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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Facebook aberto

Por Bernardo Sardinha


Ela foi tomar banho e deixou para mim uma simples tarefa: Ver em qual cinema está passando aquele romance água com açúcar O QUAL EU NÃO QUERO VER. Com tanto filme interessante no cinema, eu tenho logo que assistir a mais um romance bobo? Não mesmo. Tenho duas opções: Mentir falando que não tem sessão disponível e que a única opção que temos é ir assistir um filme maneiro ou... Pedir para ver outro filme, o que provavelmente vai gerar uma briga desembocando em uma longa e chata "DR", que vai terminar comigo pedindo desculpas por ser um monstro egoísta.
  
Assim, após escutar a porta de Blindex bater e o som da água caindo no chuveiro, sentei no PC para verificar o tal horário. Logo vejo que a sorte não estava ao meu lado. Há várias sessões do tal filme. "Oh destino! Por que me obriga a mentir?" - penso eu. Não sou companhia para ver esse tipo de filme. Vou ficar entediado nos primeiros 15 minutos, se não tiver pelo menos um tiro, uma explosão, ou sei lá, qualquer coisa mirabolante.

Aproveitando o embalo vou para o Facebook  enquanto penso em uma desculpa/mentira. Digito rapidamente no browser e dou enter e  para minha surpresa, eu entro na página principal DELA. Toda a rede social dela está aberta para mim. Para quem não sabe, rede social é que nem conta de banco. Não se deve dar a senha para qualquer um, no máximo, talvez, para o cônjuge (talvez seja por isso que tanto casal cria contas conjuntas no Facebook). Lá estava um milhão de mensagens não lidas, outras tantas solicitações e não sei quantas atualizações de status, todas prontas para serem lidas. Eu sabia que vasculhar a rede social da minha namorada era errado, mas como resistir a uma olhadela rápida? Era proibido como ler um diário e tão prazeroso quanto.

A primeira mensagem me deixou de cabelo em pé. Era um "empresário" do submundo, chamando-a para participar de um torneio de artes marciais em Macau onde os participantes lutam até A MORTE. Não. Mentira. ISSO É O FILME QUE EU QUERO VER NO CINEMA. Mas achei algo tão interessante quanto: Um grupo onde ela e as amigas ficam falando putaria. Entrei lá e fiquei surpreso. Entre várias fotos de paus e comentários maldosos sobre os namorados não havia nada vil escrito por ela. Ela era de fato uma dama. Que orgulho (se bem que ela poderia ter dito algo sobre meu dote para as amigas, mas só de não falar mal já fiquei grato).

Depois fuxiquei sua lista de solicitações. Vários caras sem camisa. Puta que pariu namorar mulher bonita é foda. Ela rejeitou muitos mas haviam outros babacas a adicionando. Ao ver tantos babacas, lembrei de um outro babaca. O ex dela. Aquele que a perseguiu por meses a fio durante o nosso começo de namoro.

O som do chuveiro cessa, tenso eu já me posiciono para fechar a janela, mas escuto o som do secador de cabelo, e calculo que tenho alguns minutos a mais no mundinho particular dela. Fui ver mensagens privadas que ela trocou com o ex. Ele era um cara fortão com bom emprego e sua foto, que surpresa, era sem camisa. Li a última conversa deles e vi que apesar dele estar jogando indiretas ela se esquivava com classe. Ele pegou pesado. Disse que tinha saudades, que gostava da mãe dela, da família e blá blá blá. Daí veio a facada no peito. Ele falou que adorou "Pontes de Madison", filme que eles viram juntos. O Ex gostava de ver filmes chatos com ela e eu não. "Sou pior que ele, que troca infeliz ela fez..." - sussurrei. Ela terminou a conversa e se despediu cordialmente e eles nunca mais se falaram. As mensagens datavam do ano passado.

E de repente das caixas de som saiu um e sonoro "PLAM!" e uma mensagem surgiu no canto da tela:
- Está no Face é? Já viu o horário do cinema!?

 - gritou ela desligando o secador.

- Jáááá! - gritei bem alto para logo em seguida ela voltar a ligar as malditas turbinas do secador. Fato: Eu tinha pouco tempo.
           
 No canto da tela tinha uma mensagem onde vários amigos em comum participavam. No começo fiquei sem entender o porquê, mas descobri que era tudo por um motivo nobre. Ela estava organizando uma festa surpresa de aniversário para mim! Pronto. Obviamente me senti um merda. Não possuía abdômen sarado, não possuía qualidades a serem mencionadas no grupinho da putaria que ela tinha com as amigas (neste momento não ser mencionado soou algo ruim), não conseguia ver filmes românticos com ela e mesmo assim, ela organizava uma festa surpresa com meus amigos. Ouvi o trinco da porta do banheiro e fechei a janela do Facebook.

- Tem horário? - disse ela entrando no quarto, parcialmente arrumada.
- Tem. - respondi sem esconder minha nova admiração por ela.
- Vai...Dar para assistir? Ou a sessão é muito tarde? - diz ela já esperando uma desculpa minha para não ver o filme.
- Dá sim.
- Ótimo! Me dá cinco minutos!
E foi assim que meu "monstro egoísta interior" fora derrotado e se escondeu para nunca mais ser visto.

Epílogo
Após bater a porta de casa, ela, esperta, aproveitando o momento em que eu estava todo fofo, me manda essa:
- Ah! Sexta que vem tem o chá de bebê da Joana, vamos? – ela disse sorridente.

Suspirei fundo e ouvi lá de dentro o  "Monstro egoísta interior" GRITAR "Sexta que vem eu voltarei Muahahah!".


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