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sábado, 7 de dezembro de 2013

Beth

Por Rodrigo Amém

Você conhece a Beth? Tenho certeza que sim. Talvez não esteja relacionando o nome à pessoa, mas eu vou lhe ajudar.

Beth pode atender por muitos nomes, morar em muitos lugares e fazer muitas coisas diferentes. Mas ela é, sempre, Beth.
Chamo de Beth um determinado e recorrente tipo de mulher. Assim como existem os Romários, que como o jogador são baixinhos, atarracados e detentores de opiniões grandiloquentes sobre si mesmos. Da mesma forma que existem as Amélias, resignadas e fiéis. Também existem Beths.

A principal característica de Beth é a discrição. Normalmente, você não a nota à primeira vista. O comum é percebê-la com o tempo. Não é uma mulher opulenta, de decotes fundos e calças colantes. Beth geralmente usa óculos e tem mãos pequenas. Beth tem um belo sorriso, cheio de timidez e simpatia. Quando ri, ela baixa levemente a cabeça e cobre a boca com as mãos, a não ser que tenha tomado duas cervejas e esteja bêbada, permitindo-se gargalhadas mais abertas.

Dentro de sua bolsa desproporcional, normalmente haverá um livro. Beth tem o hábito da leitura e descobriu nas palavras um jeito de fugir da vida quando ela fica chata. E numa festa, numa roda de amigos, toda vez que o papo se tornar entediante, ela vai lançar um olhar por cima das cabeças dos membros da roda e sai voando, longe.

Beth não é do gênero humorista, mas sabe duas ou três boas piadas e faz uma única excelente imitação de qualquer coisa. Ganso, foca, Viúva Porcina, qualquer coisa. Sempre que alguém novo for introduzido na roda, os amigos antigos pedirão insistentemente para que Beth mostre sua imitação ao novo membro. Ela vai se recusar, de início. Mas diante de tantos pedidos, ela faz uma versão breve, reduzida mesmo, do show que só os amigos mais íntimos terão direito de ver. Afinal, ela é tímida.

Beth pode ser formada em engenharia, mas sempre trará consigo um espírito de artista e demonstrará sua sensibilidade de um jeito ou de outro. Às vezes, isso parecerá estranho, como meias com estampas de bichinhos do alto dos seus vinte e tantos anos. Seu inconformismo com a situação de inércia do mundo fará poucas vítimas, além dela mesma. Seu cabelo, por exemplo, em sua ânsia por mudanças, já conheceu melhores cortes, melhores dias. De vez em quando, ela usa chapéus engraçados, até por isso.

Beth não tem namorado. Se tem, geralmente é o cara errado. O tipo fanfarrão, que fala alto e bate no braço dos outros caras. Mas Beth sabe que é um equívoco, esse namoro. Antes dela tomar coragem de terminar, o cara vai ficar com outra garota na frente de todo mundo. E todos terão pena de Beth, a corna.

Ela sempre terá uma ou duas amigas estonteantemente belas, que chamarão a atenção dos homens. Beth sempre ficará com o amigo intelectual do marombeiro que ficará com sua amiga gostosona. Ela sabe que o intelectual é necessariamente mais feio, mas prefere assim. Beth não tolera superficialidades. A não se, é claro, bichinhos de pelúcia, uma superficialidade amplamente permitida e estimulada. E talvez meias estampadas.

Não seria correto dizer que há, dentro de cada mulher, uma Beth. Mais certo seria o contrário. Beth é o tipo de mulher que compreende em si as mais variadas nuances de forma contida, discreta. Beth espera por um despertar, por detrás de óculos e bolsas desproporcionais, dentro de livros, logo ali, do lado daquela gostosona. É só olhar.

Você conhece a Beth? Pois é.


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