Por Rodrigo Amém
Você
conhece a Beth? Tenho certeza que sim. Talvez não esteja relacionando o nome à
pessoa, mas eu vou lhe ajudar.
Beth
pode atender por muitos nomes, morar em muitos lugares e fazer muitas coisas
diferentes. Mas ela é, sempre, Beth.
Chamo
de Beth um determinado e recorrente tipo de mulher. Assim como existem os
Romários, que como o jogador são baixinhos, atarracados e detentores de
opiniões grandiloquentes sobre si mesmos. Da mesma forma que existem as
Amélias, resignadas e fiéis. Também existem Beths.
A
principal característica de Beth é a discrição. Normalmente, você não a nota à
primeira vista. O comum é percebê-la com o tempo. Não é uma mulher opulenta, de
decotes fundos e calças colantes. Beth geralmente usa óculos e tem mãos
pequenas. Beth tem um belo sorriso, cheio de timidez e simpatia. Quando ri, ela
baixa levemente a cabeça e cobre a boca com as mãos, a não ser que tenha tomado
duas cervejas e esteja bêbada, permitindo-se gargalhadas mais abertas.
Dentro
de sua bolsa desproporcional, normalmente haverá um livro. Beth tem o hábito da
leitura e descobriu nas palavras um jeito de fugir da vida quando ela fica
chata. E numa festa, numa roda de amigos, toda vez que o papo se tornar
entediante, ela vai lançar um olhar por cima das cabeças dos membros da roda e
sai voando, longe.
Beth
não é do gênero humorista, mas sabe duas ou três boas piadas e faz uma única
excelente imitação de qualquer coisa. Ganso, foca, Viúva Porcina, qualquer
coisa. Sempre que alguém novo for introduzido na roda, os amigos antigos
pedirão insistentemente para que Beth mostre sua imitação ao novo membro. Ela
vai se recusar, de início. Mas diante de tantos pedidos, ela faz uma versão
breve, reduzida mesmo, do show que só os amigos mais íntimos terão direito de
ver. Afinal, ela é tímida.
Beth
pode ser formada em engenharia, mas sempre trará consigo um espírito de artista
e demonstrará sua sensibilidade de um jeito ou de outro. Às vezes, isso
parecerá estranho, como meias com estampas de bichinhos do alto dos seus vinte
e tantos anos. Seu inconformismo com a situação de inércia do mundo fará poucas
vítimas, além dela mesma. Seu cabelo, por exemplo, em sua ânsia por mudanças,
já conheceu melhores cortes, melhores dias. De vez em quando, ela usa chapéus
engraçados, até por isso.
Beth
não tem namorado. Se tem, geralmente é o cara errado. O tipo fanfarrão, que
fala alto e bate no braço dos outros caras. Mas Beth sabe que é um equívoco, esse
namoro. Antes dela tomar coragem de terminar, o cara vai ficar com outra garota
na frente de todo mundo. E todos terão pena de Beth, a corna.
Ela
sempre terá uma ou duas amigas estonteantemente belas, que chamarão a atenção
dos homens. Beth sempre ficará com o amigo intelectual do marombeiro que ficará
com sua amiga gostosona. Ela sabe que o intelectual é necessariamente mais
feio, mas prefere assim. Beth não tolera superficialidades. A não se, é claro,
bichinhos de pelúcia, uma superficialidade amplamente permitida e estimulada. E
talvez meias estampadas.
Não
seria correto dizer que há, dentro de cada mulher, uma Beth. Mais certo seria o
contrário. Beth é o tipo de mulher que compreende em si as mais variadas
nuances de forma contida, discreta. Beth espera por um despertar, por detrás de
óculos e bolsas desproporcionais, dentro de livros, logo ali, do lado daquela
gostosona. É só olhar.
Você
conhece a Beth? Pois é.
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