Por Rec Haddock
Era o dia mais lindo do ano. Deu no jornal,
e se deu no jornal deve ser verdade, seja lá o que quer que dia mais lindo
signifique.
Ela olhava o dia pela janela da sua casa
amarela, por trás de seus lindos óculos escuros redondos, que só ela tinha
coragem de usar. Ela podia ficar mais um pouco ali na janela. Não havia nada
que não pudesse esperar mais um pouco.
Era o dia mais lindo do ano, mas eu não
tinha chaves nem janelas, e nunca saberia. Há dias eu não saía de um espaço
delimitado por fitas crepe no chão de maneira tosca. Há dias uns 1,5m² eram o
meu mundo. E, estranho ou não, eu gostava dele.
Tinha um som de estática.
O sol se punha, e os óculos a protegiam.
Ela só queria mergulhar no sol, mas o GPS sempre indicava o caminho errado. Não
tendo como ir, ela se deixava ficar.
As correntes machucavam um pouco os meus
pulsos, mas elas me ajudavam, sim. Eu não comia, e não sentia fome. Estava
feliz por não perder meu tempo, nem ter de vendê-lo, a preço de bananas.
O tempo é a nossa fonte de energia não-renovável
mais preciosa. E, ainda assim, é a que mais parecemos desperdiçar.
Vai entender.
O Sol se foi, ela também. Quase pude sentir
o cheiro de pneu queimando quando ela parou na frente da porta. Tantas coisas
que não conseguimos sentir.
Ela abriu a porta e entrou. Ajoelhou-se na
minha frente e sorriu um sorriso cúmplice.
Tudo parecia certo.
Não sei ao certo de onde a faca surgiu, mas
quando vi, a primeira já tinha sido desferida. Ela e a faca caíram,
ensanguentadas, e nada parecia errado.
Foi assim que aconteceu.
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