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sábado, 26 de outubro de 2013

Sujos e malcheirosos

Por Rodrigo Amém


Era uma vez um mendigo roto, sujo e malcheiroso. Pois este mendigo tinha um cão sarnento, sujo e malcheiroso. Eles moravam num beco, úmido, sujo e malcheiroso, no final de uma rua escura, suja e malcheirosa. 

Por essa rua escura, suja e malcheirosa, passavam muitas pessoas assustadas, sujas e malcheirosas. Todas tinham medo de passar pelo beco úmido, sujo e malcheiroso, porque sabiam que ali morava um assassino sanguinário, sujo e malcheiroso. Pois todas as manhãs, os garis magricelas, sujos e malcheirosos retiravam do latão de lixo enferrujado, sujo e malcheiroso do beco úmido, sujo e malcheiroso, pedaços de cadáveres retalhados, sujos e malcheirosos. Com certeza, tratavam-se de vítimas do assassino sanguinário, sujo e malcheiroso que habitava naquele beco úmido, sujo e malcheiroso. Ele as roubava e esquartejava, sem piedade. Deixava os restos decompostos, sujos e malcheirosos dentro do lixão enferrujado, sujo e malcheiroso. 

Mas num dia ensolarado, sujo e malcheiroso, vários policiais obesos, sujos e malcheirosos invadiram o beco úmido, sujo e malcheiroso a procura do assassino sanguinário, sujo e malcheiroso. Encontrara o mendigo roto, sujo e malcheiroso e seu cão, sarnento, sujo e malcheiroso. Com seus cacetetes compridos, sujos e malcheirosos, açoitaram o mendigo roto, sujo e malcheiroso e seu cão sarnento, sujo e malcheiroso para dentro de um camburão apertado, sujo e malcheiroso. Então os policiais obesos, sujos e malcheirosos saíram dali rindo. Vitoriosos, sujos e malcheirosos. 

Nem viram quando uma limusine bela, suja e malcheirosa estacionou no beco úmido, sujo e malcheiroso e um motorista forte, sujo e malcheiroso desceu carregando um saco plástico, sujo e malcheiroso e atirou o seu conteúdo dentro do latão enferrujado, sujo e malcheiroso. Pedaços de cadáveres decompostos, sujos e malcheirosos. 

Na parte de trás da limusine bela, suja e malcheirosa, o assassino sanguinário, sujo e malcheiroso sorria enquanto falava em seu celular digital, sujo e malcheiroso com patrões que, provavelmente, jamais conhecerá nem pelo cheiro.

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