Por Amanda Leal
Fim de tarde. Dia de chuva.
Oi?
No que posso ajudar?
Vocês vendem amor?
Depende do tipo.
Tem amor de novela?
Hum, esse está em falta. Mas se você quiser tem amor
romance. É mais literário, menos dramático, só que é mais intenso. Tá saindo
por noventa e cinco reais.
Ah, OK. Vou levar.
Atenção tá pra quanto?
Mil e duzentos.
Nossa, mais caro que amor?
É, independe de amor, daí sai mais caro.
E vocês dividem esse valor?
Acima de dois mil, somente.
Bom, então vou ter que levar mais alguma coisa pra
inteirar. Compreensão tá muito caro também?
Na verdade, nós não trabalhamos com compreensão, senhora.
Tá difícil encontrar compreensão por ai. Acho que não
estão fabricando mais.
Isso eu não sei te informar, senhora.
Se o carinho ali da prateleira é cento e vinte e cinco e
ser ouvido é duzentos, estamos chegando perto.
Ainda estamos em mil seiscentos e vinte. Então, senhora
falta ainda trezentos e oitenta.
Deixa eu pensar aqui. E vocês entregam em casa?
Uhum. Sai a cento e trinta o frete.
Ué, mas eu vi na internet que o frete era grátis.
Bom, se você comprar pelo site é sim. Mas também corre o
risco de você levar amor que não é amor, atenção que não é atenção, falta de
carinho e orelhas ao invés de ouvidos.
Ahhh, mas se é mais barato.
O barato sai caro, minha senhora.
Tá bom. Então, eu pago o frete.
Será satisfação garantida. É muita coisa para a senhora
carregar sozinha.
Aí meu querido, eu concordo. É muita coisa para eu
carregar sozinha. Mas aí teria que ter alguém pra dividir isso comigo. De que
adianta tantos sentimentos sem ter alguém pra dividir?
A senhora pode guardar para o caso desse alguém aparecer.
To evitando guardar coisas. Na verdade, eu tava é
arrumando a casa e de repente me dei conta de que faltava tudo isso para a casa
estar completa. Para eu me sentir realizada. Mas não vai adiantar se não tenho
onde guardar. Vai apenas ocupar espaço. E eu sei que vou me frustrar. Faz
seguinte, suspende.
Suspender?
Sim. Primeiro eu vou ver se realmente preciso disso. Se
eu realmente precisar... Decidi, não vou comprar. Vou é arrumar alguém disposto
a me presentear.
OK, senhora. Boa tarde. Até a próxima.
Boa tarde, querido. Até nunca mais.
A moça pega o guarda- chuva, abre e sai da loja. O rapaz
se senta e olha pelo vidro da loja as pessoas que passam. Sentimentos cheios de
poeira continuam nas prateleiras do lugar. Ninguém entra.
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Amanda Leal e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.
Me surpreendeu !
ResponderExcluirFalou dos sentimentos com propriedade e a realidade atual.
Amor virtual. Espaço para sentimentos. Preferir receber e não saber dar...
Profundo Amandita.
AMEEEEIIIIII.
Estou aqui super feliz por você, e ao mesmo tempo impressionada, a menina cresceu e descreveu tão bem coisas de gente grande.
Sinto tua evolução a cada semana.
Me encanto com teus contos.
A menina cresceu!!!
PARABÉNS!!!
Bjs
Carla
Carla, obrigada!
ResponderExcluirAdoro os seus comentários.
Adoro vc. bjus