excelente!
ResponderExcluirMudar sempre e sempre...