Por Rodrigo Amém
Moleque
levado era Marcelo. Saltava de banda, pulava e gritava. Era quase bailado, o
sujeito magrelo correndo no vento dos sorrisos vãos.
Nas casas
vizinhas, abalroadas janelas sustentam o escárnio, jocosos bocejos ao garoto
que passa. Comentam seus olhos, alaridos e pernas. Será que algum dia pára a
carreira? Será que se cansa, será que se aquieta? Para quê tanto riso, suor e
seresta? O que é que ele pensa? Que é brinquedo essa vida? Que é um jogo, esta
terra? Que amanhã recomeça e termina hoje ainda?
Mas o Marcelo nem liga, nem pára, nem cansa. Há quem diga
que é lombriga. Ou que lhe falta uma surra. A energia do Magrelo não acaba, não
muda. Não começa um só dia sem que a risada perdida de criança correndo se
entrelace no vento e abrace as cortinas secando ao relento.
Marcelo não fala, nem pra mãe nem pro pai, a razão da corrida,
brincadeira infinita que sua vida se fez. Mas o magrela, quando se cala e
se aquieta, se senta num canto de pernas cruzadas, como quem reza. Respira bem
fundo e pede pra santa que lhe salve o silêncio.
Mas é nessa hora que a brisa que sopra sussurra bem fundo no
ouvido do crente. O menino se assusta, treme e gela. É uma voz de criança,
suave e tranquila, que fala baixinho: “Marcelo morreu... Marcelo morreu...”. O
magrela levanta, tropeça e se senta, levanta de novo e desanda a correr.
Gritando, cantando, sorrido e pulando, o moleque abafava a cantilena da morte.
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O Marcelo é um garoto esperto, apesar de hiperativo. Rs
ResponderExcluirO Marcelo tem uma história complicada em relação aos pais, aos vizinhos... A fé dele é em que?? Ele luta contra a morte, o tempo que não se pode perder???
Viajei com o Marcelo. Visualizei as cenas... Fantástico!!
DELICIA DE TEXTO.
Parabéns !!!