Por Rodrigo Amém
Ela carrega sobre os ombros um amontoado de
peles de pequenos mamíferos mortos, entrelaçados por fios de algodão. Está
elegante, sobre o couro de ruminantes mortos que envolvem seus pés. Ele,
igualmente irrepreensível, traz seu cabelo untado com banha de origem animal, o
que lhe dá um aspecto lustroso e arrumado.
Enquanto o sebo escorre nos castiçais mediante
a crepitação da chama, resolvem comer lesmas. Sorriem um para o outro, à medida
que seus maxilares vencem a consistência elástica dos pequenos invertebrados.
Aproveitam também para beber o sumo de uvas velhas e esmagadas, que havia
fermentado pela decomposição há muitos anos. Nem sequer lembrava a fruta fresca
que havia sido comprimida pelos pés gordos e pesados de francesas obesas e
suadas. E os dois ali, sorrindo. Um pouco depois, saboreiam moluscos crus e
brincam com as ventosas gélidas dos tentáculos mortos em suas línguas. Se não
fosse pela música ambiente que reverbera, seria possível ouvir a sutil sinfonia
da mastigação de ambos.
Logo a seguir, o garçom lhes apresenta
aparatos de metal com pedaços de bovinos mortos e em chamas, carbonizando-se
lentamente. E eles se deliciam.
Mais tarde, estão sentados em peles de animais
dentro de um uma estrutura metálica, sobre uma máquina à explosão que movimenta
pedaços circulares de material proveniente de dejetos de répteis extintos. Ele
toca o rosto dela, macio, graças à aplicação de lama e restos de vegetais em
decomposição. Trocam bactérias e microscópicos restos de moluscos, lesmas e
carne morta enquanto esfregam seus lábios sofregamente. A língua dele busca os
orifícios auriculares dela e volta, salpicada de cera, a mergulhar na saliva da
boca da fêmea, depositando tais resíduos entre as suas gengivas. Os poros dele
começam a secretar a ureia que ela suga misturada ao álcool e aos aditivos
químicos da essência vinda do mesmo país da moça gorda que pisa uvas.
Daquele ponto em diante, a troca de fluidos
corpóreos se dá através de dedos, línguas, lábios, orifícios, reentrâncias e
saliências. Um festim de micro-organismos, uma orgia de bactérias, interrompida
apenas, talvez, por uma fina membrana de seiva de uma velha árvore sangrada com
um facão cego e sujo de um caboclo seringueiro em meio à floresta tropical.
Gases, odores e fluidos exauridos e diluídos
pelo ar, ele vai dizer, com seu hálito carregado de secreções genitais:
- Foi bom pra você?
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